ESTRUTURA DE CUSTOS E RELAÇÕES DAS EMPRESAS PISCICULTAS DO MODELO ALTO VALE DO ITAJAÍ DE PISCICULTURA INTEGRADA (MAVIPI) Fernandes, Gabriela 11 ; Passos, Edson Granemann dos 2 ; Hermes, Ademar César 3 Instituto Federal Catarinense, Rio do Sul/SC INTRODUÇÃO A aquicultura, mais especificamente a piscicultura, é uma atividade agropecuária, que necessita investimento por empresários/produtores ligados ao setor rural. Consiste em atividades variadas, como a criação de alevinos (alevinagem), produção de peixes (criação), lazer (como os pesque-pague e pesque-solte) ou processamento de pescado. Conforme ressalta SCORVO FILHO et al (1998), a piscicultura tem sido impulsionada pela demanda e pela oferta simultaneamente. As taxas de retorno e de lucratividade são altas, comparativamente às de outras opções de investimento, enquanto a mudança do hábito alimentar a favor do pescado tem estimulado a produção de peixes in natura e industrializados. A piscicultura tem-se destacado também pela geração de emprego direto e indireto e pela ampla e complexa relação econômica com outras atividades. A configuração da cadeia produtiva envolve a aquisição de insumos diversos, tais como alevinos, rações, equipamentos de alimentação, terraplanagem, construção civil, assistência técnica e demais materiais para manejo. A produção é beneficiada de acordo com as condições requeridas pelo mercado consumidor, posteriormente distribuída entre atacado e varejo, que chegando aos consumidores através dos supermercados, feiras-livres, peixarias, escolas, hospitais ou dos pesque-pague e pesque-solte (RIO GRANDE DO SUL, 1998; RISSATO e MARQUES, 1999; SÃO PAULO, 1996) Como todo sistema de criação agropecuário, o objetivo da piscicultura é obter lucro, devendo-se manejar métodos adequados e modernos baseados em princípios científicos, ecológicos, tecnológicos e econômicos (HEPHER e PRUGININ, 1985). Executar os projetos 1 Acadêmico do Curso de Bacharelado em Engenharia Agronômica 2 Acadêmico do Curso de Bacharelado em Engenharia Agronômica 3 Docente EBTT; Engenheiro de Pesca; Dr. Aquicultura; cahermes@hotmail.com Trabalho financiado com apoio do Edital nº 106/2013 PIBITI/PIBIC/PIBIC-Af/CNPq/IFC
de piscicultura sem uma adequada análise econômica pode constituir-se num caminho curto para o fracasso na atividade (CASACA e TOMAZELLI JÚNIOR, 2001). Na região do Alto Vale do Itajaí, foi implantado pela EPAGRI, no final da década de 1990, uma experiência-piloto com objetivo de criar uma alternativa de renda para o pequeno produtor rural do interior do estado; está ação foi muito bem-sucedida, permitindo geração de renda e melhora na qualidade de vida do produtor rural; O Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada, baseia-se no sistema de policultivo, com a utilização de adubo orgânico para potencializar a produção natural, inserção de ração balanceada no final do ciclo e a utilização de mão-de- obra familiar (SOUZA FILHO et al, 2003). A quantidade de peixes produzida em escala comercial aumentou de 2010 para 2011 acima de 16%. O principal sistema de produção de peixes praticado no estado de Santa Catarina e no alto vale do Itajaí é o sistema MAVIPI (Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada), que consiste no cultivo em forma de consórcio de várias espécies de peixes, tendo a tilapia como espécie principal (SILVEIRA, 2012), em policultivo com carpas. Este estudo tem por objetivo conduzir um levantamento da situação econômica da atividade piscícola, identificando os resultados econômico-financeiros da criação peixes, para avaliar se a atividade maximiza o lucro da propriedade rural. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi desenvolvido no Setor de Aquicultura, do IFCatarinense/Campus Rio do Sul e consistiu de levantamento, realizado em setembro de 2014, de preços praticados pelo comercio de insumos e serviços ligados a piscicultura na região. Após a alimentação das planilhas com os dados coletados, estes foram processados e avaliados, utilizando-se os conceitos de viabilidade econômica comumente utilizados na avaliação de projetos agropecuários (FIGUEIREDO, 2002). A avaliação econômica foi realizada somente sobre os custos do piscicultor, pois é o segmento do sistema agroindustrial em que ocorre a transformação dos insumos em produto a ser processado. Além disto, os demais segmentos do sistema repassam seus custos de produção ao segmento seguinte, enquanto que o piscicultor deve reorganizar sua estrutura produtiva para assimilar ou reduzir os custos de produção. A tecnologia de produção avaliada, refere-se ao modelo MAVIPI, que consiste da produção de peixes em viveiro escavado, agua somente para manutenção de nível (sem troca 2
de água), aeração de emergência (1800 horas/ciclo de produção), consórcio com suínos, policultivo de peixes (75% de tilápias, 10% de carpa comum, 6% de carpa prateada, 7% de carpa cabeça grande e 2% de carpa capim); os peixes são alimentados com ração somente ao final do criação, para garantir uma conversão alimentar aparente de 1,4. O tempo de criação é de 8 meses, como peso final individual das tilápias de 0,6kg, com produtividade de 10.000 kg/há. Os itens de custo total de produção foram classificados em custos fixos e variáveis. Como custos fixos foram considerados as remunerações do capital fixo e variável, o valor investido na terra, além das depreciações dos equipamentos, viveiros e benfeitorias e a remuneração do empresário (pró labore ou salário gerencia). Os custos variáveis referem-se aos gastos com mão de obra contratada e temporária, alevinos, ração, insumos diversos (adubo, calcário, etc), serviços e energia elétrica e as taxas e impostos que incidem sobre o valor da produção, além da remuneração do capital circulante. A depreciação de viveiros, equipamentos e benfeitorias foi determinada pelo método linear, considerando os viveiros e benfeitorias com vida útil de 25 anos e os equipamentos com vida útil de 10 anos. O valor de sucata dos viveiros foi considerado como zero e dos equipamentos de 10% e das benfeitorias com o 20% do seu valor original. Para remuneração do capital circulante será utilizada a taxa de 6,0% ao ano, que é a taxa de juros utilizada pelos agentes financeiros para Crédito Rural de custeio, incidindo sobre 50% dos desembolsos do período. A título de custo de oportunidade sobre o valor da terra ocupada com a instalação da unidade de produção, foi aplicada uma taxa juros de 0,3% ao mês sobre o valor da área considerada no modelo de produção deste estudo (1,5 hectare). Para remuneração dos valores referentes à construção dos viveiros e aquisição de equipamentos, foi aplicada uma taxa de 6,0% ao ano sobre o valor do capital. RESULTADOS E DISCUSSÃO Marengoni et al. (2007), avaliando um sistema de criação de tilápias em uma unidade de produção de 0,9 hectare em viveiros escavados, no oeste do Paraná, obtiveram custo fixo de 12,1%. Hermes (2009), avaliando o sistema agroindustrial da produção de tilápias do Oeste do 3
Paraná, obteve 7,0% de participação do custo fixo, em uma média histórica de 5 anos. Neste trabalho, observamos que o custo fixo compõe 25,3% do custo total de produção; esta maior participação dos custos fixos no sistema MAVIPI, comparado aos outros sistemas de produção, deve-se ao menor uso da ração, devido ao consórcio com suínos e maior tempo participação da alimentação natural no peso final dos peixes, diminuindo custos com ração. Figura 01 Demonstrativo dos custos no sistema MAVIPI, para set.2014. IFCatarinense/Rio do Sul Análise Economica - MAVIPI Coleta de Dados Mensal - Para a produção num ciclo de 8 meses Custo de Fixos e Variaveis 1. CUSTOS FIXOS R$ % R$/m 2 1.1 Depreciação 4.393,54 9,08 0,29 1.2 Renumeração do capital fixo 4.107,42 8,49 0,27 1.3 Manutenção de benfeitorias 767,51 1,59 0,05 1.4 Pro labore 1.448,00 2,99 0,10 1.5 I.T.R. 420,00 0,87 0,03 1.6 Taxas ambientais (renovação) 65,00 0,13 0,00 1.7 Kit qualidade de água 1.252,77 2,59 0,08 Total Custos Fixos 12.454,24 25,73 0,83 9 2. CUSTOS VARIÁVEIS R$ % R$/m 2 2.1 Alevinos 3.660,30 7,56 0,24 2.2 Ração 26.987,10 55,75 1,80 2.3 Energia elétrica 2.863,27 5,92 0,19 2.4 Assistência técnica 1.200,00 2,48 0,08 2.5 Mão-de-obra temporária 181,00 0,37 0,01 2.6 C.E.S.S.R 261,00 0,54 0,02 2.7 Remuneração do capital circulante 798,01 1,65 0,05 Total Custos variáveis 35.950,68 74,27 2,40 Custo Total de Produção 48.404,92 100,00 3,23 A remuneração do capital do capital fixo (construção de viveiros, benfeitorias, etc.) representou 8,49% do custo total e a depreciação para o sistema de criação avaliado consiste de 4.393,54 por ciclo de produção de 8 meses. 4
Os custos variáveis participaram com 74,27% do custo total. A ração representou 55,75% do custo total de produção, sendo o item de maior participação na formação do custo total (Figura 1). Para concluir um ciclo de produção são necessários R$ 48.404,92 para 1,5 hectare de lâmina de água. O custo de produção ficou em R$3,23/kg de peixe vivo, gerando um custo de R$48.404,92; considerando os valores médios pagos na região (R$3,23/kg de tilápia e 3,39/kg para as carpas), pode ser atingidos R$49.076,25 de receita, com 1,5 hectare de lamina, com 8 meses de cultivo. Desta forma, a remuneração do piscicultor, considerando a remuneração do capital fixo e circulante, o pro labore e o lucro representa aproximadamente R$ 7.024,76 por ciclo de produção de 8 meses (R$ 878,09 /mês), valores que podem ser considerados satisfatórios. CONCLUSÕES A remuneração conseguida com o modelo de produção de peixes proposto (MAVIPI), mostrou interessante ao piscicultor, gerando renda e garantindo qualidade de vida ao piscicultor e sua família. REFERÊNCIAS CASACA, J. de M.; TOMAZELLI JÚNIOR, O. Planilhas para cálculos de custo de produção de peixes. Florianópolis: Epagri, 2001. 38p. (EPAGRI. Documentos, 206). HERMES, C. Sistema agroindustrial da Tilápia na região de Toledo-PR e comportamento de custos e receitas. Tese de Doutorado em Aquicultura. Jaboticabal: UNESP, 2009. MARENGONI, N. G.; BERNARDI, A.; GONÇALVES JÚNIOR, A. C. Tilapicultura vs. culturas da soja e do milho na região oeste do Paraná. Informações Econômicas, SP, v.37, n.1, jan. 2007. SILVEIRA, FERNANDO SOARES; SILVA, FABIANO MÜLLER; GRAEFF, ÁLVARO. Desempenho da Pesca e da Aquicultura em 2011; EPAGRI, 2012. Disponível em: http://cedap.epagri.sc.gov.br 5
FIGUEIREDO, R. S. Sistemas de apuração de custos. In: Gestão Agroindustrial, volume I. GEPAI. Grupo de Estudos e Pesquisas Agroindustriais/Coordendor Mário Otávio Batalha. 2. Ed. São Paulo: Atlas, 2001. HEPHER, B.; PRUGININ, Y. Cultivo de peces comerciales. México, DF: Limusa, 1985. 315p. RIO GRANDE DO SUL (Estado). Secretaria de Ciência e Tecnologia. Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária. Cadeia produtiva do peixe cultivado no Rio Grande do Sul. Porto Alegre. 1998. 38p. RISSATO, D. e MARQUES, P.V. Estrutura, conduta e desempenho das unidades de beneficiamento de pescado produzido em cativeiro no estado do Paraná. (Compact-disc). XXXVII CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, Foz do Iguaçu, PR.1999. SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Cadeia produtiva do pescado. São Paulo, 1996. 51p. SCORVO FILHO, J. D.; MARTIN, N. B.; AYROZA, L. M. S. Piscicultura em São Paulo: custos e retornos de diferentes sistemas de produção na safra 1996/97. Informações econômicas, 28(3) : 41-60, março, 1998. SOUZA FILHO, J.; SCHAPPO, C.L.; TAMASSIA, S.T. J, BHORCHARDT. Estudo de competitividade da piscicultura no Alto Vale do Itajaí. Florianópolis : Instituto Cepa/SC/Epagri/ Acaq, 2003. 76 p. 6