Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Indução da Maturação da Banana Terra com Etefon 71 Introdução Tradicionalmente, a indução da maturação (climatização) da banana Terra é feita utilizando-se carbureto de cálcio, o qual libera o acetileno, quando umedecido. A técnica consiste em empilhar as pencas, colocar o carbureto umedecido em volta das mesmas, cobrindo-as com lona plástica. O inconveniente desta técnica reside no fato de que o empilhamento causa danos na casca dos frutos pelo atrito entre as pencas, durante o manuseio. Os danos causados pelo atrito, aparecem no fruto maduro na forma de listas ou manchas pretas, o que deprecia a qualidade do produto para comercialização. Uma alternativa para o carbureto de cálcio é o uso de etefon (ácido 2-cloroetilfosfônico), princípio ativo dos produtos comerciais Ethrel e Arvest, os quais liberam o etileno na casca dos frutos. Estes produtos são de baixa toxidez, faixa azul na concentração industrial. Na climatização são usados em baixíssimas concentrações, inferiores a 1%, não oferecendo riscos durante o manuseio e eventuais resíduos que possam permanecer na polpa da banana, não causam intoxicação após a sua ingestão. Cruz das Almas, BA Setembro, 2004 Procedimentos para a Indução da Maturação com Etefon Autor Valdique Martins Medina Eng o Agr o, M.Sc., Pesquisador Embrapa Mandioca e Fruticultura CP 007, 44380-000, Cruz das Almas, BA, Tel: (75) 621-8055 Fax: (75) 621-8096 medina@cnpmf.embrapa.br Ponto de colheita O método tradicional para avaliar a maturidade da banana Terra é visual, uma vez que o diâmetro e a angulosidade do fruto indicam o grau de desenvolvimento do mesmo. Nos estádios incipientes de maturidade, os dedos apresentam-se com arestas bem definidas; à medida em que se aproximam da maturidade fisiológica, os dedos tornam-se menos angulosos e mais arredondados. Este método é adequado quando se mantém um rígido controle da idade do cacho, a qual situa-se entre 105 a 120 dias após a emissão do mesmo. Foto: Valdique Martins Medina. Um método simples de se comprovar a maturidade fisiológica dos frutos é cortar longitudinalmente um dedo da primeira penca. Se a polpa estiver com coloração rosada (Fig. 1), o cacho pode ser colhido com a garantia de que os frutos amadurecerão após a colheita. Este ponto de colheita propicia um maior tempo para a comercialização, sobretudo se for usada a técnica de frigoconservação. No entanto, em algumas situações, principalmente no caso de agricultores familiares que comercializam o produto diretamente em feiras livres, há Fig. 1. Frutos de banana Terra recém-colhidos, mostrando a maturidade fisiológica caracterizada pela cor rosada da polpa. a necessidade de antecipar-se e uniformizar a maturação, pois os consumidores desejam bananas já maduras e, consequentemente, prontas para o processamento doméstico (cozimento e fritura).
2 Indução da Maturação da Banana Terra com Etefon Preparo da solução de etefon No preparo da solução deve-se usar água fria, limpa e sem salinidade. Para o produto comercial contendo 240 g de etefon/litro usa-se, para 100 litros de água, 208 ml (concentração de 500 mg.l -1 ), 416 ml (concentração de 1.000 mg.l -1 ) e 832 ml (concentração 2.000 mg.l -1 ). Após o despencamento recomenda-se a prévia lavagem das pencas com solução de detergente doméstico a 1% (1 litro para 100 litros de água). Esta prática dispensa o uso de espalhante-adesivo na solução de etefon, além de remover o látex ( leite que escorre sobre as bananas após a remoção das pencas), o qual causa lesões na casca que se manifestam na forma de manchas escuras no fruto maduro. A lavagem com detergente também reduz a ocorrência de doenças. Durante a lavagem, aproveita-se para remover os restos florais da extremidade dos frutos. A solução de etefon permanece ativa por mais de 200 dias, podendo ser reutilizada para a indução da maturação durante este período. Este aspecto permite o acesso à tecnologia pelos agricultores familiares, pois o retorno do investimento na compra do etefon é de curto prazo. tonel, usam-se as próprias tampas. A solução destinada à reutilização deve ser armazenada no próprio recipiente de tratamento, mantendo-o tampado para evitar perda de solução por evaporação (Fig. 2). Apesar da casca da banana absorver apenas pequena quantidade de solução, durante os tratamentos sempre ocorre perda da mesma quando as pencas ou caixas são removidas do recipiente. Quando o nível não mais cobrir todas as bananas, pode-se completar o volume com solução recém-preparada na mesma concentração da anterior ou reduzir o número de pencas. No caso de se completar a solução, o descarte da mesma deve ser efetuado 208 dias após o preparo da solução anterior. Fotos: Valdique Martins Medina. Tratamento de indução da maturação O tratamento de indução consiste em submergir as pencas ou buquês, contidos ou não em caixas de madeira, na solução de etefon por cinco minutos (Fig. 2). Quando se usa caixas de papelão, o acondicionamento das bananas é efetuado após a submersão na solução e evaporação da mesma, para evitar perda de resistência das caixas ao empilhamento. Para facilitar a operação, o tratamento é efetuado no próprio galpão de maturação, quando não se utiliza câmaras frigoríficas com controle de temperatura e umidade do ar. Pode-se utilizar tanques de fibra de vidro, de plástico, de alvenaria ou mesmo toneis, cujas capacidades e quantidades dependerão do volume de bananas a ser tratado diariamente. O recipiente não deve ser cheio até a borda, pois ao colocar-se as bananas, ocorre transbordamento da mesma. Como regra geral, enche-se o recipiente até 2/3 da sua capacidade (700 litros de solução para tanques de 1.000 litros e 140 litros para toneis de 200 litros). Recomenda-se não utilizar tanques de cimento amianto, pois está comprovado cientificamente que o amianto causa danos à saúde, dentre os quais, o câncer. As pencas ou buquês da camada superior tendem a flutuar. Assim, para assegurar a uniformidade do tratamento, deve-se utilizar tampa com a superfície inferior revestida com espuma sintética para manter todas as pencas ou buquês totalmente submersos na solução. Para o tanque de alvenaria, utiliza-se uma tampa de madeira com dobradiças e, para o tanque de fibra ou plástico e o Fig. 2. Tratamento de bananas Terra com solução de etefon (500 mg.l -1 ), em tanque de alvenaria. A- bananas em penca e buquê; B- bananas no tanque e C- tanque tampado.
Indução da Maturação da Banana Terra com Etefon 3 Concentração da solução de etefon A concentração de etefon para a climatização da banana Terra, conforme comentado anteriormente, pode ser de 500, 1.000 e 2.000 mg.l -1, o que corresponde a 208, 416 e 833 ml/100 litros de água, respectivamente. Na Tabela 1, observa-se que a temperatura de armazenagem afeta o tempo para o amadurecimento, isto é, quanto mais alta, menor o tempo. No entanto, é importante salientar que temperaturas acima de 30 o C podem causar amadurecimento aparente, ou seja, a casca amarelece, mas a polpa não amadurece completamente e fica parcialmente desidratada devido à perda de água por excessiva transpiração. Nota-se também, que o maior efeito do etefon na antecipação da maturação ocorre à temperatura ambiente, sem diferença entre as concentrações. Nas temperaturas de 21 e 16 o C a antecipação é mínima, porém, o uso do etefon tem um benefício adicional, que é o de uniformizar a maturação das pencas. A Fig. 3 ilustra a evolução da maturação da banana Terra em condições ambientais. Apesar da concentração de 500 mg.l -1 ser efetiva para a indução e uniformização da maturação da banana Terra, recomenda-se aos agricultores que cultivam bananas do subgrupo Cavendish (Nanica e Nanicão), além da Terra, o uso da concentração de 2.000 mg.l -1, pois as cultivares do subgrupo Cavendish são mais resistentes ao efeito do etefon. No caso específico do cultivo único da banana Terra, a concentração de 500 mg.l -1 é satisfatória e mais econômica. Fotos: Valdique Martins Medina. Fig. 3. Banana Terra tratada com etefon 500 mg.l -1, armazenada à temperatura de 24± 3 o C e umidade relativa do ar de 70 ± 5%. 0 - dia da colheita/ tratamento; 1 a 5 - dias após o tratamento.
4 Indução da Maturação da Banana Terra com Etefon A concentração de etefon não afeta o teor de sólidos solúveis totais (indicador do conteúdo de açúcares), porém a temperatura sim, ou seja, quanto mais baixa, menor o teor (Tabela 2). A explicação para este fato é que as taxas respiratórias diminuem com a redução da temperatura de amadurecimento. É importante salientar que tal redução do teor de sólidos solúveis totais não afeta a qualidade da banana Terra para consumo. Tabela 1. Tempo (dias) para o amadurecimento da banana Terra em função da temperatura e da concentração de etefon. * 208 ml/100 L de água **416 ml/100 L de água ***833 ml/100 L de água Tabela 2. Sólidos solúveis totais ( o Brix) da banana Terra em função da temperatura e da concentração de etefon. *208 ml/100 de água **416 ml/100 L de água ***833 ml/100 L de água Instalações para a climatização com etefon Se disponíveis, podem ser usadas câmaras frigoríficas com controle de temperatura e umidade. Entretanto, esta facilidade não está ao alcance de agricultores familiares, devido ao seu alto custo aquisitivo e operacional. Assim, recomenda-se o uso de galpões já existentes na propriedade ou a sua construção conforme ilustrado na Figura 4. As dimensões dependerão da quantidade de banana a ser climatizada. O galpão existente ou construído deve ficar em local sombreado, sob árvores ou bananeiras de grande porte, tais como, Prata Anã, Pacovan ou a própria Terra, espaçadas por 1,50 m, para evitar-se altas temperaturas que depreciam a qualidade da banana madura. Além da temperatura elevada, a baixa umidade do ar também deprecia a qualidade da banana. Por este motivo, recomenda-se a construção de valas impermeabilizadas (Fig. 4) ou calhas de PVC para a colocação de água, a qual ao evaporar-se, aumenta a umidade no galpão. Desenho: Valdique Martins Medina Fig. 4. Detalhes construtivos e localização do galpão de maturação.
Indução da Maturação da Banana Terra com Etefon 5 Referências MEDINA, V.M.; SILVA, S. de O. e; SOUZA, J. da S. Como climatizar bananas. Cruz das Almas, BA: Embrapa Mandioca e Fruticultura. 2000. 20p. (Embrapa Mandioca e Fruticultura, Circular Técnica, 25). MEDINA, V. M. Frigoconservação e climatização póscolheita. In: ALVES, E. J. (Ed.). Cultivo de bananeira tipo Terra. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2001. p.131-137. MEDLICOTT, A. Manejo postcosecha de plátano para exportación. In: SALINAS, D.G.C.; GIRALDO, G.A.G.; PULGARIN, M.I.A (Eds.). CORPOICA, Universidad del Quindío, ASIPLAT, Comité Departamental de Cafeteros del Quindío, COLCIENCIA. Fudesco, Armenia, Colombia. Postcosecha y agroindustria del plátano en el eje cafetero de Colombia. 2000. P. 187-198. Agradecimento pela colaboração na condução do ensaio: Rogério Silva Silveira Auxiliar de Operações III Elaine Goes Souza Assistente de Operações I Circular Técnica, 71 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Embrapa Mandioca e Fruticultura Endereço: Rua Embrapa, s/n - Caixa Postal 007 44380-000 - Cruz das Almas - BA Fone: (75) 621-8000 Fax: (75) 621-8096 E-mail: sac@cnpmf.embrapa.br Comitê de publicações Presidente: Domingo Haroldo Rudolfo Conrado Reinhardt. Vice-Presidente: Antonio Souza do Nascimento. Secretária: Cristina Maria Barbosa Cavalcante Bezerra Lima. Membros: Adilson Kenji Kobayashi, Antonia Fonseca de Jesus Magalhães, Antonio Alberto Rocha Oliveira, Carlos Alberto da Silva Ledo, Davi Theodoro Junghans, Maria das Graças Carneiro de Sena. 1 a edição 1 a impressão (2004): 500 exemplares Expediente Supervisor editorial: Domingo Haroldo Rudolfo Conrado Reinhardt. Revisão de texto: Comitê de Publicações Local. Editoração eletrônica: Saulus Santos da Silva.