IMPLANTAÇÃO DE WETLANDS CONSTRUÍDOS PARA TRATAMENTO DE EFLUENTES PRODUZIDOS PELA ATIVIDADE AGROPECUÁRIA. Nepomuceno, Eliza F. 1 ; Ogusucu, Renata 2 1,2 Instituto Federal Catarinense, Camboriú/SC INTRODUÇÃO A pecuária é uma atividade econômica de grande importância para o Brasil, sendo que somente a suinocultura no estado de Santa Catarina contribui com aproximadamente 34% do total da carne suína exportada pelo Brasil (Associação Catarinense de Criadores de Suínos, 2012). A pecuária utiliza principalmente sistemas de confinamento, o que aumenta a escala de produção, pois permite a criação de um grande número de animais em uma área reduzida (ROMEIRO et al., 2011). Se por um lado esse sistema reduz o custo de produção, por outro, gera uma quantidade elevada de dejetos por unidade de área, poluindo as águas (superficiais e subterrâneas) e o solo pela sobrecarga de matéria orgânica, compostos nitrogenados, fosfatos e metais pesados (zinco e cobre, por exemplo, fazem parte da composição das rações animais) (ROMEIRO et al. 2011; BELLI FILHO et al., 2001). Além disso, a pecuária causa desconforto para as populações humanas locais devido a emissão de maus odores e da proliferação descontrolada de insetos (ROMEIRO et al. 2011; BELLI FILHO et al., 2001). Atualmente, a preocupação com os custos de produção é maior que a preocupação com o custo ambiental causando o despejo incorreto de efluentes. O fato dos produtores terem baixa renda, agrava ainda mais o problema (KUNZ et al., 2005). Porém, existem normas internacionais e exigências de países importadores que reforçam a necessidade de se desenvolver estratégias para a destinação correta dos dejetos (ROMEIRO et al., 2011). A construção de wetlands tem sido estudada como alternativa para minimizar os impactos das atividades agropecuárias no ambiente (SILVA, 2007; SIPAÚBA-TAVARES et al., 2002). Wetlands construídos tentam imitar os processos ecológicos encontrados em ecossistemas como várzeas e brejos, ou seja, são áreas encharcadas onde crescem plantas que 1 Estudante do Curso Técnico em Controle Ambiental 2 Docente do Curso Técnico em Controle Ambiental Trabalho financiado com apoio do CNPq e IFC
contribuem efetivamente com a redução da matéria orgânica e criam microambientes favoráveis para o estabelecimento de populações de microrganismos, acelerando a remoção de matéria inorgânica e patógenos da água (SILVA, 2007). Entre as vantagens dos wetlands construídos são citados: os baixos custos para implantação e manutenção (SILVA, 2007). No Brasil, não existem muitas informações publicadas em periódicos indexados sobre a implantação de wetlands construídos, mas sabe-se que o sistema tem sido estudado por instituições de pesquisa como a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI). A escolha das espécies a serem plantadas nas wetlands também deve ser criteriosa. Além da adaptação ao solo encharcado, alguns autores tem pesquisado o uso de espécies como o arroz (Oryza sativa L.) (SILVA, 2007), copo de leite (Zantedeschia aethiopica), papiro (Cyperus papyrus) (ZANELLA, 2008) e a taboa (Typha domingensis) (BRASIL, 2007), que podem ser comercializadas como alimento ou plantas ornamentais. Esse fator é importante, pois apesar do aumento da produção, em Santa Catarina, verificou-se o agravamento das condições socio-econômicas dos produtores. (ROMEIRO et al., 2011). Nesse contexto, a construção de um projeto experimental de wetlands no Instituto Federal Catarinense Campus Camboriú é interessante por se constituir em uma alternativa de baixo custo para o tratamento dos efluentes produzidos pela atividade agropecuária no câmpus. MATERIAL E MÉTODOS Implantação do wetland construído O local escolhido para implantação do wetland construído em escala piloto foi o ponto de saída dos efluentes do setor de Bovinocultura de Leite, do Instituto Federal Catarinense Campus Camboriú. Para isso, no local de saída dos efluentes foi posicionada uma caixa d'água de polietileno com dimensões aproximadas de 0,4 m de altura x 0,5 m de largura x 0,5 m de comprimento. Em uma das extremidades, a 5 cm do topo, foi posicionado um cano para entrada dos efluentes e na extremidade oposta, a 5 cm da base, foi posicionado um cano para saída dos efluentes. Essa caixa foi preenchida com camadas de 4 cm de altura de brita e areia grossa intercaladas. A ideia era aproveitar a força da gravidade para garantir que o efluente percorresse as camadas de brita e areia e fosse filtrado. 2
Avaliação dos parâmetros físico-químicos do efluente Parâmetros como alcalinidade, ph, e oxigênio consumido foram avaliados antes e após a passagem do efluente pelo wetland construído, utilizando-se o kit técnico de potabilidade (AlfaKit). Avaliação dos parâmetros biológico do efluente A concentração de coliformes termotolerantes foi determinada através da técnica de tubos múltiplos com meio A1 (número mais provável), seguindo-se as instruções da norma técnica L5.406 (CETESB, 2007). Essa avaliação foi realizada antes e após a passagem do efluente pela wetland. Tanto os parâmetros físico-químicos como os parâmetros biológicos foram avaliados nos meses de setembro e novembro de 2013 e janeiro de 2014. RESULTADOS E DISCUSSÃO A implantação da wetland foi realizada como descrito no item 1.4. Após a instalação, foram feitas 3 coletas de amostras dos efluentes do setor de Bovinocultura de Leite. As análises realizadas e seus respectivos resultados estão listados nas tabelas abaixo. 3
Os resultados obtidos mostram que entre as coletas praticamente não houve alterações nos parâmetros analisados. Mais relevante, observamos que não houve alterações desses mesmos parâmetros após a passagem pela wetland. Fatores como o alto grau de contaminação do efluente, principalmente por coliformes, indicam que a wetland deverá ser redimensionada e ampliada. CONCLUSÕES Os resultados obtidos nesse projeto, a primeira vista são um pouco decepcionantes, devido a ineficiência da wetland implantada. Porém, sua execução foi uma oportunidade para o aprofundamento dos estudos da aluna bolsista, além de propiciar a colaboração com outros profissionais (técnicos e professores) do IFC- Campus Camboriú. Quanto a wetland, a literatura mostra exemplos bem sucedidos de sua aplicação em propriedades agrícolas. O nosso projeto indicou a necessidade de redimensionar a construção para que seja possível o tratamento de efluentes com alto grau de contaminação, o que deverá ser feito na sequência desse projeto. 4
REFERÊNCIAS Associação Catarinense de Criadores de Suínos http://www.accs.org.br/index.php?id=9 BELLI FILHO, P. et al. Tecnologias para o tratamento de dejetos de suínos. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.5, n.1, p.166-170, 2001 BRASIL, M. S. et al. Plantio e desempenho fenológico da taboa (Thypha sp.) utilizada no tratamento de esgoto doméstico em sistema alagado construído. Eng. sanit. ambient. v.12, n.3, p.266-272, 2007 KUNZ, A. C et al. Comparativo de custos de implantação de diferentes tecnologias de armazenagem, tratamento e distribuição de dejetos. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2005. (Embrapa Suínos e Aves. Circular Técnica 42) ROMEIRO, A. R. et al. Uma proposta de gestão econômico-ecológica à agroindústria suinícola do oeste catarinense. Revista de Política Agrícola Ano XX No 3 Jul./Ago./Set. 2011 SILVA, SELMA CRISTINA. Wetlands Construídos de Fluxo Vertical com Meio Suporte de Solo Natural Modificado no Tratamento de Esgotos Domésticos. 205p. Tese de Doutorado Universidade de Brasília. Faculdade de Tecnologia. 2007 SIPAÚBA-TAVARES, L. H. Utilization of macrophyte biofilter in effluent from aquaculture: I. Floating plant. Brazilian Journal of Biology 62 (4-a), 713-723, 2002 ZANELLA, Luciano. Plantas ornamentais no pós-tratamento de efluentes sanitários: Wetlands-construídos utilizando brita e bambu como suporte. Tese de Doutorado Univesidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. 2008 5