Processo nº: 1307/2008 Data:

Documentos relacionados
ACÓRDÃO Nº32/10 30.NOV ª S/PL RECURSO ORDINÁRIO Nº

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

ECLI:PT:TRC:2005:

Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães

S. R. TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE GUIMARÃES

Supremo Tribunal Administrativo:

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

RELATÓRIO. O presente RELATÓRIO é elaborado nos termos do disposto no artigo 155º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas CIRE.

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

CONCLUSÃO

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

(Sumário elaborado pela Relatora) Acordam os Juízes no Tribunal da Relação de Lisboa:

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

ECLI:PT:TRC:2017: TBCTB.B.C1.DF

O presente RELATÓRIO é elaborado nos termos do disposto no artigo 155.º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas CIRE.

RELATÓRIO. O presente RELATÓRIO é elaborado nos termos do disposto no artigo 155º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas CIRE.

RECLAMAÇÃO VERIFICAÇÃO GRADUAÇÃO DE CRÉDITOS

ECLI:PT:TRG:2016: T8VNF.D.G1

Descritores doença profissional; requerimento; junta médica; incapacidade; caixa nacional de pensões;

Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa EXONERAÇÃO DO PASSIVO RESTANTE DIFERIMENTO DO PAGAMENTO DE CUSTAS APOIO JUDICIÁRIO.

ECLI:PT:TRG:2014: TBBRG.J.G1.4C

(Termo eletrónico elaborado por Escrivão Adjunto Paula Leite) =CLS=

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

PN ; Ap.: Tc. Lamego, 1º J. ); Acordam no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução:

Tribunal de Contas R.O. N.º 1-RO-E/2011. (P. n.º 5 793/2000- DVIC.1) ACÓRDÃO Nº 5/2012-3ª Secção

RELATÓRIO. O presente RELATÓRIO é elaborado nos termos do disposto no artigo 155º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas CIRE.

Processo n.º 429/2015 Data do acórdão:

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

CONCLUSÃO =CLS= Proc.Nº 2888/17.7T8AVR. Insolvência pessoa singular (Apresentação)

ECLI:PT:TRL:2010: TBVFX.L1.7.A1

CONCLUSÃO =CLS= Proc.Nº 2952/17.2T8BRR. Insolvência pessoa singular (Apresentação)

ACÓRDÃO N.º 4 / FEV-1ªS/PL

ECLI:PT:TRL:2011: PDFUN.A.L1.9.E0

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão nº 2/2011-3ª Secção. (Processo n.º 1-RO-E/2010)

ECLI:PT:TRL:2012: YIPRT.L1.6.8A

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acordam nesta Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo:

(Termo eletrónico elaborado por Escrivão Auxiliar Raquel Gomes do Rosário) =CLS= ***

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

RELATÓRIO. O presente RELATÓRIO é elaborado nos termos do disposto no artigo 155º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas CIRE.

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acordam na Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo: - Relatório -

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

TRIBUNAL ARBITRAL DE CONSUMO

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV 2015/2016 Mestrado Forense / Turma B (Rui Pinto) EXAME FINAL ( ) - Duração 2 h 30 m

ECLI:PT:TRL:2012: T2SNT.L1.8

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

TRIBUNAL SUPREMO. Câmara do Cível e Administrativo NA CÂMARA DO CÍVEL E ADMINISTRATIVO DO TRIBUNAL SUPREMO, ACORDAM, EM CONFERÊNCIA, EM NOME DO POVO:

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça

PARECER JURÍDICO N.º 4 / CCDR-LVT / Validade Válido JURISTA MARTA ALMEIDA TEIXEIRA GESTÃO RECURSOS HUMANOS. A autarquia refere o seguinte:

FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE GOLFE DELIBERAÇÃO DO CONSELHO JURISDICIONAL DA FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE GOLFE

RECURSO DA DELIBERAÇãO DO CONSELhO GERAL SOBRE RESTITUIÇãO DE IMPORTâNCIAS PAGAS AO CDL(*)

Acórdão n.º 10 / ª Secção-PL. P. n.º 5 ROM-SRM/2013. P. de Multa n.º 6/2012-SRM

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acordam, em conferência, nesta Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo:

ACÓRDÃO N.º 12/ out ª S/PL. Recurso Ordinário n.º 02/ EMOL. (Processo n.º 1022/2011)

RELATÓRIO. O presente RELATÓRIO é elaborado nos termos do disposto no artigo 155º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas CIRE.

Nuno Rodolfo da Nova Oliveira da Silva, Economista com escritório na. Quinta do Agrelo, Rua do Agrelo, nº 236, Castelões, em Vila Nova de Famalicão,

Processo n.º 322/2007 Data:

TRIBUNAL SUPREMO 1ª SECÇÃO DA CÂMARA CRIMINAL ACÓRDÃO

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

CÓDIGOS ELECTRÓNICOS DATAJURIS DATAJURIS é uma marca registada no INPI sob o nº

TRIBUNAL ARBITRAL DE CONSUMO

Deliberação nº 1 /CC/2018. de 14 de Setembro. Relatório

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Rui Duarte Morais QUANDO A ADMINISTRAÇÃO FISCAL INCUMPRE QUINTAS-FEIRAS DE DIREITO 7 DE JULHO DE 2011

Descritores execução; penhora; subsídio de alimentação; abono para falhas; remuneração; trabalho extraordinário; bens impenhoráveis;

TRIBUNAL ARBITRAL DE CONSUMO

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acordam, em conferência, na 3" Secção Criminal do Tribunal da Relação de Lisboa

ECLI:PT:TRE:2017: T8PTG.E1.C0

S U M Á R I O. Processo n.º 764/2018 Data do acórdão: Assuntos:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 10ª Câmara de Direito Privado

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Processo de arbitragem

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

ARBITRAGEM DE CONSUMO

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

FORMALIDADE AVISO DE RECEPÇÃO ASSINATURA DO AVISO POR PESSOA DIVERSA DO DESTINATÁRIO

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

ECLI:PT:STJ:2008:07B4054.EE

Tribunal de Contas RECURSO ORDINÁRIO Nº 32/2003 SUMÁRIO DO ACÓRDÃO. ACÓRDÃO Nº 49 /03 Nov.25-1ªS/PL

ACÓRDÃO NA CÂMARA DO CÍVEL E ADMINISTRATIVO DO TRIBUNAL POPULAR SUPREMO, ACORDAM EM CONFERÊNCIA, EM NOME DO POVO:

REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL CONSTITUCIONAL ACÓRDÃO N. 532/2019. Em nome do Povo, acordam, em Conferência, no Plenário do Tribunal

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo. Acordam na Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo I-RELATÓRIO

RELATÓRIO. O presente RELATÓRIO é elaborado nos termos do disposto no artigo 155º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas CIRE.

Procedimento por Prévia Qualificação com Seleção. Caderno de Encargos. para celebração de contrato de. Empreitada do Centro de Saúde da Nazaré

Acórdão do Tribunal da Relação do Porto

I. Por comunicação escrita dirigida ao Bastonário da Ordem dos Advogados, datada de ( ), a Sra. Dra. ( ), Advogada, veio expor o que segue:

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

S. R. TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE GUIMARÃES

Transcrição:

PDF elaborado pela Datajuris Processo nº: 1307/2008 Data: 2010-02-01 Acordam no Tribunal da Relação do Porto: I Relatório B., solteira, residente na Rua., Bloco., Entrada.., Casa.., Porto, veio, ao abrigo do disposto no art. 186º da OTM, requerer a fixação de alimentos a favor do seu filho menor C. contra o pai deste, D., residente no., Bloco.., Entrada, Casa.., Porto. Alegou para tal o seguinte: - que o menor seu filho e do requerido, nascido a 10 de Maio de 1994, está à sua guarda desde que nasceu; - que ela e o requerido já não mantinham qualquer relação ou vida em comum aquando de tal nascimento; - que é ela quem tem vindo a suportar todas as despesas com a alimentação, vestuário, educação, assistência médica e transportes do menor, no que despende a quantia mensal de 200,00 euros; - que actualmente está desempregada e tem de garantir o seu sustento e o dos seus dois filhos (entre os quais o menor referido), sendo que tem como única fonte de rendimento o Rendimento Social de Inserção no valor mensal de 363,82 euros; - que reside com os seus dois filhos e com os seus pais e participa mensalmente com a quantia de 70,00 euros para despesas com a renda da habitação e electricidade. Realizada a conferência a que alude o art. 187º da OTM, não houve qualquer acordo. O requerido não contestou. Solicitados inquéritos sociais sobre a requerente e o requerido e juntos os mesmos aos autos, pela sra. Juiz foi proferida a seguinte sentença: ( ) Dos relatórios sociais juntos aos autos consta que o requerido se encontra detido, não tendo qualquer rendimento, pelo que o Ministério Público emitiu parecer no sentido de se mostrar inviável a fixação de quaisquer alimentos. Nos termos do disposto no art. 2004º nº1 do CC, a prestação de alimentos deve ser proporcional aos meios daquele que houver de prestá-los e à necessidade daquele que houver de recebê-los. No caso dos autos, concordando na íntegra com a promoção que antecede, tendo em conta que o requerido não tem meios que lhe permitam prestar qualquer pensão de alimentos ao menor, julgo improcedente a acção. De tal sentença veio a requerente interpor recurso, pugnando pela sua revogação e substituição por outra que condene o requerido em prestação de alimentos, tendo apresentado as conclusões que se transcrevem: 1ª - A sentença padece de erro na decisão sobre a matéria de direito, bem como faz, salvo melhor opinião, uma errónea aplicação do direito ao vertente caso, contrariando assim a Lei, o Direito e a Justiça. 2ª A Recorrente considera que os autos contêm desde já toda a matéria de facto necessária para a boa decisão da causa. Desde logo, evidenciando a necessidade do menor de uma pensão de alimentos do Recorrido, seu pai. 3ª A Recorrente considera que a douta sentença deveria ter condenado o Recorrido a prestar uma pensão de alimentos ao menor, seu filho. Considera ilegal e injusto que a decisão do Tribunal a quo não condene o Recorrido numa pensão de alimentos, pelo facto de o mesmo não possuir meios que lhe permitam cumprir a mesma, dado que a questão em apreço no presente recurso é a de saber se o Recorrido terá ou não de prestar uma pensão de alimentos ao menor. E se o facto de estar temporariamente sem rendimentos económicos é causa para absolvê-lo da prestação de alimentos e de demissão das suas responsabilidades parentais! 4ª O primeiro argumento invocado para discordar da douta sentença é a não aplicação, no

caso de alimentos devidos a menores, do disposto no nº1 do art. 2004º do Código Civil, pois entende-se que a obrigação de alimentos decorre da imposição legal das responsabilidades parentais, decorrentes, desde logo, do disposto no nº1 e 2 do artigo 1874º e no nº1 do artigo 1878º, ambos do Código Civil. 5ª O segundo argumento decorre do facto da pensão de alimentos ser uma obrigação futura, pelo que é de esperar que a situação económica e financeira do Recorrido evolua em sentido positivo, podendo o mesmo conseguir atingir uma estabilidade e uma situação favorável que lhe permita fazer face ao encargo em que for condenado. 6ª Por fim, o terceiro argumento refere-se ao facto de a não fixação de qualquer prestação alimentar a cargo do progenitor impossibilitar a intervenção do Fundo de Garantia dos Alimentos Devidos a Menores, previsto na Lei nº75/98 de 19 de Novembro. 7ª A impossibilidade do menor poder solicitar a intervenção do Fundo de Garantia dos Alimentos Devidos a Menores vai impedir que o mesmo possa ter condições de existência condigna e que possa desenvolver-se a nível físico e intelectual em condições ideais, pois estará sempre limitado pelas dificuldades económicas e financeiras da Recorrente, o que se afigura como contrário aos princípios do Estado e da sociedade quanto à defesa dos direitos dos menores. 8ª A decisão do Tribunal a quo vai ainda premiar quem nunca cumpriu as suas responsabilidades parentais e penalizar quem sempre cumpriu e com todo o sacrifício pessoal sempre lutou contra todas as adversidades para dar ao menor a melhor qualidade de vida possível, mesmo com as suas notórias dificuldades económicas e financeiras. 9ª Situação essa que se transforma numa injustiça patente face a outros menores em situações similares, mas em que o progenitor condenado na pensão de alimentos que apenas a título superveniente não possa cumprir com a sua obrigação ou por não se conseguir apurar os rendimentos do mesmo, o que será uma forma de violar o princípio da igualdade, consagrado no artigo 13º da Constituição da República Portuguesa. 10ª Pelo exposto, a douta sentença traduziu-se num resultado ética e juridicamente injusto, em virtude de ter dado um prémio a quem nunca cumpriu com as suas responsabilidades parentais e penalizando fortemente um menor que tem o direito ao seu desenvolvimento físico, intelectual e até social com a total protecção de uma sociedade que advoga desses mesmos valores. 11ª A sentença peca por erro na apreciação da matéria de direito, violando assim o disposto no nº1 e 2 do artigo 1874º e no nº1 do artigo 1878º, ambos do Código Civil, e o artigo 13º da Constituição da República Portuguesa. 12ª A sentença deveria considerar que o menor tem direito a uma pensão de alimentos e que o Recorrido deveria ter sido condenado a prestar a mesma, pois mesmo que não conseguisse cumprir o seu pagamento o menor teria sempre a possibilidade de recorrer ao Fundo de Garantia dos Alimentos devidos a Menores, como consequência de um normativo que protege os menores e pretende que aos mesmos seja assegurado, em termos de igualdade, as condições necessárias e essenciais ao seu desenvolvimento. A Magistrada do Ministério Público respondeu às alegações de recurso da recorrente nos termos constantes de fls. 78 e sgs., pugnando pela manutenção da sentença recorrida, tendo terminado com as seguintes conclusões, que se transcrevem: I A obrigação de alimentos a que aludem os arts. 1874º e 1878º do C. Civil, e tal como se encontra prevista no art. 2004º do C. Civil, é integrada também pelas possibilidades económicas do progenitor obrigado. II Apurando-se que o progenitor está detido, sem qualquer rendimento, não pode fixar-se pensão de alimentos, por ausência de uma das proposições contidas no preceito citado art. 2004º do C. Civil. III A fixação de pensão de alimentos com o único objectivo de possibilitar o recurso ao Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores Lei 75/98 não tem qualquer fundamento legal. IV Não configura tratamento desigual (quando o progenitor tem ou não meios para se fixar a pensão), mas tão só tratar de modo diverso situações que são também diversas. V Não foi violado qualquer preceito legal ou princípio de direito, designadamente o da igualdade, devendo negar-se provimento ao recurso. Corridos os vistos legais, cumpre decidir, e, considerando que o objecto do recurso é delimitado pelas suas conclusões (art. 684º nº3 do CPC), são essencialmente as seguintes

as questões a tratar: a) apurar se é de fixar prestação de alimentos mesmo no caso de o progenitor titular da respectiva obrigação não ter possibilidades económicas de a cumprir, em vista da possível intervenção do Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores; b) caso se conclua que não é de fixar tal prestação, inviabilizando assim a intervenção daquele Fundo, apurar se tal viola o princípio da igualdade consagrado na Constituição, por gerar diferença de tratamento entre a situação de um progenitor que supervenientemente não cumpre a prestação de alimentos judicialmente fixada e a situação daquele que originariamente não presta alimentos. II Fundamentação Vamos à primeira questão enunciada. Como já no relatório desta peça se referiu ao transcrever-se a fundamentação e decisão da sentença recorrida, na sequência de se ter dado como provado que o requerido, pai do menor, se encontra detido (em estabelecimento prisional, como decorre desde logo da documentação junta a fls. 28 a 31 e do relatório social constante de fls. 45 a 49) e não tem qualquer rendimento, considerou-se, à luz do disposto no art. 2004º nº1 do C. Civil, que o requerido não tem meios que lhe permitam prestar qualquer pensão de alimentos ao menor e, na sequência disso, foi julgada improcedente a acção. A recorrente defende que mesmo não tendo o requerido meios económicos para cumprir a prestação de alimentos deve ainda assim a respectiva obrigação ser-lhe judicialmente fixada, por forma a poder fazer-se intervir o Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores previsto na Lei 75/98 de 19/11. Analisemos. A obrigação de o progenitor pagar alimentos ao filho prevista nos arts. 1874º nº2 e 1878º nº1 do C. Civil, como obrigação com fonte legal que é, deve ser articulada com o disposto no capítulo das disposições gerais relativas aos alimentos previstas nos arts. 2003º a 2014º do C. Civil. Tal é o que decorre desde logo do disposto naquele art. 2014º, nos seus nºs 1 e 2, que pressupondo a aplicação de tal regime às obrigações de alimentos previstas no art. 2009º - onde se inclui, como ascendente, a do pai em relação ao filho - manda ainda aplicar tais disposições à obrigação alimentar que tenha por fonte um negócio jurídico (nº1) e a todos os outros casos de obrigação alimentar imposta por lei (nº2). Deste modo, é aplicável à obrigação de alimentos por parte do progenitor prevista naqueles arts. 1874º nº2 e 1878º nº1 do C. Civil o disposto no art. 2004º nº1 do mesmo diploma. Como se dispõe neste preceito, os alimentos serão proporcionados aos meios daquele que houver de prestá-los. Ora, tendo-se provado que o requerido porque está detido em estabelecimento prisional e não tem qualquer rendimento não tem meios que lhe permitem prestar qualquer pensão de alimentos, parece-nos óbvio que, enquanto se mantiver tal situação, falta o pressuposto (existência de meios) para fixar o seu montante e a obrigação de os pagar. Em reforço deste entendimento, veja-se o disposto no art. 2013º nº1 b) do C. Civil, onde se prescreve que a obrigação de prestar alimentos cessa quando aquele que os presta não possa continuar a prestá-los efectivamente, se a obrigação de prestar alimentos cessa quando o devedor não pode continuar a prestá-los, há-de concluir-se (por maioria de razão) que não deverão ser fixados alimentos quando esteja demonstrada a sua impossibilidade de os prestar, obrigação que certamente não iria, nem podia, cumprir (nos exactos termos aqui referidos, veja-se Tomé d Almeida Ramião, Organização Tutelar de Menores Anotada e Comentada, Quid Júris, 2009, pág. 163). Será porém que, não obstante tal situação, ainda assim é de fixar a prestação de alimentos, para se poder provocar a intervenção do Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores criado pela Lei 75/98 de 19/11, a qual foi regulamentada pelo Dec.Lei 164/99 de 13/5? Entendemos que não. A intervenção de tal Fundo, como decorre dos arts. 1º e 2º nº2 da Lei 75/98 e do art. 3º nº1 a) e nº3 do Dec.Lei 164/99, tem natureza subsidiária, na medida em que pressupõe a prévia fixação judicial de uma prestação de alimentos (neste sentido, entre outros, vide o acórdão deste mesmo Tribunal da Relação de 30/9/2008, sob o nº de documento RP0809300824117, disponível www.dgsi.pt.)

Por sua vez, a fixação judicial da prestação de alimentos pressupõe a acima referida existência de meios por parte do titular da obrigação de os prestar. Logo, não existindo meios por parte do obrigado, não se pode fixar a prestação de alimentos e, por isso, não poderá fazer-se intervir aquele Fundo. Na verdade, todo o regime de funcionamento de tal Fundo está traçado para casos de incumprimento da obrigação de alimentos fixada judicialmente (fixada, por isso, no pressuposto de que o obrigado tinha meios para os prestar) e não para casos de impossibilidade originária de cumprimento. Se também estivesse traçado para estes casos referidos por último, tal regime preveria ou permitiria logo a demanda, chamada ou intervenção inicial do Fundo, sem necessidade de, falaciosamente, se exigir a fixação dos alimentos a uma pessoa que já se sabe que não tem qualquer possibilidade económica de os pagar. Além disso, diga-se, existem outros meios para prover à situação de impossibilidade originária de prestação de alimentos por parte do responsável: desde logo, a lei atribui a outras pessoas essa obrigação alimentar, de acordo com a ordem referida no art. 2009º nº1 als. c), d) e e), nº2 e nº3 do C. Civil (onde se incluem, por ex., os avós e os tios do menor). Como tal, fixar-se uma prestação de alimentos a cargo do progenitor sempre que esteja demonstrada a inexistência de meios económicos deste apenas para se poder accionar o Fundo de Garantia de Alimentos, para além de violação clara e grosseira do disposto no art. 2004º nº1 do C. Civil, conduzir-nos-ia, por um lado, à pura arbitrariedade, sem qualquer critério legal e objectivo que permitisse determinar o seu montante, e, por outro, excluiria a responsabilização dos restantes familiares, cuja obrigação decorre do art. 2009º nºs 1, 2 e 3 do C. Civil (neste sentido, vide Tomé d Almeida Ramião, obra citada, pág. 164). Assim, em conformidade com o que se acaba de expor, é de concluir que, no caso de o responsável por alimentos não ter possibilidades económicas de a cumprir, não é de lhe fixar prestação de alimentos apenas tendo em vista a intervenção do Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores. * Passemos à segunda questão enunciada. Concluindo-se como se concluiu no tratamento da questão anterior, do que decorre a inviabilização da intervenção do Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores, será que tal viola o princípio da igualdade consagrado no art. 13º da Constituição, por gerar diferença de tratamento entre a situação de um progenitor que supervenientemente não cumpre a prestação de alimentos judicialmente fixada e a situação daquele que originariamente não presta alimentos? Entendemos que não. Não há desigualdade de tratamento quando se tratam de forma diversa situações diversas. Quando não é fixada a prestação de alimentos porque o obrigado à mesma não tem meios económicos para a cumprir, o menor, ab initio, não está a contar com um qualquer quantitativo a título de pensão por parte daquele obrigado. Diferentemente, quando tal pensão é fixada e a obrigação de a pagar vem a ser incumprida, o menor deixa de poder contar com algo que lhe foi judicialmente atribuído e com que, naturalmente, contava. Naquela primeira situação, e apesar de não poder haver lugar (como já vimos) à intervenção do Fundo de Garantia de Alimentos, os alimentos como já anteriormente se referiu podem vir a ser exigidos a outras pessoas legalmente também obrigadas (de acordo com a ordem referida no art. 2009º nº1 als. c), d) e e) e nºs 2 e 3 do C. Civil e onde se incluem, por ex., os avós e os tios do menor), além de que pode o menor, através de quem o representa, vir a usufruir de outras formas de protecção social, como acontece em sede de atribuição do Rendimento Social de Inserção e/ou na concessão de prestações sociais no âmbito do sistema da segurança social [arts. 8º nº2 a), 29º nº2, 30º c) e 41º nº1 a) e f) da Lei 4/2007 de 16/1, que define as bases gerais do sistema de segurança social], nomeadamente através do subsistema de acção social, que assegura a especial protecção de crianças e jovens através de prestações pecuniárias de carácter eventual [arts. 29º nº2 e 30º c) daquela Lei 4/2007] neste sentido, vide Tomé d Almeida Ramião, obra citada, pág. 166. Na segunda situação, esgotadas as possibilidades de cobrança da prestação alimentar previstas no art. 189º da OTM, intervirá o Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores (arts. 1º e 6º da Lei 75/98 de 19/11 e arts. 2º nº2 e 3º nº1 a) do Dec.Lei 164/99 de 13/5).

Embora de diferentes maneiras, quer uma quer outra das situações estão legalmente acauteladas, não sendo claro que haja um qualquer desequilíbrio entre ambas. Como tal, é de concluir que se não verifica a violação do princípio da igualdade defendida pela recorrente. * Sumariando o decidido (art. 713º nº7 do CPC): I No caso de o responsável por alimentos a menor não dispor de meios económicos, não é face ao disposto no art. 2004º nº1 do C.Civil de lhe fixar a obrigação de prestação de alimentos; II Não obstante a não fixação de alimentos por via judicial impossibilitar o recurso ao Fundo de Garantia de Alimentos Devido a Menores, tal não constitui qualquer tratamento desigual em relação à situação em que foi judicialmente fixada a prestação alimentar e que, por isso, se pode recorrer a tal Fundo; III Na verdade, apesar daquela impossibilidade de recurso a tal Fundo, os alimentos podem vir a ser exigidos a outras pessoas legalmente também obrigadas, além de que pode o menor, através de quem o representa, vir a usufruir de outras formas de protecção social, como acontece em sede de atribuição do Rendimento Social de Inserção e/ou na concessão de prestações sociais no âmbito do sistema da segurança social, nomeadamente através do subsistema de acção social, que assegura a especial protecção de crianças e jovens através de prestações pecuniárias de carácter eventual [arts. 8º nº2 a), 29º nº2, 30º c) e 41º nº1 a)e f) da Lei 4/2007 de 16/1, que define as bases gerais do sistema de segurança social]. III Decisão Por tudo o exposto, julga-se improcedente o recurso, confirmando-se a sentença recorrida. Custas pela recorrente. Porto, 01/Fevereiro/2010 António Manuel Mendes Coelho José Augusto Fernandes do Vale Baltazar Marques Peixoto (Vencido com fundamentação que junto) Vencido. Julgaria procedente o recurso, defendendo a fixação da prestação alimentos do pai do menor, com os fundamentos que inteiramente subscrevo, constantes do acórdão proferido nesta Relação e Secção no Proc. 360/07.2TBMCN-A.P1 de 4 de Janeiro de 2010. Baltazar Marques Peixoto