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Transcrição:

DESIGN UNIVERSAL: UMA PROPOSTA PARA O DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS ASSISTIVAS NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA RESUMO Letícia Martins 1 Lisiane Fonseca da Silva 2 Lauren Tonietto 3 As mudanças advindas dos avanços tecnológicos modificaram as formas de relacionamento interpessoal, a forma como as pessoas passam seu tempo livre, assim como as exigências do mercado de trabalho. Não obstante, as formas de capacitar os profissionais também passam por este processo. O presente artigo tem como objetivo aliar os conceitos de design universal no desenvolvimento de Tecnologias Assistivas (TA) em cursos superiores na modalidade de educação a distância. Para tanto, é realizada uma discussão sobre os conceitos de TA e design universal. A seguir, busca-se apresentar algumas estatísticas acerca dos cursos a distância, assim como as TA mais utilizadas na educação superior brasileira. Por fim, estes conceitos são discutidos de forma integrada, demonstrando como podem auxiliar a inclusão de pessoas com deficiências na educação superior na modalidade a distância. Palavras chaves: Tecnologia assistivas; inclusão; Educação a distância; design universal ABSTRACT The changes resulting from technological advances modified forms of interpersonal relationships, way people spend their free time, as well as requirements of labor market. Nevertheless, ways to prepare professionals also undergoes this process. This article aims to combine the concepts of universal design in the development of Assistive Technologies (AT) specifically in e- learning at higher education. Therefore, it held a discussion on concepts of AT and universal design. The following seeks to present some statistics about e- learning courses, as well as the most AT used at Brazilian higher education. Finally, these concepts are discussed in an integrated seeking to show how they can assist the inclusion of people with disabilities in higher education at e- learning concepts. Key words: Assistive Technologies, inclusion; e-learning; universal design. 1 Doutoranda em Engenharia de Produção e Transporte, pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2000) 2 Mestre em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1997). 3 Doutora em Psicologia (2009) e Mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2005) 1

INTRODUÇÃO A transformação de uma visão de sociedade baseada na economia industrial para uma sociedade pautada na informação apresenta novas formas de relacionamento do ser humano. A noção de espaço, antes físico, passa para o virtual, no qual muitas atividades poderão vir a ser realizadas a distância. A presença física não é mais de vital importância para que a comunicação ocorra. Simultaneamente, existe uma nova noção de tempo, na qual são utilizados os meios síncronos e assíncronos para comunicação. Soma-se a essas novas concepções de tempo e espaço o incremento na velocidade de transmissão da informação, que passa a ser feita em questão de milésimos de segundos. O conhecimento antes armazenado em documentos físicos distantes de uma grande maioria, agora está em rede. Está acessível a qualquer pessoa, por diversos meios, com a utilização de ferramentas tecnológicas com custos cada vez menores e, portanto, mais acessíveis à população geral. O conceito de relacionamento interpessoal, de entretenimento, de atividade profissional transforma-se. A necessidade de um profissional que esteja em consonância com estas transformações se faz cada vez mais presente nas demandas do mercado de trabalho. Sendo assim, é preciso preparar, formar e capacitar pessoas para suprir os espaços existentes. Nesse sentido, a educação passa a ter que servir a um indivíduo com características comportamentais e cognitivas influenciadas por esse novo ambiente. A tecnologia pode apresentar um enorme potencial para incrementar e universalizar o processo de ensino aprendizagem. Para tanto, ela precisa ser pensada como uma importante aliada. Se a informação é de fácil acesso à construção do conhecimento, pode-se dizer que passa a ser coletiva. Porém, ao se falar em educação, um tema imprescindível é a inclusão. A própria Constituição brasileira de 1988 institui em seu artigo 208 a questão da necessidade de atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, assim como a Lei de Diretrizes e Bases de 1996 dedica um capítulo ao tema da Educação Especial. O acesso à educação tem sido peremptório na contratação de pessoas com deficiências (PCDs). As organizações têm dificuldades em conseguir candidatos capacitados. Por isso, 2

a grande maioria dessas pessoas é inserida em cargos mais baixos da hierarquia organizacional. De acordo com o Ministério do Trabalho, o principal obstáculo para inserção de pessoas portadoras com deficiências no mercado de trabalho é a falta de qualificação e a baixa escolaridade. Diante do exposto, a tecnologia pode vir a tornar-se um importante aliado para atender às carências no que diz respeito à formação e capacitação de pessoas com deficiências no mercado de trabalho. Para as pessoas sem deficiência, a tecnologia torna as coisas mais fáceis. Para as pessoas com deficiência, a tecnologia torna as coisas possíveis. (RADABAUGH, 1993). A Tecnologia Assistiva (TA) pode ser conceituada como quaisquer equipamentos, serviços, estratégias e práticas que tenham sido originalmente concebidas ou até mesmo adaptadas para que possibilitem sua aplicação, de forma a reduzir as barreiras funcionais encontrados pelos indivíduos com deficiências. (COOK; HUSSEY, 1995). Pode-se, então, afirmar que o objetivo precípuo da TA é proporcionar à pessoa com deficiência maior independência, qualidade de vida e inclusão social, por meio da ampliação de sua comunicação, mobilidade, controle de seu ambiente, habilidades de seu aprendizado e trabalho. (COOK; HUSSEY, 1995). Nesse sentido, profissionais que pensam a educação a distância tem de levar em consideração o atendimento de diferentes alunos com diferentes necessidades e deficiências. Aliado ao desenvolvimento, existe o conceito de design universal, que permite àqueles que planejam produtos e serviços pensem em todos os públicos que os utilizarão. O presente artigo tem como objetivo aliar os conceitos de design universal no desenvolvimento de Tecnologias Assistivas em cursos superiores na modalidade de educação a distância. No primeiro capítulo, são apresentados alguns dados estatísticos sobre os usos da Tecnologia Assistida no Brasil. No capitulo seguinte, é apresentada uma discussão sobre os usos de tecnologias assistivas especificamente na modalidade a distancia. A seguir, é apresentado o conceito de design universal permitindo uma discussão sobre sou aplicação como importante aliado no desenvolvimento de ferramentas para os cursos na modalidade a distância. 3

1 TECNOLOGIAS ASSISTIVAS NA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA Anualmente, o Ministério da Educação, por meio do seu Instituto Nacional de Estudo de Pesquisa Anísio Teixeira, coleta dados acerca dos cursos, docentes e alunos integrados na Educação Superior Brasileira. Ao final do período, são apresentados os relatórios compilando as informações coletadas. Segundo o Inep (2012), dados relativos ao ano de 2011, do total de 30.420 cursos de graduação declarados no Censo 2012, 24.560 (ou 80,7%) ofertam condições de acessibilidade às pessoas com deficiência. Ainda, foram identificadas um total de 8.922.950 matrículas na Educação Brasileira ao fim do ano de 2011; destes, 992.927 estavam matriculados em cursos a distância, ou seja, 11,13% do total de alunos matriculados em cursos superiores no Brasil estão na modalidade a distância A figura a seguir apresenta as principais deficiências declaradas pelas Instituições de Ensino Superior Brasileiras. Superdotação 953 Transtorno Desintegrativo da Infância Sindrome de Rett Sindrome de Asperger Autismo Infantil 42 27 30 38 Deficiência Intelectual Deficiência Múltipla Surdocegueira 148 477 684 Deficiência Física 5.946 Deficiência Auditiva 4.078 Surdez 1.582 Baixa Visão 5.944 Cegueira 3.301 Figura 1 Principais deficiências declaradas Fonte: Inep, 2012 4

Segundo os dados, pode-se verificar que as principais deficiências são de ordem física, baixa visão, deficiência auditiva e cegueira. Os dados apresentados não permitem identificar a que modalidade de ensino estes alunos estão vinculados. A figura a seguir representa o percentual dos cursos de graduação que ofertam recursos de tecnologia assistiva, segundo o grau acadêmico, por tipo de tecnologia disponível. Figura 2 - Percentual de Cursos de Graduação (Presencial e a Distância) com Condições de Acessibilidade às Pessoas com Deficiência, segundo Grau Acadêmico, por Tipo de Tecnologia Assistiva Brasil 2011 Fonte: Inep, 2012 Conforme apresentado na Figura 2, pode-se observar que os cursos tecnológicos, em seu conjunto, estão melhor equipados do que os de licenciatura e bacharelado, no que se refere aos recursos de acessibilidade às pessoas com deficiência. Cabe ressaltar que, desde 2010, a disciplina de Libras deve ser ofertada em todos os cursos superiores ao menos em caráter eletivo para alguns e naqueles previstos legalmente como obrigatórios. O que pode ser observado é que muitos cursos não estão cumprindo esse requisito legal. 5

2 O USO DAS TECNOLOGIAS ASSISTIVAS NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL A questão que se põe nesta análise é a utilização dos recursos educacionais a distância como meio de qualificação para as pessoas que apresentam deficiências, logo, apresentem também a necessidade de meios de ensino adaptados às suas necessidades. Neste aspecto, a legislação brasileira considera os princípios internacionais que identificam tipos diferentes de necessidades apresentadas. Percebe-se, assim, que a instituição de ensino que oferecer cursos em EAD deve ter presente a possibilidade em atender pessoas deficientes; caso contrário, poderá estar cumprindo de forma parcial seu papel na sociedade como formadora de cidadãos críticos, com inserção social e qualificados profissionalmente. Afinal, o conceito de acessibilidade vai muito além das condições e recursos físicos de acesso aos ambientes naturais e físicos, como mencionam Blois e Melca (2011). Deste modo, as tecnologias assistivas são os recursos utilizados com o objetivo de proporcionar uma maior independência e autonomia às pessoas portadoras de deficiência. Mas é importante que se observe que esta tecnologia seja adequada às deficiências destes usuários: telas sensíveis ao toque, som, etc. Lemos (2010) destaca: Os desafios técnicos e culturais existem e precisam ser superados. Para um curso em EAD atender ao que necessita uma pessoa com deficiência, é preciso mais do que apenas tecnologia. No caso dos deficientes visuais, por exemplo, além da audiodescrição de um filme e leitores de voz, os próprios profissionais que transmitem o conteúdo precisam saber como tornar acessível o material para quem não enxerga. Em relação aos deficientes auditivos, o conteúdo repassado através da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) exige dos monitores e educadores o respeito à cultura dos surdos. (...) Lemos discute a percepção da profissional Helen Cândido, que trabalha com recursos tecnológicos para a educação, no qual é apresentada a importância de que os recursos também possam ser utilizados pelos familiares dos deficientes, pois eles são auxiliares no processo de aprendizagem destes acadêmicos. Logo, é importante que recursos e serviços sejam projetados pensando nas diferentes necessidades que o estudante apresenta. Blois e Melca (2011) destacam que os "recursos" referem-se aos equipamentos como, por exemplo, o teclado de um computador, enquanto que os "serviços" dizem 6

respeito aos profissionais que prestarão serviços a estes deficientes que farão uso destes recursos, envolvendo características transdisciplinares como fisioterapia, fonoaudiologia, dentre outras. Sabe-se da existência de empresas que tem procurado adequar a obrigatoriedade de empregar pessoas com deficiência com a possibilidade de capacitar esta mão de obra de modo a torná-la mais produtiva, refletindo em satisfação tanto para o empregador quanto para o empregado, que se sentirá como membro efetivo de uma equipe e realizando um trabalho relevante para o bom desempenho da empresa, o que se reflete em sua inclusão social e profissional. Afinal, a legislação visa a oportunidade de empregabilidade e não o assistencialismo para estes indivíduos. As tecnologias assistivas para pessoas com deficiência são uma importante ferramenta para o acesso destes indivíduos à educação, principalmente na modalidade de EAD. Porém é importante destacar que a acessibilidade não é garantida através destas tecnologias, mas sim, pelo modo como elas são direcionadas para os deficientes, juntamente com uma educação preocupada com a inclusão social e profissional destas pessoas. As experiências neste sentido ainda são incipientes, mas parecem poder oferecer grande êxito, visto que algumas empresas, já identificam pessoas como profissionais com potencial de crescimento dentro destas organizações, desde que se dediquem e se interessem em buscar esta qualificação. Sendo assim, as instituições de ensino passam a ocupar um espaço importante neste "novo" segmento que une novas perspectivas na educação: EAD e pessoas com deficiência. Indo mais longe, estas instituições poderiam formar parcerias com as empresas com o intuito de agregar oportunidades de ensino e necessidade de formação profissional. 3 O conceito de Design Universal e o desenvolvimento e planejamento de cursos na modalidade a distância Quaisquer deficiências, quer sejam de mobilidade, visual, escuta, fala ou outras, podem causar impactos na participação e interação de estudantes mesmo na modalidade de educação a distância. Apesar de o Brasil não possuir estatísticas globais que permitam quantificar de forma exata acerca da 7

representação de pessoas com quaisquer tipos de deficiência, o importante é que cada vez mais essas pessoas ocupam espaços significativos no mercado de trabalho, o que as leva a buscar uma maior capacitação para ocupar estas vagas. Portanto, essa é uma questão que estará no âmago ao se pensar a acessibilidade e as ferramentas de aprendizagem nos cursos superiores. A modalidade de educação a distância, ao enfrentar essa realidade, não pode apenas pensar em estratégias de acomodação deste aluno, mas deve, sim, planejar e desenvolver ferramentas de baixo custo e de fácil utilização para todos. O processo de tornar a acessibilidade aos cursos para todo e quaisquer alunos, quer sejam alunos portadores ou não de deficiências, quer sejam para diferentes estilos de aprendizagem ou quaisquer outras características que diferenciem os indivíduos chama-se de design universal. O conceito de design universal foi primeiramente desenvolvido pela Universidade Estadual da Carolina do Norte no ano de 1997 e diz respeito ao processo de desenvolvimento de produtos e serviços que sejam acessíveis a todas as pessoas sem que haja a necessidade de adaptações ou customizações (ANDERS, FECHTNER, 1992). Junto ao conceito, foram desenvolvidos sete princípios, os quais, quando aplicados permitem a concretização do conceito, quais sejam: 1. Equidade de uso: O design do produto ou serviço é aplicado pra pessoas com diferentes habilidades. 2. Flexibilidade de uso: O design do produto ou serviço suporta uma variedade de preferências e habilidades. 3. Uso simples e intuitivo: O uso do produto ou serviço é de fácil entendimento, não se fazem necessárias experiências anteriores de uso, conhecimentos prévios, habilidades linguísticas ou altos graus de concentração. 4. Informação de uso acessível: Todas as informações relativas ao uso do produto ou serviço são de fácil acesso. 5. Tolerância ao erro: O produto ou serviço permite rever ações, assim como não gera consequências adversas de ações acidentais ou não intencionais. 8

6. Baixo esforço físico: Uso do produto ou serviço é confortável, não gerando fadiga. 7. Tamanho e Espaço: Necessários para o uso; são adequados a qualquer indivíduo. (MCGUIRE, SCOTT, SHAW, 2004) Quando os profissionais que planejam produtos ou serviços aplicam estes conceitos no seu desenvolvimento, levando em consideração as variáveis tanto do ambiente físico como das formas de comunicação, pessoas com uma variedade de características, que incluem aspectos físicos tais como gênero, altura, etnia, entre outros, assim como características relativas a habilidade de fala, escuta, movimentação ou visão passam a ter condições de acesso iguais. No que se refere à aplicação do conceito na área da educação, os princípios desenvolvidos podem ser amplamente aplicados no processo de criação de ferramentas universais para que tornem acessíveis conteúdos desenvolvidos em sala de aula, quer seja virtual ou presencial, a todos os alunos, independentemente da existência de deficiências ou não. (BOWE, 2000). 4 O DESIGN UNIVERSAL E O DESENVOLVIMENTO DAS TECNOLOGIAS ASSISTIDAS No que se refere ao desenvolvimento de tecnologias assistivas, o design universal pode ser uma ferramenta muito útil, conforme é demonstrado na Figura a seguir. 9

FERRAMENTAS DE TECNOLOGIA ASSISTIVA Revista Cesuca Virtual: Conhecimento sem Fronteiras DIRECIONADORES Legislação Padrões Universais Padrões Institucionais Stakeholder Estudantes Pessoas com deficiências Desenvolvedores Professores Tutores Responsabilidade Apresentar necessidades e dificuldades Apresentar necessidades e dificuldades Apresentar soluções tecnológicas Apresentar soluções de conteúdo Apresentar soluções de interação Gestores educacionais Apresentar políticas e estratégias Assessores pedagógicos Apresentar soluções pedagógicas Suporte Apresentar soluções de suporte Equidade de uso Flexibilidade de uso Uso simples e intuitivo Informaçã o de uso acessível Tolerância ao erro Baixo esforço físico Tamanho e Espaço MEDIADORES DE DESENVOLVIMENTO Figura 3 Desenvolvimento de Ferramentas de Tecnologia Assistiva Fonte: autoria própria, 2013. 10

Tendo em vista o conceito fundamental de Design Universal de desenvolvimento de produtos e serviços acessíveis a todos, no modelo proposto para o desenvolvimento de ferramentas de tecnologia assistiva, primeiramente são mapeados os stakeholders, ou seja, os grupos de interesses envolvidos no uso e no desenvolvimento de tecnologias assistivas, no caso, representados pelos estudantes em geral assim como os estudantes que apresentam algum tipo de deficiência. Os desenvolvedores, os professores, tutores, gestores educacionais, assessores pedagógicos e responsáveis pelo suporte também são significativos uma vez que são responsáveis pela aplicação das ferramentas. Cada grupo de interesse apresenta suas demandas que são discutidas e levadas em consideração. Propõe-se no modelo a ampla discussão para o levantamento das necessidades de cada grupo. É fundamental ter como direcionadores a legislação pertinente, os padrões universais existentes (Braile, Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, etc.), assim como os padrões institucionais (expostos nos documentos oficiais da instituição Plano de Desenvolvimento Institucional e Projeto Pedagógico Institucional). Todo o processo de desenvolvimento deve ser mediado pelos sete princípios básicos do design universal. O desenvolvimento deve gerar tecnologias que apresentem equidade, flexibilidade e simplicidade de uso para todos os envolvidos. As informações de uso deverão ser de fácil acesso. A tolerância ao erro deve ser grande, exigindo baixo esforço físico e cognitivo, assim como observar o tempo e o espaço necessários para a sua utilização e aplicação. CONSIDERAÇÕES FINAIS A inclusão é uma realidade e Instituições de Ensino devem ter a preocupação de se adaptarem para receberem alunos com as mais variadas deficiências. Porém, ao atender esta demanda, é necessário observar os custos que serão incorridos, que não poderão ser repassados para as mensalidades dos estudantes. 11

Neste sentido, faz-se necessário o desenvolvimento de ferramentas que permitam o acesso universal. O conceito de design universal pode ser muito útil neste intuito. Este artigo apresentou um modelo intuitivo baseado unicamente nos conceitos de Tecnologia Assistiva e Design universal buscando aplicá-los na modalidade de educação a distância. É importante destacar que o modelo carece de testagem em uma realidade prática. Portanto, sugere-se como estudos futuros a aplicação e testagem do modelo proposto. REFERÊNCIAS ANDERS, R., & FECHTNER, D. Universal Design. Brooklyn, NY7 Pratt Institute Department of Industrial Design and Pratt Center for Advanced Design Research, 1992. BLOIS, Marlene M., & MELCA, Fatima A. Laboratório de Educação a Distância com Acessibilidade (2011). Instituto Benjamin Constant. Disponível em: http://www.ibc. gov.br/media/common/led_artigo_03?.pdf. Acesso em 08/12/2012. BLOIS, Marlene M., & MELCA, Fátima. A. Acessibilidade: o desafio da evolução digital?.instituto Benjamin Constant. Disponível em <http://www.ibc.gov.br/media/ common/led_artigo_05?.pdf>. Acesso em 16/12/12. BOWE, F. G. Universal design in education: Teaching nontraditional students. Westport, CT: Bergin and Garvey, 2000. COOK, A. M., & HUSSEY, S. M. Assistive Technologies: Principles and Practices. St. Louis, Missouri. Mosby - Year Book, Inc, 1995. LEMOS, Felipe. Ensino a Distância pode ser saída para qualificar pessoas com deficiência. Núcleo de Acessibilidade e Inclusão-Sensibiliza - Universidade Federal Fluminense. Disponível em < http://www.prograd.uff.br/sensibiliza/ensino-%c3%a0-dist%c3%a2ncia-podeser-sa%c3%adda-para-qualificar-pessoas-com-defici%c3%aancia>. Acesso em 16/12/12. LUQUES, Ione. Empresas investem em capacitação de profissionais com deficiência. Jornal O Globo, maio de 2011. Disponível em http://oglobo.globo.com/emprego/ empresas-investem-em-capacitacao-deprofissionais-com-deficiencia-2771197 Acesso em 16/12/12. 12

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