Rosane A. de Sousa Martins Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM, Brasil



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Transcrição:

RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE NO BRASIL: PROPOSTA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE PARA O FORTALECIMENTO DO SUS RESIDENZA MULTIPROFESSIONALE IN SANITÁ IN BRASILE: PROPOSTA DI EDUCAZIONE PERMANENTE PER IL RAFFORZAMENTO DEL SUS Marta Regina Farinelli Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM, Brasil Rua: Carmelita Rezende, 124 Apto 103 bloco D- CEP 38.081.480 Uberaba- MG-Brasil Email: martafarinelli@gmail.com 55 (34) 33160025 Rosane A. de Sousa Martins Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM, Brasil Ana Jecely Alves P. Lima Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM, Brasil Priscila Maitara Avelino Ribeiro Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM, Brasil RESUMO O presente trabalho apresenta considerações dos Programas de Residência Multiprofissional no Brasil e sua proposta de educação permanente para o fortalecimento do SUS. O objetivo é compreender como se efetiva a implantação destes programas, bem como a educação permanente como processo educativo, além de identificar a relevância das tecnologias leves no processo de formação profissional. Utilizou-se revisão de literatura, pesquisa documental e estudo de caso. Destarte, os Programas de Residências Multiprofissionais destacam enquanto política pública de formação para o SUS que necessita ser debatida e fortalecida para que atenda seu real papel. Palavras-chave: saúde, tecnologias em saúde, residência multiprofissional, sistema público de saúde, formação profissional. RIASSUNTO Il seguente lavoro presenta le considerazioni dei programmi di residenza multiprofessionale in Brasile e la sua proposta di educazione permanente per il rafforzamento del SUS. L obbiettivo é comprendere come si effettua l impianto di questi programmi,cosí come l educazione permanente come processo educativo,oltre che identificare la rilevanza delle tecnologie lievi nel processo di formazione professionale. Utilizzando la revisione dell alfabetizazione,la ricerca documentata e lo studio del caso. Quindi i programmi delle residenze multiprofessionali distaccano quanto la politica pubblica di formazione per il rafforzamento del SUS necessita essere discussa e rafforzata affinché serva al suo reale scopo. Parole- Chiave: salute, tecnologie sanitarie, multi- residence, sistema sanitario pubblico, la formazione professionale. del

1. INTRODUÇÃO O Ministério da Saúde e da Educação no Brasil com o compromisso com a formação dos profissionais em saúde, voltada para a atuação multiprofissional e de acordo com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) determinaram a criação de estratégias de educação permanente em saúde. Dentre estas estratégias destacam-se os Programas de Residência Multiprofissional elaborados em 2005, intensificados a partir de 2009. Estes Programas foram criados por meio da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) a partir das necessidades e realidades locais/regionais de capacitação profissional. Tais programas abrangem as profissões da área da saúde, como: Biomedicina, Ciências Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional. Atualmente, são 6575 residentes pertencentes aos Programas de Residência Multiprofissional, implantados no Brasil. Em 2010, o Programa de Residência Integrada e Multiprofissional em Saúde (RIMS) foi implantado na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), em Uberaba/Brasil. Foi criado por meio da Portaria Interministerial nº 45/MEC/MS de 12 de janeiro de 2007. A RIMS foi construída na UFTM com a parceria dos cursos de Terapia Ocupacional, Enfermagem, Nutrição, Serviço Social, Psicologia, Biomedicina e Educação Física, e com a Secretaria Municipal de Saúde de Uberaba. Trata-se de um curso de pós graduação lato sensu com duração de dois anos, constituído por 5760 horas/atividades sendo 20% teórica e 80% teórico prática e assistência. A RIMS/UFTM prevê atividades de assistência, ensino, pesquisa e extensão tendo como foco as áreas de saúde da criança e adolescente, do adulto e idoso. O programa traz o trabalho interdisciplinar com diversos atores e setores tendo como eixo a atenção à saúde integrada e humanizada. As diretrizes metodológicas do Programa pressupõem a interdisciplinaridade, a

metodologia de problematização e avaliação realizada de forma processual e contínua por meio da atuação de quatro sujeitos: tutor, preceptor, docente e residente. Nesta perspectiva os objetivos do presente estudo se caracterizam em: como se efetiva a implantação dos programas de residência multiprofissional e integrada em saúde no Brasil; compreender a educação permanente como processo educativo e identificar a relevância das tecnologias leves nas abordagens assistenciais dos trabalhadores da saúde, em processo de formação profissional. Esta investigação é a primeira etapa da pesquisa: O impacto dos programas de Residência Multiprofissional em implantados no Estado de Minas Gerais na formação de especialistas em saúde para o Sistema Único de Saúde, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq. Para os procedimentos metodológicos foram realizadas revisão de literatura, pesquisa documental e um estudo de caso tendo como foco o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Universidade Federal do Triângulo Mineiro Uberaba-MG 2. RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE: CONTEXTUALIZAÇÃO BREVE DE UMA POLÍTICA PÚBLICA DE FORMAÇÃO PARA O SUS É preciso reconhecer os avanços significativos que a saúde tem alcançado no que diz respeito à qualidade e acesso, mas, sabe-se também que mesmo depois de intensas lutas e embates para a implantação de Sistema Único de Saúde (SUS) ainda é notório alguns limites, sobretudo, acerca do modelo de assistência, que visa a integralidade da atenção. 1 Foi a partir da década de 1990, com a implantação do SUS e com o movimento de Reforma Sanitária, enquanto direito de acesso universal, que se modificou também a concepção de que para fazer saúde é necessário práticas inovadoras, novas áreas de saberes, que têm como plano central a integralidade na atenção à saúde. Com as mudanças instituídas no modelo de Atenção à saúde no Brasil, e com a aprovação da Constituição Federal de 1988 e suas legislações, a área

da educação em saúde alcança condição de área estratégia no processo de reorganização do modelo assistencial. Desta forma, reconhece-se que a qualificação do SUS está imbricada diretamente no processo de formação dos trabalhadores da área de saúde. Assim, acredita-se que é necessário um amplo processo de mudanças no contexto da assistência e gestão, e principalmente, a construção de uma nova cultura sanitária em defesa da efetivação do SUS. Neste cenário de ampliação da política, é que se insere a Residência Multiprofissional em Saúde. 2 Em 2003 surge a Secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na saúde (SGTES), com uma visão interdisciplinar nos campos da educação e do trabalho. Com ela, a educação permanente, que surge como eixo estruturante para a formação e o desenvolvimento para trabalhadores para atuar na saúde. 3 Outros aspectos relevantes fizeram parte deste cenário como as iniciativas realizadas pelo DGES (Departamento de Gestão da Educação na Saúde), sendo os principais: Programa Nacional de Reorientação da Formação em Saúde (Pró-Saúde); Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (Pet- Saúde); Residência Multiprofissional em Saúde; Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS); Rede Observatório de Recursos Humanos de Saúde e Programa de Valoração dos Profissionais da Atenção Básica (PROVAB). 4 O Programa de Residência Multiprofissional em Saúde constitui uma modalidade de ensino de pós-graduação latu sensu, caracterizado como uma especialização direcionada às profissões multiprofissionais de saúde. Para tanto é necessário que este programa esteja em consonância com os princípios do SUS, com a formação proposta de um modelo de assistência multiprofissional a ser realizado por meio da integração entre ensino, serviço e comunidade, com vistas a promoção articulada entre estas esferas e a gestão tendo como suporte a concepção ampliada de saúde. 5 Neste sentido, os Programas de Residência Multiprofissional, implantados a partir de 2009, induzidos pelo Ministério da Saúde, são reconfigurados como estratégia de formação de recursos humanos para á saúde, contribuindo para a efetivação do SUS e para a construção da integralidade do cuidado na formação em saúde. Ao instituir o Programa Nacional de Bolsas para Residências Multiprofissionais e em Área Profissional da Saúde os Ministérios da Educação

e da Saúde dão um passo importante no processo de consolidação do Sistema de Saúde Brasileiro, na medida em que visam a integração de saberes e práticas que permitam construir competências compartilhadas para a consolidação da educação permanente, tendo em vista a necessidade de mudanças nos processos de formação, de trabalho e de gestão na saúde. 4 3.PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL: EDUCAÇÃO PERMANENTE EM MOVIMENTO A educação permanente é vista como uma prática de ensino aprendizagem (ensinagem), em que todos os atores envolvidos se comprometem com ela, visto que está presente no cotidiano das ações de saúde. E ao mesmo tempo é uma política de educação na saúde tendo como foco o trabalho desenvolvido. Como prática de ensinagem significa a produção de conhecimento a ser realizado pelas instituições de saúde a partir da realidade vivida e experienciada pelos profissionais, gestores e usuários dos serviços de saúde, e oportuniza reflexões, indagações e mudanças. 6 Portanto, a educação permanente em saúde é uma prática pedagógica, um processo educativo que coloca o dia a dia do trabalho, ou da formação em saúde em constante análise. Nesta perspectiva, encontram-se os Programas de Residência Multiprofissional em Saúde, que formam pessoas das diversas áreas do saber, sensíveis às várias dimensões dos processos saúde-doença e com competência e habilidade para efetivar em conjunto com todos os atores envolvidos a prática do cuidado, nas diferentes instancias do SUS, tendo como foco a consolidação da saúde como um direito da população. A proposta dos referidos programas é a necessidade de configurar em seu cotidiano pedagógico: a formação de perfis profissionais e de serviços, a introdução de processos de trabalho diferenciados de acordo com as reais necessidades. Objetiva-se que se discutam temas; assuntos/realidades que gerem a auto análise, a auto gestão, com vistas a construção de espaços coletivos significativos e mudanças institucionais. Nem sempre essa prática é consolidada, pois o dia a dia da Residência é um espaço de tensão, de estranhamento, de (des) acomodação com o que

está posto, proposto, com modelos pré concebidos. E romper com o instituído, com as condições objetivas existentes nos vários espaços de saúde, requer ser propositivo, decifrar a realidade e intervir de forma coerente, de acordo com as demandas encontradas, com vistas à participação coletiva e a integralidade na saúde. Por isto nos Programas de Residências em Saúde a educação permanente está em movimento, sendo construída e reconstruída no cotidiano, com a força, sensibilidade, conhecimento teórico e prático, das pessoas envolvidas. Não é diferente a realidade do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Universidade Federal do Triângulo Mineiro Uberaba Minas Gerais Brasil (RIMS). 4. PROCEDIMENTO METODÓLOGICOS A revisão de literatura teve como alicerce a consulta nas bases de dados: BVS; Bireme, Medline, Lilacs, CAPES e no Scielo. Para tanto utilizou como descritores, os termos/palavras chave saúde, modelos assistenciais de saúde, recursos humanos em saúde e educação permanente em saúde. Com relação à pesquisa documental foi realizada investigação nos sites das Universidades e Institutos que disponibilizam residências multiprofissionais no Estado de Minas Gerais, com o intuito de encontrar documentos como projetos pedagógicos, regulamentos, atas de reuniões entre outros que poderiam subsidiar os estudos. Para os estudos de casos, foram realizadas, pesquisas nos sítios das Universidades bem como leituras e discussões acerca da realidade de cada universidade da região pesquisada no Estado de Minas Gerais, buscando perceber as particularidades, e semelhanças dos programas de Residência de Multiprofissional. 5.RESULTADOS E DISCUSSÕES De acordo com realidades regionais, os programas de residência estão contribuindo para a formação de profissionais competentes, no que concerne à

atuação integrada, multiprofissional e interdisciplinar. Na mesma direção, identifica-se que a formação nestes Programas de Residência tem fomentado o fazer profissional com base nas linhas de cuidado definidas pela Atenção Básica em Saúde, ampliado as perspectivas de humanização em saúde e de efetivação dos princípios da integralidade e universalidade previsto pelo SUS. Destaca-se que o trabalho realizado no cotidiano profissional de forma multiprofissional utiliza-se de ferramentas de alta tecnologia para a condução de diagnósticos e intervenções como ultrassonografia, instrumentos para fazer exames laboratoriais, entre outros. Porém, somados a estas, as tecnologias leves, ou ditas humanas são relevantes no processo de saúde: promoção, prevenção de doenças, recuperação e reabilitação, pois permite a interação entre os sujeitos sociais. Nas ações profissionais a concepção do humano está presente nesta interação, oportunizando alterações significativas no modo de fazer, trabalhar e produzir no campo da saúde. A educação permanente permeia as discussões teóricas e o fazer profissional dos residentes e acredita-se ser uma das estratégias fundamentais para fortalecer os princípios da universalidade e equidade das ações de saúde bem como fomentar a efetivação do direito à saúde pela população. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da utilização das tecnologias leves é possível o residente que se encontra em processo de formação profissional continuada sintonizar o que e como fazer relacionando os aspectos teóricos com a prática, o conhecimento com a possibilidade de contribuir para a transformação da realidade. A dinâmica do cotidiano entre ensino, pesquisa e extensão tendo como foco a atenção integrada e humanizada favorece o desenvolvimento de habilidades para reconhecer as necessidades de saúde da população local e lidar com questões específicas da atenção à saúde do indivíduo, da família e da comunidade. Desta forma, os profissionais de saúde passam a compreender o processo de saúde e de doença, com competência para identificar as condições sociais, econômicas e culturais que interferem no mesmo, assim

como, para atuar de forma multiprofissional, interdisciplinar e integrada em todos os níveis de atenção á saúde. Outro aspecto a considerar é a necessidade de investir efetivamente na formação dos profissionais de saúde para que cada vez mais possam ser materializados os princípios do SUS. No caso dos Programas de Residência Multiprofissional, em especial, é preciso que nas ações cotidianas, denominadas ensino em serviço, seja dado espaço para construções coletivas com foco na gestão da saúde. Almeja-se que os Programas de Residência se preocupem mais com a formação de especialistas críticos, na perspectiva da educação permanente em movimento, para que estes profissionais consigam ter uma visão ampliada de saúde para atuar no Sistema Único de Saúde- SUS. BIBLIOGRAFIA 1.Motta, PR.A gestão contemporânea: a ciência e a arte de ser dirigente. São Paulo: Record; 1998. 2.Rosa, SD, Lopes, RE. Residência multiprofissional em saúde e pós-graduação lato sensu no Brasil: apontamentos históricos. Rev Trab, Educ e Saúde. nov. 2009/fev. 2010;7 (3): 479-98. 3.Haddad, S. Educação de jovens e adultos no Brasil (1986-1998). Brasília, DF: MEC/INEP/COMPED;2002. 4. Ceccim, RB, Ferla, AA. Educação e saúde: ensino e cidadania como travessia de fronteiras. Trab. Educ. Saúde.[Internet] nov.2008/fev.200 [acesso em 2015 jan 29];6(3):443-56. Disponível em: <http://www.revista.epsjv.fiocruz.br/upload/revistas/r219.pdf. 5. Closs, T T. O serviço social nas residências multiprofissionais em saúde: formação para a integralidade? Porto Alegre: Aprris; 2010. 6. Ceccim, RB, Ferla, AA. Educação permanente em saúde. In: Dicionário da educação profissional em saúde. Rio de Janeiro: EPSJV; 2006.