Uma simples técnica para detectar metrite Stephanie Stella, Anne Rosi Guadagnin, Angelica Petersen Dias, and Dr. Phil Cardoso Não existem dúvidas que o parto é uma situação estressante para a vaca e seu trato reprodutivo. Como resultado, o sistema imune da vaca fica comprometido, podendo resultar em infecções provenientes do parto. Metrite é uma inflamação e infecção do útero de muitas vacas de alta produção. Esta doença uterina pode ser causada por dificuldades no parto, retenção de placenta, deficiências nutricionais e situações de parto com pouco higiene. Metrite pode resultar em redução na fertilidade e produção de leite assim como aumento no intervalo de partos e taxa de descarte, gerando perdas econômicas para qualquer fazenda. Estes custos podem variar de US$ 100,00 a US$ 300,00 por caso de metrite, incluindo custo de medicação, maior intervalo de partos, menor produção de leite e perdas por descarte. Uma pesquisa do ano de 2006 revelou que as fazendas americanas tem em média 120 vacas. Uma vez que a prevalência de metrite é em torno de 20% em vacas em lactação, isto significa que 24 vacas terão metrite após o parto. O tratamento destas 24 vacas resultaria em uma perda econômica anual de US$ 7.200,00. A prevenção e detecção de metrite em estágios iniciais pode reduzir perdas econômicas e reprodutivas. Metrite é caracterizada pela presença de uma descarga vaginal anormal que normalmente apresenta coloração amarela ou amarronzada (Figura 1) e possui forte odor. Dependendo da severidade da infecção a metrite também pode estar associada com outros sintomas sistêmicos como comportamento apático e febre (> 39,2 o C).
Figura 1. Exemplos de descarga vaginal de vacas com metrite. Em muitos casos um útero duro e inflamado pode ser notado por palpação retal. A maioria dos casos de metrite ocorre entre os primeiros 14 dias após o parto com um pico de frequência entre 5 e 7 dias após o parto (Figura 2). Embora não seja comum, metrite pode ocorrer com 21 dias após o parto. Uma vez diagnosticada a vaca também deve ser examinada quanto a outras doenças infecciosas e metabólicas, como cetose e deslocamento de abomaso, pois normalmente estas doenças estão associadas a metrite. Figura 2. Frequência de ocorrência de metrite em relação aos dias após o parto.
O método padrão para diagnóstico de inflamação uterina é citologia. Entretanto este não é um procedimento simples ou prático para ser conduzida em fazendas. Alternativamente, exame da descarga vaginal para presença de pus pode ser feita visualmente após retirada do muco contido na vagina. Observação da secreção vaginal em camas de free-stall é uma maneira de examinar o conteúdo vaginal. No entanto, este método para detecção de metrite se mostra não ser efetivo. Em um recente estudo publicado no Journal of Dairy Science, pesquisadores avaliaram a efetividade do uso da mão com uma luva e o uso do aparelho Metricheck (Figura 3) para diagnóstico de metrite. O método da mão com luva é similar ao Metricheck, e é realizado pela inserção da mão com uma luva na vagina e o conteúdo é lentamente retirado e avaliado. O estudo revelou uma prevalência de metrite de 47,5 e 36,8% para o Metricheck e o método da mão com luva, respectivamente. O aparelho Metricheck foi capaz de diagnosticar vacas com metrite de maneira mais eficiente que o método da mão com luva. Figura 3. Metricheck O aparelho Metricheck é uma maneira prática e econômica para avaliar descarga vaginal. O aparelho consiste de uma vara de metal com uma borracha na ponta que é utilizada para retirar o conteúdo vaginal. O aparelho é limpo com uma solução desinfetante e inserido na vagina da vaca, e então é removido sendo retirado com um ângulo de 45 o (Figura 4). Depois de ser coletado o conteúdo vaginal recebe um escore de acordo com qualidade e cheiro do muco (Figura 5).
Figura 4. Retirada do Metricheck da vagina com um ângulo de 45 o. Figura 5. Escore de descarga vaginal para Metricheck (Sheldon et al., 2005). Utilizando este sistema de escore, o muco pode ser descrito como:
- Escore 0 = Muco limpo ou translúcido; - Escore 1 = Muco contendo manchas brancas ou claras de pus; - Escore 2 = Descarga vaginal contendo 50% de material mucopurulento branco ou claro; - Escore 3 = Descarga vaginal contendo 50% de material purulento, branco ou sanguinolento; O cheiro é classificado como sem cheiro (escore 0) ou forte odor (escore 3). Estes escores representam a presença e quantidade de bactérias no útero do animal. Descarga vaginal com escore de cheiro 0 indica que existe um pequeno número de bactérias patogênicas no ambiente uterino, enquanto a descarga vaginal com escore 3 indica presença de infecção bacteriana do útero. Uma vez que 95% dos casos de metrite ocorre até 14 dias após o parto, a utilização do Metricheck neste período é recomendado para detecção de metrite. É importante relembrar que metrite pode ser caracterizada de várias maneiras de acordo com os dias em lactação. Quando a vaca está com menos de 10 dias em lactação é esperado se observar uma descarga vaginal com forte odor e sem pus com a possibilidade de associação com febre. Quando uma vaca está com mais de 30 dias em lactação é esperado se observar uma descarga vaginal purulenta, mas sem cheiro ou sangue. Este processo é de fácil execução, não requer treinamento específico, e é um método confortável e higiênico para a vaca comparado com o método da mão com luva. O aparelho Metricheck é um equipamento útil e prático para obter o muco da parte cranial da vagina da vaca como um indicativo de metrite. Um vídeo passo a passo de como utilizar o aparelho está disponível: https://www.youtube.com/watch?v=jihd8busphu. Os tratamento de metrite mais comum utilizam antibióticos sistêmicos ou por infusão uterina. O uso de antibióticos sistêmicos são mais aprovados para uso em vacas leiteiras do que infusão uterina. Os antibióticos mais comuns são cloridrato de ceftiofur, ceftiofur de sódio e ácido livre cristalino de ceftiofur. Ácido livre cristalino tende a ser o antibiótico de escolha por ter uma ação mais longa. Entretanto, o médico veterinário sempre deverá ser consultado antes do tratamento. Tratamento para metrite é recomendado quando a vaca apresentar uma combinação de escore e cheiro acima de 3. Portanto a vaca teria uma descarga vaginal com mais que metade de material purulento e com odor forte. Nosso grupo da Universidade do Illinois na fazenda de gado de leite em Urbana- Champaign está avaliando o ambiente uterino de vacas leiteiras do parto ao início da lactação. As descargas uterinas estão sendo avaliadas com o aparelho Metricheck. Dos dados obtidos, 69,7% das vacas tiveram metrite de 4 a 17 dias após o parto. A Figura 6 mostra a porcentagem de vacas com metrite entre 4 e 30 dias após o parto de acordo com o escore Metricheck + cheiro, escore Metricheck e escore de cheiro.
A Figura 7 mostra a média do escore Metricheck + cheiro, escore Metricheck e escore de cheiro em relação aos dias em lactação. Metrite foi caracterizada neste estudo por escore Metrichck + cheiro acima de 3, escore Metricheck acima de 2 ou escore de cheiro acima de 1. Figura 6. Porcentagem de vacas com metrite para escore Metricheck + cheiro > 3, escore de cheiro = 3 e escore Metricheck > 2.
Figura 7. Média do escore Metricheck + cheiro, escore Metricheck e escore de cheiro. O diagnóstico de metrite em estágio inicial é benéfico para a vaca e fazenda. O aparelho Metricheck permite um diagnóstico de metrite preciso possibilitando tratamento precoce evitando futuros danos ao trato reprodutivo da vaca assim como a produção de leite. Traduzido por Lucas Parreira de Castro Para Formuleite 2016 Fonte: http://dairyfocus.illinois.edu/content/simple-technique-detect-metritis