XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

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Transcrição:

INÍCIO DAS CHUVAS NA REGIÃO SUDESTE DO BRASIL: ANÁLISE CLIMATOLÓGICA Lincoln Muniz Alves, José A. Marengo, Christopher A. C. Castro Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos CPTEC Instituto Nacional de Pesquisas Espacias INPE Rodovia Presidente Dutra, Km 39 - Cachoeira Paulista/SP lincoln@cptec.inpe.br, marengo@cptec.inpe.br, castro@cptec.inpe.br ABSTRACT In order to explain to the most diverse activities of the society on the onset of the rainy season in Southeastern, Center-West and south northeastern Brazil, the purpose of this work is to analyze the results of researches concerning on the onset of the rainy season in a pentad scale and its possible flutuations. A pentad climatology was obtained using outgoing longwave radiation (OLR) thresholds of 240, 230 and 220 W/m², for the period of 1979 the 2000. A similar analysis with pentad precipitation to verify the previous methodology is also presented. For precipitation 2, 3, 4 and 5 mm were used as thresholds. The used precipitation base period was from 1968 to 1997. Both OLR and precipitation agree on the onset pentad (between pentad 54 to 56). 1. INTRODUÇÃO Em pleno século XXI, no ápice de toda uma tecnologia que nos envolve temos a água como um bem precioso e finito. Prova disto, foram as recentes manifestações de conscientização da importância desta nas mais diversas atividades que a utilizam, a exemplo, das hidroelétricas, na produção de energia, agricultura, transporte, etc. No meio de toda essa preocupação da crise de energia, todo o País perguntava-se Quando as chuvas iriam começar?, Se as chuvas irão adiantar ou atrasar? nas Regiões Sudeste, Centro-Oeste e sul do Nordeste, regiões estas onde se encontram as bacias de drenagem que abastecem os principais reservatórios do sistema hidroelétrico do País. A fim de esclarecer os mais diversos segmentos da sociedade quanto aos aspectos relacionados ao início da estação chuvosa, este trabalho tem por objetivo analisar os resultados de pesquisas quanto a uma data média do início da estação chuvosa numa escala mensal e suas possíveis flutuações. Entretanto, para alcançar uma compreensão desta análise é fundamental levar em consideração os processos atmosféricos de diferentes escala de tempo. Na literatura, encontramos diversos trabalhos que enfocam nestas áreas os mais diversos aspectos da chuva, em várias escalas temporais e espaciais, que vão desde a planetária (milhares de kilometros) até a escala local (alguns kilometros): Tarifa (1975); Gomes & Massambani (1984); Silva Dias (1987); Sugahara (1991); Kousky et. al., (1984). 2. DADOS E METODOLOGIA São vários os métodos que têm sido utilizados para identificar e prever o início das chuvas em diversas regiões do globo. Para tanto, a maioria dos estudos utilizam dados de Radiação de Onda Longa-ROL (variável que permite inferir a ocorrência ou não de chuva em determinada área do globo). O campo de ROL é um bom indicador da variabilidade interannual e intrasazonal de profunda convecção (chuva) em regiões tropicais, como mencionado em Kousky (1988), Horel et. al., (1989), Marengo et. al., (2001), Heddinghaus & Krueger (1981), Janowiak et. al., (1985). No entanto, outros autores baseiam-se no total de chuva diária acumulada em um determinado período ou pêntadas (Sugahara, 1991; Virmani, 1975; Benoit, 1977; Nicholls et. al., 1982). No desenvolvimento deste estudo, foram utilizados dados diários interpolados de ROL provenientes do NOAA-CIRES Climate Diagnostics Center com resolução espacial de 2.5ºx2.5º para o período entre 1979 a 2000, bem como dados diários interpolados de precipitação (Fonte: CMCD/INPE, CPTEC/INPE, ANEEL e INMET) com resolução espacial de 1ºx1º para o período entre 1968 a 1997. As médias pentadais ou média de 5 dias de ROL e precipitação foram calculadas a partir dos dados diários, sem sobreposição de datas, obtendo-se então, para cada ano um total de 73 pêntadas (Tabela 1). Para um ano bissexto, o dia 29 de fevereiro foi incluído na pêntada 12 (25/Fev-01/Mar), de tal forma que, o valor desta pêntada representa neste caso uma média de seis dias. 1403

Para o início da estação chuvosa com base nos dados de ROL adotou-se uma definição semelhante à de Kousky (1988): (a) primeira ocorrência de ROL médio inferior a 240 W/m²; (b) a condição (a) ser precedida por 12 pêntadas tendo pelo menos em 10 pêntadas > 240W/m²; (c). a condição (a) ser seguida por 12 pêntadas com pelo menos 10 pêntadas < 240 W/m². Foram analisados também os limiares de 220 e 230 W/m² utilizando os mesmos critérios discutidos acima. Com relação as pêntadas de chuva adotou-se um critério semelhante a de Virmani (1975) e Sugahara (1991), com as seguintes imposições: (a) a partir da pêntada de número 37, que está dentro da estação seca; (b) a primeira ocorrência de uma pêntada 2 mm; (c) a condição (b) ser seguida e precedida por 5 pêntadas com pelo menos 2 pêntadas > 2 mm. Similar aos dados de ROL analisou-se também os limiares de 3, 4 e 5 mm. Tabela 1 Número de pêntadas e as datas correspondentes ao calendário convencional Pêntada Datas Pêntada Datas 1 1-5 de Janeiro 38 5-9 de Julho 2 6-10 de Janeiro 39 10-14 de Julho 3 11-15 de Janeiro 40 15-19 de Julho 4 16-19 de Janeiro 41 20-24 de Julho 5 20-24 de Janeiro 42 25-29 de Julho 6 25-29 de Janeiro 43 30 de Jul. a 3 Agosto 7 30 de Jan. a 4 Fev 44 4-8 de Agosto 8 5-9 de Fevereiro 45 9-13 de Agosto 9 10-14 de Fevereiro 46 14-18 de Agosto 10 15-19 de Fevereiro 47 19-23 de Agosto 11 20-24 de Fevereiro 48 24-28 de Agosto 12 25 de Fev. a 1 de Mar 49 29 de Ago. a 2 Set. 13 2-6 de Março 50 3-7 de Setembro 14 7-11 de Março 51 8-12 de Setembro 15 12-16 de Março 52 13-17de Setembro 16 17-21 de Março 53 18-22 de Setembro 17 22-26 de Março 54 23-27 de Setembro 18 27-31 de Março 55 28-de Set. a 2 de Out. 19 1-5 de Abril 56 3-7 de Outubro 20 5-10 de Abril 57 8-12 de Outubro 21 11-15 de Abril 58 13-17 de Outubro 22 16-20 de Abril 59 18-22 de Outubro 23 21-25 de Abril 60 23-27 de Outubro 24 26-30 de Abril 61 28 Out. a 1 de Nov. 25 1-5 de Maio 62 2-6 de Novembro 26 6-10 de Maio 63 7-11 de Novembro 27 11-15 de Maio 64 12-16 de Novembro 28 16-20 de Maio 65 17-21 de Novembro 29 21-25 de Maio 66 22-26 de Novembro 30 26-30 de Maio 67 27 Nov. a 1 de Dez. 31 31 de Maio 4 Junho 68 2-6 de Dezembro 32 5-9 de Junho 69 7-11 de Dezembro 33 10-14 de Junho 70 12-16 de Dezembro 34 15-19 de Junho 71 17-21 de Dezembro 35 20-24 de Junho 72 22-26 de Dezembro 36 25-29 de Junho 73 27-31 de Dezembro 37 30 de Jun. a 4 de Jul. 3. RESULTADOS E DISCUSÃO Nesta seção, será discutido brevemente a variação sazonal da chuva e os mais diversos aspectos relacionados com esta variável. Em adição, serão feitas análises dos campos pentadais de ROL e chuva, na área em 1404

estudo (Figura 1), estabelecendo-se também uma comparação entre as duas variáveis, bem como as prováveis datas de início das chuvas. Figura 1 Localização da área utilizada no estudo (retângulo vermelho) As Regiões Sudeste, Centro-Oeste e sul do Nordeste, devido ao posicionamento latitudinal, caracterizam-se por serem áreas de transição entre os climas quentes de latitudes baixas e os climas mesotérmicos, do tipo temperado das latitudes médias (Silva Dias & Marengo, 1999). O regime anual da chuva é altamente sazonal, basicamente com verão chuvoso e inverno seco, com total de chuva média anual acumulada variando entre 1500 e 2000 mm. O trimestre mais seco ocorre nos meses de junho-julho-agosto com totais de chuva em torno de 30 mm em grande parte do Brasil Central. O trimestre mais chuvoso ocorre no período de dezembro-janeiro-fevereiro. Essa grande variabilidade é influenciada diretamente pelos sistemas de circulação atmosférica que serão citados a seguir. Há evidências de que o El Niño pode influenciar a distribuição das chuvas em várias partes do Brasil, inclusive na Região Sudeste, conforme Kousky et. al. (1984). Outros fenômeno que tem relação com as chuvas na região são a Oscilação de 30-60 dias, observado durante todo o ano (Nobre & Melo, 2001), bandas de nuvens associadas a frentes frias, complexos convectivos de mesoescala (Silva Dias et. al., 1986) e a Zona de Convergência do Atlântico Sul-ZCAS (Sanches, 2002). As pêntadas médias de ROL, utilizando um limiar de 240W/m², do início da estação chuvosa, é apresentada na Figura 2 (número de pêntadas correspondentes as datas da Tabela 1). As regiões em branco são as que não satisfizeram os critérios estabelecidos. Ressalta-se que apesar da figura mostrar pêntadas médias para todo o país o enfoque é dado apenas para a região de estudo (17º-26ºS e 54º-40ºW). De acordo com a figura, espera-se que as primeiras chuvas comecem, em média, entre 3 e 7 de outubro (Pêntada 56), ou seja, durante a primavera o que sugere que são resultantes de fenômenos de escala de tempo pequenas, uma vez que esta região ainda se encontra sobre um padrão de inverno. Utilizando-se outros limiares, a exemplo de 230 e 220 W/m², nota-se então que o período de transição do seco para o chuvoso é sensivelmente afetado pelo critério estabelecido havendo, portanto, um adiamento destas datas (Figura 3) quando comparadas com as da Figura 2. Então as datas para os limiares de 230 e 220 W/m² são aproximadamente 18-22 de outubro (Pêntada 59) e 12-16 de novembro (Pêntada 64), respectivamente. 1405

Figura 2 Pêntadas médias do início da estação chuvosa para o período de 1979 a 2000, baseados em dados de ROL com limiar de 240W/m² (a) (b) Figura 3 Pêntadas médias do início da estação chuvosa para o período de 1979 a 2000, baseados em dados de ROL com limiar de 220W/m² (a) e 230W/m² (b) As pêntadas médias de início da estação chuvosa, baseada nos dados diários de chuva usando um limiar de 2 mm, são demonstradas na Figura 4. De acordo com a figura, o início da estação chuvosa se dá, em média, entre 23 e 27 de setembro (pêntada 54). Essas datas a, grosso modo, são consistentes com aquelas encontradas por Kousky (1988), usando somente dados de ROL e Sugahara (1991) com dados de precipitação. As diferenças obtidas são devidas, possivelmente as ordens cronológicas e as metodológicas utilizadas. 1406

Kousky (1988), observando a evolução temporal do campo de ROL sobre o setor da América do Sul, notou que essas datas (início e final da estação chuvosa) estão associadas com o ciclo anual da ZCAS, uma vez que esta começa a se intensificar entre o final de setembro e início de outubro. Da mesma forma que os dados de ROL, foram utilizados também limiares de 3, 4 e 5 mm (Figura 5), no qual se observa uma tendência semelhante a apresentada com os dados de ROL, ou seja, um retardamento das datas de início, sendo estas 13 a 17 de outubro (pêntada 58), 2 e 6 de novembro (pêntada 62), e 12 e 16 de novembro (pêntada 64), respectivamente. Figura 4 Pêntadas médias do início da estação chuvosa para o período de 1968 a 1997, baseados em dados diários de chuva com limiar de 2 mm (Fonte: CMCD/INPE, CPTEC/INPE, ANEEL e INMET) (a) 1407

(b) (c) Figura 5 Pêntadas médias do início da estação chuvosa para o período de 1968 a 1997, baseados em dados diários de chuva com limiar de 3 mm (a), 4 mm (b) e 5 mm (c) (Fonte: CMCD/INPE, CPTEC/INPE, ANEEL e INMET) Vê-se claramente uma enorme variabilidade na definição da data média do início das chuvas que depende exclusivamente do critério e dos limiares escolhidos. Outro ponto que merece destaque é o quão dependente é a estação chuvosa destas datas. Procurando responder a esta interrogação tentou-se mostrar que independentemente do período dezembro-janeiro-fevereiro (DJF) ser chuvoso, normal ou seco. Caracterizou como trimestre seco, normal ou chuvoso com base no total acumulado no trimestre, ou seja, DJF normais aqueles com totais acumulados de chuva compreendidos no intervalo (µ - σ/2) e (µ + σ/2), como chuvoso aqueles onde o total fosse superior a (µ + σ/2) e seco fosse inferior a (µ - σ/2). Onde µ é a média do total acumulado de chuva no trimestre para o período de 1968 a 1997 e σ o desvio padrão sobre toda a amostra de dados. Como se pode observar 72% dos casos analisados, considerando um período de 30 anos e usando um limiar de 2 mm, estão entre as pêntadas 51 e 57, ou seja, entre pêntada média (54) ± o desvio da amostra (3), como pode ser visto na Figura 6. Portanto, ressalta-se que a qualidade da estação chuvosa independe da antecipação ou atraso das chuvas, ficando a estação dependente de outros fatores. 1408

900 Precipitação Acumulada (mm) no trimestre DJF 800 700 600 500 400 300 200 100 0 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 Pêntadas Figura 6 Gráfico de dispersão entre as pêntadas médias e a precipitação acumulada no trimestre dezembrojaneiro-fevereiro (DJF) no período que compreende 1968 a 1997 4. CONCLUSÕES Com base nas discussões dos resultados apresentados na seção anterior as conclusões mais relevantes foram as seguintes: A estação chuvosa tem início mais provável entre as pêntadas 54 e 56 (23 de setembro e 7 de outubro), sendo estas datas aproximadamente coincidentes com as apresentadas por Kousky (1988) e Sugahara (1991); Associadas a essas datas estão o ciclo sazonal das ZCAS e outras mudanças atmosféricas de grande escala, como discutido por outros Kousky (1988); As datas de início, de qualquer modo, são completamente sensíveis a variação do limiar escolhido; A qualidade da estação chuvosa (seca, normal ou chuvosa) independe da antecipação ou atraso da data de início. 5. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao grupo de Previsão Climática do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos-CPTEC pelas valiosas contribuições. O primeiro autor agradece também ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq pelo suporte concedido através de bolsa de pesquisa. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Benoit, P.; 1977: The Start of the Growing Season in Northern Nigeria. Agric. Meteolo., 18, 91. Gomes, A. M.; Massambani, O.; 1984: Aspectos Meteorológicos Associados a Eventos em São Paulo Estudo de Casos. Anais do III Congresso Brasileiro de Meteorologia. Belo Horizonte, 3-7 de Dezembro, 216-220. Heddinghaus, T. R.; Krueger, A. F.; 1981: Annual and Interannual Variations in Outgoing Longwave Radiation over the Tropics. Monthly Weather Review, 109, 1208-1218. Horel, J. D., A. N. Hahmann, and J. E. Geisler, 1989: An investigation of the annual cycle of convective activity over the tropical Americas. Journal of Climate, 2, 1388-1403. 1409

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