ESTUDO COMPARATIVO DA AUDIOMETRIA TONAL DE ALTA FREQÜÊNCIA (AT-AF) EM CRIANÇAS COM E SEM RESPIRAÇÃO BUCAL.
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- Geraldo de Santarém Fragoso
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1 ESTUDO COMPARATIVO DA AUDIOMETRIA TONAL DE ALTA FREQÜÊNCIA (AT-AF) EM CRIANÇAS COM E SEM RESPIRAÇÃO BUCAL. Palavras- chave: respiração bucal, audiometria, criança Introdução- A audiometria tonal de alta freqüência (AT-AF) é um teste subjetivo da audição, realizado em cabina acústica, com fones de ouvido calibrados para emitir sons de 8000 a 16000HZ. Existem audiômetros capazes de gerar até 20000HZ, mas não existem transdutores capazes de transmitir acima de 16000HZ sem distorções 1. Na atualidade, a investigação dos limiares de audibilidade para as altas freqüências traz uma importância significativa para a clínica audiológica, à medida que, mudanças na sensibilidade dessas freqüências são indicadoras precoces de alterações cocleares 2. As altas freqüências são importantes para a discriminação consonantal e o reconhecimento de fala, uma vez que, pessoas com perda auditiva nessas freqüências teriam dificuldade de compreender em ambientes ruidosos 3. O respirador bucal é o individuo que substitui o padrão nasal, considerado o processo correto de respiração, por um padrão de respiração bucal ou misto, por um período maior que seis meses. A respiração bucal trata-se de uma síndrome de múltiplas etiologias, dentre as quais encontramos fatores mecânicos, lesões tumorais, malformações congênitas com deformidades craniofaciais e a rinite alérgica, sendo esta última, com alta prevalência na população pediátrica 4. Margolis, Saly e Hunter (2000) 5 selecionaram crianças entre 9 e 16 anos, com historia de otite média para um estudo de coorte. As crianças deveriam possuir timpanogramas normais, ausência de gap aéreo-ósseo e ausência de otite média no momento da avaliação. As crianças com história de otite média foram divididas em dois grupos: crianças com melhor limiar na audiometria de altas freqüências e, no outro grupo, as crianças com pior limiar. Um grupo controle foi selecionado com crianças que tivessem possuído no máximo cinco episódios de otite média e não mais de dois episódios em um ano. Os resultados do estudo comprovaram que crianças com historia de otite média tiveram piores limiares nas altas freqüências, comparado com crianças sem historia significativa de otites. Para os autores, a perda para as altas freqüências, que ocorre em crianças com história de otite média, sugere um efeito preferencial sobre a base da
2 cóclea, hipotetizando que a perda auditiva observada nestas circunstâncias é de origem coclear. Os limiares de audibilidade para altas freqüências em respiradores bucais devem ser melhor investigados, pois estes indivíduos são mais propensos a episódios de alterações da orelha média que podem por conseqüência levar a alterações da orelha interna. Objetivo- Comparar os limiares tonais na AT-AF em crianças com e sem respiração bucal. Metodologia- As avaliações audiológicas dos participantes deste estudo foram realizadas na clínica de audiologia do curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP. A casuística foi formada por dois grupos, de acordo com o padrão respiratório, determinado pela avaliação otorrinolaringológica, descritos a seguir: - grupo controle (GC): constituído por 24 crianças, de ambos os sexos, com idade variando de 08 a 12 anos e padrão respiratório nasal. Os participantes deste grupo foram recrutados através de contatos com amigos, conhecidos e familiares do pesquisador. - grupo estudo (GE) constituído por 24 crianças, de ambos os sexos, com idade variando de 8 a 12 anos com padrão respiratório bucal, acompanhadas no Ambulatório de Rinologia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Foram incluídas nos grupos controle e estudo, as crianças que apresentaram audiometria tonal limiar convencional normal, ou seja, limiares auditivos médios para as freqüências de 500, 1000 e 2000 Hz até 15 dbna, em ambas orelhas 6 e curva timpanométrica tipo A em ambas orelhas 7. Foram incluídas no GC as crianças que não apresentavam queixas auditivas, otológicas ou de aprendizagem. A audiometria tonal convencional e a audiometria tonal de alta freqüência foram realizadas no equipamento modelo Unity, marca Siemens, com os fones de ouvido HDA 200 da marca Sennheiser. Para a pesquisa dos limiares na audiometria convencional foram selecionadas as freqüências de 250, 500, 1000, 2000, 3000, 4000, 6000 e 8000 Hz. Na audiometria tonal de alta freqüência foram pesquisadas as freqüências de 9.000, , , , , Hz, freqüências estas disponíveis pelo equipamento utilizado.
3 As medidas da imitância acústica foram realizadas no Analisador de Orelha Média modelo Audio Test 425H, marca Interacoustics, com fones de ouvido TDH 39P. Resultados- A média dos limiares tonais (db) para AT-AF no GC foi 10,94 (9kHz); 9,27 (10kHz); 10,00 (11.200Hz); 6,98(12.500Hz); 0,10 (14.000Hz) e -4,58 (16.000Hz), e para o grupo estudo, foi 10,00 (9kHz), 7,92 (10kHz), 9,85 (11.200Hz), 6,98 (12.500Hz), 3,54 (14.000Hz) e -3,22 (16.000Hz). Não houve diferença significante para a variável orelha testada na em ambos os grupos. Para o gênero feminino, houve diferença significante no teste Mann-Whitney para a freqüência de 16kHz (p<0,05), com o GC apresentando melhores limiares de audibilidade. Para as freqüências de 14 e 16kHz, o GC apresentou melhores limiares de audibilidade que o GE, mas não houve diferença estatisticamente significante. A variabilidade dos limiares tonais nas diferentes freqüências para os grupos GC e GE foi analisada pelo teste Kruskal-Wallis, com diferença significante dos limiares quando comparados às freqüências de 14 e 16kHz (p<0,05) para ambos os grupos. No Gráfico 1, ilustramos os valores médios de audibilidade para a AT-AF, da população estudada. Gráfico I Níveis médios dos limiares de audibilidade para a AT-AF da população estudada. Limiar Médio Tonal (db NA) Hz 10000Hz 11200Hz 12500Hz 14000HZ 16000Hz Frequencia (Hz) Grupo Controle Grupo Estudo
4 Discussão- O respirador bucal é mais propenso a episódios de alterações da orelha média podendo, conseqüentemente, ter alterações da orelha interna e possível oscilação de pistas acústicas 5. Neste trabalho optamos, como critério de inclusão, por selecionar crianças com respiração bucal que no momento do teste não tivessem apresentando alterações de orelha média. Acreditamos que a integridade da orelha média no momento do teste pode justificar a semelhança dos limiares tonais entre os grupos, entretanto, observamos que, para as freqüências mais altas (14 e 16kHz), o grupo de respiradores bucais apresentou piores limiares de audibilidade. Acreditamos que, a presença de limiares tonais piores nas freqüências mais altas nas crianças do GE possa ser indicativo de prejuízo precoce na transdução sensorial da porção mais basal da cóclea, devido a maior proximidade com a orelha média e por conta disso, mais suscetível à alterações. Uma vez que os respiradores bucais são mais propensos às otites médias e que essas podem provocar mudanças temporárias dos limiares tonais na vigência da doença ocasionando percepção inconstante das pistas acústicas, salientamos a importância de um monitoramento auditivo para as altas freqüências nessa população, pois essas freqüências são extremamente importantes na inteligibilidade de fala. Assim como observado em estudos com população e faixa etária distintas 8,9, nesse estudo, as crianças de ambos os grupos apresentaram melhora da sensibilidade auditiva com o aumento da freqüência pesquisada. Conclusão- Os limiares de audibilidade para a AT-AF entre os grupos de crianças com e sem respiração bucal foi homogêneo, exceto para as freqüências de e Hz, onde o grupo de crianças respiradoras bucais apresentou pior desempenho.
5 Referências- 1. Munhoz MSL, Caovilla HH, Silva MLG, Ganança MM. Audiologia Clínica. São Paulo: Editora Atheneu; p Fausti SA, Frey RH, Erickson DA, Rappaport BZ, Cleary EJ, Brummett RE. A system for evaluating auditory function from Hz. J. Acoust. Soc. Am. (Portland) 1979;66(6): Hunter LL, Margolis RH, Rycken JR, Le CT, Daly KA. Giebink, GS. High frequency hearing loss associated with otitis media. Ear and Hearing (Minneapolis) 1995;17: Barros JRC, Becker HMG, Pinto JA. Avaliação de atopia em crianças respiradoras bucais atendidas em centro de referencia. Jornal de Pediatria 2006 (Rio de Janeiro):.82(6): Margolis RH, Saly GL, Hunter LL, High frequency hearing loss and wideband middle ear impedance in children with otitis media histories. Ear and Hearing (Minneapolis) 2000; 21(3): Roeser RJ. Manual de consulta rápida em audiologia: guia prático. Rio de Janeiro: Revinter; Jerger, SA. Clinical experience with impedance audiometry. Arch.Otolaryngol 1970;92: Stelmachowicz PG, Beauchaine KA, Kalberer A, Jesteadt W. Normative thresholds in 8- to 20- KHz range as a function of age. Journal of the Acoustical Society of America (Melville) 1989; 86(4): Barbosa de Sá LC, Lima MAMT, Shiro T, Frota SMMC, Santos GA, Garcia TR. Avaliação dos limiares de audibilidade das altas frequências em indivíduos entre 18 e 29 anos sem queixas otológicas. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia 2007 (São Paulo);73(2):
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