OS TRÊS EIXOS DOS DIREITOS HUMANOS NO PLANO INTERNACIONAL 1
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- Rui Taveira Caminha
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1 OS TRÊS EIXOS DOS DIREITOS HUMANOS NO PLANO INTERNACIONAL 1 Érico Lima de Oliveira. Mestre em Direito. Defensor Público da União em Belém/PA Palavras-chave: Direitos Humanos. Direito fundamental. Plano Internacional. Direito Internacional. Refugiados. 1 Este material foi desenvolvido a partir das discussões durante o evento: I Curso de Capacitação em Direitos Humanos: Sistema Interamericano, realizado no período de 22 e 23 de agosto de 2016, em Brasília DF.
2 O ano de 1945 inaugurou um novo marco no Direito Internacional. A partir do fim da Segunda Guerra Mundial e da tragédia humanitária que representou este evento, o indivíduo passou a ser objeto de proteção deste ramo do Direito. Historicamente, o processo de internacionalização dos direitos humanos foi construído principalmente a partir do inicio do fim do Século XIX e começo do Século XX. Neste sentido, Flávia Piovesan aponta o Direito Humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho 2 como um dos primeiros marcos deste processo. Contudo, foi a partir do término do grande conflito que se estendeu de 1939 até 1945 que este processo definitivamente ganhou impulso, legitimando o individuo como sujeito de Direito Internacional. A ordem política internacional, que surgiu a partir de 1945, adotou de maneira clara o contundente o respeito aos direitos humanos como um de seus eixos de conduta. A demonstração cabal desta afirmação encontra respaldo no artigo 55, alínea c da Carta da Organização das Nações Unidas que obriga os Estados membros ao favorecimento do respeito universal e efetivo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião. Mais tarde, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas aprovaria em Resolução a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o texto que serviria de base para todos os demais tratados de direitos humanos que seriam assinados pela comunidade global 3. Assim a proteção dos direitos humanos no plano internacional foi sedimentada em três eixos, sendo que o Direito Internacional dos Refugiados (DIR) constitui um dos ramos do Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH). Ainda, para o autor [...] os outros ramos desse direito são: o Direito Internacional Humanitário e o Direito Internacional dos Direitos Humanos stricto sensu. 4. Desde a confecção da Declaração de Universal dos Direitos Humanos de 1948 começamos a perceber o surgimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos ao qual visa proteger o ser humano na ordem global não somente em seus direitos civis e 2 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional e Internacional. São Paulo: Saraiva, p ALMEIDA, Guilherme Assis de. Direitos Humanos e Não-Violência. São Paulo: Atlas, p Ibid.
3 políticos como também em seus direitos sociais, econômicos e culturais. Já o Direito Internacional Humanitário (DIH) objetiva proteger o homem em conflitos armados internacionais e não-internacionais e tem como base jurídica as Convenções de Genebra de 1949, também produzidas sob o impacto da Segunda Guerra Mundial. Este conflito também foi importante para o chamado Direito Internacional Criminal, pois foi a partir da instalação do Tribunal Militar Internacional de Nuremberg e do Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente que a ordem internacional deixou bem clara a intenção de tomar para si a responsabilidade de processar e julgar os crimes internacionais, crimes que vão de encontro aos valores fundamentais da humanidade. Tudo isto demonstra o turning point que foi o ano de Como bem dito pelo Tribunal Criminal Internacional para a ex-iugoslávia no caso Tadic: Um foco baseado na soberania do Estado foi gradualmente suplantado por um foco baseado no ser humano (Direito Internacional, enquanto obviamente salvaguarda o legitimo interesse dos Estados, deve gradualmente se focar na proteção dos seres humanos) 5. O terceiro eixo de proteção ao ser humano na seara internacional que surge a partir de 1945 é o Direito Internacional dos Refugiados que [...] age na proteção do refugiado, desde a saída do seu local de residência, trânsito de um país a outro, concessão do refúgio no país de acolhimento e seu eventual término. 6. A princípio, o Direito Internacional dos Refugiados foi pensado a partir do drama que foi a Segunda Guerra. Como observado: [...] a Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados foi concluída em Genebra, em 28 de julho de 1951 e adotada pela Conferência das Nações Unidas de Plenipotenciários sobre o Estatuto dos Refugiados e Apátridas, convocada pela Resolução n 429 (V) da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 14 de setembro de Inicialmente, a Convenção possuía uma limitação temporal (para acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951) e geográfica da definição de refugiados (somente para os eventos ocorridos na 5 Tadic ICTY A. Ch para 97 tradução livre (A State-oriented approach has been gradually supplanted by a human-being-oriented approach... International law, while of course duly safeguarding the legitimate interests of States, must gradually turn to the protection of human beings.). 6 CARVALHO RAMOS, André de. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, p. 143.
4 Europa). 7 Como se observa a Convenção de 1951 foi inspirada, inicialmente, para os refugiados europeus 8 e serviu para atender seus propósitos. A estrutura formal da Convenção de 1951 gerou as bases do moderno Direito Internacional dos Refugiados: [...] a perseguição seria a característica essencial do novo refugiado, o foco seria direcionado ao individuo e não ao grupo, o assentamento externo seria a solução normal e a definição de refugiado agruparia pessoas que estão fora de seu país de origem 9. Em 1967 foi adotado o Protocolo Adicional que teve como objetivo precípuo a eliminação destas limitações tanto temporais quanto geográficas. Com isto o Direito Internacional dos Refugiados passou a ser genuinamente global, pois começou a tratar de uma questão que nos dias atuais é enfrentada por todos os países do mundo visto que há nos dias atuais em torno de 12 milhões de refugiados e nenhuma região é poupada da agonia dos movimentos de homens, mulheres e crianças, retirados de suas casas e terras devido a conflitos armadas ou intolerância 10. A República Federativa do Brasil promulgou a Convenção mediante o Decreto nº , de 28 de janeiro de 1961 com as reservas dos artigos 15 (direito de associação) e 17 (exercício de atividade profissional). Já o Protocolo Adicional foi adotado na integra e promulgado mediante o Decreto nº , de 07 de agosto de 1972, retirando a limitação temporal. A limitação geográfica foi superada a partir da promulgação do Decreto nº , de 19 de dezembro de 1989 e, finalmente, por meio do Decreto nº , de 03 de dezembro de 1990 são retiradas as reservas feitas aos artigos 15 e 17 da Convenção de Em 22 de julho de 1997, foi sancionada a Lei nº que define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de È necessário responder portanto se a República Federativa do Brasil segue os standards globais de proteção aos direitos humanos no que concerne ao procedimento 7 Ibid. p SMYSER, W.R. Refugees: extended exile (The Washington Papers). Washington: Center for Strategic and International Studies, p LOESCHER, Gil (org). Refugees and international relations. New York: Oxford University Press, p Ibid. p CARVALHO RAMOS, André de. Op. Cit., p. 167.
5 de obtenção de refúgio estipulado pela Lei nº 9.474, de 22 de julho de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Guilherme Assis de; CARVALHO RAMOS, André de; RODRIGUES, Gilberto (orgs.). 60 anos de ACNUR: perspectivas para o futuro. São Paulo: Editora CL- A Cultural, ALMEIDA, Guilherme Assis de. Direitos Humanos e Não violência. São Paulo: Atlas, 2001 ANDRADE, José H. Fischel de. Direito Internacional dos Refugiados: evolução histórica ( ). Rio de Janeiro: Renovar, 1996 CARVALHO RAMOS, André de. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, LOESCHER, Gil (org). Refugees and international relations. New York: Oxford University Press, 1989 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional e Internacional. São Paulo: Saraiva, 2006 PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. 3ª Edição, São Paulo: Saraiva, 2009 SMYSER, W.R. Refugees: extended exile (The Washington Papers). Washington: Center for Strategic and International Studies, 1987
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