Aplicação de Unidades de Sobrecorrente de Seqüência Negativa em Redes de Distribuição A Experiência da COSERN



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Transcrição:

21 a 25 de Agosto de 2006 Belo Horizonte - MG Aplicação de Unidades de Sobrecorrente de Seqüência Negativa em Redes de Distribuição A Experiência da COSERN Eng. Elves Fernandes da Silva COSERN elves.silva@cosern.com.br Eng. Dilson Andrade de Sousa COSERN dilson.andrade@cosern.com.br RESUMO Este trabalho tem o objetivo de mostrar a experiência obtida com a utilização da unidade de sobrecorrente de seqüência negativa em redes de distribuição, onde observou-se uma melhora significativa da sensibilidade da proteção, bem como uma economia na aplicação de novos equipamentos. O trabalho apresenta uma metodologia na qual lista os procedimentos para a ativação das unidades de sobrecorrente de seqüência negativa disponíveis nos relés microprocessados associados aos religadores 13,8kV. Em seguida, mostra e discute a aplicação dessa técnica na proteção geral de um alimentador da subestação Boa Cica, mostrando os aspectos técnicos e econômicos, frutos da experiência obtida na Companhia Energética do Rio Grande do Norte - COSERN. A COSERN já habilitou a unidade de sobrecorrente de seqüência negativa em mais de 100 relés associados a religadores 13,8kV, resultando em uma melhoria substancial da sensibilidade da proteção bem como permitindo liberar mais carga, mantendo a sensibilidade requerida e sem a necessidade, em muitos casos, da instalação de novos religadores ao longo das redes, postergando-se, assim, novos investimentos. Estima-se que para manter a mesma sensibilidade que foi obtida em 100 alimentadores seria necessário um investimento da ordem de R$ 4.350.000,00 para a instalação de 75 novos religadores. PALAVRAS-CHAVE Proteção, Redes de Distribuição, Seqüência Negativa 1. INTRODUÇÃO Alimentadores de distribuição longos apresentam baixos níveis de curtos-circuitos no final da rede primária, impossibilitando, em muitos casos, a sensibilidade adequada da unidade de sobrecorrente de fase tradicional do relé associado ao religador de proteção geral do alimentador. Em muitos casos, onde se deseja atender a uma demanda considerável, se faz necessária a instalação de religadores ao longo do alimentador para que a sensibilidade proteção para curtos-circuitos entre fase seja garantida. Atualmente, alguns relés digitais de proteção fornecem como complemento de suas funções unidades de sobrecorrente de seqüência negativa 51Q, com características de tempo definido ou tempo 1/7

inverso, sem nenhum custo adicional. Essas unidades, quando habilitadas, fornecem ao sistema uma melhoria significativa na sensibilidade para faltas bifásicas, permitindo que o tap da unidade de sobrecorrente de fase seja elevado com base apenas na sensibilidade para faltas trifásicas já que a sensibilidade para faltas bifásicas pode ser deixada a cargo da unidade 51Q e a sensibilidade para faltas monofásicas a cargo da unidade 51N. Assim, poderemos liberar mais carga, uma vez que os níveis de curtos-circuitos trifásicos são maiores que bifásicos, e, também, que o ajuste da unidade 51Q não está diretamente relacionado com o quantitativo de carga a ser liberado como o ajustes da unidade de sobrecorrente de fase. Assim, em muitos casos, o ajuste da unidade de sobrecorrente de fase poderá ser elevado sem a necessidade de instalação de novos religadores ao longo da rede de distribuição. O presente trabalho irá mostrar a experiência da COSERN na utilização de unidades 51Q como forma de melhorar as condições operativas das redes de distribuição, permitindo atende o crescimento da carga com o menor investimento possível, respeitando os requisitos de proteção necessários. 2. METODOLOGIA A metodologia utilizada neste trabalho parte do pressuposto de que em muitos relés digitais existentes no mercado, como por exemplo o relé modelo SEL-351A da fabricação da Schweitzer, possuem unidades de sobrecorrente que operam com a grandeza 3I2, ou seja, possui um pick-up para três vezes a corrente de seqüência negativa calculada pelo relé. A seguir, serão mostrados os procedimentos adotados neste estudo para a ativação da unidade 51Q disponível nos relés digitais: 1. A corrente de pick-up da unidade 51 de fase deve ser ajustada em no mínimo 30% maior que a corrente de carga máxima prevista para o circuito, evitando que o relé seja desligado por sobrecarga bem como permitindo um crescimento natural da carga. O tap também deve garantir a devida sensibilidade com um múltiplo mínimo de 1,5 para curtos-circuitos trifásicos no final da sua zona de proteção primária; 2. Ajusta-se o tap da unidade 51Q levando em consideração que a corrente de seqüência negativa está presente na corrente de carga, haja vista que a carga não é perfeitamente equilibrada. Com base na observação da presença da corrente de seqüência negativa nas redes da COSERN, estabeleceu-se que um ajuste deve respeitar uma presença mínima de até 30% da relação I2/Icarga máxima. Outro pré-requisito é que a unidade 51Q garanta um múltiplo mínimo de 2 de sensibilidade para curtos-circuitos bifásicos no final da sua zona de proteção primária. Este múltiplo 2 deve assegurar um bom desempenho da unidade 51Q também para faltas bifásicas para terra onde, neste caso, o quantitativo de corrente de seqüência negativa é reduzido em relação à falta bifásica plena. 3. Como o relé mede 3I2 e pode ser demonstrado que num curto-circuito bifásico 3I2 é igual a 3 vezes o nível da corrente do curto-circuito bifásico haverá um bom ganho de sensibilidade da unidade 51Q para faltas que possam ocorrer na rede. 4. Para finalizar, é feita a coordenação da curva da unidade de sobrecorrente de seqüência negativa com as curvas dos equipamentos a jusante do relé. No entanto, deve ser observado a necessidade de fazer um alinhamento das curvas tempo x corrente dos equipamentos envolvidos, uma vez que, a depender do tipo do tipo falta analisada, um elemento atuará com base a corrente de fase, elos fusíveis por exemplo, e a unidade 51Q atuará pelo quantitativo 3I2 existente na corrente de falta. 3. EXEMPLO DE APLICAÇÃO: ATIVAÇÃO DA UNIDADE DE SOBRECORRENTE DE SEQÜÊNCIA NEGATIVA DA PROTEÇÃO GERAL DO ALIMENTADOR 01S2- BCA A subestação Boa Cica está localizada próxima a faixa litorânea do Rio Grande do Norte e possui dois alimentadores: 01S1-BCA e 01S2-BCA. O alimentador 01S2-BCA atende cargas consideradas rurais como os povoados de Boa Cica, Bebida Velha, Santa Luzia, Punaú e Catolé. Além dessas cargas, também atende à RD (Rede de Distribuição) de Rio do Fogo, área de praia em crescente 2/7

desenvolvimento. A Figura 1 mostra o alimentador georeferenciado, em escala aproximada, dando uma visão panorâmica dos povoados e dos principais equipamentos de proteção. Figura 1 - Alimentador 01S2 da Subestação Boa Cica Extraído do Sistema de Informação Georeferenciada da COSERN GeoRede O alimentador 01S2-BCA é extenso, apresentando baixos níveis de curtos-circuitos, o que dificulta a elevação do TAP da unidade 51 de fase do relé associado ao religador 21S2-BCA com a finalidade de liberar uma demanda considerável, permitindo, o crescimento vegetativo do alimentador e, em condições de contingências, receber carga da Subestação Zabelê ZBL, através do alimentador 01Z4- ZBL, mantendo-se a com sensibilidade para a detecção de faltas na rede adequada. A seguir, serão mostradas e discutidas três situações distintas: uma situação atual, em que o ajuste da proteção geral do alimentador apresenta tap de fase igual a 180 A e duas situações futuras: elevação do tap da unidade de fase de 180A para 240A e a ativação da unidade de sobrecorrente de seqüência negativa, tap igual a 280A, conservando o tap da unidade 51 de fase em 240A. 3/7

Figura 2 - Diagrama Unifilar Simplificado do Alimentador 01S2 da SE Boa Cica para Análise e Ativação da Unidade de Sobrecorrente de Seqüência Negativa Na situação atual, o ajuste do relé associado ao religador 21S2-BCA apresenta tap da unidade 51 de fase igual a 180A, com uma folga de 39,6% - base de proteção (162A) em relação a corrente de carga máxima medida (Icmedida = 116A). A Tabela 1 mostra que com o tap de fase ajustado em 180A a sensibilidade na retaguarda para curtos-circuitos bifásicos no final do alimentador já está comprometida, ou seja, quando da indisponibilidade do religador instalado no ponto 39 há um baixo múltiplo para a corrente de falta bifásica vista pelo religador da subestação. Tabela 1 - Múltiplos da Corrente de Pick-up (Ajustada em 180A) da Unidade de Sobrecorrente de Fase do relé associado ao religador da subestação para as Correntes de Curtos-circuitos entre fases Múltiplos da corrente de pick-up para Ponto curtos-circuitos entre fases Icc_3f Icc_2f 19 2,04 1,77 29 2,29 1,99 56 1,57 1,37 Como já era de se esperar, elevando-se o tap de fase de 180A para 240A, limite suportável pelo cabo 1/0 CAA, visando liberar uma carga de 216A e permitir que este alimentador assuma cargas do alimentador 01Z4-ZBL, a situação piora ainda mais, já que a sensibilidade ficaria ainda mais comprometida, conforme mostra a Tabela 2. 4/7

Tabela 2 - Múltiplos da Corrente de Pick-up (Ajustada em 240A) da Unidade de Sobrecorrente de Fase para as Correntes de Curtos-circuitos entre fases Múltiplos da corrente de pick-up Ponto para curtos-circuitos entre fases Icc_3f Icc_2f 19 1,53 1,33 29 1,72 1.5 56 1,18 1 As curvas dos equipamentos de proteção BCA-01S2-N1 (Religador de linha telecomandado), BCA- 21S2 (Proteção geral do alimentador com a corrente de pick-up ajustada em 240A) e BCA-11T1 (Disjuntor geral da subestação), estão mostradas no coordenograma da Figura 3. Figura 3 - Coordenograma com as curvas das unidades 51 de fase, sem a ativação da unidade de seqüência negativa do religador 21S2-BCA Percebe-se que a coordenação e seletividade entre os equipamentos foram alcançadas, como mostra a Figura 3, porém, além do religador 21S2 BCA não possuir sensibilidade adequada também apresenta um tempo de atuação bastante elevado, em torno de 20 s, para curtos-circuitos bifásicos no final do alimentador. Para melhorar o ajuste do religador 21S2-BCA propõe-se manter o tap da unidade 51 de fase em 240A e ativar a unidade de sobrecorrente de seqüência negativa com tap ajustado em 280A - folga da ordem de 39% entre na relação I2/I51_fase do ajuste da proteção do religador 21S2-BCA de proteção geral do alimentador. A Tabela 3 mostra que houve uma melhoria significativa da sensibilidade para os curtos-circuitos bifásicos. 5/7

Tabela 3 - Múltiplos da Corrente de Pick-up (Ajustada em 240A) da Unidade de Sobrecorrente de Fase e da Corrente de Pick-up (Ajustada em 280A) da Unidade de Sobrecorrente de Seqüência Negativa para as correntes de curtos-circuitos entre fases Múltiplos da corrente de pick-up Ponto para curtos-circuitos entre fases Icc_3f (51F) Icc_2f (51Q) 19 1,53 1,97 29 1,72 2,21 56 1,18 1,5 Mesmo assim, observa-se através da Tabela 3 que a sensibilidade do religador 21S2-BCA para curtoscircuitos trifásicos no final do alimentador fica comprometida, porém considerando que os curtoscircuitos trifásicos são raros e, ainda, que o equipamento só deverá atuar quando da indisponibilidade do religador de linha para um defeito no final do alimentador, torna-se tecnicamente viável a aplicação do procedimento. A curvas dos equipamentos, após habilitada a unidade 51Q do 21S2-BCA, são mostradas através do coordenograma da Figura 4 onde a unidade 51Q está alinhada para correntes de falta bifásicas. Figura 4 - Coordenograma com as curvas das unidades 51 de fase, com a ativação da unidade de seqüência negativa do religador 21S2-BCA Pode-se observar pela Figura 4 que houve um ganho bastante significativo no tempo de atuação do religador, reduzindo-se de 20 s para aproximadamente 2,5 s em faltas bifásicas no final do alimentador, ajustando-se apenas a curva Normalmente Inversa padrão IEC da unidade 51Q, de modo a obter coordenação com as curvas dos equipamentos a jusante do 21S2-BCA. 6/7

Já habilitada a unidade 51Q, pode-se perceber facilmente pela Tabela 4 que considerando para o alimentador um crescimento de 5% a.a., num horizonte de cinco anos, no final do 5º ano, com o tap da unidade 51 de fase ajustado em 240A, o religador ainda apresentará uma folga de 62% em relação a corrente de carga máxima planejada. Nessas condições, o ajuste permitirá ao 21S2-BCA receber carga proveniente do alimentador 01Z4-ZBL, dando mais confiabilidade ao sistema com sensibilidade adequada. Tabela 4 - Correntes de carga do alimentador 01S2-BCA considerando um crescimento planejado de 5% ao ano, num horizonte de 5 anos 1º Ano 2º Ano 3º Ano 4º Ano 5º Ano Ic_01S2-BCA (A) 122 128 134 141 148 Quanto ao aspecto econômico, é indiscutível o ganho obtido com a ativação da unidade de sobrecorrente de seqüência negativa, disponível nos relés digitais sem nenhum custo adicional. Por exemplo, caso esse recurso não estivesse disponível no relé associado ao religador 21S2-BCA seria necessária a instalação de um religador de linha telecomandado para viabilizar o atendimento a demanda de crescimento do alimentador, sem comprometer as condições de contingências, já que o alimentador precisa receber carga do 01Z4-ZBL. Isso significa postergar um investimento, por pelo menos cincos anos, da ordem de R$ 58.000,00, conforme mostra a Tabela 5. Tabela 5 - Custos referentes a aquisição e instalação de um religador telecomandado com trabalho em linha viva Custo de um religador Telecomandado Novo R$ 50.000,00 Instalação do Religador Telecomandado R$ 8.000,00 Custo total R$ 58.000,00 A COSERN já habilitou a unidade de sobrecorrente de seqüência negativa em mais de 100 relés associados a religadores 13,8kV, as quais foram ativadas por se tratar de alimentadores extensos, apresentando baixos níveis de curtos-circuitos. Admitindo-se que seria necessária a instalação de religadores em pelo menos 75% dos alimentadores para manter a mesma sensibilidade com a ativação da unidade 51Q haveria a necessidade de pelo menos 75 novos religadores. Assim, estaremos postergando, em pelo menos cinco anos, um investimento da ordem de R$ 4.350.000,00. 4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES A metodologia mostrou-se eficiente, já que ao longo de dois anos não foi verificado nenhum problema de descoordenação envolvendo a unidade de sobrecorrente seqüência negativa. A COSERN já está estendendo a aplicação da metodologia a outros alimentadores considerados extensos e, também, já faz parte de um requisito para a compra de novos relés digitais para proteção de alimentadores que estes possuam a unidade de sobrecorrente de seqüência negativa disponível. Recomenda-se, antes de aplicar a técnica, verificar o grau de desequilíbrio máximo da carga, além de prever todas as situações as quais possam causar desequilíbrio considerável no sistema, podendo provocar a atuação do religador. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 Schweitzer III, Edmund O. Coordenação e Aplicação do Elemento de Sobrecorrente de Seqüência Negativa na Proteção da Distribuição. Pullman / Washington. 2 Schweitzer III, Edmund O. Renascimento das Grandezas de Seqüência Negativa na Proteção da Distribuição. Pullman / Washington. 3 Sousa, Dilson Andrade de. Chaves-fusíveis by-pass de Religadores 13,8kV. XVI SENDI, Brasília / DF, 2004. 7/7