Situação em Portugal: A Estratégia Nacional para a Energia No âmbito da Estratégia Nacional para a Energia, aprovada no passado mês de Outubro, foram agora publicados os diplomas que estabelecem os novos quadros normativos da organização e funcionamento do Sistema Nacional de Gás Natural, do Sistema Petrolífero Nacional e do Sistema Eléctrico Nacional, bem como as bases gerais aplicáveis ao exercício das respectivas actividades de produção, recepção, armazenamento transporte, distribuição e comercialização e à organização do mercado. A Estratégia Nacional para a Energia estabeleceu, de entre as suas linhas orientadoras, a liberalização e a promoção da concorrência nos mercados energéticos, através da alteração dos respectivos enquadramentos estruturais. Neste contexto, o Decreto-Lei n.º 30/2006, recentemente publicado veio estabelecer os princípios gerais relativos à organização e ao funcionamento do Sistema Nacional de Gás Natural (SNGN), transpondo ainda parcialmente, para a ordem jurídica nacional a Directiva n.º 2003/55/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 26 de Junho, que estabelece regras comuns para o mercado interno de gás natural, com vista à constituição de um mercado livre e concorrencial. No quadro jurídico anterior, as actividades relacionadas com o funcionamento do sector do gás eram exercidas em regime de serviço público e em exclusivo, pelo que o acesso à actividade de comercialização e, consequentemente, a escolha do comercializador estavam fortemente condicionados. O novo Sistema vem introduzir alterações significativas ao anterior modelo, de que se destacam: - A separação da operação da rede de transporte da operação das infraestruturas de armazenamento e do terminal de GNL, a concessionar a várias entidades e a criação de uma Rede Nacional de Distribuição de Gás Natural, concessionada ou licenciada a vários operadores; sendo que a separação das actividades de transporte e de distribuição não é obrigatória quando o distribuidor abastecer um número de clientes inferior a 100 000. Garante-se no entanto a exploração por parte das actuais licenciadas e concessionadas pelo prazo de duração dos actuais contratos.
- O acesso às infra-estruturas da Rede Nacional de Transporte, Infraestruturas de Armazenamento e terminais de GNL e da Rede Nacional de Distribuição de Gás Natural far-se-á, mediante o pagamento de uma tarifa regulada, de forma não discriminatória e transparente. Liberalizase assim a actividade de comercialização de gás natural, mas estabelecese um regime transitório com vista a uma abertura gradual do mercado. Por outro lado, o Decreto-Lei n.º 29/2006, veio estabelecer os princípios gerais relativos à organização e ao funcionamento do Sistema Eléctrico Nacional, transpondo para a ordem jurídica nacional a Directiva n.º 2003/54/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 26 de Junho, que estabelece regras comuns para o mercado interno da electricidade, com vista à constituição, mais uma vez, de um mercado livre e concorrencial da electricidade. O novo regime vem estabelecer um Sistema Eléctrico Nacional Integrado, em que as actividades de produção e comercialização são exercidas em regime de livre concorrência, mediante a atribuição de licenças e as actividades de transporte e distribuição são exercidas mediante a atribuição de concessões de serviço público. Uma lógica de sustentabilidade é aqui introduzida, na medida em que o exercício destas actividades deverá ter em conta a racionalidade dos meios a utilizar e a protecção do ambiente, nomeadamente através da eficiência energética e da promoção das energias renováveis e sem prejuízo das obrigações de serviço público. Abandona-se assim a lógica do planeamento centralizado de centros electroprodutores, garantindo-se o livre acesso à actividade de produção de electricidade. Por outro lado, a actividade de transporte de electricidade é exercida mediante a exploração da rede nacional de transporte, a que corresponde uma única concessão exercida em exclusivo e em regime de serviço público. Esta actividade é separada jurídica e patrimonialmente das demais actividades desenvolvidas no âmbito do sistema eléctrico nacional, assegurando-se a independência e a transparência do exercício da actividade e do seu relacionamento com as demais. A distribuição de electricidade processa-se através da exploração da rede nacional de distribuição, que corresponde à rede em média e alta tensões, e da exploração das redes de distribuição em baixa tensão. A rede nacional de distribuição é explorada mediante uma única concessão do Estado,
exercida em exclusivo e em regime de serviço público, convertendo-se a actual licença vinculada de distribuição de electricidade em média e alta tensões em contrato de concessão, no respeito das garantias do equilíbrio de exploração da actual entidade licenciada. As redes de distribuição em baixa tensão continuam a ser exploradas mediante concessões municipais, mas os municípios continuam a poder explorar directamente as respectivas redes. Uma vez mais, a actividade de comercialização é livre, garantindo aos comercializadores um acesso às redes de transporte e de distribuição, de forma não discriminatória e transparente, mediante o pagamento de tarifas reguladoras. Na organização de ambos os sistemas eléctrico e de gás natural - são ainda introduzidas algumas disposições com vista à protecção do consumidor, nomeadamente: - A liberalização da escolha do comercializador, não sendo esta escolha onerada, do ponto de vista contratual, para o consumidor. A possibilidade de livre escolha para os consumidores do sector do gás irá porém obedecer a um calendário de elegibilidade gradual, a estabelecer para a liberalização do sector. Com vista a simplificar e tornar efectiva a mudança do comercializador, é criada a figura do operador logístico de mudança de comercializador, figura essa que será ainda objecto de legislação complementar. - Ainda relacionada com a protecção do consumidor, é também criada a figura do comercializador de último recurso, que será igualmente objecto de regulação posterior e que assumirá o papel de garante do fornecimento do gás natural e de electricidade aos consumidores que não optem pela mudança de fornecedor. Estas funções são provisoriamente atribuídas às actuais concessionárias, tendo em conta a natureza e o prazo de duração da sua concessão. Finalmente, os princípios gerais da organização e funcionamento do sistema petrolífero nacional são definidos no Decreto-Lei n.º 31/2006. Este diploma define os princípios fundamentais orientadores das actividades e agentes, prevendo o livre acesso de terceiros às grandes instalações petrolíferas e às redes de distribuição locais, a não discriminação e transparência das metodologias e dos critérios de aplicação tarifária quando for o caso (protegendo aqui também os direitos dos consumidores) e a possibilidade do estabelecimento de obrigações de serviço público.
Por outro lado, consagra, no âmbito dos compromissos internacionalmente assumidos, as disposições aplicáveis, nomeadamente, em termos de segurança do abastecimento e de partilha dos recursos disponíveis em caso de crise. Estabelece ainda o regime geral de acesso ao exercício das várias actividades - tratamento e refinação, armazenamento, transporte por conduta, distribuição e comercialização - mantendo o princípio da sujeição a licenciamento das instalações petrolíferas a partir das quais aquelas são exercidas, mas prevendo para a comercialização um licenciamento próprio, considerando as realidades e a multiplicidade de situações específicas inerentes à comercialização de produtos petrolíferos. Por outro lado, para reduzir a dependência do exterior do nosso país dos produtos petrolíferos, promove, em linha com as prioridades definidas posteriormente no Livro Verde da Comissão, a diversificação do aprovisionamento, da utilização de fontes de energia renováveis e da eficácia e da eficiência energética. A componente ambiental e os compromissos internacionalmente assumidos, designadamente em matéria de emissões são aqui também tidos em conta condicionando-se o exercício das actividades ao respeito da política ambiental, promovendo-se simultaneamente a utilização racional de energia. Documentos para consulta: Estratégia Nacional para a Energia http://dre.pt/pdfgratis/2005/10/204b00.pdf#page=14 Decreto-Lei n.º 29/2006, que estabelece os princípios gerais relativos à organização e funcionamento do sistema eléctrico nacional. Decreto-Lei n.º 30/2006, que estabelece os princípios gerais relativos à organização e ao funcionamento do Sistema Nacional de Gás Natural (SNGN). Decreto-Lei n.º 31/2006, que estabelece os princípios gerais relativos à organização e funcionamento do Sistema Petrolífero Nacional (SPN). http://dre.pt/pdfgratis/2006/02/033a00.pdf#page=9
Directiva 2003/54/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 26 de Junho de 2003, que estabelece regras comuns para o mercado interno da electricidade http://europa.eu.int/eurlex/pri/pt/oj/dat/2003/l_176/l_17620030715pt00370055.pdf Directiva 2003/55/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 26 de Junho de 2003, que estabelece regras comuns para o mercado interno de gás natural http://europa.eu.int/eurlex/pri/pt/oj/dat/2003/l_176/l_17620030715pt00570078.pdf 2006.03.16