CONHECENDO O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL KNOWING THE INTERNATIONAL CRIMINAL COURT

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1948 Declaração Universal dos Direitos De acordo com a Declaração Universal dos Direitos : Os direitos humanos vêm ganhando força nos últimos tempos

Transcrição:

Eixo Temático: Relações Internacionais RESUMO CONHECENDO O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL KNOWING THE INTERNATIONAL CRIMINAL COURT Nathallya Agnes Manta e Silva Em função dos grandes conflitos, atrocidades inimagináveis e dos horrores cometidos no decorrer da história, principalmente os decorrentes da Segunda Guerra Mundial, surgiu à necessidade de um Tribunal Internacional para julgar os crimes contra os direitos humanos. Assim, os crimes que violam a dignidade e os direitos fundamentais, se não forem julgados pela jurisdição interna nacional, serão julgados pelo Tribunal Penal Internacional - TPI. Este Tribunal, com sede em Haia Holanda, foi criado através do Estatuto de Roma em 1988, porém apenas em 2002 que foi aprovado e promulgado no Brasil. Ele possui competência para julgar o crime de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e o crime de agressão. Palavras-chave: Tribunal Penal Internacional. Estatuto de Roma. Jurisdição. Direitos Humanos. ABSTRACT Due to the great conflicts, unimaginable atrocities and horrors committed in the course of history, mainly arising from the Second World War, came the need for an international tribunal to prosecute crimes against human rights. So the crimes that violate the dignity and fundamental rights if they are not judged by domestic law - national, will be tried by the International Criminal Court - ICC. The Court, based in The Hague - the Netherlands, was created by the Rome Statute in 1988, but only in 2002 was approved and promulgated in Brazil. It has jurisdiction over the crime of genocide, crimes against humanity, war crimes and the crime of aggression. Keywords: International Criminal Court. Rome Statute. Jurisdiction. Human Rights. 1

1 INTRODUÇÃO Frente ao cenário de brutalidades ocorridas contra a humanidade surgiu a necessidade de criação de um Tribunal Internacional para julgar aqueles que cometessem crimes contra os direitos humanos. Nesse contexto, surge o Tribunal Penal Internacional TPI. Nessa seara, a presente pesquisa tem como objetivo apresentar primeiramente o conceito de direitos humanos, em seguida descrever sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seguida, a evolução do Ad Hoc até a criação do Tribunal Penal Internacional, as características do TPI, à competência e composição do Tribunal e, por fim, o Brasil junto ao TPI. O procedimento da pesquisa foi baseado em material bibliográfico, e análise de conteúdo, realizando um estudo e a prévia análise das diversas posições acerca do tema, por meio de livros, artigos científicos, periódicos, legislações, doutrina, além dos meios virtuais. 2 CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS A expressão direitos humanos representa, em sentido amplo, o conjunto das atividades realizadas de maneira consciente, com o objetivo de assegurar ao homem a dignidade e evitar que passe por sofrimentos (CASTILHO, 2012, p.11). Nesse mesmo sentido, consistem em um conjunto de direitos considerado indispensável para uma vida humana pautada na liberdade, igualdade e dignidade (RAMOS, 2014, p 25). Dessa forma, podemos verificar que os direitos humanos se referem aos direitos inerentes à pessoa humana, pautados no direito à vida, à liberdade, à igualdade, à dignidade, à humanidade e à segurança pessoal e jurídica. 3 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS Em 16 de fevereiro de 1946, durante a sessão do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, assentou-se uma Comissão de Direitos Humanos e está deveria desenvolver seu projeto em três etapas. A primeira etapa era a elaboração de uma declaração de direitos humanos. A segunda seria produzir um documento mais superior a uma declaração, como por exemplo, um tratado ou convenção internacional. E a última etapa refere-se à criação de uma máquina adequada para assegurar o respeito e cumprimento dos direitos humanos. Dois anos após a sessão, em 18 de junho de 1948, surgi a Declaração Universal dos Direitos Humanos DUDH, finalizando a primeira etapa. Em 10 de dezembro de 1948, esta declaração foi aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas. No que tange a segunda etapa, apenas em 1966 que ela foi finalizada, através da aprovação de dois Pactos, onde um refere-se aos direitos civis e políticos e o outro Pacto sobre direitos econômicos, sociais e culturais. Importante mencionar que antes desses dois Pactos a Assembleia Geral das Nações Unidas já havia aprovado diversas convenções referentes a direitos humanos. Por fim, a terceira etapa, infelizmente ainda não foi completamente finalizada. Atualmente não existe um mecanismo capaz de assegurar de forma universal a proteção dos direitos humanos. O que existe hoje é um processo de reclamações junto à Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas. No que se refere ao teor da Declaração Universal dos Direitos Humanos, verifica-se, no preâmbulo: 2

A Declaração menciona explicitamente as quatro liberdades proclamadas pelo discurso do Presidente Franklin Roosevelt, em 6 de janeiro de 1941. Ressalta-se, aí, que o advento de um mundo em que os homens gozam de liberdade de palavras, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temos e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum (COMPARATO, 2010, p 240). Em seguida, no primeiro artigo da declaração, encontra-se proclamado três princípios fundamentais, que são: a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade (artigo 1º da DUDH). O princípio da liberdade trata de assegurar ao cidadão a possibilidade de que ele possa de forma livre pensar e agir. Nesse sentido, temos como exemplo, a liberdade de expressão, a liberdade de crença, a liberdade de pensamento. Importante mencionar que esse princípio refere-se tanto a liberdade política quanto a individual. A igualdade é o principio que assegura a todos, independente de classe social, etnia, gênero, costumes, religião, os mesmos direitos. O princípio da igualdade essencial do ser humano, não obstante as múltiplas diferenças de ordem biológica e cultura que os distinguem entre si, é afirmado no artigo II (COMPARATO, 2010, p 241). Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição (artigo 2º, alínea 1 da DUDH). A fraternidade está ligada ao sentido de solidariedade. Ou seja, trata-se de um princípio que busca combater as desigualdades sociais, objetivando o bem-estar social de todos. Este princípio está listado em diversos artigos da Declaração Universal, como por exemplo, do artigo 22º até o artigo 26º. Importante mencionar que esses três princípios eram o lema da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. Lema este que hoje inspira a criação de diversos direitos e que estão presentes em várias, praticamente todas as promulgadas, Constituições dos Estados. Destarte, outra grande importância da Declaração Universal de Direitos Humanos é a afirmação do sistema democrático como sendo o único regime político compatível com a proteção dos direitos humanos. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática (artigo 29º, alínea 2 da DUDH). Outrossim, conforme verificado, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi um marco no que se refere aos direitos inerentes ao ser humano. Nesse contexto, surgiram diversos documentos que buscam proteger os direitos humanos, como por exemplo, a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio de 1948, as Convenções de Genebra de 1949, sobre a Proteção das Vítimas de Conflitos Bélicos, a Convenção Europeia dos Direitos Humanos de 1950, entre outros. 3

Importante citar que na II Conferência Internacional de Direitos Humanos, em 1993, ocorreu à ratificação da Declaração Universal pela Declaração dos Direitos Humanos de Viena. Podemos afirmar que ocorreu um avanço no que se refere aos direitos humanos, tendo em vista que esta nova Declaração definiu que a proteção e promoção dos direitos humanos são responsabilidades primordiais dos Governos. Dessa forma, tanto o direito internacional quanto o direito nacional devem garantir para que todas as pessoas, independente de sexo, nacionalidade, etnia, classe social, religião, tenham seus direitos humanos protegidos. Nessa esteira, podemos afirmar que hoje vivemos na era dos direitos, onde as jurisdições, internacional e nacional, buscam a proteção dos direitos humanos, assegurando a dignidade e evitando que os homens passem por sofrimentos, como antigamente. Assim, hoje, não estamos limitados a apenas um documento sobre direitos humanos, mas sim por diversos tratados multilaterais de direitos humanos. 4 A EVOLUÇÃO DO AD HOC ATÉ A CRIAÇÃO DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL A partir do século XX, com os inúmeros conflitos e as reviravoltas em relação ao poder, os Estados começaram a analisar a criação de um tribunal internacional, destinado à preservação da paz. Após a Segunda Guerra Mundial, em função das atrocidades inimagináveis e dos horrores que ocorreram, foram criados Tribunais de exceção. Destarte, encontra-se o Tribunal de Nuremberg(1945), que foi criado para julgar os principais criminosos da segunda guerra Mundial, líderes nazista, como por exemplo, Martin Bormann (vice-líder do Partido Nazi), Karl Donitz (presidente da Alemanha e comandante da Kriegsmarine), Hermann Goring (comandante da Luftwaffe, presidente do Reichstag e ministro da Prússia) e Rudolf Hess (vice-líder do partido Nazi), entre outros. O Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente (1946), também chamado de Julgamento de Tóquio ou Tribunal de Crimes de Guerra de Tóquio, para julgar os líderes do império japonês. Posteriormente, foi criado um tribunal para julgar os crimes cometidos na Guerra dos Bálcãs, criou-se o Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia. De forma paralela, criou-se o Tribunal Penal Internacional para Ruanda, em razão do violento conflito interno nesta Cidade. O principal legado do Holocausto para a internacionalização dos direitos humanos consistiu na preocupação que gerou no mundo pós-segunda Guerra, acerca da falta que fazia uma arquitetura internacional de proteção de direitos humanos, com vistas a impedir que atrocidades daquela monta viessem a ocorrer novamente no planeta (MAZZUOLI, 2011, p. 29). Nesse contexto, notou-se a indispensabilidade de criar um Tribunal Internacional Permanente. Assim a Assembleia Geral da ONU cria uma Comissão de Direito Internacional da ONU com o objetivo de estudar e elaborar um Estatuto Penal Internacional. Porém, apenas em 1954 a referida comissão apresentou o esboço do Estatuto. Em função da guerra fria os trabalhos foram adiados, retomados apenas em 1989. Dois anos após, o projeto foi apresentado pela Comissão, porém foram necessárias diversas alterações. Apenas em 1994 foi concluído e apresentado o trabalho. Em 1998, aparece o Tribunal Penal Internacional TPI. Esta é uma instituição permanente e independente, com sede em Haia Holanda, que nasceu através do Estatuto de Roma, em 17 de julho de 1998. Porém, o referido Estatuto apenas entrou em vigor em 1º de julho de 2002, após ter sido ratificado por 60 países. Assim, criou-se o TPI, conforme o artigo 1º do Estatuto de Roma: 4

É criado, pelo presente instrumento, um Tribunal Penal Internacional ( o Tribunal ). O Tribunal será uma instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas responsáveis pelos crimes de maior gravidade com alcance internacional, de acordo com o presente Estatuto, e será complementar às jurisdições penais nacionais. A competência e o funcionamento do Tribunal reger-se-ão pelo presente Estatuto. (artigo 1º do Estatuto de Roma). O TPI não é o primeiro Tribunal Penal Internacional já formado, mas o primeiro criado por Estados soberanos que, por meio de um acordo internacional, aceitam submeter-se a uma jurisdição internacional (OLIVEIRA; SILVA: 2012, p. 626). 5 O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL O Tribunal Penal Internacional foi criado como um Tribunal uno para julgar os crimes contra os direitos humanos, que antes eram julgados por Tribunais ad hoc, ou seja, Tribunais criados para um julgamento específico. Ou seja, criou-se o TPI com o objetivo de julgar os crimes mais graves de transcendência para a comunidade internacional. Trata-se de um órgão com personalidade jurídica internacional, podendo atuar em qualquer Estado-Parte e, nos casos de acordos, no território de qualquer outro Estado. Importante frisar que não existe hierarquia institucional entre os tribunais e o TPI é dotado de personalidade jurídica própria, sem nenhuma vinculação com outras organizações internacionais. Ademais, o TPI possui competência complementar à jurisdição dos Estados- Partes, ou seja, complementa a justiça dos órgãos judiciários internos. O TPI, em função de seu caráter complementar, princípio da complementaridade, só atuará em casos em que não houver exercício da jurisdição do Estado competente. Ademais, em regra, não será julgado pelo TPI o acusado que já foi julgado, pelo mesmo crime, por um tribunal nacional. Importante ressaltar que o Tribunal Penal Internacional só poderá atuar nos seguintes casos: - quando o acusado for nacional de um Estado que tenha aceitado a jurisdição do TPI; - quando o crime for praticado no território de um Estado que tenha aceitado a jurisdição do TPI; - quando a acusação esteja a cargo do Conselho de Segurança da ONU, neste caso, não importa a nacionalidade do réu e num o local do crime. Em razão da diversidade de Estados que compõem o Tribunal Penal Internacional foi necessário adotar o idioma oficial, nessa esteira, foram adotados o inglês e o francês, porém as publicações e as decisões são feitas nos seguintes idiomas: inglês, francês, espanhol, chinês, árabe e russo. 6 COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL Não são todos os crimes que cabem serem julgados pelo TPI, mas, apenas, aqueles de maior gravidade. Assim, conforme o artigo 5º do Estatuto de Roma, o Tribunal tem competência para julgar o crime de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e o crime de agressão. O Crime de Genocídio é o assassinato que ocorre em função de diferenças étnicas, nacionais, raciais ou religiosas. Conforme a Lei nº 2.889 o genocídio é o crime que tem como 5

intenção a destruição, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Nessa esteira, o Estatuto de Roma define este crime como: Qualquer um dos atos que a seguir se enumeram, praticado com intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tal: a) Homicídio de membros do grupo; b) Ofensas graves à integridade física ou mental de membros do grupo; c) Sujeição intencional do grupo a condições de vida com vista a provocar a sua destruição física, total ou parcial; d) Imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo; e) Transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo. (artigo 6º do Estatuto de Roma). Importante mencionar que, para fins de análise de jurisdição, o Promotor não precisa provar que os atos cometidos contra o grupo fazem parte de um ataque generalizado, sistemático ou que sejam parte de um plano de destruição geral embora a existência de um plano ou política nacional contribua decisivamente para a confirmação do tipo na maioria dos casos, mas sim evidenciar que os autores contribuíram decisivamente nos ataques contra um dos grupos protegidos e com a intenção direta de destruí-lo. (OLIVEIRA;SILVA: 2012, p. 628-629). Crimes contra a humanidade são os atos cometidos como parte de um ataque generalizado e sistemático contra qualquer população civil. Conforme descreve o Estatuto de Roma: entende-se por "crime contra a humanidade", qualquer um dos atos seguintes, quando cometido no quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento desse ataque: Homicídio; Extermínio; Escravidão; Deportação ou transferência forçada de uma população; Prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas fundamentais de direito internacional; Tortura; Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou qualquer outra forma de violência no campo sexual de gravidade comparável; Perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por motivos políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de gênero, tal como definido no parágrafo 3 o, ou em função de outros critérios universalmente reconhecidos como inaceitáveis no direito internacional, relacionados com qualquer ato referido neste parágrafo ou com qualquer crime da competência do Tribunal; Desaparecimento forçado de pessoas; Crime de apartheid; Outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou mental. (artigo 7º do Estatuto de Roma). Assim, podemos afirmar que o referido Estatuto estabelece como crimes contra a humanidade onze atos. Atos esse que devem ser observados pelo Promotor no momento de oferecer a denúncia. Crimes de guerra, que são os crimes ocorridos durante os conflitos armados, sejam eles nacionais ou internacionais. Nessa sentido, conforme o artigo 8º, do Estatuto de Roma, são, alguns, crimes de guerra: 6

As violações graves às Convenções de Genebra, de 12 de Agosto de 1949, a saber, qualquer um dos seguintes atos, dirigidos contra pessoas ou bens protegidos nos termos da Convenção de Genebra que for pertinente: Homicídio doloso; Tortura ou outros tratamentos desumanos, incluindo as experiências biológicas; O ato de causar intencionalmente grande sofrimento ou ofensas graves à integridade física ou à saúde; Destruição ou a apropriação de bens em larga escala, quando não justificadas por quaisquer necessidades militares e executadas de forma ilegal e arbitrária; O ato de compelir um prisioneiro de guerra ou outra pessoa sob proteção a servir nas forças armadas de uma potência inimiga; Privação intencional de um prisioneiro de guerra ou de outra pessoa sob proteção do seu direito a um julgamento justo e imparcial; Deportação ou transferência ilegais, ou a privação ilegal de liberdade; Tomada de reféns; Outras violações graves das leis e costumes aplicáveis em conflitos armados internacionais no âmbito do direito internacional, a saber, qualquer um dos seguintes atos: Dirigir intencionalmente ataques à população civil em geral ou civis que não participem diretamente nas hostilidades; Dirigir intencionalmente ataques a bens civis, ou seja bens que não sejam objetivos militares; Dirigir intencionalmente ataques ao pessoal, instalações, material, unidades ou veículos que participem numa missão de manutenção da paz ou de assistência humanitária, de acordo com a Carta das Nações Unidas, sempre que estes tenham direito à proteção conferida aos civis ou aos bens civis pelo direito internacional aplicável aos conflitos armados; Lançar intencionalmente um ataque, sabendo que o mesmo causará perdas acidentais de vidas humanas ou ferimentos na população civil, danos em bens de caráter civil ou prejuízos extensos, duradouros e graves no meio ambiente que se revelem claramente excessivos em relação à vantagem militar global concreta e direta que se previa; Atacar ou bombardear, por qualquer meio, cidades, vilarejos, habitações ou edifícios que não estejam defendidos e que não sejam objetivos militares; Matar ou ferir um combatente que tenha deposto armas ou que, não tendo mais meios para se defender, se tenha incondicionalmente rendido; Utilizar indevidamente uma bandeira de trégua, a bandeira nacional, as insígnias militares ou o uniforme do inimigo ou das Nações Unidas, assim como os emblemas distintivos das Convenções de Genebra, causando deste modo a morte ou ferimentos graves; A transferência, direta ou indireta, por uma potência ocupante de parte da sua população civil para o território que ocupa ou a deportação ou transferência da totalidade ou de parte da população do território ocupado, dentro ou para fora desse território; Dirigir intencionalmente ataques a edifícios consagrados ao culto religioso, à educação, às artes, às ciências ou à beneficência, monumentos históricos, hospitais e lugares onde se agrupem doentes e feridos, sempre que não se trate de objetivos militares; Submeter pessoas que se encontrem sob o domínio de uma parte beligerante a mutilações físicas ou a qualquer tipo de experiências médicas ou científicas que não sejam motivadas por um tratamento médico, dentário ou hospitalar, nem sejam efetuadas no interesse dessas pessoas, e que causem a morte ou coloquem seriamente em perigo a sua saúde; Matar ou ferir à traição pessoas pertencentes à nação ou ao exército inimigo; Declarar que não será dado quartel; Destruir ou apreender bens do inimigo, a menos que tais destruições ou apreensões sejam imperativamente determinadas pelas necessidades da guerra; Declarar abolidos, suspensos ou não admissíveis em tribunal os direitos e ações dos nacionais da parte inimiga; Obrigar os nacionais da parte inimiga a participar em operações bélicas dirigidas contra o seu próprio país, ainda que eles tenham estado ao serviço daquela parte beligerante antes do início da guerra; Saquear uma cidade ou uma localidade, mesmo quando tomada de assalto; Utilizar veneno ou armas envenenadas; Utilizar gases asfixiantes, tóxicos ou outros gases ou qualquer líquido, material ou dispositivo análogo; Utilizar balas que se expandem ou achatam facilmente no interior do corpo humano, tais como balas de revestimento duro que não cobre totalmente o interior ou possui incisões; Utilizar armas, projéteis; materiais e métodos de combate que, pela sua própria natureza, causem ferimentos supérfluos ou sofrimentos desnecessários ou que surtam efeitos indiscriminados, em violação do direito internacional aplicável aos conflitos armados, na medida em que 7

tais armas, projéteis, materiais e métodos de combate sejam objeto de uma proibição geral e estejam incluídos em um anexo ao presente Estatuto, em virtude de uma alteração aprovada em conformidade com o disposto nos artigos 121 e 123; Ultrajar a dignidade da pessoa, em particular por meio de tratamentos humilhantes e degradantes; Cometer atos de violação, escravidão sexual, prostituição forçada, gravidez à força, tal como definida na alínea f) do parágrafo 2 o do artigo 7 o, esterilização à força e qualquer outra forma de violência sexual que constitua também um desrespeito grave às Convenções de Genebra; Utilizar a presença de civis ou de outras pessoas protegidas para evitar que determinados pontos, zonas ou forças militares sejam alvo de operações militares; Dirigir intencionalmente ataques a edifícios, material, unidades e veículos sanitários, assim como o pessoal que esteja usando os emblemas distintivos das Convenções de Genebra, em conformidade com o direito internacional; Provocar deliberadamente a inanição da população civil como método de guerra, privando-a dos bens indispensáveis à sua sobrevivência, impedindo, inclusive, o envio de socorros, tal como previsto nas Convenções de Genebra; Recrutar ou alistar menores de 15 anos nas forças armadas nacionais ou utilizá-los para participar ativamente nas hostilidades. (artigo 8º do Estatuto de Roma). A Agressão significa o planejamento, a preparação, a iniciação ou a execução, por agente responsável pela decisão política ou militar de Estado, de atos cuja gravidade e alcance constituam manifesta violação da Carta das Nações Unidas. (CAPARROZ: 2012, p. 142). Poderá ser julgado no Tribunal Penal Internacional qualquer pessoa física maior de dezoito anos. As penas aplicadas pelo TPI são: prisão até 30 anos ou prisão perpétua, apenas em casos extremos, ambas sem prejuízo de multas ou expropriação dos bens obtidos em razão da conduta. Outrossim, não poderá ser aplicado pena de morte. Os crimes julgados pelo Tribunal em questão são imprescritíveis, assim, podem ir a juízo em qualquer tempo. As penas serão cumpridas no Estado indicado pelo Tribunal, conforme a lista de disponibilidade. 7 COMPOSIÇÃO DO TRIBUNAL O Tribunal Penal Internacional tem sua estrutura configurada na seguinte forma: Presidência, Divisão Judicial, Gabinete do Procurador e Secretaria. A Presidência é composta por dezoito juízes, com mandato de nove anos, sem recondução e com regime de dedicação exclusiva. Nela encontra-se um Presidente, primeiro e segundo vice-presidente. Importante citar que é vedada a eleição de dois juízes da mesma nacionalidade. A Divisão Judicial é constituída por três câmaras, que são: Câmara de Pré-julgamento, Câmara de Primeira Instância ou Câmara de Julgamento e Câmara de Apelação. A primeira câmara, composta por um ou três juízes, tem como principais funções: decidir se autoriza ou não qualquer investigação; decidir quanto à impugnação da jurisdição e a admissibilidade de um caso perante o Tribunal antes da confirmação das acusações; e revisar a decisão do Promotor de não iniciar uma investigação ou não processar. A segunda câmara é responsável quanto a analise do mérito relativo à inocência ou à culpa do acusado. Esta câmara possui três juízes e seu trabalho inicia após o juízo de admissibilidade. A terceira câmara, de Apelação, é a que recebe os recursos interpostos. Ou seja, é o órgão especializado para receber recursos interpostos tanto pelo réu quanto pelo Promotor contra decisões das Câmaras de Pré-Julgamento e de Julgamento (OLIVEIRA; SILVA: 2012, p. 633). 8

O Gabinete do Promotor cuida das investigações. Ele é composto por um titular e outros adjuntos. O Procurador-Chefe será eleito por voto secreto, pela maioria absoluta, com mandato de nove anos. Ademais, para se candidatar é necessário elevada idoneidade moral, nível de competência e vastos conhecimentos na área de processo penal. A Secretaria é responsável pelos procedimentos administrativos do Tribunal, além de gerencia-lo. O secretario, também, é eleito por votação secreta, por maioria absoluta, com mandato de cinco anos, com possibilidade de uma reeleição. Tanto os membros da Presidência quanto da Promotoria são escolhidos pela Assembleia dos Estados-Partes e devem possui idoneidade moral e reconhecida competência, além de demonstrar experiência na prática do exercício de ações penais, entre outros requisitos. Por fim, tendo em vista que os funcionários trabalham para um órgão internacional, os mesmos gozam de das prerrogativas típicas da carreira diplomática. 8 O BRASIL E O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL No dia 07 de fevereiro de 2000 o Brasil assinou o Estatuto de Roma. Dois anos depois, o ato foi ratificado, ou seja, o Congresso Nacional aprovou o texto do Estatuto através do Decreto Legislativo nº 112, de 6 de junho de 2002 e no dia 25 de setembro de 2002 foi publicado, promulgado, através do Decreto Executivo nº 4.388, de 25 de setembro de 2002. Em 2004, através da Emenda Constitucional nº 45/04, foi incluído o parágrafo 4º no artigo 5º da Constituição Federal, no qual descreve a submissão do Brasil à jurisdição do Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. Porém, vale ressaltar que ainda existem algumas questões que, aparentemente, conflitantes com a nossa Constituição, como por exemplo, o caso de entrega de nacionais e a validade da decisão do TPI. No caso de entrega de nacionais, o Estatuto prever que o Estado Parte deverá entregar o detido para ser julgado no TPI, porém, nossa Constituição Federal, descreve: nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei (artigo 5º, inciso LI, CF). Assim, surge a questão, o Brasil poderá ou não entrega um Brasileiro para ser julgado no TPI!? Para esse conflito se fez necessário diferenciar o termo entrega de extradição. Assim, conforme o Estatuto de Roma: Por "entrega", entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado ao Tribunal nos termos do presente Estatuto. Por "extradição", entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado a outro Estado conforme previsto em um tratado, em uma convenção ou no direito interno. (Estatuto de Roma, artigo 102). Nesse sentido, tendo em vista que o termo do Estatuto refere-se à entrega e não extradição, o Brasil poderá entregar um Brasileiro para ser julgado por aquele Tribunal. 9

Outro conflito aparente refere-se à validação da decisão, se deve ou não ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça. Isso ocorre porque a Constituição Federal prever: Compete ao Superior Tribunal de Justiça: a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias. (artigo 105, inciso I, i, CF). No caso do Tribunal Penal Internacional, tendo em vista que o mesmo possui jurisdição sobre o Estado Parte, entende-se ser dispensada a homologação por quaisquer dos Tribunais Superiores. 9 CONCLUSÃO Conforme verificado, podemos resumir os direitos humanos como sendo aqueles inerentes a todos os seres humanos, sem distinção de etnia, crença, gênero, raça, cor de pele, nacionalidade, idade, classe social ou qualquer outra condição. Os direitos humanos incluem o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à fraternidade, entre muitos outros direitos. Na busca de proteger esses direitos, surgiram os Tribunais Internacional - Ad Hoc que foram criados após grandes massacres que ocorreram no decorrer da história, principalmente, durante a Segunda Guerra Mundial. Com o objetivo de se criar um Tribunal Internacional permanente surgiu o Tribunal Penal Internacional TPI. Conforme estudado o TPI possui sede em Haia Holanda e foi criado através do Estatuto de Roma em 1998. O citado Tribunal possui caráter complementar, assim, só poderá atuar quando a jurisdição nacional ficar inerte. Compete ao TPI julgar os crimes mais graves contra a humanidade, tais como: genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crimes de agressão. Diante do estudo, podemos afirmar que o Tribunal Penal Internacional foi um avanço no que se refere à Justiça Internacional, além da defesa dos direitos humanos. Assim, através do TPI todos que violam os direitos fundamentais responderam pelos seus atos. REFERÊNCIAS ACCIOLY, Hildebrando. SILVA, G. E. do Nascimento. CASELLA, Paulo Borba. Manual de direito internacional público. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. ALMEIDA, Guilherme Assis de. MOISÉS, Cláudia Perrone. Direitos internacionais dos direitos humanos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007. CAPARROZ, Roberto. Direito Internacional público. São Paulo: Saraiva, 2012. CASADO FILHO, Napoleão. Direitos humanos fundamentais. São Paulo: Saraiva, 2012. CASTILHOS, Ricardo. Direitos humanos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 10

GORCZEVSKI, Clovis. Direitos humanos e participação política. Porto Alegre: Imprensa Livre, 2011. MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de direito internacional público. 9. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Tribunal penal internacional e o direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. NEVES, Gustavo Bregalda. FIGUEIREDO, Fábio Vieira. CASTELLANI, Fernando F.. COMETTI, Marcelo Tadeu. Direito Internacional 11. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. OLIVEIRA, Bárbara da Costa Pinto. SILVA, Roberto Luiz. Manual de Direito Processual Internacional. São Paulo: Saraiva, 2012. Palácio do Planalto. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4388.htm>. Acesso em: 15 de outubro de 2016. Palácio do Planalto. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 15 de outubro de 2016. Palácio do Planalto. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l2889.htm>. Acesso em: 15 de outubro de 2016. PEREIRA, Bruno Yepes. Curso de direito internacional público. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. RAMOS, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 2014. Supremo Tribunal Federal. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigobd.asp?item=%202004>. Acesso em: 16 out. 2016. REZEK, Francisco. Direito Internacional Público. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. 11