ACOMPANHAMENTO AUDIOLÓGICO EM TRABALHADORES RURAIS E NÃO RURAIS DA REGIÃO DE IRATI Área Temática: Ciências da Saúde - Fonoaudiologia Autor(es): Amanda Bozza ( UNICENTRO Coordenadora do Projeto) RESUMO: Sabe-se que a perda auditiva pode causar não só sintomas auditivos como extraauditivos, assim como é sabido que existem diversos fatores que podem ocasionar uma perda de audição. Dentre estes, destaca-se a perda auditiva induzida por ruído (PAIR) ou também conhecida por Perda Auditiva Ocupacional (PAO), que são aquelas que acontecem dentro do ambiente de trabalho. Com essa preocupação o presente projeto tem o objetivo de Traçar o perfil audiológico de trabalhadores expostos a qualquer otoagressor na cidade de Irati e região. Para isso foram recrutados pessoas que tivessem alguma ocupação e alguma queixa auditiva. Estes sujeitos foram submetidos a uma bateria de avaliações que incluiu anamnese, questionários específicos de acordo com a sua ocupação, audiometria tonal convencional e de altas frequências, imitanciometria, pesquisa de reflexos acústicos, logoaudiometria e emissões otoacústicas transientes. Até o momento avaliou-se 84 pessoas, sendo que 19 são agricultores, 15 prestação de serviço, 3 industriais e 47 estudantes. Foram detectadas 16 PAO, 14 com limiares dentro da normalidade porém com rebaixamento nas altas frequências, 5 pessoas com perda auditiva sem características ocupacionais e 49 indivíduos com limiares dentro da normalidade, porém 19 destes apresentam desencadeamento de PAIR dentro da normalidade. Os dados demonstram que 85% das perdas auditivas encontradas apresentam características ocupacionais, e 22% do total de participantes tendem a apresentar este mesmo tipo de perda se não houver intervenção imediata. Tais dados apontam a eficácia na detecção de PAO assim como a importância destes laborais terem contato a informações e avaliações de sua saúde auditiva PALAVRAS-CHAVE: Audição; ocupacional; perda auditiva; ruído; ototóxico 1. INTRODUÇÃO/CONTEXTO DA AÇÃO Sabe-se que a perda auditiva pode causar não só sintomas auditivos como extraauditivos, assim como é sabido que existem diversos fatores que podem ocasionar uma perda de audição. Dentre estes, destaca-se a perda auditiva induzida por ruído (PAIR) ou também conhecida por Perda Auditiva Ocupacional (PAO), que são aquelas que acontecem dentro do ambiente de trabalho. Ao se estudar as causas da perda auditiva relacionada ao trabalho, geralmente a perda auditiva induzida por ruído é a mais referida, embora a literatura especializada aponte outros agentes presentes no ambiente de trabalho que podem ser nocivos à saúde do trabalhador. Os solventes são considerados alguns desses agentes e seus efeitos sobre o sistema auditivo vêm sendo investigado por alguns pesquisadores. Um fato que tem preocupado aos órgãos da saúde é que mesmo com tão alta incidência da PAIR pouco se sabe, por parte dos empregados e empregadores, qual seu real impacto na vida de um sujeito. Este projeto tem por objetivo
avaliar a audição, de maneira eficaz e precisa, de trabalhadores que já apresentaram ou apresentem queixas auditivas ao Centro de Referência de Saúde do Trabalhador, ou por demanda própria, e que ainda não tiveram acesso ao atendimento clínico. Objetiva-se também a transmitir orientação quanto a importância de um sistema auditivo sadio, dos agentes nocivos presentes no ambiente ocupacional e quanto a importância do uso e da boa manutenção dos equipamentos de proteção individual. Este projeto será desenvolvido em parceria com o CEREST Regional de Irati, que irá contribuir encaminhando os trabalhadores para a clínica de fonoaudiologia da Unicentro, onde serão realizados os procedimentos clínicos para detecção de prejuízos auditivos que possam se relacionar ao ambiente laboral deste trabalhador. 2. DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES E/OU DA METODOLOGIA Os trabalhadores interessados em participar deste projeto serão submetidos aos seguintes procedimentos: Anamnese e Entrevista Específica: terá o objetivo de investigar possíveis queixas e dados auditivos e da saúde em geral do participante. A Entrevista específica terá objetivo de analisar a auto percepção dos trabalhadores em relação às substâncias químicas e riscos aos quais estão expostos em seu ambiente de trabalho, assim como rotina de trabalho e hábitos diários voltados a saúde auditiva. Inspeção Visual do Meato Acústico Externo: Realizada por meio do otoscópio Piccolight Fiber Otoscope 20 860 020 com o objetivo de verificar se não há impedimento para a realização da avaliação da audição. Medidas de Imitância Acústica e Pesquisa dos Reflexos Acústicos: é um teste que avalia a orelha média, possibilitando o diagnóstico diferencial entre as perdas condutivas, avaliação da função tubária quando há perfuração da membrana timpânica, detectar alterações de orelha média e também a pesquisa do declínio do reflexo estapediano. (MELLO, 1999). Neste procedimento, o participante deve ser orientado a permanecer sentado confortavelmente e em silêncio, porém fora da cabina acústica, em sala tratada acusticamente para que se avalie a função dos reflexos acústicos. Audiometria Tonal Liminar (ATL) e de Altas Frequências: O participante foi orientado a entrar na cabina acústica e sentar-se confortavelmente, sendo orientado a levantar a mão sempre que escutasse o estimulo mesmo em intensidade mínima. Após a colocação dos fones, será dado início a avaliação da audição. Para a pesquisa dos limiares tonais, utilizou-se a técnica descendente, sendo estabelecido o limiar auditivo em 50% das respostas positivas à detecção do som (Lopes, Munhoz e Bozza, 2015). Estes testes serão realizados com o participante sentado confortavelmente dentro da cabina acústica, Vibrasom, atendendo à norma ANSI S3.1-1991, quanto a mensuração do ruído ambiental. As audiometrias serão classificadas, de acordo com a Organização Mundial de Saúde - OMS (2014). Logoaudiometria: Realizada na cabina acústica, por meio do audiômetro interacústico AC40 e fones TDH39. Serão pesquisados o Limiar de Reconhecimento da Fala (LRF) por meio de palavras dissílabas e o Índice Percentual de Reconhecimento da Fala (IPRF). Emissões Otoacústicas Evocadas Transientes (EOEt): é um teste que avalia o
funcionamento normal da cóclea e da orelha média. É um exame objetivo, rápido e não invasivo. (MELLO, 1999). 3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO Sendo a audição uma condição fundamental para que o sujeito tenha sucesso em sua comunicação oral, uma alteração auditiva pode interferir diretamente na vida do indivíduo, dificultando sua comunicação e afetando sua qualidade de vida. As perdas auditivas podem apresentar inúmeros agentes desencadeantes, entre eles os medicamentos, vibrações, ruído e alguns produtos químicos, agentes estes muito presentes em diversos setores laborais. Quando tem seu nexo causal no ambiente ocupacional são conhecidas como perdas auditivas ocupacional. Este estudo teve a seguinte população estudada descrita no gráfico abaixo. AGRICULTOR (19) PRESTAÇÃO DE SERVIÇO (15) INDUSTRIA (3) Gráfico1. População participante do projeto ESTUDANTES (47) Todos os participantes em questão apresentaram algum tipo de queixa, porém merece destaque os agricultores e os estudantes que buscaram com maior frequência informações e avaliações audiológicas. Dentre estes produtos com teor ototóxico temos os insumos agrícolas, que apesar de fundamentais para o cultivo podem trazer malefícios aqueles que os manipulam. A agricultura no Brasil ocupa um lugar significativo do ponto de vista socioeconômico. Porém, a saúde do trabalhador dessa área quase nunca recebe a devida atenção. Sendo que nesses ambientes de trabalho o trabalhador fica exposto a ruídos de vários tipos, vibrações, e produtos químicos, como os agrotóxicos. (MANJABOSCO, 2005). Além disso, de acordo com Meyer et al., (2003) apud Körbes (2009) na atualidade estima-se que aproximadamente 2,5 a 3 milhões de toneladas de agrotóxicos são utilizados na agricultura anualmente, coma finalidade de acabar com patógenos que ataquem as culturas. Em contrapartida Santos, Colella-Santos e Couto (2014) em seu trabalho ressaltam que com a facilidade e a tecnologia, muitos jovens usam fones de ouvido por longos períodos de tempo, em intensidades demasiadamente altas, sem se preocupar com as possíveis consequências auditivas em longo prazo. Trata-se de um hábito característicos de jovens ouvirem música em volume elevado (níveis sonoros elevados) em suas atividades de lazer (PANIZ, 2005; ZACOLI e MORATA, 2010). Gonçalves e Dias (2014) caracterizam que a utilização de fones de ouvido por jovens, bem como os ambientes frequentados por esta faixa
etária é considerado um problema de saúde pública, pois coloca em risco a saúde auditiva. Dados como estes podem justificar a presença tão constantes da população de estudantes e agricultores. De acordo com Azevedo (2004) a exposição simultânea ao ruído e agentes químicos leva a uma perda auditiva, maior do que quando o sujeito é exposto isoladamente: [...] haveria um sinergismo na exposição combinada entre ruído e produto químico. Isto pode representar que, no caso de exposição combinada, e mesmo quando há exposição ocupacional dentro dos limites estipulados em norma a cada um dos agentes, pode haver risco aumentado de perda auditiva. (AZEVEDO, 2004). A PAO é definida por Souza et al, 2006 como uma perda provocada por período de exposição prolongado ao ruído. Tem configuração do tipo neurosensorial, bilateral na maioria das vezes, essa perda progride com o tempo de exposição ao ruído e é irreversível. No que se diz aos achados audiológicos, temos o seguinte gráfico que representa a incidência das patologias: PAO REBAIXAMENTO NAS ALTAS FREQUÊNCIAS PERDAS AUDITIVAS SEM RELAÇÃO LABORAL NORMALIDADE Figura 1 Frequência de Perdas Auditivas Nota-se que seja o estudante através dos fones de ouvido, ou os trabalhadores rurais e industriais todos eles estão sujeitos a agentes nocivos ao sistema auditivo, e isso torna alarmante quando calcula-se que 85% das perdas auditivas encontradas apresentam características ocupacionais, e 22% do total de participantes tendem a apresentar este mesmo tipo de perda futuramente, se não houver intervenção imediata. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Até o presente momento, este projeto contribuiu para formação acadêmica dos alunos envolvidos, visto que para um atendimento completo os alunos necessitam desempenhar um raciocínio clínico prático, além de estimular a postura ética e profissional. Para os pacientes
que procuraram o projeto, houve atendimento digno e eficaz para contribuir para o diagnóstico audiológico o que compôs o traçado do perfil destes trabalhadores - e ainda o repasse de informações, que muitas vezes são desconhecidas, para que haja um cuidado e uma prevenção à saúde auditiva. Deve-se considerar ainda que é necessário uma atenção especial aos jovens estudantes que precocemente apresentam queixas auditivas e extra auditivas que podem se relacionar à exposição de altos níveis de pressão sonora, como no uso de fones de ouvido ou ainda ao frequentar lugares com altas intensidades sonoras. É válido considerar que medidas explicativas e preventivas sejam fundamentais para esta população, uma vez que cessada a exposição ocupacional cessa-se também a evolução da perda auditiva. REFERÊNCIAS AZEVEDO, A,2004. Efeito de produtos químicos e ruído na gênese de perda auditiva ocupacional. Tese de Mestrado. Fundação Oswaldo Cruz Escola Nacional de Saúde Pública Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana. Acesso em 08 de agosto de 2016. Lopes AC, Munhoz GS, Bozza A. Audiometria tonal liminar e de Altas Frequências. In: Boéchat EM, Menezes. PD, Couto. CM, Frizzo. ACM, Scharlah. RC, Anastasio. ART,organizadores. Tratado de audiologia. São Paulo: Santos; 2015, p. 57-67. ZOCOLI, A.M.F; MORATA, T.C. Adolescência, música e ruído ambiental. IN: ZUCKI, Fernanda; MORATA, Thais C. (Orgs.). Saúde auditiva: avaliação de riscos e prevenção. SP: Plexus, 2010. GONÇALVES, C. L; DIAS, F. A. M. Achados audiológicos em jovens. Usuários de fones de ouvido. Rev. CEFAC. 2014 Jul-Ago16(4):1097-1108 SANTOS, I.; COLELLA-SANTOS, M.F; COUTO, C.M. Sound pressure level generated by individual portable sound equipment. Braz J Otorhinolaryngol. 2014;80:41-7 MANJABOSCO, C. W.; MORATA, T. C.; MARQUES, J. M. Perfil audiométrico de trabalhadores agrícolas. Arq. Int. Otorrinolaringol., v. 8, n. 4, p. 285-295, out./dez.2004. MELLO, ANGELA. Alerta ao Ruído Ocupacional. 1999.. Disponível em <http://www.cefac.br/library/teses/be957ddf4a068be53e950088fe00d0b3.pdf>. Acesso em: 21 de dezembro de 2015.