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Praesentia 14 (2013), p. 1/7 Fábio Vergara Cerqueira & Maria Aparecida Silva de Oliveira, Ensaio sobre Plutarco: Leituras Latino-americanas, Pelotas, Editora da UFPel, 201, ISBN 978-85-606-04-8, 340 pp. Recibido: 12/07/2013 Evaluado: 15/07/2013 Aceptado: 20/07/2013 O objeto de nossa análise resulta do esforço em difundir a produção literária legada por Plutarco de Queroneia, escritor grego que viveu e produziu seus estudos nos anos iniciais do Império Romano. Dentro de uma perspectiva de valorização das pesquisas sobre o tema, desenvolvidas do lado de cá do Atlântico, a obra Ensaios sobre Plutarco: Leituras Latino-americanas propõe uma análise diferenciada da produção plutarquiana, através de uma produção não europeia e interdisciplinar. Organizada por Fábio Vergara Cerqueira e Maria Aparecida de Oliveira Silva, a publicação contou com a participação de outros nove pesquisadores, da Argentina, Brasil, Colômbia, Uruguai e México, e com a especial contribuição de Jacyntho Lins Brandão, da Universidade Federal de Minas Gerais, que assina o Prefácio da edição, que também traz em suas abas comentários de Mary Macedo de Camargo Neves Lafer, da Universidade de São Paulo. O volume é composto por trezentas e quarenta páginas, divididas em onze capítulos, dentro dos quais são apresentadas inovadoras perspectivas dos estudos de Plutarco, não apenas pela riqueza da revisão bibliográfica, mas também pelas instigantes análises que apontam a influência do autor grego em produções literárias modernas. Para fins práticos, dada a vastidão das abordagens reunidas, optamos por apresentar a presente obra através do agrupamento dos capítulos por temas, da seguinte maneira: alimentação, dentro do qual se inserem discussões acerca do ato de comer carne e sobre a organização de um banquete; música, essa abordagem reúne o estudo sobre a atribuição da autoria do tratado sobre a música a Plutarco e a necessidade da educação

Praesentia 14 (2013), p. 2/7 musical para a formação do cidadão grego; educação, nesse grupo reunimos o texto que analisa a influência de Plutarco na educação brasileira, através da análise dos elementos de suas reflexões na produção literária de Monteiro Lobato e também suas lições aos jovens da sua contemporaneidade, com um texto que trata da importância do ensino da correta maneira de apreciar e compreender a poesia e o texto que relaciona os textos de Plutarco e Eurípedes, demonstrando a sua preocupação com a preservação da tradição grega; e, por fim, agrupamos os textos que trazem a percepção de Plutarco acerca do estrangeiro, com destaque à relação entre o autor grego e os elementos da cultura egípcia, um dos textos demonstrando uma análise filológica de Plutarco sobre as divindades egípcias, outro analisando sua percepção da figura de Cleópatra VII e o terceiro apontando suas conclusões acerca do judaísmo. Mas, antes de adentrar a análise da obra que engloba as pesquisas acerca da vasta produção literária de Plutarco, cumpre seja realizada uma breve apresentação de sua trajetória. Plutarco nasceu em Queroneia, pequena cidade localizada ao norte da Beócia, em 45 d.c., estudou em Atenas e, através dos ensinamentos de Amônio de Lamptra, filiou-se à escola filosófica platônica. Desempenhou diversas atividades após sua formação escolar, dentre as quais salientamos os vinte anos de sacerdócio em Delfos e seu destaque como palestrante, o que permitiu que recebesse o título de cidadão romano, através de sua aproximação com romanos politicamente influentes. Plutarco também assumiu importantes cargos políticos dentro do governo imperial, até que em 125 d.c., nas palavras de Silva, pagou um óbolo ao barqueiro Caronte e navegou tranquilo, nas águas do rio Aqueronte, em direção ao Hades. Paralelamente aos afazeres profissionais, Plutarco constituiu família, e desenvolveu importantes estudos sobre os mais variados aspectos da vida humana. Plutarco registrou suas análises a partir de pesquisas em registros escritos, diálogos, viagens, entre outras fontes, cuidadosamente selecionadas, na forma de biografias e tratados. Por essa preocupação com relação à precisão e qualidade de suas fontes, é possível verificar que seus escritos apresentam um importante viés historiográfico, apesar de não reconhecer que produzia história, mas sim biografia, pois o conceito de história se reduzia ao estudo dos grandes feitos de guerra.

Praesentia 14 (2013), p. 3/7 De acordo com o conceito de História, apreendido dos gregos, Plutarco não escreveu a história, mas a biografia de suas personagens, uma vez que relatou fatos da vida quotidiana delas, sem tratar exclusivamente de assuntos relativos às guerras. Reconhecia a metodologia e o conteúdo histórico de sua narrativa, contudo estes não se encaixavam em sua definição de História. Dessa forma, graças ao comprometimento do autor com a busca da verdade, através da abordagem acurada das fontes que lhe foram acessíveis, é possível dizer que, além do cunho moral, filosófico, pedagógico, entre outros, a obra de Plutarco apresenta também um viés historiográfico. Importa destacar ainda, que, além da riqueza intelectual de sua abordagem, Plutarco legou grande volume de registros, os quais foram agrupados em dois volumes, intitulados Vidas Paralelas e Obras Morais e de Costumes. A produção literária de Plutarco atinge a notável soma de cento e vinte e sete títulos, dos quais cento e trinta não chegaram aos nossos dias. Os títulos remanescentes encontram-se organizados em duas obras intituladas Vidas Paralelas e Obras Morais e de Costumes. As Vidas Paralelas reúnem cinquenta biografias de antigos chefes militares, legisladores e governadores políticos. Das duas obras deixadas por Plutarco, as Vidas Paralelas oferece valiosas informações acerca de séculos de história do Mediterrâneo antigo, pois as vidas de gregos e romanos são analisadas comparativamente por Plutarco. As Obras Morais e de Costume compõem-se de pequenos tratados filosóficos que versam, entre outros assuntos, sobre política, moral, história, e aspectos da natureza humana. Superadas as considerações preliminares sobre o escritor de Queroneia, passamos à análise do livro Ensaios sobre Plutarco: Leituras Latino-Americanas. A característica mais marcante da obra em comento é, sem sombra de dúvida, a riqueza das contribuições trazidas pelos estudiosos. E isso se deve não só à imensa produção intelectual de Plutarco, mas também à criatividade e eloquência inseridas nos estudos latino-americanos acerca do seu legado. O primeiro tema, sobre o qual reunimos os dois primeiros textos, é a alimentação. Em seu texto, intitulado Prácticas de um joven rethor: Plutarco de Queronea y el habito de comer carne, Silvia Susana Calosso, da Universidad Nacional del Litoral, da Argentina, evidencia a preocupação de Plutarco com um dos problemas mais latentes de seu tempo, qual seja, o desperdício de alimento, em decorrência do consumismo e ostentação dos hábitos romanos. A partir da verificação do desperdício de alimento,

Praesentia 14 (2013), p. 4/7 Plutarco escreve sobre o próprio hábito de comer carne e sobre o sacrífico de animais, evidenciando elementos da filosofia grega de Platão e Pitágoras. Em contrapartida, discute a necessidade de comer carne para a saúde e o desenvolvimento humano. O segundo capítulo intitula-se Quaestiones Convivales: a ordem do banquete em Plutarco, elaborado por Maria Aparecida de Oliveira Silva, então pós-doutoranda pela Universidade Estadual Paulista. A partir de seu texto, a autora evidencia os elementos que, para Plutarco estariam relacionados ao banquete. Arrolamos o texto dentro do tema alimentação, pois o ato de comer é intrínseco ao evento, cuja origem Plutarco atribui aos gregos, o que, consequentemente, o traz para o conjunto de elementos que compõem a identidade grega. Em seu estudo, a autora nos leva a uma análise minuciosa de questões recorrentes na organização do festim, dentre elas: os convidados (quem deve ser convidado, o número de convidados, a possibilidade de reservar lugares à mesa); a bebida (sua necessidade e o seu consumo durante o debate de assuntos filosóficos); a dança; o canto, entre outras questões. A partir de sua análise, Plutarco pretende enumerar os elementos de um verdadeiro banquete grego, no evidente empenho de manter aceso o conhecimento atinente a esse componente da tradição, com vistas à preservação da identidade grega dentro do sincretismo cultural do Império Romano. Enquadramos no tema música a análise de Rooselvet Araújo da Rocha Júnior, da Universidade Federal do Paraná, apesar de não se referir especificamente à arte. Em sua pesquisa, intitulada O tratado plutarquiano Sobre a Música: reconsiderando a questão da autoria, Rocha analisa a autoria do referido documento, apresentando uma imensa revisão bibliográfica a favor e contra a tese da autoria plutarquiana. Rocha defende a autoria de Plutarco e justifica sua convicção a partir de uma análise profunda da estética do texto e do interesse de Plutarco pela música, concluindo que, se o texto daquele tratado se apresenta formalmente inferior às demais produções de Plutarco, é porque, em verdade, consiste num esboço, uma obra inacabada. Outro capítulo que também se relaciona com o tema música, mas que também apresenta uma abordagem estreitamente ligada à educação, é o artigo de Fábio Vergara Cerqueira, da Universidade Federal de Pelotas, intitulado A educação musical nas Vidas de Plutarco. Identidade e tradição cultural grega no Império Romano. Para

Praesentia 14 (2013), p. 5/7 Cerqueira, Plutarco ressalta a educação musical das personagens gregas, em oposição ao militarismo dos romanos, com a finalidade de estabelecer a supremacia da cultura grega através da relação entre a forte educação musical e o desenvolvimento de qualidades morais e políticas. Trata-se de um esforço de afirmação da identidade cultural grega em oposição aos romanos. Desde o Prefácio, Jacyntho Lins Brandão já apresenta Plutarco como um educador, pois, apesar da vastidão dos temas abordados pelo escritor de Queroneia, seu objetivo era convidar o interlocutor a contemplar e refletir sobre os exemplos de grandes personalidades, nas Vidas Paralelas, e de pessoas comuns, nas Obras Morais e de Costume. Nessa perspectiva, Sônia Regina Rebel de Araújo, da Universidade Federal Fluminense, analisa a influência de Plutarco na produção de Monteiro Lobato, intitulada História do Mundo para Crianças, literatura através da qual pretendia formar cidadãos brasileiros capazes, demonstrando uma preocupação similar com a de Plutarco, em sua época, e valendo-se do mesmo método escolhido pelo autor grego, qual seja, a análise dos exemplos de vida de notórios personagens da Antiguidade, que, no caso de Monteiro Lobato, são narrados pela personagem Dona Benta. Demonstrando a preocupação de Plutarco com a correta apreciação da poesia pelos aprendizes, Andrea Lozano Vasquez, da Universidade de Bogotá, em seu texto, Malestares y delicias de los ojos de pescado. Sobre la concepción plutarqueana de la poesia, analisa as lições do autor aos jovens, inseridas no tratado Cómo debe el joven escuchar poesia. Vasquez demonstra o interesse de Plutarco com o emprego da poesia como ferramenta didática para aparelhar os jovens para a compreensão dos textos filosóficos. Ou seja, a poesia, por mais que possa representar uma criação inferior, uma vez que proporciona prazer a partir de uma narrativa irreal, encaminha os jovens para a correta apreciação dos temas relevantes da vida, os quais se inserem nos estudos filosóficos. O Professor Daniel Rinaldi, da Universidad Nacional Autónoma de México, em seu texto El Hipólito de Eurípides en el Erótico de Plutarco, nos leva a um instigante estudo dos elementos que compõem a obra de Plutarco, no que se refere à autoria de suas citações. Em outras palavras, Rinaldi se preocupa com os autores que estão

Praesentia 14 (2013), p. 6/7 presentes em suas obras, o que denomina Biblioteca de Plutarco. Através da comparação dos fragmentos da obra Erótico, de Plutarco, com a tragédia grega produzida em 428 a.c. por Eurípedes, denominada Hipólito, é possível, mais uma vez, encontramos em Plutarco uma evidente preocupação com a manutenção dos elementos da identidade grega. No capítulo intitulado La hermenêutica De Isis y Osíris de Plutarco en tanto que sistema para interpretar el mundo, o pesquisador Jorge Ordoñez-Burgos, da Universidade Autónoma de Ciudad Juarez, do México, aborda a análise filológica que Plutarco estabelece sobre a mitologia egípcia. No entanto, segundo o próprio autor, Plutarco ultrapassa a mera análise filológica para revelar o sentido das tradições religiosas dos egípcios, num verdadeiro esforço de análise teológica e de compreensão de fronteiras identitárias. Ainda acerca do olhar de Plutarco sobre o Egito, Gregory da Silva Balthazar, então da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, analisa a contribuição de Plutarco para a formação da percepção de Cleópatra pelo mundo contemporâneo. Intitulado Plutarco e Cleópatra, o texto de Balthazar apresenta um instigante estudo sobre a influência exercida pelas obras do autor de Queroneia sobre a peça Antônio e Cleópatra de William Shakespeare, escrita em 1607, e o romance Memórias de Cleópatra, escrito em 1956, por Margaret George. A tessitura de sua narrativa convida o interlocutor a conhecer melhor a história do Egito antigo e a biografia de Cleópatra que, além de mulher e mãe, governou o Egito e influenciou imensamente os rumos do governo romano nos anos que antecederam o Império. Por fim, Ricardo Martinez Lacy, da Universidad Autónoma do México, em seu texto, intitulado Plutarco y el Judaísmo en el contexto de la ideologia dominante en el Império Romano, apesar de partir da análise da percepção de Plutarco com relação ao Judaísmo, chega à interessante conclusão de que, em decorrência do limitado conhecimento que os não judeus tinham da religião judaica, Plutarco não reconhecia o judaísmo como uma religião, mas tinha os judeus como supersticiosos, que temiam ser castigados pelos deuses se fizessem algo no sábado. Além disso, ainda em decorrência dos parcos conhecimentos acerca da cultura judaica, teceu uma série de comparações

Praesentia 14 (2013), p. 7/7 entre os judeus e os egípcios, motivo pelo qual o pesquisador supõe que Plutarco teve contato com os judeus da cidade de Alexandria, localizada ao norte do Egito. Concordamos com Norberto Luiz Guarinello, que coloca a obra de Plutarco como um exercício de revalorização do grego, através de sua tentativa de reposicionar e repensar a relação entre gregos e romanos, concluindo pela superioridade da cultura grega diante da diversidade cultural centralizada pelo poder imperial de Roma. As análises reunidas na obra Ensaios sobre Plutarco: Leituras Latino-Americanas, através da riqueza de informações e das diferentes abordagens realizadas, nos mostra a imensa abrangência da obra de Plutarco e a qualidade das pesquisas que estão sendo desenvolvidas neste lado do oceano. Enfim, é imensa a contribuição da presente iniciativa, pois a leitura do conjunto de análises abarcadas pela obra nos convida a buscar seus clássicos, mantendo acesa iniciativa de Plutarco, de perpetuação da cultura grega. Na mesma linha dos estudos inovadores de Plutarco, seguem os autores dessa obra de divulgação. Através dos novos olhares lançados sobre a produção literária do escritor de Queroneia, é possível visualizar que as pesquisas sobre seu legado se encontram em franco processo de desenvolvimento. Ademais, as pesquisas reunidas na obra analisada são a prova de que a empresa de Plutarco pela preservação dos elementos inerentes à identidade grega não só surtiu efeito como também fascina até os dias de hoje. Edalaura Berny Medeiros Universidade Federal de Pelotas edalaura@hotmail.com