CRENÇAS SOBRE O PROCESSO ENSINO/APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA EM ESCOLA PÚBLICA: ENTRAVES E CONTRIBUIÇÕES

Documentos relacionados
CRENÇAS QUE ALUNOS DE LETRAS PORTUGUÊS/INGLÊS MANIFESTAM A RESPEITO DO PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

CRENÇAS E EXPERIÊNCIAS DE APRENDENTES DO ENGLISH CLUB

LEITURA, APRENDIZAGEM E CIDADANIA: LEITURA NA ÁREA DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA COMO DE PROMOÇÃO DE APRENDIZADO DO CONTEÚDO E FORMAÇÃO DE CIDADÃOS CRÍTICOS

José Veranildo Lopes da COSTA JUNIOR 1 Josilene Pinheiro MARIZ 2

ENSINANDO UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA PARA ALUNOS SURDOS: SABERES E PRÁTICAS

O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA VISÃO DOS (AS) MESTRANDOS (AS) DO PROFLETRAS/CH/UEPB

COLEÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS DE INGLÊS: O PROCESSO DE SELEÇÃO FEITO PELO CURSO DE LINGUAS PARA COMUNIDADE (CLEC) DA UEPG.

PALAVRAS-CHAVE Inglês como Língua Franca. World English. Ensino/Aprendizagem.

O Perfil do Curso de Português para Estrangeiros na UFMG

LINGUÍSTICA APLICADA AO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA

A produção textual como prática social e funcional

O USO DOS GÊNEROS TEXTUAIS MÚSICA E RESUMO NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA

O LIVRO DIDÁTICO ENSINA A LER? A FORMAÇÃO DO LEITOR NAS AULAS DE LÍNGUA INGLESA

LIVRO DIDÁTICO X VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

Crenças linguísticas e políticas linguísticas: reflexões com professores em formação

ENSINAR CIÊNCIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: REPENSAR O CURRÍCULO. Andreia Cristina Santos Freitas 1 Roziane Aguiar dos Santos 2 Thalita Pacini 3 INTRODUÇÃO

COMO SER UM PROFESSOR AUTÔNOMO? DA TEORIA À PRÁTICA, REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE ALEMÃO COMO LE

O PAPEL DOS ESTUDOS SOBRE CRENÇAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES O PAPEL DO GRUPO DE ESTUDOS

PALAVRAS-CHAVE World English. Ensino de Inglês. PIBID. Multiletramento.

ITINERÁRIOS DE PESQUISA: POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO E PRÁXIS EDUCACIONAIS

Letras Língua Inglesa

CRENÇAS SOBRE O ENSINO DE INGLÊS NA ESCOLA PÚBLICA: UMA ANÁLISE DOS ESTUDANTES INGRESSANTES NO IFMT EM 2015

- estabelecer um ambiente de relações interpessoais que possibilitem e potencializem

Apêndice A Questionários

ENSINO DE LÍNGUA E ANÁLISE LINGUÍSTICA: PRESCRUTANDO OS DOCUMENTOS OFICIAIS

ANEXO I UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE UNIVILLE COLÉGIO DA UNIVILLE PLANEJAMENTO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

CURSO PÓS-GRADUAÇÃO EDUCAÇÃO INFANTIL

Green ideas to preserve the planet: Environmental Literacy?

PLANO DE TRABALHO DOCENTE 1º Semestre/2015. Ensino Médio

A FORMAÇÃO E A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE LÍNGUA INGLESA: CONCEPÇÕES, ATITUDES E CRENÇAS.

A VISÃO DA DISCIPLINA DE FÍSICA PELA ÓTICA DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DO IFPI Apresentação: Pôster

PRÁTICAS SOCIAIS DE LEITURA E ESCRITA NO ESPAÇO ESCOLAR: REFLEXÕES A PARTIR DE UMA ESCOLA DO CAMPO

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA SALA DE AULA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIAS NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA

PALAVRAS-CHAVE crenças; formação de professores; ensino-aprendizagem de língua.

Letras Língua Francesa

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARFOR

Subprojeto Letras - Inglês. Profa. Neuda Lago

Letras Língua Inglesa

1.1 Os temas e as questões de pesquisa. Introdução

A APLICABILIDADE DOS GÊNEROS DISCURSIVOS NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E NUCLEO CENTRAL DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DOCENTES

DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: TECNOLOGIA ASSISTIVA E A COMUNICAÇÃO

A MATEMÁTICA E O ALUNO SURDO: INCLUSÃO, DESAFIOS E ESTRATÉGIAS NO CAMINHO DA APRENDIZAGEM

Letras Língua Inglesa

Acompanhamento Fonoaudiológico Para Crianças Com Dificuldades. de Aprendizagem

Letras Língua Inglesa

BNCC e a Educação Infantil

A DIVERSIDADE LINGUÍSTICA NA PRÁTICA: TRABALHANDO COM PEÇAS TEATRAIS

SEMESTRE/ANO: 1 /2011 EMENTA: Concepções de língua e linguagem. Teorias de aquisição de primeira língua e segunda língua.

ANEXO I MODELO DE PROJETO DE ENSINO

EXTENSÃO DE ESPANHOL

7º, 8º e 9º anos Via A º, 8º e 9º anos Via B Objetivos Curriculares Prioridades de ação dos Planos Curriculares...

(RE) PENSANDO O GÊNERO TEXTUAL MÚSICA NA AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO MÉDIO: PROVOCAÇÕES DISCURSIVAS

O MEIO LÚDICO COMO ESTRATÉGIA EM SALA DE AULA: JOGO EDUCATIVO SOBRE FONTES DE ENERGIA NO COTIDIANO

CURSO PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL

O USO DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA POR PROFESSORES NO ENSINO FUNDAMENTAL

A ALFABETIZAÇÃO E A FORMAÇÃO DE CRIANÇAS LEITORAS E PRODUTURAS DE TEXTOS¹. Aline Serra de Jesus. Graduanda em Pedagogia

tecnologia na escola limita-se, portanto, basicamente aos serviços de secretaria. Na segunda etapa, as escolas inserem parcialmente as tecnologias ao

GÊNEROS TEXTUAIS: A PRÁTICA DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS NA AULA DE LP

PLANO DE AULAS. P3) Montagem de painel criativo com o tema educação ambiental e ocupação urbana. Valor 10 pontos.

O CURRÍCULO ESCOLAR EM FOCO: UM ESTUDO DE CASO

09/2011. Formação de Educadores. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

PERSPECTIVAS DO PLANEJAMENTO NO ENSINO FUNDAMENTAL PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

FRACASSO ESCOLAR NA ALFABETIZAÇÃO/LETRAMENTO

Fundamentos para um Ambiente Computacional. para o. Ensino a Distância de Língua Estrangeira

PALAVRAS-CHAVE Línguas estrangeiras. Formação de Professores. Comunidade

CONTEÚDO ESPECÍFICO DA PROVA DA ÁREA DE LETRAS GERAL PORTARIA Nº 258, DE 2 DE JUNHO DE 2014

DIFICULDADES RELATADAS POR ALUNOS DO ENSINO MÉDIO NO PROCESSO DE ENSINO DE QUÍMICA: ESTUDO DE CASO DE ESCOLAS ESTADUAIS EM GRAJAÚ, MARANHÃO 1

MODELAGEM MATEMÁTICA: UMA ALTERNATIVA PARA O ENSINO/APRENDIZAGEM

Amauri de Oliveira Jesus Universidade do Estado da Bahia

Título: Future Teachers

Resenha em vídeo. Trabalho de gramática e texto

O JOGO COMO RECURSO METODOLÓGICO PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS

Repensando o Ensino do Português nas Universidades. Prof. Oscar Tadeu de Assunção

Eduardo Carlos Almeida de Lima; Wesley Michael Pereira Silva; Rúben Félix da Silva; Maria Lucivânia Souza dos Santos

A DISCIPLINARIZAÇÃO DA REDAÇÃO NA EDUCAÇÃO BÁSICA: UMA ABORDAGEM INICIAL. Resumo

LISTA DE TRABALHOS APROVADOS

LIBRAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: CURRÍCULO, APRENDIZAGEM E EDUCAÇÃO DE SURDOS

Da Educação Infantil ao Simulados Pré-vestibular, o Sistema de Ensino Poliedro oferece coleções de livros didáticos elaborados por autores

AVALIAÇÃO. Educação Orientada para Resultados (EOR/OBE)

A UTILIZAÇÃO DA PRONÚNCIA ESCRITA NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA

Práticas linguísticas, currículo escolar e ensino de língua: um estudo inicial.

O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA EM CENTROS DE FORMAÇÃO POR ALTERNÂNCIA NO SUDOESTE DO PARANÁ: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES

Letras língua Espanhola

Projeto de curso: Elaboração de Multimeios

MÍDIAS NA EDUCAÇÃO: COMO TRABALHAR O JORNAL NO ESPAÇO ESCOLAR

OS DIFERENTES TIPOS DE CORREÇÃO TEXTUAL NAS PRODUÇÕES ESCRITAS DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE GOIÁS

O ENSINO DA GEOGRAFIA DA PARAÍBA E A ABORDAGEM DO LUGAR E DA ANÁLISE REGIONAL NO ESTUDO DA GEOGRAFIA DO ESTADO NO ENSINO BÁSICO.

EDUCAÇÃO INFANTIL OBJETIVOS GERAIS. Linguagem Oral e Escrita. Matemática OBJETIVOS E CONTEÚDOS

A IMPORTÂNCIA DAS ESTRATÉGIAS DE LEITURA NO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA

FUNDAÇÃO CARMELITANA MÁRIO PALMÉRIO FACIHUS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS Educação de qualidade ao seu alcance

RELATO DE EXPERIÊNCIA: UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA EM LÍNGUA INGLESA POR MEIO DOS GÊNEROS TEXTUAIS: MÚSICA E BIOGRAFIA

Resenha. Narrativas, crenças e experiências de aprender inglês

1. A comunicação e a argumentação em sala de aula

Oficina. Ensino com excelência para não restar dúvidas.

CONCEPÇÕES DOS PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL 1 DO IPOJUCA SOBRE A IMPORTÂNCIA DE ENSINAR EDUCAÇÃO FINANCEIRA

RELATÓRIO FINAL DE PROJETOS DE EXTENSÃO - PBAEX PERÍODO DE REALIZAÇÃO: DURAÇÃO DIAS DA SEMANA INÍCIO

AS DIFICULDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA NO CONTEXTO DO PROJOVEM URBANO NO MUNICÍPIO DE PATOS PARAÍBA

As contribuições das práticas laboratoriais no processo de Ensino-Aprendizagem na área de Química

7. Uma análise final sobre os meus resultados

Transcrição:

CRENÇAS SOBRE O PROCESSO ENSINO/APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA EM ESCOLA PÚBLICA: ENTRAVES E CONTRIBUIÇÕES Keila Mendes dos Santos Mestranda em Cultura, Educação e Linguagens pela Univ. Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) E-mail: keumendes@hotmail.com Palavras-chave: Professor/Aluno. Crenças. Aprendizado de idiomas. Escola Pública. Introdução Considerando que a língua inglesa tem sido amplamente difundida e estudada em diversos países, principalmente entre aqueles que não a tem como língua materna e que o conhecimento desta língua, atualmente, tem sido necessário para se obter um acesso mais intenso e significativo aos meios científicos e tecnológicos, percebe-se que o inglês hoje não é apenas um diferencial na vida profissional frente às oportunidades empregatícias, como também, um instrumento essencial para se obter informações de maneira mais rápida e ter acesso aos mais modernos e eficientes meios de comunicação, favorecendo uma interligação e comunicação entre os mais diversificados lugares do globo. Entretanto, sabe-se que a realidade das escolas públicas regulares não oferece condições adequadas como tempo e material didático-pedagógico suficiente e apropriados para um bom aprendizado comunicativo de uma língua estrangeira (BRASIL, 1998), levando os alunos e também os professores a questionarem sobre as possibilidades do aprendizado de idiomas fora de cursinhos de línguas, ou seja, no ambiente da escola pública regular, difundindo-se assim crenças positivas e negativas sobre este ensino. Muitos autores discutem sobre o conceito de crença no aprendizado de línguas como Barcelos (2006), Alvarez (2007), Leffa (2001), alguns evidenciando o papel do outro e das relações sociais na propagação ou redução das posturas e expectativas negativas, ressaltando que neste trabalho, enfatiza-se o conceito de crença apresentado por Barcelos (2007) associado à interação e a troca de experiências. Para essa autora Crenças são uma forma de pensamento, construções da realidade, maneiras de ver e perceber o mundo e seus fenômenos, co-construídos em nossas

experiências resultantes de um processo interativo de interpretação e resignificação. Como tal, crenças são sociais, mas também, individuais, dinâmicas, contextuais e paradoxais (BARCELOS, 2007, p. 15). O professor, frente a esse aspecto, assume uma postura relevante a partir do discurso enfatizado frente aos estudantes, implicando em direcionamentos para as opiniões dos mesmos e consequentemente em identidades moldadas a partir da forma que o professor ver e interfere na realidade. As crenças e opiniões que os alunos normalmente demonstram com relação ao aprendizado de língua e que comumente adotam como falas suas, são impressões adquiridas a partir do convívio com seus grupos sociais e ainda com colegas e professores. Objetiva-se assim neste estudo, investigar quais são as crenças apresentadas pelos estudantes, bem como analisar de que forma essas crenças contribuem ou interferem no aprendizado da língua inglesa. O ensino de língua inglesa na escola pública atual Considerando que o ambiente selecionado para este estudo contempla uma escola pública de ensino fundamental, faz-se aqui algumas considerações sobre o ensino de língua inglesa neste espaço. Atualmente o ensino de língua inglesa na escola pública não distancia muito dos problemas apresentados em décadas anteriores, principalmente em aspectos relacionados à carga horária, material didático-pedagógico e formação do profissional de língua estrangeira. Segundo Siqueira (2009) Apesar de os excelentes documentos oficiais brasileiros como os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) e Orientações Curriculares para o Ensino médio (2006) darem a importância devida à aprendizagem de LE defendendo a formação de um cidadão autônomo e participativo (...) a realidade, infelizmente, demonstra que a disciplina continua cercada de grande desprestígio. Além disso, deixou de ser novidade a grande desvalorização das línguas estrangeiras no currículo de ensino fundamental e médio, fluindo da não obrigatoriedade do passado para a carga horária esquálida do presente (SIQUEIRA, 2009, p. 231). A formação desse cidadão autônomo de participativo previsto pelos documentos legais vê-se comprometida pela carga horária reduzida, (90 minutos semanais), e ausência de

material e suporte didático adequado que impede o professor de realizar um trabalho que aborde as quatro habilidades, ler, escrever, ouvir e falar, na LE. Os PCN s, embora trabalhem com uma visão sociointeracional do ensino de línguas estrangeiras que favoreça ao aluno um engajamento discursivo seja ele via oral ou escrito, defende uma visão de ensino de LE na escola pública com ênfase na habilidade de leitura, entendendo que no cenário brasileiro o domínio dessa habilidade tem caráter mais relevante por ser algo com que os estudantes possuem mais contato devido ao fato de a língua inglesa não ser falada oficialmente no país. Entretanto, ao tempo em que o documento destaca que (...) considerar o desenvolvimento de habilidades orais como central no ensino de LE no Brasil não leva em conta o critério de relevância social para a sua aprendizagem (BRASIL, 1998, p. 20), ele também afirma que Para ser um participante atuante é preciso ser capaz de se comunicar. E ser capaz de se comunicar não apenas na língua materna, mas também em uma ou mais línguas estrangeiras (BRASIL, 1998, p. 38). Frente a essa dualidade, a realidade que se encontra nas escolas públicas tende para outra vertente, deparando-se com professores sem preparação adequada para trabalhar com a função comunicativa em LE (ALMEIDA FILHO, 1993) e estudantes sem conteúdo linguístico significativo para realização de leituras e entendimento de textos na LI, sendo o ensino centrado em estrutura gramatical e vocabular descontextualizada que não motivam nem apresentam relevância para os alunos. Essa situação de precariedade deve-se à ausência de diretrizes estáveis e seguras que facilitem o trabalho dos professores dessa disciplina e os auxiliem na forma de condução do ensino do idioma e forneçam formação apropriada para os professores que não foram adequadamente orientados pelas faculdades de letras ou mesmo àqueles que pertencem a outras áreas de ensino e se vêem forçados a trabalhar com o idioma para completar a carga horária de trabalho (ALMEIDA FILHO, 1993). Faz-se necessário considerar que o conhecimento de uma língua estrangeira na contemporaneidade globalizada, requer bem mais que habilidades de leitura e/ou domínio de aspectos gramaticais apreendidos para serem utilizados em exames vestibulares ou outros tipos de seleção que visem anseios pessoais imediatos. Com as políticas linguísticas e a geopolítica, questões relativas à língua passaram a ser vistas não somente sob a ótica da linguagem, mas também, levando-se em consideração fatores políticos e ideológicos, capazes de estender as influências e a necessidade de conhecimento de uma língua, como é o caso do inglês, para lugares além de suas fronteiras

geográficas. As considerações geopolíticas transformaram a língua inglesa em instrumento necessário nessa nova visão de mundo na qual a tecnologia ocupa o lugar central e o conhecimento age como mediador na comunicação entre as nações, sendo fundamental um ensino que abarque os múltiplos aspectos da linguagem e que favoreça a comunicação efetiva na língua inglesa. Crenças sobre ensino aprendizagem de línguas estrangeiras Os estudos sobre crenças no Brasil, embora sejam ainda recentes tem se expandido de maneira significativa ampliando as contribuições para o entendimento da forma que os alunos percebem e reagem frente ao processo ensino /aprendizado de uma língua estrangeira (inglês), bem como fatores que direcionam e justificam as posturas adotadas pelo professor na sala de aula, principalmente as metodologias utilizadas. Segundo Barcelos (2004), o interesse por crenças na Linguística Aplicada (LA) surgiu de uma mudança de visão sobre o aprendizado de línguas que tinha como enfoque principal a linguagem enquanto produto, para uma maior ênfase no processo, passando a destacar o papel do aprendiz. A partir dessa mudança de visão passa-se perceber o aprendiz como uma pessoa completa com dimensões comportamentais, cognitivas, afetivas, sociais, experimentais, estratégicas e políticas (FREEMAN, 1998 apud BARCELOS, 2004). Barcelos (2003) divide os estudos de crenças em três momentos, três abordagens considerando-se as metodologias e instrumentos utilizados para a coleta e análise das crenças ao longo do processo de investigação. Seus estudos complementam os de Kalaja (2003) que destaca somente duas abordagens dentro de tais estudos, sendo elas a metacognitiva e a discursiva. Barcelos (2003), por sua vez, destaca a abordagem normativa, a metacognitiva e a contextual que abarca também a discursiva. A autora destaca que esse agrupamento das abordagens foi organizado tomando-se como referencial além das metodologias aplicadas aos estudos, as relações estabelecidas entre crenças e ações e as vantagens e desvantagens apontadas por cada uma das abordagens, salientando-se que neste trabalho faz-se uso da abordagem contextual. Nessa abordagem, há uma nova visão sobre os estudos de crenças na qual o contexto faz-se de extrema relevância, pois é nele que a interação e as experiências dos estudantes acontecem.

Metodologia e contexto da pesquisa O processo de investigação nesta pesquisa centra-se no ambiente da sala de aula de língua estrangeira e no aprendizado de um segundo idioma. Como metodologia o trabalho contempla um estudo de caso, não apresentando hipóteses a serem testadas por ter como base a abordagem qualitativa e o paradigma interpretativista. O ambiente selecionado para o estudo foi uma escola pública municipal de pequeno porte em Caetité, BA, tendo como sujeitos da pesquisa 3 estudantes da 7ª série do ensino fundamental. Para análise e discussão dos dados nesta pesquisa, optou-se por fazer uma triangulação com os dados obtidos a partir das notas de campo das observações das aulas, com as narrativas de aprendizagem dos alunos e com as respostas da entrevista oral. Análise e discussão dos dados A partir da análise das narrativas e das entrevistas, optou-se por dividir as informações apresentadas pelos estudantes em temáticas, de acordo com as crenças identificadas. 1. Importância do ensino de inglês Ao serem questionados sobre a relevância do ensino de inglês, os estudantes destacaram que aprender inglês é importante hoje em dia. Entretanto, embora apontem para essa relevância, os estudantes não veem utilização imediata para o idioma estudado, ou sua relevância no contexto brasileiro como se observa nos excertos que se seguem. S1-Ah, é importante pra viajar, se comunicar com as pessoas. S2- (...) Pra se comunicar, pra ter acesso a informações sobre os Estados Unidos e países que falam inglês. S3- É importante pra arrumar um emprego bom. Para os estudantes, a aprendizagem da língua inglesa é vista como um investimento futuro, algo útil para quando forem ingressar no mercado de trabalho. As pretensões de utilização da língua para viajar para o exterior e ter acesso a informações sobre Estados Unidos e países que falam inglês, demonstram que os alunos não percebem a necessidade de conhecimento dessa língua para utilização no dia-a-dia.

2. Crenças sobre as quatro habilidades (ler /ouvir/falar e escrever) Com relação às quatro habilidades, perguntou-se aos estudantes quais as atividades que eles se identificam mais e se percebem alguma delas mais relevantes que outras. S1 Embora tenha destacado a sua preferência pela leitura considera que escrever é mais relevante, vendo a escrita como uma forma de auxiliar na fala. S2 Afirma suas preferências por atividades que privilegiem a fala, mas acha que escrever é mais importante. S3 Afirma que gosta de ouvir, principalmente músicas, embora afirme que falar é mais importante para se comunicar. Observa-se aqui que, embora as preferências dos estudantes sejam distintas, os fatores que consideram mais relevantes compreendem aspectos da fala. Embora dois dos estudantes não visem a fala como uma de suas preferências, ambos estão de acordo quanto a sua relevância. Destaca-se aqui, como pontua Almeida Filho (1993), a necessidade de se abordar aspectos comunicativos nas aulas de LE. Sobre as preferências por atividades de leituras, associa-se esse fator à centralização do ensino de língua inglesa nesse aspecto, considerados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) como a habilidade que atende as necessidades mais imediatas do estudante brasileiro. 3. Papel do professor Ao serem questionados sobre a forma que consideram que o aprendizado ocorre de maneira mais produtiva, S1 afirma que aprende mais quando o professor explica, quando dá exemplos e tira dúvidas ; S2 diz aprender mais quando a professora dá exemplos no quadro e S3 quando o professor explica. Percebe-se aqui que o professor de língua inglesa é visto pelos estudantes como fator preponderante para o aprendizado. Quanto a essa relevância do professor, os estudantes ainda afirmam que ele ajuda muito explicando o assunto (S3). S2 ainda complementa afirmando que o professor ajuda e com o que ele ajuda eu estudo em casa, sem professor não dá. O professor é ainda enfatizado nas narrativas dos estudantes, considerado como o responsável pelas experiências negativas ou positivas de aprendizagem.

S1 - Eu não aprendia nada com a professora (X) porque ela não explicava bem (...). Ainda bem que a professora (Y) está dando aula para gente porque ela explica muito bem. Essa centralização do professor no processo de aprendizagem dos alunos é considerada para Breen (1998 apud BARCELOS, 2004) como decorrência do monopólio e controle das práticas discursivas por parte do professor em sala. Segundo o autor, através desse controle os professores contribuem para a construção de alunos responsivos e passivos no discurso de sala de aula interferindo assim no processo de estudos autônomos. 4. Autonomia Ao serem questionados sobre a realização de outros estudos sobre a disciplina em casa, os alunos afirmam que, quando o fazem, apenas revisam o conteúdo trabalhado em sala, como se observa nos excertos a seguir. S1- (...) assim, quando tem prova eu estudo. S2- Eu só reviso o assunto. S3- (...) só de vez em quando que olho algumas coisas no livro. Nota-se aqui, que embora os estudantes compreendam o professor como responsável por ajudar, auxiliar no aprendizado, as contribuições dos estudantes para ampliar os seus conhecimentos sobre a disciplina é mínima, limitando seus estudos ao ambiente escolar sob o direcionamento do docente. Considerações finais Por meio deste estudo, considerando-se suas limitações, podem-se perceber algumas das crenças apresentadas pelos estudantes, evidenciando-se aqui a necessidade de rever a forma como se dá o processo ensino/aprendizagem dessa disciplina na escola pública, merecendo maior ênfase um ensino que favoreça a comunicação, vista como um dos objetivos que os aprendizes pretendem alcançar. A centralização do professor no processo de aprendizagem dos alunos é aqui interpretada como um entrave no aprendizado de língua inglesa, pois, ao colocarem o professor como o único responsável pela sua aprendizagem, uma vez que os estudantes

afirmam não apresentar outros estudos sobre a disciplina fora da sala de aula, seu aprendizado acaba sendo limitado, não atendendo as suas expectativas comunicativas. A carga horária reduzida que é destinada à disciplina atualmente, também, não é suficiente para favorecer um aprendizado efetivo da língua, sendo necessário instigar os estudantes à autonomia (SIQUEIRA, 2009). Espera-se que este estudo venha somar a muitos outros já realizados na área, fornecendo subsídios e contribuições para se tentar compreender como os estudantes percebem o seu aprendizado a partir da análise das suas crenças, sinalizando para mudanças possíveis no processo ensino/aprendizagem de língua estrangeira, visto que conhecer a forma que os alunos pensam, as suas crenças e expectativas pode ser um recurso para o professor estruturar e /ou repensar a sua prática. Referências ALMEIDA FILHO, J. C. P. Dimensões comunicativas no ensino de línguas. Campinas: Pontes, 1993. ALVAREZ, Maria Luiza Ortiz; SILVA, Kleber Aparecido (Orgs.). Linguística aplicada: Múltiplos olhares. Brasília, DF: UNB/FINATEC; Campinas: Pontes Editores, 2007. BARCELOS, Ana Maria Ferreira. Researching beliefs about SLA: A critical review. In: KALAJA, P; BARCELOS, A. M. F. (Orgs.). Beliefs about SLA: New research approaches. Netherland: Kleuwer Academic Publichers, 2003.. Crenças sobre aprendizagem de línguas, Linguística Aplicada e ensino de línguas. Linguagem e Ensino, v. 7, p. 123-156, 2004.. Reflexões acerca da mudança de crenças sobre o ensino e aprendizagem de línguas. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 7, n. 2, 2007. BARCELOS, Ana Maria Ferreira; ABRAHAÃO, Maria Helena Vieira (Orgs.). Crenças e Ensino de línguas: foco no professor, no aluno e na formação de professores. Campinas: Pontes Editores, 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua estrangeira. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998. KALAJA, P; BARCELOS, A. M. F. (Orgs.). Beliefs about SLA: New research approaches. Netherland: Kleuwer Academic Publichers, 2003. LEFFA, J. Vilson (Org.). O professor de Línguas estrangeiras: Construindo a profissão. Pelotas: EDUCART, 2001.

LIMA, Diógenes Cândido de (Org.). Aprendizagem de língua inglesa: histórias refletidas. Vitória da Conquista: Edições UESB, 2009. SIQUEIRA, Sávio. A Dor e a Delícia de se aprender Língua Estrangeira. In: LIMA, Diógenes Cândido de (Org.). Aprendizagem de língua inglesa: histórias refletidas. Vitória da Conquista: Edições UESB, 2009.