ESTUDO DE ACIDENTES DE TRABALHO NA CONSTRUÇÃO DE RODOVIAS BRASILEIRAS

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Transcrição:

ESTUDO DE ACIDENTES DE TRABALHO NA CONSTRUÇÃO DE RODOVIAS BRASILEIRAS Wellington Vicente Almeida dos Santos Graduado em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM), Rio de Janeiro, RJ, Brasil wva.santos@hotmail.com Marcelo de Jesus Rodrigues da Nóbrega Pós-Doutor em Engenharia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ) e do Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM), Rio de Janeiro, RJ, Brasil engmarcelocefet@terra.com.br Anna Carolina Ribeiro Mendes Magdaleno Mestrado em Biotecnologia Vegetal pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil anna.crmm@gmail.com RESUMO O Brasil ocupa a 4ª posição em extensão de rodovias. Porém a qualidade das rodovias brasileiras encontra-se na 121ª posição. Nos últimos anos, a construção de novas rodovias no território nacional proporcionou diversos estudos no âmbito das engenharias. A construção civil apresenta uma das piores condições e um dos maiores índices de acidentes. O objetivo foi avaliar o aspecto de segurança do trabalho, relacionando a análise quantitativa, temporal e espacial em rodovias. O tipo de pesquisa deste trabalho é documental com base em bancos de dados do Ministério dos Transportes e da Previdência Social. A região nordeste do país foi a região que obteve maior crescimento da extensão de rodovias e é a que apresenta maior densidade de malha rodoviária. Em relação ao índice de acidentes de trabalho, essa região obteve a maior média, seguida da região norte, centro-oeste, sudeste e sul. A segurança do trabalho de construção de rodovias apresentou um quadro tão preocupante quanto os estudos de segurança do trabalho na construção civil de uma maneira geral. Recomenda-se a esses trabalhadores o apontamento dos riscos nas obras para um comportamento mais seguro. A instrução dos trabalhadores deveria ser um importante componente do processo de execução de trabalho. Palavras-chave: Segurança. Acidentes. Construção civil. Rodovias. STUDY OF WORK ACCIDENTS IN BRAZILIAN HIGHWAY CONSTRUCTION ABSTRACT Brazil occupies the 4th position in extension of highways. But the quality of Brazilian highways is in 121st position. In recent years the construction of new highways in the country has provided various studies within engineering. The building has one of the worst conditions and one of the largest accident rates. The objective was to evaluate the aspect of job security, relating the quantitative temporal and spatial analysis on highways. The kind of research of this work is documentary based on Ministry of databases for Transport and Social Welfare. The northeastern region of the country was the region that had the highest growth of the extension of roads Projectus Rio de Janeiro v. 1 n. 1 p. 71-81 jan./mar. 2016 71

ESTUDO DE ACIDENTES DE TRABALHO NA CONSTRUÇÃO DE RODOVIAS BRASILEIRAS and is the one with the largest road network density. In relation to the work accident rate, this region had the highest average, followed by the northern region, the midwest, southeast and south. The safety of highway construction work presented a picture as worrisome as the work safety studies in construction in general. It is recommended to these workers the appointment of risks in the works for safer behavior. A instrução dos trabalhadores deveria ser um importante componente do processo de execução de trabalho. Keywords: Security. Accidents. Civil construction. Roads. 1 RODOVIAS Segundo a Confederação Nacional de Transporte (2015) o modal rodoviário tem sido há anos, a preferência na movimentação de pessoas e bens no Brasil. Na matriz de transporte de cargas, sua participação corresponde a 61%, seguido pelos modais ferroviário (20,7%), aquaviário (13,7%), dutoviário (4,2%) e aéreo (0,4%). Na matriz de transporte de passageiros o modal rodoviário predomina com 95% de participação. Devido ao desequilíbrio dessa matriz o modal tem desempenhado seu papel em viagens de longas, médias e pequenas distâncias dependendo sempre de rodovias em condições para sua utilização. No entanto, o inadequado estado de conservação das rodovias traz como consequência custos elevado de operação dos serviços de transporte. Segundo dados da Agência Central de Inteligência (2010 apud CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE, 2015) o Brasil ocupa a 4ª posição em extensão de rodovias (incluindo as pavimentadas e as não pavimentadas). O Brasil não se encontra em uma posição satisfatória no ranking de competitividade global no Fórum Econômico Mundial (apud CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE, 2015). Segundo relatório divulgado em setembro de 2015, a qualidade das rodovias brasileiras encontra-se na 121ª posição dos 140 países analisados, atrás de países como Chile (35ª), Uruguai (95ª), Argentina (108ª), Bolívia (109ª), Peru (111ª), todos situados na América do Sul. Essa avaliação utiliza notas que variam de 1 (extremamente subdesenvolvida) a 7 (extensa e eficiente) e compreende o período de 2014 a 2015. O Brasil recebeu a nota 2,7 conforme mostrado na figura 1. Figura 1: Ranking da qualidade das rodovias nos países da América do Sul Fonte: (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE, 2015). Projectus Rio de Janeiro v. 1 n. 1 p. 71-81 jan./mar. 2016 72

Wellington Vicente Almeida dos Santos, Marcelo de Jesus Rodrigues da Nóbrega e Anna Carolina Ribeiro Mendes Magdaleno A figura 2 mostra a extensão da malha rodoviária no Brasil em 2015. Esses dados são do Sistema Nacional de Viação (apud CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE, 2015) atualizado até oito de janeiro de 2015. Figura 2: Extensão da malha rodoviária brasileira Fonte: (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE, 2015). Nos últimos anos a construção de novas rodovias em todo território nacional proporcionou diversos estudos no âmbito das engenharias, dentre eles Fontenele e Fernandes Júnior (2014) estudaram os efeitos da caracterização do tráfego sobre o desempenho dos pavimentos, a partir da geração de modelos estatísticos baseados no conceito proposto pelo método empírico-mecanístico da AASHTO, de espectros de carga por eixo dos veículos comerciais de carga, comparando-os com o conceito de equivalência de carga, desenvolvido a partir do AASHO Road Test. O objetivo deste trabalho foi avaliar o aspecto de segurança do trabalho, especificamente relacionando a análise quantitativa, temporal e espacial. A análise quantitativa foi realizada com dados oriundos do INSS relativos aos acidentes de trabalho na construção de rodovias, sendo relacionados com a extensão destas rodovias através do DNIT. A avaliação temporal abrangeu o intervalo dos anos de 2002 até 2012. Por fim o estudo espacial contempla individualmente cada um dos estados da federação, as regiões do Brasil, bem comoo cenário nacional de uma forma geral. 2 SEGURANÇA DO TRABALHO EM RODOVIAS Conforme a legislação brasileira (BARBOSA, 2000), o acidente de trabalho é definido como ocorrência imprevista e indesejável, instantânea ou não, relacionado com o exercício do Projectus Rio de Janeiro v. 1 n. 1 p. 71-81 jan./mar. 2016 73

ESTUDO DE ACIDENTES DE TRABALHO NA CONSTRUÇÃO DE RODOVIAS BRASILEIRAS trabalho, de que resulte ou possa resultar lesão pessoal. Também é considerado acidente de trabalho as Doenças ocupacionais, que são as doenças que causam alterações na saúde do trabalhador, comumente provocadas por vários fatores ou exposição a agentes químicos, físicos ou biológicos acima do limite permitido, relacionados com o ambiente de trabalho. De acordo com Costa (2009), a indústria da construção civil é uma das que apresenta as piores condições de segurança e um dos maiores índices de acidentes a nível mundial. O Brasil não difere dos índices mundiais, tendo um dos maiores números de acidentes de trabalho ocorrendo na construção civil. Um dos principais responsáveis por esse número está associado ao setor de infraestrutura, especificamente o de construção rodoviária, virtude as obras executadas nas rodovias serem essenciais para garantir a qualidade e segurança das mesmas, seja ao nível do pavimento ou dos equipamentos existentes, mantendo-as assim no padrão correto e necessário. Segundo Silveira (2010) os trabalhadores que executam tarefas nas zonas de trabalho rodoviárias estão expostos a um risco de lesão derivado da circulação de veículos de construção e equipamentos no interior das zonas de trabalho, como em qualquer obra, acrescido pela passagem de veículos automóveis. Estes trabalhadores, independentemente da sua tarefa atribuída, trabalham em condições de baixa iluminação, de pouca visibilidade e estão sujeitos às diversas condições climáticas. Além disso, os mesmos podem trabalhar expostos em áreas de tráfego intenso e de elevadas velocidades desses veículos. Um estudo realizado pela Advanced research on road work zone safety standards in Europe (SILVEIRA, 2010) revelou que as áreas de zona de trabalho em vias ativas têm, normalmente, maiores taxas de acidentes em comparação com as zonas onde não existem quaisquer trabalhos. A incidência do estudo sobre o comportamento dos condutores de veículos em zonas de trabalho revela que o excesso de velocidade, distâncias inadequadas entre veículos e frenagens repentinas ocorrem com frequência nas zonas de obras rodoviárias. Tal comportamento é razoavelmente caracterizado como um comportamento de alto risco e assume influência negativa na segurança rodoviária e, por consequência, na segurança dos trabalhadores. 3 MATERIAL E MÉTODOS A metodologia para o desenvolvimento deste trabalho seguiu as seguintes etapas: a) revisão bibliográfica: livros, artigos científicos, teses, dissertações, periódicos (revistas, jornais, dados estatísticos etc.) dos assuntos pertinentes e relacionados ao tema; b) coleta de dados: órgãos públicos (Ministério da Previdência Social, Ministério dos Transportes e Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes); e c) tratamento e análise dos dados. O tipo de pesquisa deste trabalho é a pesquisa documental com base em documentos (banco de dados) (SANTOS, 2015a). A Previdência Social através do seu Anuário Estatístico de Acidente de Trabalho, publicação do Ministério da Previdência Social (MPAS) que está disponível na internet, fornece o número dos acidentes de trabalhos registrados no período. Esses dados são fornecidos a partir das atividades econômicas, que são obtidas através da tabela de Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), aplicada através dos códigos padronizados de atividade econômica e dos critérios de enquadramento utilizados pelos diversos órgãos da Administração Tributária do país. Projectus Rio de Janeiro v. 1 n. 1 p. 71-81 jan./mar. 2016 74

Wellington Vicente Almeida dos Santos, Marcelo de Jesus Rodrigues da Nóbrega e Anna Carolina Ribeiro Mendes Magdaleno Segundo o MPAS (BRASIL, 2015), os códigos representam os agentes econômicos que estão engajados na produção de bens e serviços, podendo compreender estabelecimentos de empresas privadas ou públicas, estabelecimentos agrícolas, organismos públicos e privados, instituições sem fins lucrativos e agentes autônomos (pessoa física). Para as tabulações foi utilizado o aplicativo AEAT Infologo, que permite a seleção e cruzamento de variáveis e a construção de tabelas personalizadas. Além disso, os dados foram selecionados para todos os acidentes ocorridos em empresas enquadradas nos códigos vinculados à Seção F da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), versão 2.0, apresentados na tabela 1. Tabela 1: Códigos de Construção Civil na CNAE SEÇÃO DIVISÃO CLASSE 41 Construção de 4110 Incorporação de empreendimentos imobiliários Edifícios 4120 Construção de edifícios 4211 Construção de rodovias 4212 Construção de obras de arte especiais F 4221 Obras para geração e distribuição de energia elétrica 42 Obras de e telecomunicações Infraestrutura 4292 Montagem de instalações industriais e de estruturas metálicas 4299 Obras de engenharia civil não especificadas anteriormente Fonte: (BRASIL, 2015). A CNAE referente à construção civil, que está representada pelo número inicial 42 (Obras de Infraestrutura), e em especial a 4211, que trata das atividades relacionadas à Construção de Rodovias, foi a utilizada neste trabalho. Foram extraídos da base de dados Ministério dos Transportes os valores das rodovias planejadas, resultando dessa forma um valor total da extensão por quilômetro de rodovias construídas em todo o país. Obtivemos a Extensão em Quilômetro de Rodovias Construídas Anualmente (S), através da diferença dos dados sobre a Extensão Total em Quilômetros de Rodovias Construídas nos anos posteriores (Sp) e anteriores (Sa), conforme a equação 1: Foi quantificado o Índice de Acidentes de Trabalho por Quilômetro de Rodovia Construída (I), a partir dos dados fornecidos pelo (DNIT) e (INSS). Obteve-se através da divisão dos valores referentes ao Número de Acidentes de Trabalho Ocorridos Anualmente (N) e Extensão em Quilômetro de Rodovias Construídas Anualmente (S), conforme a equação 2 (SANTOS, 2015b): Durante a obtenção das informações referentes aos acidentes por quilômetro anual, identificamos a inexistência da informação requerida em algumas Unidades de Federação. Tal problema tem correspondência única e exclusivamente pelo motivo de que, em determinados (1) (2) Projectus Rio de Janeiro v. 1 n. 1 p. 71-81 jan./mar. 2016 75

ESTUDO DE ACIDENTES DE TRABALHO NA CONSTRUÇÃO DE RODOVIAS BRASILEIRAS períodos ao longo desses 11 anos, não houve obras de construção de rodovias em alguns estados ou considera-se as mesmas como desprezível em função de sua ínfima extensão construída. Mais que isso, identificamos ao longo do estudo proposto que, mesmo sem obras de construção de rodovias ou pouca extensão construída, ainda existe um número significativo de acidentes com os trabalhadores expostos a essas rodovias. E com isso, entendemos que tal motivo deve-se ao fato de que os referidos trabalhadores são vítimas dos acidentes rodoviários na fase de manutenção dessas rodovias, e não na fase de construção para extensão como é o foco da pesquisa. E partindo deste princípio, a exclusão dos valores relativos ao número de acidentes por quilômetro em função da não realização de obras rodoviárias de extensão ou mínima execução delas, tem um aspecto importante para a identificação de uma informação mais fidedigna possível. Sendo assim, o estudo proposto tem o caráter de analisar somente os acidentes por quilômetro a nível nacional e dos estados em que ocorreram significativas obras de construção de rodovias com o intuito de estender a malha rodoviária. 4 RESULTADOS Com base nos dados obtidos a partir do banco de dados do DNIT e na figura 3, é possível observar que a Região Nordeste (NE) foi a região que obteve maior crescimento da extensão de rodovias nos últimos anos, tendo o maior crescimento observado nos anos de 2004 e 2011. Figura 3: Extensão de rodovias anualmente por região Fonte: Os autores. Projectus Rio de Janeiro v. 1 n. 1 p. 71-81 jan./mar. 2016 76

Wellington Vicente Almeida dos Santos, Marcelo de Jesus Rodrigues da Nóbrega e Anna Carolina Ribeiro Mendes Magdaleno Figura 4: Densidade da malha rodoviária km/1000km² Fonte: Os autores. Ainda de acordo com os dados do DNIT e a área de cada região geográfica do Brasil foi possível obter a densidade da malha rodoviária por região, conforme a figura 4. A região nordeste é a região com maior densidade de rodovias (47,20 km/1000 km²), seguida da região sul (S) com 19,80 km/ 1000 km². Por outro lado, a região Norte (N) é a região com menor densidade de malha rodoviária (4,71 km/ 1000km²). Correlacionando os dados obtidos do MPAS e do DNIT, obtivemos o índice de acidentes de trabalho por quilômetro dividido pelas regiões do Brasil. A região Nordeste (NE) figurou por 9 anos acima da média nacional, tendo médias abaixo somente nos anos de 2002 e 2009. A região Norte (N) também ficou durante 9 anos acima da média nacional, porém os anos em que a média ficou abaixo do patamar nacional foram 2006 e 2010. A região Centro-Oeste (CO) figurou 7 anos acima da média do Brasil nos anos de 2002, 2003, 2004, 2005, 2008, 2011 e 2012. A região sudeste (SE) apresentou média maior que o país durante 5 anos, e por fim a região sul (S) superou a faixa nacional somente nos anos de 2004, 2005 e 2009. A visualização desses dados é melhor a partir das figuras 5, 6 e 7. Projectus Rio de Janeiro v. 1 n. 1 p. 71-81 jan./mar. 2016 77

ESTUDO DE ACIDENTES DE TRABALHO NA CONSTRUÇÃO DE RODOVIAS BRASILEIRAS Figura 5: Comparação do Índice de Acidentes região NE x Brasil e N x Brasil Fonte: Os autores. Projectus Rio de Janeiro v. 1 n. 1 p. 71-81 jan./mar. 2016 78

Wellington Vicente Almeida dos Santos, Marcelo de Jesus Rodrigues da Nóbrega e Anna Carolina Ribeiro Mendes Magdaleno Figura 6: Comparação do Índice de Acidentes região CO x Brasil e SE x Brasil Fonte: Os autores. Figura 7: Comparação do Índice de Acidentes região S x Brasil Fonte: Os autores. Projectus Rio de Janeiro v. 1 n. 1 p. 71-81 jan./mar. 2016 79

ESTUDO DE ACIDENTES DE TRABALHO NA CONSTRUÇÃO DE RODOVIAS BRASILEIRAS 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclui-se que, a abordagem do assunto segurança do trabalho durante a fase de construção efetiva de rodovias nas regiões do país no período de 2002 a 2012, apresenta um quadro tão preocupante quanto aos diversos estudos que tratam a segurança do trabalho na construção civil de uma maneira generalizada. Mais que isso, os estudos demonstraram que, através da elaboração dos gráficos que os investimentos em infraestrutura no decorrer dos 11 anos analisados não acompanharam a inserção da doutrina de segurança pelos diversos meios que fazem os acidentes se tornarem mínimos ou nulos. Uma observação relevante na quantificação do número de acidentes de trabalho está na subnotificação do INSS. Os dados estão limitados aos acidentes com emissão de Comunicação de Acidentes de Trabalho (CAT). Desta forma o quadro geral de acidentes é bem maior que os disponíveis para seu tratamento estatístico. Ao se analisar as regiões através de comparação com o índice nacional, observamos que a região sudeste só não apresentou menores índices que a região sul, porém encontra-se muito aquém do norte e nordeste, que apresenta um quadro preocupante no que se refere aos índices de acidente de trabalho por quilômetro construído de rodovias. Este último ainda consegue pior, virtude o mesmo liderar essa estatística negativa por 7 anos e ficar acima da média nacional juntamente com a região norte por 9 anos ao longo dos 11 anos estudados. Sendo assim, como medida preventiva recomenda-se a esses trabalhadores o apontamento dos riscos na realização de obras a fim de estimular um comportamento mais seguro, pois a maioria dos trabalhadores rodoviários e outros agentes envolvidos não estão conscientes dos riscos elevados, enquanto trabalham numa obra rodoviária. Além disso, essa falta de consciência deve ser superada através de medidas gerais sobre os trabalhos em vias e a um nível específico, através de formação sobre o local específico a trabalhar. Em geral, a educação adequada e formação de trabalhadores em obra a todos os níveis sobre questões de segurança rodoviária podem contribuir para a compreensão dos aspectos de segurança como um princípio de responsabilidade bem como, assegurar a competência dos trabalhadores envolvidos na realização de suas responsabilidades sobre o local. A educação e a formação não devem ser dadas apenas no início da obra, devendo existir reciclagem dessa formação, repetindo-a e atualizando-a se for o caso. A um nível específico do projeto, a instrução dos trabalhadores da obra deveria ser um importante componente do processo de zona de execução de trabalho. REFERÊNCIAS BARBOSA, T. S. Gerenciamento de riscos de acidentes do trabalho: estudo de caso em uma obra de construção de dutos terrestres. 2002. 102 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública e Meio Ambiente) Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2002. BRASIL. Ministério da Previdência Social. Banco de dados. Brasília, DF, 2015. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br>. Acesso em: 2 ago. 2015. Projectus Rio de Janeiro v. 1 n. 1 p. 71-81 jan./mar. 2016 80

Wellington Vicente Almeida dos Santos, Marcelo de Jesus Rodrigues da Nóbrega e Anna Carolina Ribeiro Mendes Magdaleno BRASIL. Ministério dos Transportes. Banco de dados DNIT. Brasília, DF, 2016. Disponível em: <http://www.transportes.gov.br>. Acesso em: 5 ago. 2015. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE (Brasil). Pesquisa CNT de rodovias 2015: relatório gerencial. Brasília, DF, 2015. COSTA, A. T. Indicadores de acidentes de trabalho em obras da construção civil no Brasil e na Bahia. 2009. 50 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil) Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2009. FONTENELE, H. B.; FERNANDES JÚNIOR, J. L. O efeito da caracterização do tráfego no desempenho do pavimento flexível. Ciência & Engenharia, Uberlândia, v. 23, n. 1, p. 9-16, 2014). RAMOS, L. F. M. Sistema de medição de desempenho em segurança e saúde no trabalho: estudo de caso em uma empresa de construção pesada. 2011. 25 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia de Produção) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. SANTOS, I. E. Manual de métodos e técnicas de pesquisa científica. Niterói: Impetus, 2015. SANTOS, W. V. A. Uma avaliação do cenário atual sobre os acidentes de Trabalho na Construção de Rodovias Brasileiras. 2015. 29 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil) Centro Universitário Augusto Motta, Rio de Janeiro, 2015. SILVEIRA, F. R. P. Trabalhos em rodovias sem interrupção de tráfego: segurança no trabalho vs segurança rodoviária. 2010. 108 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais) Universidade do Porto, Porto, 2010. Recebido em: 8 jun. 2016. Aprovado em: 10 jun. 2016. Projectus Rio de Janeiro v. 1 n. 1 p. 71-81 jan./mar. 2016 81