EXERCICIO, BETA-GLUCANA E SISTEMA IMUNE. Resumo

Documentos relacionados
Sistema Imune, HIV e Exercício. Profa Dra Débora Rocco Disciplina: Exercício em populações especiais

Resposta imune inata (natural ou nativa)

Imunologia. Introdução ao Sistema Imune. Lairton Souza Borja. Módulo Imunopatológico I (MED B21)

Resposta imune inata e adaptativa. Profa. Alessandra Barone

O sistema imune é composto por células e substâncias solúveis.

Disciplina: Imunologia Tema: Imunologia Iniciando o Conteúdo

Resposta Inata. Leonardounisa.wordpress.com

Universidade Federal Fluminense Resposta do hospedeiro às infecções virais

ENFERMAGEM IMUNIZAÇÃO. Política Nacional de Imunização Parte 4. Profª. Tatiane da Silva Campos

!"#$%&'()%*+*!,'"%-%./0

Faculdade de Imperatriz FACIMP

10/02/2011 VACINAS IMUNIZAÇÃO. Referências Bibliográficas:

Resposta imune adquirida

Imunologia. Células do Sistema Imune. Professora Melissa Kayser

E TREINAMENTO DE FORÇA BRIEF-REVIEW

SISTEMA CARDIO-RESPIRATÓRIO

Resposta inicial que, em muitos casos, impede a infecção do hospedeiro podendo eliminar os micróbios

CINÉTICA DO COMPORTAMENTO DA IGA SALIVAR, EM RESPOSTA A UM ESFORÇO DE NADO AERÓBIO CONTÍNUO

CURSO TÉCNICO EM ENFERMAGEM. Professor(a) Mayra Caires Pires

Imunologia. Diferenciar as células e os mecanismos efetores do Sistema imune adquirido do sistema imune inato. AULA 02: Sistema imune adquirido

Células envolvidas. Fases da RI Adaptativa RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA. Resposta Imune adaptativa. Início da RI adaptativa 24/08/2009

AULA #3 IMUNOGLOBULINAS E SISTEMA COMPLEMENTO BMI0255

MSc. Romeu Moreira dos Santos

Suplementação no exercício: da atividade física à alta performance. Dra. Sueli Longo CRN3-3599

IMUNOLOGIA. Felipe Seixas

Resposta Imunológica celular. Alessandra Barone

MECANISMOS DE IMUNIDADE CONTRA AGENTES INFECCIOSOS PROF. HELIO JOSÉ MONTASSIER / FCAVJ-UNESP

MSc. Romeu Moreira dos Santos

USO DE ADITIVOS NA ALIMENTAÇÃO DE PEIXES. Fernando Roberti - Médico Veterinário

Sistema Imunológico. 1) Introdução. É o sistema responsável pela defesa do organismo contra a ação de agente patogênicos (que causam doenças).

Ergonomia Fisiologia do Trabalho. Fisiologia do Trabalho. Coração. Módulo: Fisiologia do trabalho. Sistema circulatório > 03 componentes

EXAMES LABORATORIAIS: IMUNOLOGIA

ESPECIALIZAÇÃO EM MICROBIOLOGIA APLICADA UNIOESTE PROF. RAFAEL ANDRADE MENOLLI

Resposta Imunológica humoral. Alessandra Barone

06/11/2009 TIMO. Seleção e educação de linfócitos ÓRGÃOS LINFÓIDES E CÉLULAS DO SISTEMA IMUNE ÓRGÃOS LINFÓIDES. Primários: Medula óssea e timo

MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA II

MECANISMOS DE IMUNIDADE CONTRA AGENTES INFECCIOSOS (Bactérias, Vírus, Parasitas) PROF. HELIO JOSÉ MONTASSIER / FCAVJ-UNESP

03/03/2015. Acúmulo de Leucócitos. Funções dos Leucócitos. Funções dos Leucócitos. Funções dos Leucócitos. Inflamação Aguda.

MECANISMOS DE IMUNIDADE CONTRA AGENTES INFECCIOSOS (Bactérias, Vírus, Parasitas Metazoários) Prof. Helio José Montassier / FCAVJ-UNESP

Microbiota Normal do Corpo Humano

4ª Ficha de Trabalho para Avaliação Biologia (12º ano)

Doença Respiratória Bovina, Imunidade e Imunomoduladores

Ativação de linfócitos B mecanismos efetores da resposta Humoral Estrutura e função de imunoglobulinas

EFEITOS GERAIS DA INFLAMAÇÃO

Células e propriedades gerais do sistema imune

O SISTEMA IMUNITÁRIO

Bases celulares, histológicas e anatômicas da resposta imune. Pós-doutoranda Viviane Mariguela

Auditório das Piscinas do Jamor 20 e 21 de Outubro. Fisiologia da Corrida

HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO IV. Professor: Drº Clayson Moura Gomes Curso: Fisioterapia

Resposta de Nadadores de Elite Portuguesa aos Estados de Humor, ITRS e Carga de Treino em Microciclos de Choque e recuperação

AULA #6 TOLERÂNCIA. 1. O que é tolerância central? Em que órgãos ela é estabelecida?

Profº André Montillo

Efeitos Crônicos do Exercício e da Nandrolona sobre Parâmetros Histológicos dos Órgãos Linfoides e das Células do Sistema Imune Circulante em Ratos

Guerreiros sempre alerta!

Biologia 12 Sistema imunitário

Inflamação aguda e crônica. Profa Alessandra Barone

TECIDOS LINFÓIDES PRIMÁRIOS ONTOGENIA DE LINFÓCITOS

HISTÓRIA DA IMUNOLOGIA

FMVZ, Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Botucatu, São Paulo, Brasil

MECANISMOS DE IMUNIDADE CONTRA AGENTES INFECCIOSOS (Bactérias, Vírus, Parasitas Metazoários) PROF. HELIO JOSÉ MONTASSIER / FCAVJ-UNESP

Efeitos da Suplementação de Fibras Solúveis Sobre as Células do Sistema Imune Após Exercício Exaustivo em Ratos Treinados

TECIDO SANGUÍNEO Livro 4 Frente A Pág 22

Aspectos Moleculares da Inflamação:

Ontogenia do Linfócito T

Gestação - Alterações Hormonais e Metabólicas Durante o Exercício

Funções: distribuição de substâncias (nutrientes, gases respiratórios, produtos do metabolismo, hormônios, etc) e calor.

Órgãos e Células do Sistema Imune

Estudo do sistema imune do corpo e suas funções e alterações. uuhsc.utah.edu/healthinfo/adult/path/glossary.htm

TECIDO HEMATOPOIÉTICO E SANGUÍNEO

Tecido Conjun,vo I: células. Patricia Coltri

BIOLOGIA Sistema imunológico e excretor

Carlos Sinogas Imunologia 2016/17

Bases celulares, histológicas e anatômicas da resposta imune. Pós-doutoranda Viviane Mariguela

Faculdade de Ciências da Saúde de Barretos Dr. Paulo Prata

Prof. Leonardo F. Stahnke 19/06/2018. APP: Human Body (Male) Sistemas Humanos

!"#$%&'()%*+*!,'"%-%./0

REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE. Prof. Dr. Helio José Montassier

TECIDO HEMATOPOIETICO E SANGUÍNEO

HISTOLOGIA ESTUDO DOS TECIDOS

Biologia. Transplantes e Doenças Autoimunes. Professor Enrico Blota.

Universidade Federal de Pelotas Faculdade de Veterinária Núcleo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Pecuária Proteínas de Fase Aguda em Ruminantes

Faculdade de Motricidade Humana Unidade Orgânica de Ciências do Desporto TREINO DA RESISTÊNCIA

Bases celulares, histológicas e anatômicas da resposta imune. Pós-doutoranda Viviane Mariguela

Noções de Imunogenética. Prof. Dr. Bruno Lazzari de Lima

Resposta imune adquirida do tipo celular

Imunidade Humoral. Células efectoras: Linfócitos B. (Imunoglobulinas)

Introdução. Sangue. Tecido líquido Elementos figurados. Plasma. Glóbulos Sanguíneos. Matriz Extracelular. Glóbulos Vermelhos. Plasma.

Imunologia Veterinária. Aula 1 A defesa do organismo

- Tecidos e órgãos linfoides - Inflamação aguda

O sistema Complemento

COGUMELO CAS: N/A DCB: N/A DCI: N/A

Interação vírus célula Aspectos Gerais. Tatiana Castro Departamento de Microbiologia e Parasitologia (UFF)

FUNDAMENTOS DE IMUNOLOGIA

Bacharelado em Educação Física. Função Cardio-vascular e Exercício

Imunologia. Propriedades das Respostas imunes e órgãos linfóides. Bibliografia Básica. Introdução. Tipos de imunidade. Histórico 12/03/2012

Hipersensibilidades e Alergias e doenças autoimunes

Granulopoese. Profa Elvira Shinohara

A partir do consumo de nutrientes, os mecanismos de transferência de energia (ATP), tem início e estes auxiliam os processos celulares.

Transcrição:

EXERCICIO, BETA-GLUCANA E SISTEMA IMUNE Paula Ribeiro* Denis César Leite Vieira** Vitor Tajra** Jonato Prestes*** Resumo O presente trabalho teve por objetivo revisar os efeitos fisiológicos que a beta-glucana pode exercer frente às alterações imunes induzidas pelo exercício físico. Os estudos experimentais realizados com a suplementação de beta-glucana, enaltecem efeitos positivos, representado pela diminuição do desequilíbrio imune causado pelo exercício extenuante. No entanto, é necessário que outros estudos sejam realizados, especialmente correlacionando a suplementação de beta- glucana, exercícios físicos e sistema imune, e que sejam realizados também em seres humanos com vistas a melhorar a prescrição alimentar de atletas de resistência acometidos pela imunossupressão. Palavras-chave: exercício; beta-glucana; sistema imune; atletas. ---------------------------- * Programa de Pós-Graduação Lato-Sensu da Universidade Gama Filho - Fisiologia do exercício **/ Curso de Educação Física da Universidade Católica de Brasília (UCB) ***Prof. Doutor do programa de Mestrado e Doutorado da Universidade Católica de Brasília - UCB

2 Exercise, beta-glucan and immune system ABSTRACT This study aimed to review the physiological effects that beta-glucan can exert forward to the immune alterations induced by exercise. The experimental studies with supplementation of beta-glucan, highlight positive effects, represented by a decreased immune imbalance caused by strenuous exercise. However, other studies should be conducted, especially correlating the supplementation of beta-glucan, exercise and immune system, and also studies with humans in order to improve the nutritional prescription for endurance athletes affected by immunosuppression. Keywords: exercise; beta-glucan; immune system; athletes.

3 INTRODUÇÃO A intensidade, volume, modalidade de exercício, assim como o nível de aptidão e fatores nutricionais podem modular positivamente ou negativamente a resposta imunológica (DONATTO et al, 2008). Enquanto o exercício moderado regular é comumente associado com a diminuição da susceptibilidade a infecções, o exercício exaustivo de longa duração tem sido associado a sintomas de imunossupressão transitória, com aumento da susceptibilidade à infecções (FERREIRA et al, 2007; GLEESON, 2007). Em situações de atividades físicas extenuantes, como no caso dos atletas envolvidos em longos períodos de treinamento intenso, o aumento da susceptibilidade a infecções é amplamente observado (SILVA, 2009). O exercício físico gera modificação da homeostasia orgânica, levando à reorganização da resposta fisiológica de diversos sistemas, entre eles o sistema imune (ROSA; VAISBERG, 2002). Essas alterações fisiológicas associadas ao grande número de competições podem induzir a uma supressão do sistema imune de atletas (DONATTO et al, 2006). A ligação entre a nutrição e um sistema imune efetivo está relacionada com as deficiências dos nutrientes que fazem parte da sinalização, interação e diferenciação das células do sistema imunológico (DONATTO et al, 2006). Sendo assim, o presente trabalho tem por objetivo revisar os efeitos modulatórios que a betaglucana pode exercer frente às alterações que o exercício físico induz sobre as células do sistema imune.

4 REVISÃO DA LITERATURA INTRODUÇÃO AO SISTEMA IMUNE O sistema imune protege, reconhece, ataca e destrói elementos que são estranhos para o corpo. Pode ser dividido em dois grandes sistemas: o sistema inato (natural) e o adaptativo (adquirido), que trabalham em conjunto sinergicamente quando o sistema biológico é acometido por invasores como vírus, fungos e bactérias (GLEESON et al, 2004). O sistema imune inato tem resposta rápida e funcional, mas não é especifica. O sistema imune adaptativo tem resposta mais lenta, mas altamente especifica, apresentando memória (VOLMAN et al, 2008). O sistema inato é composto pelas seguintes células: neutrófilos, eosinofilos, basófilos, monócitos e células natural killers (NK). Já o sistema adaptativo é composto por linfócitos T e B e por fatores humorais, as imunoglobulinas (ROSA; VAISBERG, 2002). A barreira epitelial da pele, as paredes do trato gastrointestinal, pulmões e sistema urinário são as primeiras linhas de defesa do sistema imune inato (VOLMAN et al, 2008). A resposta imune adquirida depende da produção de anticorpos [imunoglobulinas (Igs)] pelos linfócitos B direcionados especificamente aos antígenos presentes nos patógenos (resposta imune humoral, na qual o organismo desenvolve anticorpos circulantes, que são globulinas de sangue capazes de atacar agentes invasores) e/ou ataque as células do corpo infectadas pelas citotoxinas e ajuda dos linfócitos T (resposta imune celular, o organismo forma grandes quantidades de linfócitos ativados que são designados especificamente para destruir o agente estranho) (VOLMAN et al, 2008). Além disso, é gerada a memória celular, pelo qual o sistema imunológico adaptativo aumenta e melhora a resposta depois de repetitivos contatos com o mesmo antígeno (ROSA; VAISBERG, 2002).

5 EXERCÍCIO E SISTEMA IMUNE Assim, os componentes da resposta imune vão sofrer modificações de acordo com o estímulo recebido (ROSA; VAISBERG, 2002). Os exercícios exaustivos têm sido associados com uma diminuição das funções dos neutrófilos, enquanto que o exercício moderado tem sido geralmente associado a um aumento (MURPHY et al, 2007). A classificação a intensidade do esforço físico é normalmente estabelecida por meio de parâmetros fisiológicos e metabólicos, como lactato sanguíneo, freqüência cardíaca máxima (FC), consumo máximo de oxigênio (VO 2 max), razão de percepção de esforço (RPE), entre outros (SILVA et al, 2009). O sistema imune dos atletas pode ser suprimido devido à ação dos hormônios epinefrina e cortisol associado com o aumento da susceptibilidade a infecções, particularmente das vias aéreas superiores, período classificado como janela aberta onde o organismo está mais vulnerável sobre a ação de qualquer tipo de antígeno (PETERS & BATERMANM 1983; NIEMAN & ARABETZIS, 1990, citado por DONATTO et al, 2006). Segundo o estudo realizado por Steerenberg et al (1997), em 42 triatletas, verificou-se que a taxa de fluxo salivar após a corrida estava significativamente diminuída, resultando na diminuição da produção total de IgA salivar, o que representa um risco aumentado de infecções. Um aumento da atividade do sistema nervoso simpático promove vasoconstrição de vasos sanguíneos e glândulas salivares, limitando o fornecimento de água para a produção da saliva. A liberação de noraepinefrina observada durante o exercício prolongado está associada à redução do fluxo salivar, que, por sua vez, diminui as concentrações de IgA na saliva (LIBICZ et al, 2006). A proposta do estudo realizado por Libicz et al (2006), foi examinar a resposta de IgA salivar de triatletas de elite durante o French Iron Tour (FIT) de 2001. As amostras de saliva foram coletadas diariamente após acordar (estado basal em jejum), pré-corrida e pós-corrida. O fluxo salivar foi significativamente reduzido após cada corrida em comparação com o estado de jejum. A concentração de IgA salivar foi reduzida ao longo do FIT, sugerindo que exercícios intensos repetidos diariamente tem um efeito cumulativo negativo sobre os níveis basais de IgA salivar.

6 BETA-GLUCANA, EXERCÍCIO E SISTEMA IMUNE Estudos recentes mostram que a suplementação de beta-glucana pode exercer efeitos modulatórios frente às alterações que o exercício físico induz sobre as células do sistema imunológico (DONATTO et al,2006). As B-glucanas são polímeros de glicose, constituintes das paredes das células de certos fungos e bactérias (AKRAMIENE et al, 2007). A cevada, levedura e a aveia também contêm beta-glucana (VOLMAN et al, 2008; BRENNAN & CLEARY, 2005). Dentre os diferentes processamentos da aveia, o farelo de aveia é o que tem maior teor de beta-glucana. As beta-glucanas são componentes estruturais das paredes celulares da aveia e o farelo é produzido principalmente com as camadas mais externas dos grãos deste cereal, aleurona e subaleurona (SÁ et al, 1998; NIEMAN, 2008). A beta-glucana possui propriedades imuno estimulantes contra vírus, bactérias e fungos, bem como, promove aumento da atividade antitumoral, sinalizadas por receptores específicos em macrófagos, neutrófilos, células N, células dendríticas, alguns tipos de células T, células epiteliais, células endoteliais vasculares e fibroplastos. A beta-glucana pode ativar macrófagos e neutrófilos, estimulando diretamente suas atividades fagocíticas, citotóxicas e antimicrobianas (DONATTO et al,2006; NIEMAN, 2008). A Food and Drug Administration (FDA) e também a ANVISA adotam a recomendação de no mínimo 3g de beta-glucana por dia, se o alimento for sólido, ou 1,5g de beta-glucana se o alimento for líquido, recebendo assim a denominação de alimento com alegação de propriedade funcional e/ou de saúde (DONATO et al, 2006). Murphy et al (2007) analisaram o efeito do consumo da beta-glucana após exercício moderado e exaustivo em ratos. Os autores observaram que tanto no grupo de exercício moderado quanto no grupo de exercício moderado associado com beta-glucana houve benefícios positivos quanto ao número ou função dos neutrófilos, enquanto que, no grupo exercício exaustivo este efeito não foi observado. Mas somente no grupo exercício moderado associado com beta-glucana houve aumento tanto no número quanto na atividade dos neutrófilos, o que é importante para diminuir a susceptibilidade às infecções. Novamente Murphy et al (2009) realizaram um estudo com ratos que foram divididos em quatro grupos: o primeiro recebeu água, o segundo sacarose, o terceiro beta-glucana e o quarto sacarose + betaglucana (50% de beta-glucana e 6% de sacarose diluído em água por 10 dias). Os animais foram submetidos a três dias de exercícios fadigantes e em seguida foram inoculados por via intranasal com uma dose padrão do vírus herpes simplex 1 e monitorados quanto a morbidades e mortalidades por 21 dias. Todos os grupos, exceto o da água, tiveram a morbidade reduzida, enquanto apenas o grupo sacarose + beta-glucana teve redução da mortalidade. Donatto et al (2010) avaliaram os efeitos da beta-glucana sobre o tempo para exaustão, a quantidade de glicogênio e o perfil das citocinas séricas de ratos submetidos a um exercício exaustivo. Os animais foram divididos em três grupos: grupo controle sedentário (C); grupo exercício que recebeu uma ração controle (EX) e o grupo exercício que recebeu uma ração suplementada com 30% de flocos de aveia. Os animais passaram por 8 semanas de exercício de natação, sendo que a última sessão de treino foi executada até a exaustão. Os animais suplementados apresentaram maior concentração de glicogênio

7 levando a um tempo maior de execução do exercício antes de ficarem exaustos, seguido de uma redução nas citocinas séricas pró-inflamatórias. Davis et al (2004) testaram os efeitos da beta-glucana proveniente da aveia sobre a infecção respiratória, a resistência antiviral de macrófagos e a citotoxidade NK. Os animais foram divididos aleatoriamente em quatro grupos: exercício + água, exercício + beta-glucana, controle + água e controle + beta-glucana. A beta-glucana foi administrada na água durante dez dias. O exercício consistiu de corrida em esteira até a fadiga durante três dias consecutivos. Quinze minutos após os exercícios os ratos foram inoculados, por via intranasal com uma dose padronizada de vírus herpes simplex 1. O estresse do exercício foi associado com um aumento de 20% da morbidade e aumento de 18% da mortalidade. A ingestão de beta-glucana antes da infecção impediu o aumento da morbidade e mortalidade e bloqueou a diminuição da resistência antiviral de macrófagos. Não houve efeito do exercício ou beta-glucana na citotoxidade das células NK. Concluiu-se que a ingestão diária de beta-glucana compensou o aumento do risco de infecção do trato respiratório superior (ITRS) associado ao estresse do exercício, que pode ser mediada, pelo menos em parte, pelo aumento da resistência antiviral de macrófagos. Em estudo realizado por Donatto et al (2008), onde foi a avaliado o efeito da suplementação crônica do farelo de aveia sobre as células do sistema imunológico em ratos treinados, frente a um teste de exaustão, os ratos foram divididos em três grupos: controle sedentário (C); treinado 8 semanas submetido ao teste de exaustão (EX) e treinado 8 semanas submetido ao teste de exaustão com suplementação de 30% de farelo de aveia (EXA). O treinamento consistiu de 60 minutos de natação diários, cinco dias por semana durante oito semanas. O grupo EX apresentou aumento na contagem de leucócitos (leucocitose) quando comparado com controle, o que não ocorreu no grupo EXA, porém, na comparação entre os grupos exercitados, EXA mostrou menor leucocitose em relação a EX. Não houve alteração significativa dos linfócitos teciduais em nenhum dos grupos exercitados. Tanto o número de macrófagos peritoneais como a capacidade fagocitária foram maiores nos grupos exercitados. Porém, no grupo suplementado a capacidade fagocitária foi maior em relação ao grupo exaustão sem farelo de aveia. Os autores concluíram que a suplementação de fibras solúveis induziu resultados benéficos com relação às alterações imunológicas induzidas pelo exercício extenuante, além de aumentar a capacidade fagocitária de macrófagos peritoneais em ratos treinados submetidos ao teste de exaustão.

8 CONCLUSÃO Os estudos mostram que o exercício físico exaustivo leva o atleta ao aumento do risco de imunossupressão, sendo as infecções do trato respiratório superior as mais freqüentes, o que faz com que o desempenho desses atletas seja comprometido. Os estudos realizados experimentais com a suplementação de beta-glucana, enaltecem efeitos positivos, representado pela diminuição do desequilíbrio imune causado pelo exercício extenuante. No entanto, é necessário que outros estudos sejam realizados, especialmente correlacionando a suplementação de beta- glucana, exercícios físicos e sistema imunológico, e que sejam realizados também em seres humanos com vistas a melhorar a prescrição alimentar de atletas de resistência acometidos pela imunossupressão.

9 REFERÊNCIAS AKRAMINE, D.; KONDROTAS, A.; DIDZIAPTRIENE, J.; KEVELAITIS, E. (2007), Effects Of Beta- Glucana on the Immune System. Medicina, 43, 8: 597-606. BRENNAN, C.S.; CLEARY, L.J. (2005), The Potencial Use Cereal (1 3,1 4)-Β -D-Glucans As Functional Food Ingredients. Journal of Cereal Science, 42: 1-13. DAVIS, J.M.; MURPHY, E.A.; BROWN, A.S.; CARMICHAEL, M.D; GHAFFAR, A.; MAYER,E.P. (2004), Effects Of Oat Beta-Glucan on Innate Immunity and Infection After Exercise Stress. Medicine and Science in Sports and Exercise, 36, 8: 1321-1327. DONATTO, F. F.; PALANCH, A. C.; CAVAGLIERI, C. R. (2006), Fibras Dietéticas: Efeitos Terapêuticos e no Exercício. Saúde em Revista, 8, 20: 65-71. DONATTO, F.F.;PRESTES, J.;FERREIRA, C. K.O.; DIAS, R.; FROLLINI, A. B.; LEITE, G. S.; URTADO, C. B.; VERLENGIA, R.; PALANCH, A. C.; PEREZ, S. E. A.; CAVAGLIERI, C. R. (2008), Efeitos da Suplementação de Fibras Solúveis Sobre as Células do Sistema Imune Após Exercício Exaustivo em Ratos Treinados. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 14, 6: 533-537 DONATTO, F. F.; PRESTES, J.; FROLLINI, A. B.; PALANCH, A.C.; VERLENGIA, R.; CAVAGLIERI, C. R. (2010), Effect of oat bran on time to exhaustion glycogen content and serum cytokine profile following exhaustive exercise. Journal of International Society of Sports Nutrition, 7, 32. FERREIRA, C. K.O.; PRESTES, J.; DONATTO, F.F.; VIEIRA, W. H. B.; PALANCHI, A. C.; CAVAGLIERI C.R. (2007), Efeitos Agudos do Exercício de Curta Duração Sobre a Capacidade Fagocitária de Macrófagos Peritoneais em Ratos Sedentários. Revista Brasileira de Fisioterapia, 11, 3: 191-197. GLEESON, M.; NIEMAN, D. C.; PEDERSEN, B. K. (2004), Exercise, Nutrition e Immune Function. Journal of Sports Sciences, 22: 115-125. GLEESON, M. (2007), Imune Function in Sport and Exercise. Journal of Applied Physiology, 8, 103: 693-699. LIBICZ, S.; MERCIER, B.; BIGOU, N.; LE GALLAIS, D.; CASTEX, F. (2006), Salivary Iga Response of Triathletes Participating in the French Iron Tour. Int J Sports Med, 27: 389-94. MURPHY, E. A.; DAVIS, J. M.; BROWN, A. S.; CARMICHAEL, M.D.; GHAFFAR, A.; MAYER, E. P. (2007), Oat b- Glucana Effects on Neutrophil Respiratory Burst Activity following Exercise. Medicine and Science in Sports and Exercise, 39, 4: 639-644. MURPHY, E. A.; DAVIS, J. M.; CARMICHAEL, M.D.; GHAFFAR, A.; MAYER, E. P. (2009), Benefits Of Oat B- Glucana and Sucrose Feedings on Infection and Macrophage Antiviral Resistance Following Exercise Stress. American Journal Physiologi Regulatory Integrative Comp Physiol, 297, 4: 1188-1194. NIEMAN, D.C. (2008), Immunonutrition Support for Alhletes. Nutrition Reviews, 66, 6: 310-320. PRESTES, J.; FOSCHINI, D.; DONATTO, F. F. (2006), Efeitos do Exercício Físico Sobre o Sistema Imune. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, 3, 7. ROSA, L.F.P.B.C.;VAISBERG, M.W. (2002), Influências do Exercício na Resposta Imune. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 8, 4: 167-172.

10 SILVA, R. P. ;NATALI, A.J.; PAULA, S.O.; LOCATELLI, J.; MARINS, J. C.B. (2009), Imunoglobulina A Salivar (Iga-S) e Exercício: Relevância do Controle em Atletas e Implicações Metodológicas. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 15, 6. SÁ, R. M.; FRANCISCO, A.; SOARES F. (1998), Concentração de B-Glucanas nas Diferentes Etapas do Processamento da Aveia. Ciência e tecnologia de alimentos, 18, 4. STEERENBERG, PA, VAN ASPEREN, I.A; VAN NIEUW, A. A.; BIEWENGA, A., MOL D, M. GJ. (1997), Salivary Levels of Immunoglobulin A in Triathletes. Europe Journal Oral Science, 105: 305-309. VOLMAN, J.J; RAMAKERS, J.D.; PLAT, J. (2008), Dietary Modulation of Immune Function by B- Glucans. Physiology & Behavior, 94, 2: 276-384.