PREVALÊNCIA DE MALOCLUSÃO NAS DENTIÇÕES DECÍDUA E MISTA DE ESCOLARES E SUA RELAÇÃO COM HÁBITOS BUCAIS NOCIVOS NO MUNICÍPIO DE ITAPIÚNA CE



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Transcrição:

144 PREVALÊNCIA DE MALOCLUSÃO NAS DENTIÇÕES DECÍDUA E MISTA DE ESCOLARES E SUA RELAÇÃO COM HÁBITOS BUCAIS NOCIVOS NO MUNICÍPIO DE ITAPIÚNA CE RESUMO Priscila da Silva Freitas José Luciano Pimenta Couto Denise Lins de Sousa Maloclusão são todos os desvios dos dentes e dos maxilares do alinhamento normal ocasionando problemas estéticos e funcionais. Os hábitos bucais mais comumente associados com a maloclusão constituem funções alteradas. O objetivo desse trabalho foi verificar a prevalência de maloclusão e sua relação com hábitos bucais nas dentições decídua e mista de estudantes da zona urbana do município de Itapiúna-CE. Para tal, foi utilizada uma amostra de 79 escolares e realizou-se o estudo em duas fases: a primeira foi baseada na coleta de informações sobre os aspectos socioeconômicos das famílias dos escolares, a saúde sistêmica dos mesmos, bem como sobre os hábitos bucais nocivos através de um questionário semiestruturado. A segunda fase foi composta por um levantamento epidemiológico sobre maloclusão. Como resultado observou-se que a prevalência de maloclusão em escolares em fase de dentição decídua foi de 68,29% e em fase de dentição mista, 76,32%. Houve associação positiva entre hábitos bucais e maloclusão em 75% das crianças que apresentam algum tipo de hábito bucal. Com base no estudo, conclui-se que a prevalência de maloclusão nestes escolares é alta e que há uma forte associação entre hábitos bucais nocivos e maloclusão nos escolares estudados. Palavras-chave: Má oclusão. Hábitos. Epidemiologia. ABSTRACT Malocclusion are deviations from the teeth and jaws of normal alignment causing aesthetic and function problems. Most common oral habits associated with malocclusion functions are altered. The purpose of this study was to determine the prevalence of malocclusion and its relationship with oral habits in deciduous and mixed dentitions of students from the urban area of Itapiúna-CE. For this, we used a sample of 79 students and the study was conducted in two phases. The first phase was based on gathering information on the socioeconomic aspects of the students' families, the systemic health of the same, as well as the harmful oral habits through a semi-structured questionnaire. The second phase consisted of an epidemiological study on malocclusion. As a result it was observed that prevalence of malocclusion in deciduous dentition being 68.29% and mixed dentition was 76.32% and that there is a positive association between oral habits and malocclusion in 75% of children have some type of oral habit. Based on the study concludes that: the prevalence of malocclusion in these schools is high and there is a sharp association between harmful oral habits and malocclusion in school children. Keywords: Malocclusion. Oral habits. Epidemiology.

145 1 INTRODUÇÃO Desde a década de 1990, observa-se uma crescente tendência das áreas da saúde dedicar uma maior atenção aos programas de controle e prevenção de doenças. Dessa forma, o conhecimento epidemiológico revela-se de fundamental importância por possibilitar a quantificação da frequência com que ocorre uma morbidade, bem como a verificação e avaliação da interferência de fatores etiológicos sobre as doenças, fornecendo dados para o planejamento de ações preventivas e curativas. Em relação às doenças que afetam a cavidade oral, a maloclusão apresenta altas taxas de prevalência, segundo diversos estudos epidemiológicos apresentados por Arashiro, Ventura & Mada (2009), levando a Organização Mundial de Saúde (OMS) a considerá-la o terceiro maior problema mundial de saúde bucal, logo após a cárie e a doença periodontal. A maloclusão constitui uma anomalia no desenvolvimento dentário e/ou dos arcos dentários, ocasionando problemas estéticos e/ou funcionais (THOMAZ & VALENÇA, 2005), resultante da interação de fatores etiológicos primários (sistema neuromuscular, osso, dentes e partes moles), do tempo e de outras causas e entidades clínicas como a hereditariedade, traumatismos, extrações prematuras, enfermidades sistêmicas, distúrbios endócrinos e hábitos bucais (MOYERS, 2009). O hábito é o resultado da repetição de um ato com determinado fim, tornandose com o tempo resistente a mudanças (SCHALKA et al., 2009). As funções orais que rompem o equilíbrio e suscitam deformidades oclusais denominam-se hábitos bucais nocivos, por exemplo: sucção de dedos, sucção do lábio, sucção de chupeta, interposição da língua, onicofagia, morder os lábios, morder objetos, deglutição anormal, respiração bucal, bruxismo e postura indesejável (CAMARGO, 2009; GARIB, SILVA FILHO & JANSON, 2010). As alterações morfológicas e os distúrbios funcionais mais frequentes devido a hábitos bucais nocivos são: mordida aberta anterior, estreitamento da arcada superior, mordida cruzada posterior, aumento da sobremordida e facetas com desgastes acentuados (SCHALKA et al., 2009). Estudos sobre a distribuição, frequência e prevalência da maloclusão tem sido desenvolvidos em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil. Contudo, apesar da relevância dos hábitos bucais deletérios no estabelecimento da maloclusão, estudos

146 epidemiológicos avaliando esta associação são reduzidos no Estado do Ceará, não havendo na literatura nenhum relato de um estudo desta natureza no município de Itapiúna CE. Portanto, torna-se necessária a realização de um levantamento epidemiológico avaliando a prevalência de maloclusão e sua relação com hábitos bucais deletérios neste município, a fim de se conhecer a realidade desta população para que medidas de prevenção possam ser efetuadas, ajudando a determinar a prioridade de tratamento nos serviços odontológicos, planejar recursos financeiros necessários para demanda e possibilitar comparações com estudos futuros que visem avaliar o impacto de ações na prevenção desta anomalia. Assim, o estudo dos hábitos bucais que possam estar associados à etiologia da maloclusão torna-se relevante e de valor científico para que o cirurgião-dentista possa intervir preventivamente. Diante disso, o presente trabalho objetiva verificar a prevalência de maloclusão e sua possível relação com hábitos bucais nocivos nas dentições decídua e mista de estudantes de escolas públicas da zona urbana do município de Itapiúna - CE. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Esta pesquisa foi elaborada com base nos princípios da Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996), sobre pesquisa envolvendo seres humanos, a qual foi submetida e autorizada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Católica Rainha do Sertão sobre número de protocolo 20120039. 2.1 TIPO DE ESTUDO Trata-se de um estudo de natureza epidemiológica, transversal, com análises quantitativas, realizado nas fases de dentição decídua e mistas, que possibilitou verificar a prevalência de maloclusão em ambas as dentições, bem como os principais hábitos bucais que podem interferir no desenvolvimento da oclusão dentária.

147 2.2 LOCAL DA PESQUISA A pesquisa foi desenvolvida na Escola de Ensino Fundamental Recanto da Criança e no Núcleo de Educação Infantil. Estas escolas estão localizadas na zona urbana do município de Itapiúna-CE. 2.3 UNIVERSO E AMOSTRA O universo compreendeu todos os pré-escolares e escolares das faixas etárias de 3-5 anos (Grupo I) e de 7-8 anos (Grupo II), regularmente matriculados nas 4 escolas públicas municipais da zona urbana do município de Itapiúna-CE, que possuíam alunos nessas faixas etárias. A amostra utilizada foi selecionada de forma aleatória simples para cada faixa etária a partir do comparecimento dos pais ou responsáveis às reuniões realizadas nas escolas participantes. Os critérios de inclusão foram: crianças na faixa etária de 3-5 anos e de 7 e 8 anos completos, regularmente matriculadas em umas das 4 escolas públicas municipais da zona urbana de Itapiúna-CE; crianças cujos pais autorizaram a participação no estudo por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; crianças de 3-5 anos que apresentavam dentição decídua, sem erupção de dentes permanentes; crianças de 7-8 anos que estavam no período de dentição mista. Os critérios de exclusão foram: crianças cujos pais desistiram de autorizar a sua participação na pesquisa; crianças tratadas ortodonticamente ou que não contribuíram para realização do estudo e crianças selecionadas que não compareceram à aula nos dias do exame. 2.4 COLETA DE DADOS Este estudo foi desenvolvido em duas fases. A primeira fase foi baseada na coleta de informações sobre os aspectos sócio-econômicos das famílias dos escolares, a saúde sistêmica dos mesmos, bem como sobre a presença ou ausência de hábitos bucais nocivos através de um questionário semiestruturado. A segunda fase foi composta por um levantamento epidemiológico sobre maloclusão segundo a

148 Classificação de Baume (BAUME, 1950, 1953, 1959), para dentição decídua e a Classificação de Angle (ANGLE, 1899) para dentição mista, e a presença ou ausência de oclusopatias. Estas informações foram anotadas em fichas padronizadas. 2.4.1 Primeira fase: Aplicação do questionário A partir das informações fornecidas pela Secretaria de Educação do município quanto ao quantitativo de alunos matriculados, observou-se que apenas duas escolas tinham alunos dentro da faixa etária do estudo. Então foram convidados a participar de uma reunião todos os 189 pais ou responsáveis pelas crianças matriculadas no Núcleo de Educação Infantil (crianças de 3 a 5 anos de idade) e todos os 154 pais ou responsáveis pelos alunos matriculados nos 2º e 3º anos, correspondente aos ciclos etários de 7 e 8 anos de idade, da Escola de Ensino Fundamental Recanto da Criança. As reuniões foram realizadas nas escolas, com os pais ou responsáveis que compareceram nos dias e hora marcados, foram fornecidos os devidos esclarecimentos sobre a finalidade e importância do estudo, além de ter ressaltado os benefícios do trabalho. Nessa reunião, os pais ou responsáveis receberam o TCLE e os que autorizaram a participação no estudo, assinaram o mesmo. Em seguida, foi entregue um questionário semiestruturado, para coletar dados sobre os aspectos socioeconômicos, a saúde sistêmica, a saúde oral, bem como sobre a presença ou ausência de hábitos bucais nocivos dos estudantes. A partir das respostas aos questionários, foram extraídas as informações referentes aos hábitos bucais nocivos de bruxismo, hábito de morder, interposição da língua, respiração bucal e sucção não-nutritiva, além de outras informações que poderiam estar associadas à maloclusão. 2.4.2 Segunda fase: Levantamento epidemiológico O levantamento foi realizado nas dependências de cada escola nos meses de setembro e outubro de 2012, por uma única examinadora e um único anotador, devidamente calibrados. Sob fonte de luz natural, com a criança sentada em uma cadeira, de frente para o observador foi realizado o exame clínico com o auxílio de

149 espátulas de madeira descartáveis. Os dados da oclusão foram anotados em ficha padronizada. Para avaliar a calibração, 10 crianças, 5 de cada faixa etária, foram avaliadas e reavaliadas pelo examinador após duas semanas, com relação a todos os itens do levantamento, e foi verificada a concordância intra-examinador. 2.4.3 Exame da oclusão No Grupo I, a avaliação dos aspectos morfológicos da oclusão ocorreu mediante a inspeção visual das relações oclusais de acordo com a Classificação de Baume (BAUME, 1950, 1953, 1959) e a presença ou ausência de qualquer oclusopatia. Os dados foram anotados em ficha padronizada. Foi considerada como uma oclusão normal a presença de Arco Tipo I ou misto, espaço primata e relação terminal em Plano Reto ou Degrau Mesial. A presença de outras características foi considerada maloclusão, bem como a presença de qualquer oclusopatia. No Grupo II, a avaliação dos aspectos oclusais também ocorreu mediante a inspeção visual de acordo com a Classificação de Angle (ANGLE, 1899) e a presença ou ausência de oclusopatias. Os dados foram anotados em ficha padronizada. Foi considerada como oclusão normal crianças que apresentaram Relação molar de Classe I e ausência de qualquer oclusopatia. 2.5 ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS DADOS As informações colhidas foram organizadas em um Banco de Dados no programa Excel 2010 para Windows, considerando-se as variáveis: tipo de dentição, gênero, presença e tipo de hábito bucal e presença de maloclusão. A análise estatística foi feita através do software SPSS versão 20. O teste do qui-quadrado (X 2 ) foi utilizado para averiguar se a relação entre maloclusão e cada hábito bucal nocivo era significante. O nível de significância considerado foi p 0,05. Para melhor compreensão dos resultados, uma estatística descritiva dos dados foi oferecida, por intermédio de valores absolutos e percentuais.

150 3 RESULTADOS Dos 343 pais e/ou responsáveis que foram convidados a participar deste estudo, apenas 86 (25,07%) compareceram às reuniões e aceitaram participar do estudo, sendo 44 relativos às crianças do grupo I e 42 às crianças do grupo II. Destas, sete foram excluídas por se negarem a realizar o exame ou por terem faltado à escola nos dias de realização deste. Isto resultou em uma amostra de 79 crianças, sendo 41 do grupo I e 38 do grupo II, cuja distribuição em relação ao gênero e à dentição está demonstrada na TABELA 1. Fonte: Dados da pesquisa. Verificou-se uma prevalência de maloclusão de 72,15% nos escolares estudados, com maior prevalência na oclusão mista (76,32%) do que na decídua (68,29%) conforme o GRÁFICO 1. Gráfico 1 Prevalência de maloclusão por tipo de dentição Fonte: Dados da pesquisa. Em relação à dentição mista, observou-se que 74% (n=28) dos escolares apresentaram relação molar de Angle em Classe I, 18% (n=7) em Classe II e 8% (n=3) Classe III (Gráfico 2).

151 Gráfico 2 Frequência do tipo de relação molar de Angle na dentição mista. Fonte: Dados da pesquisa. As prevalências de oclusopatias de acordo com o tipo de dentição estão evidenciadas no GRÁFICO 3. Gráfico 3 Distribuição dos hábitos bucais segundo o tipo de dentição. Fonte: Dados da pesquisa. Observou-se uma prevalência de 86,08% (n=68) de hábitos bucais nocivos nas crianças estudadas, sendo essa prevalência de 85,37% (n=35) e 86,84% (n=33) nas dentições decídua e mista, respectivamente. A distribuição da frequência desses hábitos nos escolares revelou que a sucção de mamadeira foi o hábito mais

152 prevalente (75,95%), seguido pelo hábito de morder objetos (50,63%), roer unhas (44,30%), bruxismo (37,97%), sucção de chupeta (35,44%), interposição lingual (21,52%), respiração bucal (18,99%) e sucção de dedo (8,86%). Apenas 13,92% (n=11) dos escolares apresentaram-se livres de hábitos bucais nocivos. A TABELA 2 evidencia a distribuição dos hábitos segundo o tipo de dentição. Fonte: Dados da pesquisa. Analisando as variáveis hábito bucal nocivo e maloclusão, observou-se que 75% (n=51) da amostra que apresentou maloclusão também possuía algum tipo de hábito nocivo, sendo este valor de 71,43% (n=25) nas crianças na fase de dentição decídua e 78,79% (n=26), na dentição mista (GRÁFICO 4). Gráfico 4 Criança com presença de hábito bucalx maloclusão em função da dentição Fonte: Dados da pesquisa.

153 A relação entre presença e tipo de hábito com a presença de maloclusão em função da dentição está representado na TABELA 3. Foi aplicado o teste do Qui-quadrado de Pearson para se medir a significância da associação entre cada hábito bucal nocivo e a presença de maloclusão de acordo com a dentição, os resultados estão expressos na TABELA 3. O teste do Quiquadrado mostrou associação positiva entre maloclusão e os hábitos bucais nocivos de bruxismo (p=0,009 para dentição decídua e p=0,05 para dentição mista) e sucção de chupeta (p=0,03 para ambas as dentições) em ambas as dentições. Os demais hábitos embora relacionados com a maloclusão, não se mostraram estatisticamente significativos na amostra estudada. Fonte: Dados da pesquisa. 4 DISCUSSÃO A maloclusão é uma anomalia dentária que pode estar relacionada a vários fatores etiológicos, entre eles os hábitos bucais nocivos, sendo a remoção destes hábitos essencial para a prevenção e correção desta anomalia. A maloclusão foi observada em 72,15% (n=57) dos escolares participantes, estando de acordo com outros autores Pires (2001), Frazão et al. (2002), Thomaz & Valença (2002) e Sadakiyo (2003). Quanto à prevalência de maloclusão em relação ao tipo de dentição, observou-se uma maior prevalência na dentição mista (76,32%) do que na dentição

154 decídua (68,29%), estando em concordância com Tomita, Bijella & Franco (2000), Katz, Rosenblatt & Gondim (2002), Frazão et al. (2002) e Emmerich et al. (2004). A distribuição da relação molar de Angle mostrou que a relação de Classe I é a mais frequente (74%), seguida da relação em Classe II (18%) e da relação em Classe III (8%), sendo esta prevalência também observada em outras pesquisas (RIBEIRO, 2004; SCHWERTNER et al., 2007; MARTINS, 2008 e BERWING et al., 2010). Este estudo não fez distinção entre Classe II e suas subdivisões e Classe III e suas subdivisões. A baixa frequência das Classes II e III evidencia que a elevada prevalência de maloclusão na dentição mista é devido à presença de Classe I combinada a presença de oclusopatias, semelhante ao estudo de Silva e Kang (2001), o qual apontou uma frequência de 62,1% de classe I, mas apenas 6,5% desses indivíduos apresentavam classe I sem oclusopatia. Nesta pesquisa foi constatado que a mordida aberta anterior foi a oclusopatia mais prevalente, em concordância com Cândido et al. (2010). Neste estudo, esta oclusopatia estava presente em 25,32% (n=20) da amostra, resultado próximo aos 22,3% encontrado por Cavalcanti et al. (2008) e superior aos 14,3% descritos por Schwertner et al. (2007) em um estudo realizado na cidade de Foz do Iguaçu PR. Em contrapartida, o apinhamento dentário foi a oclusopatia menos prevalente na dentição mista (5,26%), divergindo do achado de Ribeiro (2004), o qual apontou ser o apinhamento dentário a oclusopatia mais prevalente (52,6%) em escolares no período de dentição mista. Nesta pesquisa, calculou-se separadamente a prevalência para mordida aberta anterior e mordida aberta posterior, ao contrário de alguns estudos os quais optaram por agrupá-los apenas em mordida aberta (RIBEIRO, 2004; THOMAZ & VALENÇA, 2005; BERWING et al., 2010). Mas Brito, Dias & Gleiser (2009) também estudaram separadamente a mordida aberta anterior e posterior e encontram as prevalências, respectivamente, de 3,9 e 3,4% destas condições para dentição mista. Este estudo apontou uma prevalência de 6,33% de mordida cruzada posterior, sendo esta prevalência de 7,32% no grupo I, estando este achado bem próximo ao resultado de um estudo realizado na mesma faixa etária na cidade de João Pessoa PB, o qual encontrou uma prevalência de 7,5% (CÂNDIDO et al., 2010). Quanto ao tipo de mordida cruzada, evidenciou-se que a mordida cruzada anterior (12,66%) foi mais prevalente que a mordida cruzada posterior (6,33%), porém um estudo realizado por Cavalcanti et al. (2008) mostrou que a mordida

155 cruzada posterior (67,8%) era mais prevalente que a mordida cruzada anterior (20,1%) em escolares de Campina Grande PB. Encontrou-se uma prevalência de sobremordida profunda de 17,07% na dentição decídua. Thomaz & Valença (2005) apontaram para escolares deste mesmo tipo de dentição uma prevalência de 18,7% e Emmerich et al. (2004) encontrou uma prevalência bem inferior, de 7,9%. Já para dentição mista, a sobremordida profunda apresentou prevalência de 13,16%, inferior ao valor encontrado por Cavalcanti et al. (2008) e superior ao apontado por Brito, Dias & Gleiser (2009). Observou-se que a prevalência de hábitos bucais foi elevada (86,08%), assim como na pesquisa de Thomaz & Valença (2005) (72,1%) e Emmerich et al. (2004) (82,2%). A prevalência de bruxismo na literatura mostra valores bem diferentes de acordo com a dentição. Almeida, Silva & Serpa (2009) encontraram uma prevalência de 1,4% na dentição decídua, Thomaz & Valença (2005) apontaram uma prevalência de 28,83% para dentição mista e Gonçalves, Toledo e Otero (2010) apontaram uma prevalência de 43% para ambas as dentições, o qual se aproximou mais do achado desse estudo (37,97%). O hábito de roer unhas mostrou-se bastante prevalente (44,30%). Outros estudos também mostraram prevalência elevada desse hábito (ALMEIDA, SILVA & SERPA, 2009; GONÇALVES, TOLEDO E OTERO, 2010). O hábito de morder objetos foi o segundo hábito mais prevalente na amostra estudada (50,63%), resultado próximo aos 48,78% encontrado por Almeida, Silva e Serpa (2009), e muito superior aos 21,6% apresentados por Thomaz & Valença (2005). A prevalência de interposição lingual foi de 21,56%, sendo maior na dentição decídua (26,83%) do que na mista (15,79%), estando este achado, para dentição mista, próximo ao encontrado por Schwertneret al. (2007). A sucção de mamadeira foi o hábito mais prevalente, tanto de sucção quanto deletério em ambos os grupos. Carvalho et al. (2009) e Farias et al. (2010) encontraram prevalências para este hábito próxima aos 50%. Em um estudo realizado na cidade de Juiz de Fora com crianças na fase de dentição mista, o hábito de sucção mais prevalente foi a sucção de chupeta (MACIEL & LEITE, 2005), mas outros estudos também apontaram a sucção de mamadeira como o hábito de sucção mais prevalente (SOLIGO, 1999; ALMEIDA, SILVA & SERPA, 2009).

156 Quanto aos hábitos de sucção de dedo e chupeta, este estudo mostrou que o hábito de sucção de chupeta (35,44%) foi o mais prevalente que a sucção de dedo (8,86%), estando em concordância com Thomaz & Valença (2005) e Góis (2005). Outro fato observado foi a diminuição que ocorreu do hábito de sucção de chupeta da dentição decídua (41,46%) para mista (28,95%), e o aumento na prevalência de sucção digital da dentição decídua (2,44%) para dentição mista (15,79%). Em relação a isto, Garib, Silva filho & Janson (2010) afirmaram que, com desenvolvimento emocional da criança, ocorre muitas vezes o abandono do hábito ou a substituição de um hábito por outro, principalmente por este outro ser menos condenável socialmente. A respiração bucal apresentou-se pouco prevalente (18,99%), porém a literatura mostra valores bem variados de prevalências dessa condição (3,7% a 37,2%) (GÓIS, 2005; THOMAZ & VALENÇA, 2005; SCHWERTNER et al., 2007; CARVALHO et al., 2009). A relação entre hábitos bucais e maloclusão foi estudada por outros autores que constataram a associação positiva entre esses fatores (TOMITA, BIJELLA & FRANCO, 2000; EMMERICH et al., 2004; GÓIS, 2005; ROCHELLE et al., 2010; JOHANNS et al., 2011), sendo poucos os estudos que afirmaram não existir relação entre eles (SULIANO et al.,2007; ALMEIDA, SILVA & SERPA, 2009). Há influência deletéria dos hábitos bucais nocivos sobre a maloclusão, evidenciando-se isto nesse estudo na comparação entre as variáveis presença de hábito bucal e maloclusão, na qual se observou que 75% das crianças da amostra que tinham algum hábito bucal, apresentavam também alguma tipo de maloclusão, contrastando com apenas 25% que tinham hábito bucal, mas não tinham maloclusão. Ao realizar esta comparação por grupo, observou-se que 71,43% das crianças na fase de dentição decídua que apresentaram algum hábito bucal, apresentou também algum tipo de maloclusão, diferindo dos 28,57% que apresentaram hábito, mas não maloclusão. Esses valores para dentição mista são: 78,79% com hábito bucal e maloclusão e 21,21% com hábito e sem maloclusão. Amary et al. (2002) ao realizar esta comparação para maloclusão e hábitos de sucção, em uma amostra de pré-escolares, chegou ao percentual de que 70,9% das crianças que apresentavam o hábito de sucção digital, sucção de chupeta e/ou sucção de dedo desenvolveu algum tipo de alteração oclusal. Katz, Rosenblatt & Gondim (2002) e Leite-Cavalcanti, Bezerra (2007) também relataram sobre isto em

157 seus estudos e chegaram a percentuais próximos aos 87% das crianças que apresentavam hábito e maloclusão concomitantemente. Porém, Almeida, Silva & Serpa (2009), ao realizar um estudo retrospectivo no qual pesquisou sobre os hábitos de bruxismo, onicofagia, interposição lingual e sucção não-nutritiva em crianças na fase de dentição mista, chegaram a conclusão que estes hábitos não foram fatores determinantes de desenvolvimento de maloclusão na amostra estudada. Convém salientar que as restrições impostas ao estudo comprometem a validade externa deste trabalho, devendo-se ter cautela ao tentar extrapolar os resultados para a população em geral. Mas se torna importante destacar a preocupação com a validade interna dos dados, haja vista realização de treinamento do examinador. Este estudo é o primeiro realizado nesta população, sugerindo-se então a realização de estudos do tipo caso-controle para que se possam melhor abordar esta relação causa-efeito nesse grupo. 4 CONCLUSÕES De acordo com o proposto neste trabalho, conclui-se que: A prevalência de maloclusão nestes escolares é alta, representando 68,29% na dentição decídua e 76,32%, na dentição mista; Mordida aberta anterior foi a oclusopatia mais prevalente tanto na dentição decídua quanto na mista; Sucção de mamadeira foi o hábito bucal nocivo mais prevalente em ambas as dentições analisadas; Há uma forte associação entre hábitos bucais nocivos e maloclusão em escolares do município de Itapiúna- CE, na qual 75% das crianças que apresentam maloclusão também exibiram algum tipo de hábito bucal. REFERÊNCIAS ALMEIDA, F. L.; SILVA, A. M. T.; SERPA, E. O. Relação entre má oclusão e hábitos orais em respiradores orais. Rev. CEFAC, São Paulo, v.11, n. 1, p. 86-93, jan./mar. 2009. AMARY, I. C. M.; ROSSI, L. A. F. ; YUMOTO, V. A.; ASSENCIO-FERREIRA, V. J; MARCHESAN, I. Q. Hábitos deletérios alterações de oclusão.rev. CEFAC,São Paulo, v. 4, n. 1, p. 123-126, mar. 2002.

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161 SOBRE OS AUTORES Priscila da Silva Freitas Graduada em Odontologia pela Faculdade Católica Rainha do Sertão FCRS. E-mail: pry.freittas@gmail.com. José Luciano Pimenta Couto Graduado em Odontologia pela Universidade Federal do Ceará UFC. Mestrado em Clínica Odontológica pela Universidade Federal do Ceará UFC. E-mail: lucianopimentacouto@yahoo.com.br. Denise Lins de Sousa Graduado em Odontologia pela Universidade Federal do Ceará UFC. Mestrado em Clínica Odontológica pela Universidade Federal do Ceará UFC. E-mail: deniselins.cd@gmail.com.