INTRODUÇÃO À ESCOLA E À EDUCAÇÃO FÍSICA Marina Ferreira de Souza Antunes E. M. Amanda Carneiro Teixeira UDI E-mail: marinaferr@terra.com.br Rosanne Ríspole Piva -RME/UDI E. M. Amanda Carneiro Teixeira UDI rosanne@triang.com.br Andrea Mendes Melo -RME/UDI E. M. Amanda Carneiro Teixeira RME?UDI O Sistema não teme pobre que tem fome. A este basta assistência para o domesticar. Teme pobre que sabe pensar. A este é mister respeitar os direitos ( Pedro Demo, 2000) Resumo A educação física é uma atividade humana que se manifesta na sociedade através das práticas sociais com interesse e enfoques filosóficos, científicos e pedagógicos diferenciados. Enquanto disciplina escolar situada numa perspectiva dinâmico-diálógica de educação tem como finalidade contribuir com a formação de cidadãos/cidadãs capazes de intervir na sociedade com consciência da importância da diversidade cultural que permeia sua vida e com compromisso objetivo de participar das lutas sociais por uma forma de vida organicamente saudável, solidária, e efetivamente eqüitativa. É uma área de conhecimento que pesquisa e organiza saberes escolares e trabalha política e pedagogicamente o sentido/significado da linguagem (expressão corporal escrita/não escrita, verba/não verbal), atribuído culturalmente às práticas sociais denominadas jogo, dança, ginástica, luta e esporte, desta forma, trabalhamos nesta estratégia de ensino o conceito de educação física,de ser corporal que somos, bem como o conceito de escola visando o desenvolvimento do pensamento dialético, tanto do professor quanto do aluno, para promover a elevação progressiva se sua consciência e com isto sua inserção no mundo, no intuito de utilizar e transformar criticamente as diferentes manifestações culturais. Introdução A presente estratégia foi desenvolvida na Escola Municipal Amanda Carneiro Teixeira, localizada no Bairro Brasil, a qual atende alunos de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental, num total de 740 alunos matriculados, distribuídos em 13 salas, sendo que três funcionam no anexo ( três salas 77
emprestadas pelo CEMEPE 1 ); nos turnos manhã e tarde. Somos três professoras, duas efetivas e uma contratada, o trabalho da Educação Física acontece coletivamente, seguindo a proposta da Secretaria Municipal de Educação e estamos implementado o Planejamento Coletivo do Trabalho Pedagógico PCTP na escola desde 1999, ano de sua inauguração. Não temos coordenação de área, devido o número de cargos, mas temos módulos em comum, espaço que utilizamos para o planejamento coletivo, bem como os espaços das reuniões pedagógicas destinadas para este fim. Identificação da Zona de Desenvolvimento Esta estratégia foi trabalhada na 3ª série do Ensino Fundamental e de acordo com a classificação das zonas de Desenvolvimento contidas no Plano Básico de Ensino PBE/UDI, encontra-se na zona 3, onde o/a aluno/a passa a utilizar o raciocínio sincrético como parte dos processos de análise e compreensão da realidade. Em termos de aprendizagem social, as crianças já apresentam uma estrutura cognitiva e emocional suficiente para se reconhecerem objetivamente como sendo um membro da sociedade, o que facilita o trabalho em grupo e os obriga a reconhecer a necessidade de romper com o seu individualismo, sem perder sua identidade e a refletir criticamente no momento de ter que compartilhar a realização de atividades coletivas, mediando seus próprios interesses com os do grupo e desta forma sejam capazes de agir comunicativamente com maior autonomia. Eixo temático: O que é Escola e Educação Física A escola, da maneira que a concebemos hoje, seja do ponto de vista de sua organização ou das suas funções, surge como conseqüência/necessidade da classe burguesa; para atender às expectativas desta mesma classe, a qual seja a transmissão do saber/conhecimento, aos filhos burgueses, prepará-los para perpetuar o poder. Desta forma, desde os primórdios da Escola, esta esteve sempre atrelada ao poder e à ideologia da classe dominante. Numa perspectiva crítica de Educação, entendemos a mesma como uma forma de intervenção no mundo, que segundo Paulo Freire 2000- é uma intervenção que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante, quanto o seu desmascaramento, sendo assim, não podemos admitir que a escola e seus atores, sejam neutros, é necessário explicitar a favor de que/ de quem e contra o que /quem, se está no momento de construir um modelo alternativo de sociedade/cidadania. Assim, a escola deve contribuir para formar sujeitos/cidadãos que sejam: responsáveis, criativos, autônomos, ativos, sensíveis, solidários/cooperativos, otimistas e críticos. A escola desta maneira é um local de aprendizagem de conhecimentos gerais e úteis para a vida 1 CEMEPE: Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais, que fica no mesmo espaço físico da escola. 78
presente e futura é também um lugar de aprendizagem e aquisição de hábitos e costumes individuais e sociais, relacionados com a formação do caráter/cultura do ser humano. As diversas disciplinas que compõem o currículo escolar devem contribuir para que esta missão da escola se torne uma realidade. Desta forma, estudar Educação Física na Escola significa refletir junto com os/as alunos/as que esta disciplina é uma necessidade, cujas finalidades são: 1- que os/as alunos/as aprendam a praticar saudável e prazerosamente o movimento corporal, relacionado com as práticas sociais denominadas jogo, dança, ginástica, esporte e lutas; neste sentido...a criação e recriação do conhecimento na escola não está apenas em falar sobre coisas prazerosas, mas principalmente, em falar prazerosamente sobre as coisas; ou seja, quando o educador exala gosto pelo que está ensinando, ele interessa nisso também o aluno. Não necessariamente o aluno vai apaixonar-se por aquilo, mas aprender o gosto é parte fundamental para passar a gostar (CORTELLA, 2000) 2 o/a aluno deve entender, ao longo do processo educativo, que esta disciplina não é somente jogo/esporte ou brincadeira, mas sim que é uma matéria de estudo, que tem uma história, uma geografia, uma ciência, que devem ser motivo de estudo e pesquisa para ser efetivamente aproveitada na vida. Pensando desta maneira afirmamos que a Educação Física tem um conteúdo teórico e também um conteúdo prático para ensinar. Dentre os conteúdos a serem ensinados pela Educação Física, destacamos aqui o estudo sobre o corpo Humano e a Educação física; onde o/a aluno/a deve ser levado a refletir sobre o Ser Corporal que somos Você è um corpo ou você tem um corpo? Ser que pensa, fala, escreve, sente e movimenta-se. Movimentos estes que podem ser estáticos ou dinâmicos. Assim sendo na Educação Física, cujo o objeto de estudo é o corpo, podemos utilizar destes movimentos para expressar nossa cultura e as diversas possibilidades de movimentos, através dos jogos, ginástica, dança, esporte e lutas. Apresentaremos a seguir a estratégia de ensino 2 que desenvolvemos para trabalhar este conteúdo. 2 Estratégia de Ensino representa a sistematização do Planejamento (onde, com que, quando e como) de um processo de ensino, desenhado para atingir uma ou várias competências educacionais. Os procedimentos metodológicos podem conter um ou mais Estilos/Técnicas de Ensino para atingir os objetivos gerais e específicos desejados. 79
Sequenciador de aulas/unidade de Avanço Programático 3 - Eixo Temático: O que é Escola e Educação Física Objetivos da Estratégia Número de aulas Procedimentos Metodológicos Observação Geral: Os/as alunos/as devem elaborar um conceito, explicando o sentido e o significado da escola e da educação física; identificando o conhecimento de que trata a disciplina e a concepção de ser corporal Total = 7 aulas Preparação: As professoras devem providenciar revistas e jornais para recorte. Reelaborar um texto a partir da apostila Nosso corpo e a Educação Física Plano anual de 2000, que seja acessível para a 3ª série. Providenciar xerox do cérebro Zonas do Cérebro da apostila Podem ser necessárias mais de 7 aulas, depende do nível de discussão da turma, alguns temas demoram mais numa turma do que em outra, deixar uma aula reserva, caso isto ocorra. Específicos: Os/as alunos/as devem identificar e refletir criticamente, individualmente, o que é escola e para que serve, o que é educação física e para que serve, que escola e que educação física queremos. 1ª aula A professora apresenta a estratégia que será trabalhada neste momento. As/os alunos devem responder individualmente o questionário, procurando ampliar os conceitos elaborados na série anterior. Questionário: 1) O que é escola e para que serve? 2) Como você gostaria que fosse a sua escola*? 3) O que é Educação Física e para que serve? 4) Como você gostaria que fossem as aulas de Educação Física? *Aproveitamos a discussão sobre a escola cidadã sobre a escola que temos e a escola que queremos 3 Seqüenciador de Aulas e Unidade de Avanço Programático correspondem aos instrumentos de mediação comunicativa construídos no contexto do PCTP/UDI para atender à necessidade de sistematização das experiências de ensino, com a finalidade de promover sua socialização, bem como, facilitar o processo de reflexão coletiva a partir da descrição do ciclo de aulas. 80
Reelaborar coletivamente os conceitos da aula anterior Diferenciar as diferentes manifestações da prática social da Educação Física 2ª e 3ª aulas Em grupo, responder o questionário da aula anterior, procurando através do diálogo/mediação manter a idéia de cada membro do grupo. Elaborar para cada questão, um conceito do grupo. Registrar no caderno Pedir para os/as alunos/as trazerem gravuras sobre escola e sobre Educação Física, para a próxima aula Apresentar e divulgar a produção coletiva, no âmbito escolar 4ª aula Confeccionar cartazes com os conceitos elaborados no grupo, ilustrar com as gravuras e colar no pátio da escola. A partir das gravuras diferenciar as manifestações da Educação Física nos diferentes espaços: clubes, academias e escola; enfatizar que trabalharemos com Educação Física na Escola. Os cartazes serão apresentados na mostra pedagógica da escola. Refletir criticamente sobre a concepção de ser corporal. Identificar e diferenciar os tipos de movimentos e sua utilização na prática social da Educação Física 5ª, 6ª e 7ª aulas Texto: Nosso corpo e a Educação Física adaptado Iniciar a discussão com a seguinte pergunta: Você é um corpo ou você tem um corpo? Deixar que os/as alunos/as respondam, depois a professora deve diferenciar o sentido dos verbos ser e ter, levando-os a entenderem que somos um ser corporal. Escrever o texto no quadro e os alunos registram no caderno. Entregar a figura do cérebro para ilustrar que é ele com áreas determinadas que comanda e coordena o pensamento e as ações do ser humano. Continuação do texto com destaque para o sentido cinestésico do Movimento. Se possível levar atlas de Discutir com os/as alunos/as e levar exemplos de pessoas que têm os órgãos responsáveis pela movimentação, braços, pernas, mas que não conseguem movimentar devido a uma lesão no cérebro. Muitos/as alunos/as 81
anatomia para que os/as alunos/as visualizem músculos, tendões, ligamentos e ossos. Fazer a diferenciação entre movimento estático e dinâmico. Pergunte aos/as alunos/as: Quando você está sentado, você está se movimentado? Através dos exemplos os/as alunos/as devem compreender que movimento é o trabalho de contração dos músculos e podem ser estáticos ou dinâmicos. A professora deve destacar que na Educação Física trabalharemos com este tipos de movimentos, utilizando das práticas culturais do jogo, dança, ginástica, esporte e lutas. Trazer revistas e jornais para que os/as alunos/as recortem e colem no caderno, gravuras de pessoas em movimento, fazendo uma coluna para os movimentos estáticos e outra para os movimentos dinâmicos. participam ativamente, pois têm exemplos de AVC na família ou conhecem alguém que sofreu um acidente TCE e perdeu parte ou por completos os movimentos. Na disciplina ciências as crianças já estudaram o corpo humano e a discussão é muito rica A partir do planejamento a professora irá introduzir o próximo eixo, que será, como foi comentado na aula 5, uma das práticas culturais do ser humano. Considerações Finais: A construção de uma prática reflexiva e da autonomia docente está vinculada à inclusão dos problemas da prática em uma perspectiva de análise que vai além de nossas intenções e atuações pessoais. Implica um contexto coletivo de ação e participação social para tomar decisões frente à realidade. Tais capacidades só podem ser conquistadas através de práticas inovadoras nas quais os professores são livres para experimentar propostas de ensino, sem perder de vista seu compromisso com uma formação crítica e emancipada (VALADARES, 2002). Estabelecendo uma outra forma crítica de relação com os alunos e, por outro lado favorecendo a possibilidade de que estes últimos possam vivenciar de uma maneira menos coercitiva e mais autônoma, seus próprios referenciais filosóficos de vida individual e social. (MUNÕZ PALAFOX, 1995). No decorrer da aplicação da estratégia de ensino pode-se observar que os alunos adquirirem progressivamente capacidade de refletir, discutir, organizar, planejar e superar conflitos, assumindo criticamente a responsabilidade das conseqüências daquilo que se faz individual e socialmente. 82
As modificações das normas sugeridas pelos alunos buscando sempre atender o desejo da maioria do grupo, evidencia a mudança de comportamento social, antes carregados de desigualdades, preconceitos e princípios individualistas Referência Bibliografia: CORTELLA, Mário Sérgio. A escola e o conhecimento. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2000. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. MUÑOZ PALAFOX, Gabriel H. Implicações do Processo Ensino Aprendizagem Escolar na Construção da Personalidade do Educando. Revista em Busca de Novos Caminhos.Pré-Escola, 1º e 2º graus. Uberlândia, v.1, n.1, jan/jun.1995. MUÑOZ PALAFOX, Gabriel H., TERRA, Dinah V., PIROLO, Alda L. Educação Física: Uma Abordagem Dinâmico-Dialógica. Revista da Educação Física/UEM 8(1),1997. MUÑOZ PALAFOX, Gabriel H. Intervenção Político-Pedagógica: a necessidade do planejamento de currículo e da formação continuada para a transformação da prática educativa. Tese de doutorado, São Paulo: PUC/SP, 2001. MUÑOZ PALAFOX, Gabriel H, et. Al. ( Org.) Planejamento Coletivo do Trabalho Pedagógico PCTP a experiência de Uberlândia. Uberlândia: Casa do Livro/Linograf, 2002. PBE/SME/UDI Plano Básico de Ensino da Educação Física Escolar. Uberlândia, Proposta curricular da Rede Municipal de Ensino, 1997. VALADARES, Juarez Melgaço. O Professor Reflexivo diante do espelho: reflexões sobre o conceito de professor reflexivo. In: PIMENTA, Selma Garrido,. GHEDIN, Evandro (orgs). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. São Paulo: Cortez, 2002. 83