CARACTERIZAÇÃO DA FARINHA OBTIDA A PARTIR DO RESÍDUO DE EXTRAÇÃO DO AMIDO DA AMÊNDOA DA MANGA (Mangifera indica L.)

Documentos relacionados
DETERMINAÇÃO DE VIDA DE PRATELEIRA DA FARINHA OBTIDA A PARTIR DAS CASCAS DE ABACAXI (Ananas comosus L. Merril)

OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO AMIDO DO ENDOCARPO DA MANGA TOMMY ATKINS PROVENIENTE DO RESÍDUO AGROINDUSTRIAL

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE BISCOITO ELABORADO COM RESÍDUO DE POLPA DE AMORA-PRETA (Rubus spp.) 1. INTRODUÇÃO

QUANTIFICAÇÃO DO TEOR DE VITAMINA C E ACIDEZ TITULÁVEL PRESENTES NA CASCA DE MANGAS COLETADAS NO BREJO PARAIBANO

AVALIAÇÃO SENSORIAL DE MASSA DE PIZZA ENRIQUECIDA COM FARINHA DO RESÍDUO DE EXTRAÇÃO DO AMIDO DA AMÊNDOA DA MANGA (Mangifera indica L.

FARINHA DO CAROÇO DA MANGA COMO INGREDIENTE NA ELABORAÇÃO DE PRODUTOS DE PANIFICAÇÃO

COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DE FRUTOS DE JUAZEIRO NO ESTÁDIO DE MATURAÇÃO MADURO CENTESIMAL COMPOSITION OF JUAZEIRO FRUIT AT MATURE MATURATION STAGE

ESTUDO DAS CARACTERÍSTICAS NUTRICIONAIS DAS POLPAS DE MANGAS (MANGIFERA INDICA L.) VARIEDADE TOMMY ATKINS

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Comparação entre técnicas de secagem para obtenção de farinha a partir da casca de manga cv. Tommy atkins

AVALIAÇÃO SENSORIAL DA FIBRA DO PEDÚNCULO DO CAJÚ (Anacardium occidentale L.) EM DIFERENTES CONCENTRAÇÕES COMO RECHEIO EM PASTEIS

ELABORAÇÃO DE GELEIA TRADICIONAL E LIGHT DE GUABIROBA BRUNA NAPOLI¹; DAYANNE REGINA MENDES ANDRADE²; CRISTIANE VIEIRA HELM³

ADIÇÃO DE FIBRA DE CÔCO MACAÚBA (Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd) NA PRODUÇÃO DE RICOTA

XI Jornada Científica XI Semana de Ciência e Tecnologia IFMG Campus Bambuí

Prêmio Jovem Cientista

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE ABÓBORA E MORANGA CRISTALIZADAS PELO PROCESSO DE AÇUCARAMENTO LENTO.

PARÂMETROS DE QUALIDADE DA POLPA DE LARANJA

Caracterização física e físico-química da polpa da manga cv. Haden integral

Avaliação dos padrões de qualidade de salsichas de frango e comparação com as informações do rótulo, legislação e literatura

ANÁLISE SENSORIAL E COMPOSIÇÃO PROXIMAL DE BISCOITO TIPO COOKIE ENRIQUECIDO COM FARINHA DA CASCA E DO ENDOCARPO DE MANGA (Mangifera indica L.

Avaliação de parâmetros de qualidade de doce em massa e das matérias primas utilizadas na formulação

ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA DE SUCO DE CAJU. Iwalisson Nicolau de Araújo 1 Graduando em Licenciatura em Química pela Universidade Estadual da Paraíba.

CARACTERIZAÇÃO CENTESIMAL DAS PARTES COMPONENTES DOS FRUTOS DE LICHIA EM FUNÇÃO DO CLIMA

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DA FARINHA DE MANDIOCA PRODUZIDA EM DIFERENTES ESTADOS DO PAÍS.

I SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EMBRAPA ACRE ACEITAÇÃO SENSORIAL DE BOLO ELABORADO COM FARINHAS DE CASTANHA- DO-BRASIL E BANANA VERDE

Caracterização físico química e sensorial de doce de manga (Mangifera indica L.) em massa com adição de casca

CURSO DE FARMÁCIA Reconhecido pela Portaria MEC nº 220 de , DOU de PLANO DE CURSO

AULA 3. Prof a Dra. Rosa Lúcia Carneiro da Silva

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E FÍSICO-QUÍMICA DE FRUTOS DE UM GENÓTIPO

Palavras chave: bagaço seco, fração fibrosa, teste sensorial

CONSERVAÇÃO DA POLPA DO FRUTO DO IMBUZEIRO (Spondias tuberosa Arruda) EM TEMPERATURA AMBIENTE

AVALIAÇÃO CENTESIMAL E SENSORIAL DA GELEIA DE MORANGO COM ADIÇÃO DE SEMENTE DE MAMÃO (Carica Papaya)

ELABORAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FARINHA DA ENTRECASCA DA MELÂNCIA (Citrullus lanatus)

Área: Tecnologia de Alimentos SECAGEM DE BANANA EM ESTUFA COMO MÉTODO DE CONSERVAÇÃO

AVALIAÇÃO DE HIDROCOLOIDES PARA ELABORAÇÃO DE ESTRUTURADOS DE CAJÁ-MANGA

TÍTULO: FERMENTAÇÃO DE EXTRATO HIDROSSOLÚVEL DE SOJA VERDE POR BACTÉRIAS PROBIÓTICAS

INTENÇÃO DE COMPRA DE BISCOITOS TIPO COOKIE SABOR CHOCOLATE COM DIFERENTES TEORES DE FARINHA DE UVA

MODIFICAÇÃO QUÍMICA DO AMIDO EXTRAÍDO DO RESÍDUO DO PROCESSAMENTO AGROINDUSTRIAL DA MANGA (Mangifera indica L.) VAR. UBÁ

TÍTULO: AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE POLPAS DE FRUTAS COMERCIALIZADAS EM MONTES CLAROS-MG

CARATERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE FARINHA DA ENTRECASCA DE MELANCIA (Citrullus lanatus)

DIFERENTES CORTES PARA MELÃO MINIMAMENTE PROCESSADO

BIOQUÍMICA DOS ALIMENTOS: AMIDO RESISTENTE E FIBRAS (aula 2) Patricia Cintra

COMPARAÇÃO DAS QUALIDADES FÍSICO-QUIMICAS DA MAÇÃ ARGENTINA RED COM A MAÇÃ NACIONAL FUJI

PROCESSAMENTO E CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E FÍSICA DE FRUTOS DE MURICI-PASSA (Byrsonima verbascifolia)

1 Universidade Federal do Vale do São Francisco Univasf, 2 IF Sertão Pernambucano,

A QUÍMICA PRESENTE NAS INDÚSTRIAS ALIMENTÍCIAS

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE POLPA DE ACEROLA IN NATURA E LIOFILIZADA PARA PREPARAÇÃO DE SORVETES

ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE BISCOITOS TIPO COOKIE SABOR CHOCOLATE COM DIFERENTES TEORES DE FARINHA DE UVA

ALTERNATIVA PARA CONSERVAÇÃO DA POLPA DO FRUTO DO IMBUZEIRO (Spondias tuberosa Arruda)

Caracterização físico-química de pó alimentício oriundo de albedo de limão (Citrus limon L.)

AVALIAÇÃO DE VARIEDADES DE MANGA VISANDO O MERCADO DE CONSUMO IN NATURA LAERTE SCANAVACA JUNIOR 1 ; NELSON FONSECA 2

Congresso Brasileiro de Fruticultura Natal/RN 17 a 22 de Outubro de 2010

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE GELADO COMESTÍVEL ELABORADO COM POLPA DO FRUTO DE MANDACARU ADICIONADO DE SORO DE LEITE

ELABORAÇÃO DE DOCE EM PASTA DO TIPO EM MASSA A PARTIR DE FRUTAS DO SEMIÁRIDO

EFEITO DO TRATAMENTO COM SANITIZANTE ORGÂNICO VEROMAX 80 COMBINADO COM ANTIOXIDANTES ORGÂNICOS SOBRE A QUALIDADE EM RAÍZES DE MANDIOCA DE MESA.

Elaboração de produtos a partir do aproveitamento total da batata-doce

APROVEITAMENTO DA FARINHA DE BANANA VERDE NA ELABORAÇÃO DE BISCOITOS TIPO COOKIES

AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DAS POLPAS DE AÇAÍ COMERCIALIZADAS NAS FEIRAS LIVRES DE SÃO LUÍS-MA.

Atividades Desenvolvidas

Desenvolvimento e análise sensorial de doce de leite utilizando farinha de banana verde (Musa spp.)

Biomassa de Banana Verde Polpa - BBVP

ELABORAÇÃO E AVALIAÇÃO CENTESIMAL DE BARRAS DE FRUTAS DESIDRATADAS COM ADIÇÃO DE CASCAS

ANÁLISE COMPARATIVA DA QUALIDADE NUTRICIONAL ENTRE PIZZAS CALABRESA COMPARATIVE ANALYSIS OF NUTRITIONAL QUALITY BETWEEN PIZZA CALABRIAN

CARACTERIZAÇÃO DO ÓLEO DAS SEMENTES DE MAMÃO, VARIEDADE FORMOSA, COMO APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

Obtenção e avaliação de parâmetros físico-químicos da polpa de goiaba (Psidium guajava L.), cultivar Paluma

ELABORAÇÃO DE LICOR DE FRUTAS NATIVAS E TROPICAIS

ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS DE BEBIDAS LÁCTEAS FERMENTADAS POTENCIALMENTE PROBIÓTICAS PRODUZIDAS A PARTIR DO APROVEITAMENTO DA CASCA DA JABUTICABA.

COMPARAÇÃO DOS PROCESSOS FERMENTATIVOS DA POLPA DE COCO VERDE E DO LEITE POR BACTÉRIAS LÁCTICAS. Karina Fernandes Pimentel 1 ; Eliana Paula Ribeiro 2

Cláudia Simone BALTAZAR

Avaliação da composição centesimal e determinação de minerais em rações para cães e gatos

Avaliação química de resíduo de fecularia

Utilização de maracujá integral no desenvolvimento de sobremesa láctea (flan) e avaliação de suas características físico-químicas e sensorial.

18 Comercialização e Agregração de Valor

COMPARAÇÃO DE PARÂMETROS LABORATORIAIS EM DIFERENTES TIPOS DE GELEIAS CONVENCIONAIS DE MORANGO

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO QUÍMICA DA POLPA DE MAMÃO CULTIVAR SUNRISE SOLO (Carica Papaya L.)

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DO CAROÇO DE ABACATE (Persea americana, Mill)

PROPRIEDADES HIGROSCÓPICAS DE FARINHA DE RESÍDUOS DE FRUTAS

ESTUDO FITOQUÍMICO E TESTE TOXICOLÓGICO DO EXTRATO ETANÓLICO DAS FOLHAS DE Mouriri cearensis Huber

INFORMAÇÃO NUTRICIONAL DE BEBIDA À BASE DE EXTRATOS DE ARROZ E DE SOJA INFORMAÇÃO NUTRICIONAL DE BEBIDA À BASE DE EXTRATOS DE ARROZ E DE SOJA

Processamento de Castanha de Caju

AVALIAÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA DOS GRÃOS DE MILHO E DE SOJA ARMAZENADOS EM SILOS BAG

CARACTERIZAÇÃO DOS ESTÁDIOS DE MATURAÇÃO DE BANANA RESISTENTE À SIGATOKA NEGRA VARIEDADE THAP MAEO

PROPOSTA DE PROCEDIMENTO DE SECAGEM DE BAGAÇO DE MAÇÃ PARA A PRODUÇÃO DE FARINHA

Composição centesimal de azeitonas e perfil de ácidos graxos de azeite de oliva de quatro cultivares de oliveira

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

ACEITABILIDADE SENSORIAL DE GELEIA DE AÇAÍ E BANANA

Características Químicas de Néctar e Suco de Mirtilo Obtido pelo Método de Arraste de Vapor

PRODUÇÃO DE BARRAS DE CEREAL A PARTIR DO SUBPRODUTO DE ABACAXI

COMPOSIÇÃO DE FARELO DESENGORDURADO DE VARIEDADES DE MAMONA CULTIVADAS NO MUNICÍPIO DE ITAOCARA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO

AVALIAÇÃO DA COR DE POLPAS E GELEIAS ELABORADAS COM DIFERENTES VARIEDADES DE MANGA

ANÁLISE MULTICRITÉRIO APLICADA AO ESTUDO DE CONTROLE AMBIENTAL NO SETOR AGROINDUSTRIAL: PRODUÇÃO DO QUEIJO QUALHO

AVALIAÇÃO DE POLPAS DE FRUTAS CONGELADAS PRODUZIDAS NO MACIÇO DE BATURITÉ

AVALIAÇÃO DE VITAMINA C, ACIDEZ E ph EM POLPAS DE ACEROLA, CAJÁ E GOIABA DE UMA MARCA COMERCIALIZADA EM MACEIÓ - ALAGOAS

BARRA DE CEREAL MISTA COM APROVEITAMENTO DE SUBPRODUTO DE SUCO DE ABACAXI E DE CAJU

AVALIAÇÃO FISICO-QUIMICA E MEDIDAS INSTRUMENTAIS DO DOCE DE CORTE DE GOIABA E MARACUJÁ

Características físico-químicas do suco caju adicionadas de galactomananas de Adenanthera pavonina

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE BLEND À BASE DE ACEROLA (Malpighia emarginata) E GOIABA (Psidium guajava)

Discente do curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos Instituto Federal de Educação, Ciência e

Caracterização físico-química do fruto de ameixa selvagem (Ximenia americana L.)

Transcrição:

CARACTERIZAÇÃO DA FARINHA OBTIDA A PARTIR DO RESÍDUO DE EXTRAÇÃO DO AMIDO DA AMÊNDOA DA MANGA (Mangifera indica L.) Tereziana Silva da COSTA 1, Valdete Campos SILVA 1, Vanessa Silva FERNANDES 1, Isanna Menezes FLORÊNCIO 2, Eliane Rolim FLORENTINO 2 1 Química Industrial, Universidade Estadual da Paraíba-UEPB, Campus I, Campina Grande-PB. E-mail: tereziana_sc@hotmail.com. Telefone: (83) 3315-3360. 2 Departamento de Química, Universidade Estadual da Paraíba-UEPB, Campus I, Campina Grande-PB. Telefone: (83) 3315-3360. RESUMO A manga (Mangifera indica L.) faz parte do elenco das frutas tropicais de grande importância econômica no Brasil. Sua deterioração fisiológica ocorre rápida e a industrialização é a alternativa para evitar desperdícios no período de safra, porém, nas indústrias é gerada uma grande quantidade de resíduo, composto por cascas e endocarpos (caroços). Nestes resíduos existem importantes componentes nutricionais, os quais podem ser aproveitados na elaboração de outros produtos. Este trabalho teve como objetivo reaproveitar amêndoas de endocarpos de mangas, variedade espada, provenientes de uma indústria processadora de polpa de frutas. As amêndoas foram utilizadas para extração de amido, seu resíduo foi seco em estufa com circulação de ar forçada, a 60 C por 3 horas, triturado e peneirado, obtendo-se uma farinha. Esta farinha foi submetida a análises para verificação da toxicidade e quantificação dos componentes nutricionais, a qual se mostrou atóxica e apresentou 1,00% de cinzas, 5,31% de proteínas, 21,32% de lipídeos e 61,91% de carboidratos, sendo, deste último, 10,95% fibra bruta. Sua utilização é promissora, é uma matéria-prima de baixo custo e ainda contribui com o meio ambiente, diminuindo os impactos gerados pelas indústrias processadoras de manga. PALAVRAS CHAVE: Aproveitamento do endocarpo, frutas tropicais, toxicidade. 1 INTRODUÇÃO A manga (Mangifera indica L.) é uma fruta originária do sul da Ásia, mais especificamente da Índia, sendo um dos mais apreciados frutos tropicais. A espécie Mangifera indica L. pertence à família Anacardiaceae, mesma família do caju, do umbu, da siriguela e do cajá-manga, e a classe Dicotiledônea, dentre as várias espécies de Mangifera é a mais conhecida horticulturalmente, sendo encontrada em várias regiões do mundo (CUNHA et al., 2002). É uma fruta com grande quantidade de polpa, de tamanho e formato variável, aroma e cor agradável que faz parte do elenco das frutas tropicais de grande importância econômica (BRANDÃO et al., 2003).

A manga é uma fruta bastante apreciada pelos consumidores brasileiros, sendo destinada ao consumo direto e/ou industrialização, na forma de compotas, geleias, sorvetes, néctares, polpas congeladas e sucos concentrados, que podem ser reconstituídos e adoçados, antes do consumo (DAMIANI et al., 2011). Por ser um fruto climatérico, a manga apresenta respiração celular intensa após sua colheita, com isso, seu amadurecimento e posteriormente sua deterioração ocorrem rápido, dificultando a comercialização de toda a safra da fruta in natura, mas a industrialização minimiza este problema. A grande utilização da manga nas indústrias evita desperdícios na safra da fruta e possibilita seu consumo na entressafra, porém os resíduos deste processamento acabam sendo descartadas no solo sem nenhum tratamento prévio. Como a quantidade de resíduos pode chegar a inúmeras toneladas, agregar valor a esses subprodutos é de interesse econômico e ambiental, necessitando de desenvolvimento científico e tecnológico (VIEIRA, 2007). De acordo com Ribeiro (2006), a industrialização da manga possibilita ainda o aproveitamento de variedades com pouco valor comercial para o consumo humano, por não possuírem os atributos exigidos pelo consumidor, relacionados às características do fruto. Na indústria alimentícia o maior emprego da fruta se dá na forma de polpa, que constitui a matéria-prima para a elaboração de outros produtos. No beneficiamento dos frutos há o descarte do caroço, que junto com a casca, compõe o resíduo (AZEVÊDO et al., 2008). A manga espada apresenta em média 59,8% de polpa, sendo o restante resíduo, 16,2% semente (caroço) e 23,9% casca (SILVA et al., 2009). De acordo com estudos realizados anteriormente, a amêndoa contida no endocarpo da manga possui nutrientes essenciais para a alimentação humana, o que sugere sua utilização na produção de alimentos, além de ser fonte de amido. Sendo assim, este trabalho teve como objetivo elaborar uma farinha a partir do

resíduo de extração do amido da amêndoa da manga e caracterizá-la para posterior utilização em produtos alimentícios. 2 METODOLOGIA 2.1 Matéria prima A matéria-prima utilizada no desenvolvimento desse trabalho foram as amêndoas contidas nos endocarpos de mangas (Mangifera indica L.) da variedade espada, provenientes de indústrias de polpa de frutas localizadas no município de Campina Grande Paraíba. Os endocarpos foram transportados para o Núcleo de Pesquisa e Extensão em Alimentos (NUPEA), Departamento de Química da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), onde foram selecionadas e submetidas à toilets para retirada de restos de polpa e demais impurezas, distribuídos em bandejas e expostos ao sol durante 8 horas. 2.2 Obtenção da farinha da amêndoa da manga A amêndoa foi extraída através da quebra manual do endocarpo, com auxilio de martelo e faca de inox. As amêndoas foram lavadas, deixadas em repouso numa solução de metabissulfito de sódio 0,5% para inibição da atividade enzimática, cortadas em pedaços, trituradas com água, na proporção 1:4, em liquidificador na velocidade máxima formando uma emulsão, a qual foi filtrada em malha de 30 mesh. O filtrado foi utilizado para obtenção do amido através do método descrito por Adebowale et al. (2006). O resíduo da filtração foi seco em estufa com circulação de ar forçada a 60 C por 3 horas, triturado em liquidificador e peneirado, obtendo-se a farinha da amêndoa.

2.3 Análises da farinha 2.3.1 Análises físico-químicas Para as análises de ph e acidez foram diluídos 5 g da amostra em 50 ml de água destilada, o ph foi determinado por leitura direta em phmetro digital, e a acidez, titulando-se 10 ml da amostra diluída com NaOH 0,1M na presença de fenolftaleína. O teor de umidade em balança com infravermelho até peso constante, cinzas por incineração em mufla a 550 C, lipídeos por extração direta em aparelho de Soxhlet, utilizando éter de petróleo, durante 5 horas e proteínas pelo método de Kjeldahl, usando fator de conversão 5,18, específico para amêndoas (BRASIL, 2008). O teor de fibra bruta foi determinado através do método descrito em Tedesco (1995). O valor dos outros carboidratos foi obtido por diferença. Todas as análises foram realizadas em triplicata. 2.3.2 Análise toxicológica A análise de toxidade foi realizada através de bioensaio com Artemia salina, baseado na técnica descrita por Meyer et al. (1982). Os ovos foram incubados e após eclosão 10 larvas foram transferidas para tubos de ensaios contendo 5mL de água salina (38 g/l) e o extrato a ser testado em diferentes concentrações (12,5 a 1000 μg/ml). As amostras ficaram expostas à iluminação artificial durante 24 horas, após este período foram contabilizadas as larvas vivas e mortas para determinação da CL 50, que é concentração capaz de matar 50% dos indivíduos. O teste foi realizado em triplicata. A análise estatística, para obtenção do valor da CL 50, foi realizada utilizandose a análise PROBIT, através do software BIOSTAT 2009.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Farinha da amêndoa da manga A farinha obtida é bastante leve, higroscópica e de coloração marrom claro. A Figura 1 mostra a amêndoa contida dentro do endocarpo da manga e a Figura 2 mostra a farinha obtida a partir dela. Figura 1 Amêndoa do endocarpo da manga Figura 2 Farinha da amêndoa da manga 3.2 Análises físico-químicas De acordo com os resultados, a farinha da amêndoa da manga, variedade espada, apresentou 2,99% de acidez total titulável e ph em torno de 4,98, com

desvio padrão de ±0,04. A alta acidez pode ser considerada como fator benéfico, pois é desfavorável ao crescimento da maioria dos microrganismos. Os demais resultados e seus respectivos desvios padrões obtidos na caracterização físico-química estão apresentados na Tabela 1. Tabela 1 Caracterização da farinha da amêndoa da manga, em base seca, com seus respectivos desvios padrões Componentes (%) Umidade Cinzas Proteína Lipídios Fibra bruta Outros Carboidratos 10,47 ± 0,47 1,00 ± 0,01 5,31 ± 0,18 21,32 ± 0,40 10,95 ± 0,12 61,91 Verifica-se na Tabela 1 que o teor de umidade encontrado na farinha da amêndoa do endocarpo da manga foi em média 10,47%, encontrando-se dentro do padrão ANVISA (1978) que exige o máximo de 15% de umidade em farinhas. A amostra da farinha da amêndoa da manga apresentou alto teor de fibra, 10,95%. Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 1998) um alimento sólido pode ser considerado fonte de fibra, quando possui um mínimo de 3,0%, e como de alto teor de fibras, quando contém, no mínimo, 6%. Azevêdo et al., 2008 também encontrou um alto teor de fibra, 8,28% de fibra alimentar, em uma farinha elaborada a partir de cascas de manga, variedade Tommy Atkins. Segundo Anjo (2004), os efeitos do uso das fibras são a redução dos níveis de colesterol sangüíneo e diminuição dos riscos de desenvolvimento de câncer, decorrentes de três fatores: capacidade de retenção de substâncias tóxicas, ingeridas ou produzidas no trato gastrointestinal durante processos digestivos; redução do tempo do trânsito intestinal, promovendo uma rápida eliminação do bolo fecal, com redução do tempo de contato do tecido intestinal com substâncias mutagênicas e carcinogênicas; e formação de substâncias protetoras pela fermentação bacteriana dos compostos de alimentação.

Dados da literatura mostraram que os resultados expressos na Tabela 1 para a fração protéica (5,31%) é semelhante ao encontrado por Vieira (2007), que analisou a composição do farelo da amêndoa da manga variedade ubá, encontrando 4,39% de proteínas; já os teores de lipídeos (21,32%) e de fibra bruta (10,95%) foram superiores aos valores encontrados pelo referido autor, 12,18% de lipídeos e 1,90% de fibra bruta. Cavalcanti et al. (2011) caracterizou amêndoas de manga, variedade espada, encontrando 2,18% de cinzas, 6,95% de proteínas, 4,04% de lipídeos e 47,16% de carboidratos. Deve ser levado em consideração que a farinha em estudo passou por um processo de extração de amido e foi caracterizada em base seca, o que pode ter concentrado alguns de seus componentes, como também, parte de seus componentes podem ter saído junto com o amido que foi extraído, justificando assim a diferença dos teores quando comparados com os dados já existentes na literatura. De acordo com os resultados obtidos esta farinha pode ser utilizada para enriquecer formulados alimentícios por seu teor de lipídeos, de proteínas e de fibras. As proteínas têm papel fundamental na formação, crescimento e regeneração de tecidos. Lipídeos e carboidratos são as principais fontes energéticas, e as fibras possuem papel fundamental para o correto funcionamento do intestino. 3.3 Análise toxicológica Na Tabela 2 encontra-se a média de Artemia salina morta, com seus respectivos desvios padrões, para cada concentração da farinha da amêndoa testada.

Tabela 2 Quantidade média de Artemia salina morta, com seus respectivos desvios padrões, para cada concentração de farinha da amêndoa testada Concentração da farinha (μg / ml) Artemia salina morta 1000 3,67 ± 0,47 500 2,33 ± 0,47 100 1,33 ± 0,47 50 1,33 ± 0,47 25 1,00 ± 0,00 12,5 0,33 ± 0,47 0 0,33 ± 0,47 A CL 50 observada após a análise estatística (PROBIT mínimos quadrados) foi 1.527,33 ppm, com limite de confiança entre 1.086,39 e 1.968,27 ppm. Um alimento só é considerado tóxico se, a concentração letal da substância que provoca a morte de 50% dos indivíduos (CL 50 ) for menor que 1000 ppm; como a farinha em estudo apresentou (CL 50 ) > 1000 ppm, ela pode ser utilizada em formulados alimentícios sem colocar em risco a saúde dos consumidores. 4 CONCLUSÃO A farinha obtida do resíduo de extração do amido da amêndoa da manga possui componentes nutricionais importantes para alimentação humana, como proteínas, lipídios e fibras, e é comprovadamente atóxica. A inclusão desta farinha como ingrediente na elaboração de produtos pode fornecer benefícios para a saúde dos consumidores. Sua utilização é promissora,

pois é uma matéria-prima de baixo custo e ainda contribui com o meio ambiente, diminuindo os impactos gerados pelas indústrias processadoras de manga. REFERÊNCIAS ADEBOWALE, K. O.; AFOLABI T. A.; OLU-OWOLABI, B. I. Functional, physicochemical and retrogradation properties of sword bean (Canavalia gladiata) acetylated and oxidized starches. Carbohydrate Polymers, v. 65, p. 93-101, 2006. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Resolução CNNPA n. 12 de 1978. Diário Oficial da União, Brasília, 24 de Julho de 1978. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br>. Acesso em: 20 set. 2010. ANJO, D. F. C. Alimentos funcionais em angiologia e cirurgia vascular. Jornal Vascular Brasileiro, v. 3, n. 2, p. 145-154, 2004. AZEVÊDO, L. C.; AZOUBEL, P. M.; SILVA, I. R. A.; ARAUJO, A. J. B.; OLIVEIRA, S. B. Caracterização físico-química da farinha da casca de manga cv. Tommy Atkins. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS, 21.; SEMINÁRIO LATINO AMERICANO E DO CARIBE DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS, 15., 2008, Belo Horizonte. Anais eletrônicos..., Belo Horizonte: Minascentro, 2008. Disponível em: <http://www.cpatsa.embrapa.br:8080/public_eletronica/downloads/opb1989.pdf>. Acesso em: 23 fev. 2011. BRANDÃO, M. C. C.; MAIA, G. A.; LIMA, D. P.; PARENTE, E. J. S.; CAMPELLO, C. C.; NASSU, R. T.; FEITOSA, T.; SOUSA, P. H. M. Análise físico-química, microbiológica e sensorial de frutos de manga submetidos à desidratação osmóticosolar. Revista Brasileira De Fruticultura, Jaboticabal, v. 25, n.1, p. 38-41, abr. 2003. BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância Sanitária. Portaria nº 27, de 13 de janeiro de 1998. Aprova o Regulamento Técnico referente à Informação Nutricional Complementar (declarações relacionadas ao conteúdo de nutrientes). Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/e-legis/>. Acesso em: 23 out. 2011. BRASIL. Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz: Métodos químicos e físicos para análises de alimentos. 4. ed. 1. ed. digital. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008. 1020 p.

CAVALCANTI, M. T.; SILVA, V. C.; COSTA, T. S.; FLORÊNCIO, I. M.; FLORENTINO, E. R. Obtenção do amido do endocarpo da manga para diversificação produtiva na indústria de alimentos. Revista Verde, Mossoró, v. 6, n. 5, p. 80-83, dez. 2011. CUNHA, G. A. P.; PINTO, A. C. Q; FERREIRA, F. R. Origem, dispersão, taxonomia e botânica. In: GENU, P. J. C.; PINTO, A. C. Q. (Ed.). A cultura da mangueira. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2002, p. 407-432. DAMIANI, C.; ALMEIDA, A. C. S.; FERREIRA, J.; ASQUIERI, E. R.; VILAS BOAS, E. V. B.; SILVA, F. A. Doces de corte formulados com casca de manga. Revista Pesquisa Agropecuária Tropical, Goiânia, v. 41, n. 3, p. 360-369, jul.-set. 2011. MEYER, B.N.; FERRIGNI, N. R.; PUTNAM, J. E.; JACOBSEN, L. B.; NICHOLS, D. E.; MCLAUGHLIN, J.L. Brine shrimp: a convenient general bioassay for active plant constituents. Journal of Medicinal Plants Research, v. 45, p. 31-4, 1982. RIBEIRO, S. M. R. Caracterização e avaliação do potencial antioxidante de mangas (Mangifera indica L.) cultivadas no estado de Minas Gerais. 2006. 149 f. Tese (Doutorado em Bioquímica Agrícola)-Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, 2006. SILVA, D. F. P.; SIQUEIRA, D. L.; PEREIRA, C. S.; SALOMÃO, L. C. C.; STRUIVING, T. B. Caracterização de frutos de 15 cultivares de mangueira na Zona da Mata mineira. Revista Ceres, Viçosa, v. 56, n. 6, p. 783-789, nov.-dez. 2009. TEDESCO, M. J.; GIANELLO, C.; BISSANI, C. A.; BOHNEN, H.; VOLKWEISS, S. J. Análise de solo, plantas e outros materiais. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1995. 174p. (Boletim Técnico, 5) VIEIRA, P. A. F. Caracterização dos resíduos da manga (Mangifera indica L.) e efeitos sobre o desempenho e os parâmetros bioquímicos em frangos de corte. 2007. 76 f. Dissertação (Mestrado em Bioquímica Agrícola)-Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, 2007.