TJ Direito Constitucional Apostila Samuel Fonteles 2013 Copyright. Curso Agora eu Passo - Todos os direitos reservados ao autor.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS Um país pode assumir várias características. Incumbe àquele que o instituiu eleger um tipo de Estado (federal ou unitário), uma forma de governo (republicana ou monárquica), um sistema de governo (presidencialista ou parlamentarista), bem como adotar um regime político (democrático ou totalitário). Todas essas escolhas foram reveladas pelo caput do Art. 1º da Constituição Federal: TÍTULO I Dos Princípios Fundamentais Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: A expressão indissolúvel, a rigor, é um pleonasmo (explicitação desnecessária, repetitiva). Isto porque o pacto federativo tem como uma de suas maiores características o fato de não se permitir o direito de secessão, ou seja, os entes federativos não podem separar-se uns dos outros. A cláusula de indissolubilidade foi mera explicitação, eis que já estava implícita no adjetivo Federativa. O federalismo tem, ainda, outros traços importantes: igualdade e autonomia dos entes políticos. Significa que Municípios não se subordinam aos Estados (nem ao DF) que também não são hierarquicamente inferiores à União. Todos foram equiparados e considerados autônomos, nos limites da Constituição. Uma lei estadual não deve conformidade a uma lei federal, devendo ambas obediência à repartição constitucional de competências. Tanto uma como outra extraem o seu fundamento de validade do mesmo lugar: da CRFB (Constituição da República Federativa do Brasil). Por força da autonomia, os entes possuem capacidade de autogoverno, auto-administração, auto-organização e de normatização própria. I - a soberania; Muito se ouve e se lê que um Estado possui três elementos constitutivos: povo, território e poder. Este último é justamente a soberania, que representa o mais alto grau de poder, não se submetendo, pois, a nenhum outro. Nas palavras de Ives Gandra da Silva Martins,... a soberania é o direito de dizer, dentro desse país, qual é efetivamente o Direito que terá de ser observado. (...) A intromissão de Prof. Samuel Fonteles 2
outras nações no seu Direito só será aceita se respaldada em tratados, pactos ou acordos internacionais.. A própria ESAF já cuidou de conceituar esse atributo exclusivo do Estado: Segundo a melhor doutrina, a soberania, em sua concepção contemporânea, constitui um atributo do Estado, manifestando-se, no campo interno, como o poder supremo de que dispõe o Estado para subordinar as demais vontades e excluir a competição de qualquer outro poder similar. (Analista de Finanças e Controle CGU 2004). Apenas a República Federativa do Brasil é soberana. A União, os Estados, o DF e os Municípios não ostentam o atributo da soberania, mas sim o da autonomia, pois sofrem limitações jurídicas. É exatamente por isso que tais entes têm suas competências traçadas na Constituição, que nada mais são do que limitações, eis que os entes políticos não podem atuar fora delas. II - a cidadania; Cidadania é qualidade de quem é cidadão. Este, por sua vez, é o nacional que está no gozo de seus direitos políticos, podendo participar dos negócios do Estado. Trata-se do verdadeiro protagonista de uma democracia. III - a dignidade da pessoa humana; A dignidade da pessoa humana é um princípio densificado ao longo do texto constitucional e conexo com inúmeros dispositivos. Por força desse inciso, reconhece-se aos indivíduos o direito a uma existência digna. IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; Fundem-se dois valores aparentemente paradoxais: o valor social do trabalho, típico de um Estado Social, com a livre iniciativa, comum em Estados Liberais. Assim, a exploração da atividade econômica poderá ser livremente desenvolvida pelos particulares, devendo-se, no entanto, assegurar a dignidade do trabalho humano. V - o pluralismo político. O fundamento do pluralismo político não se confunde com o pluripartidarismo. Este significa diversidade de legendas partidárias, enquanto aquele é mais amplo: traduz a coexistência das mais diversas correntes de pensamentos e ideologias. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Prof. Samuel Fonteles 3
Acaba de ser consagrado o princípio da soberania popular, que é exercida de maneira indireta (democracia representativa) ou diretamente (democracia participativa), nos termos do Art. 14: mediante sufrágio, voto, plebiscito, referendo e iniciativa popular. Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. A soberania, em verdade, é una. Logo, não é correto falar-se em Poderes, mas em funções. O poder não se divide, apenas o seu exercício é repartido. Daí aludir-se corretamente ao postulado da Tripartição das Funções. No entanto, quando escrita no texto constitucional com P maiúsculo, a palavra Poder assumirá o significado de órgão. Dessa forma, são órgãos da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. A tripartição das funções, tal como teorizada por Montesquieu ( Teoria dos Freios e Contrapesos ), está ultrapassada. Não existe mais uma rígida separação entre as atribuições que antes eram distribuídas de forma pura. Hoje, pode-se falar em funções típicas e atípicas. A independência entre os Poderes consagra implicitamente o sistema presidencialista, eis que, no sistema parlamentarista, há uma interdependência entre eles. É a maioria do parlamento que escolhe o chefe de governo, que, por sua vez, pode dissolver esse mesmo parlamento que o escolheu. Logo, no sistema parlamentarista, ambos são dependentes. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: Os objetivos da república são normas programáticas, isto é, normas que encerram um programa de governo a ser cumprido. Para se concretizarem, dependem de atividade meta-jurídica, na medida em que não é suficiente a sua regulamentação pelo legislador, sendo imprescindíveis providências administrativas para a sua implementação. I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; A marginalização é o ato de marginalizar. Vê-se que o constituinte buscou erradicar a causa (marginalização) e não a conseqüência (marginalidade). É objetivo da República tão somente reduzir, ao invés de aniquilar, as desigualdades sociais. Isto porque tais desigualdades sempre existirão em maior ou menor grau. Imaginar a sua ausência absoluta seria utópico. Objetiva-se, então, reduzi-las para patamares mínimos, razoáveis. Prof. Samuel Fonteles 4
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Percebe-se, já aqui, uma nítida referência à isonomia, um dos princípios mais reforçados ao longo do texto constitucional. Não se deve realizar uma interpretação literal do dispositivo, pois há determinadas discriminações aceitas constitucionalmente, como, por exemplo, as chamadas ações afirmativas. Discriminar é tão-somente tratar de forma diferenciada, nem toda discriminação é negativa ou reprovável. O STF, em uma interpretação sistemática do art. 3º, IV c/c Art.1º, III, entendeu que a união estável admite, inclusive, a modalidade homossexual, valendo-se da expressão homoafetividade. Segundo o Excelso Pretório, tais uniões são qualificadas como entidade familiar (família), à luz do direito fundamental implícito da busca da felicidade (ADPF 132/RJ 05/05/2011). Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: Os princípios apresentados ao diante formam um decálogo que norteia a República Federativa do Brasil no plano internacional. I - independência nacional; A independência nacional decorre diretamente de nossa soberania externa, atributo que nos permite atuar no plano internacional de modo a não acatar intromissões indesejadas nas decisões políticas de nosso país. II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; Por respeitar a auto-determinação dos povos, nosso país não intervém em outros Estados, diferentemente do que os Estados Unidos fizeram no Afeganistão e no Iraque. O Brasil não poderá declarar guerras de conquista ou ingressar nos combates de retaliação. Segundo o Art. 84, XIX compete ao Presidente da República declarar guerra em caso de agressão estrangeira. Assim, inexistindo tal agressão, não há que se falar em guerras. V - igualdade entre os Estados; Não é porque um Estado é menos poderoso que não terá o mesmo prestígio que outras nações junto à comunidade internacional. Todos devem ser igualmente ouvidos e respeitados. A ONU, no entanto, privilegia os países que compõem o seu Conselho de Segurança, situação que evidentemente não é defendida pelo Brasil. Prof. Samuel Fonteles 5
VI - defesa da paz; Nosso país é vocacionado para a paz, tanto que assinamos o Tratado de Nãoproliferação de Armas Nucleares, onde ficou acordado que toda a produção brasileira de energia nuclear poderá ser inspecionada duas vezes por ano, sendo uma das fiscalizações com prévio aviso e outra de surpresa. VII - solução pacífica dos conflitos; Justamente por primar pela solução pacífica dos conflitos, as tropas brasileiras enviadas ao Haiti foram tropas de paz, ou seja, para restaurar a ordem, e sob a supervisão da ONU. Esta tem poder de ingerência internacional e enviou soldados a pedido dos próprios haitianos. A solução pacífica dos conflitos deve ser tida como regra, mas não impede a adoção de uma excepcional providência bélica no plano internacional, desde que para assegurar a própria independência nacional. VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. Prof. Samuel Fonteles 6