Associação entre a classificação. venoso dos membros inferiores. CEAP e alterações no Eco-doppler

Documentos relacionados
Jornal Vascular Brasileiro ISSN: Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular. Brasil

Artigo Original. Resumo

Caso Clínico. Aprendendo com Prof. Nicos Labropoulos

Protocolo de Avaliação da Insuficiência Vascular Crónica por Eco-Doppler

Artigo Original. Resumo

AVALIAÇÃO DO REFLUXO EM VEIAS SUPERFICIAIS NA CLÍNICA DA INSUFICIÊNCIA VENOSA CRÔNICA DOS MEMBROS INFERIORES

Ecodoppler Venoso dos Membros Inferiores Ecodoppler Médicos do Sistema Nacional de Saúde. Departamento da Qualidade na Saúde

Jornal Vascular Brasileiro ISSN: Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular. Brasil

ATENDIMENTO E ANÁLISE DO PREFIL EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA VENOSA CRÔNICA EM PONTA GROSSA NO SETOR DE ANGILOGIA E CIRURGIA VASCULAR

Jornal Vascular Brasileiro ISSN: Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular. Brasil

Túlio Henrique Ferreira de Oliveira¹; Fernando Ribeiro Leite Junior²; Gustavo Miná Pinto 3 ; Matheus Andrade de Abrantes 4 ; Ezymar Gomes Cayana 5

Jornal Vascular Brasileiro ISSN: Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular. Brasil

Prevalência do refluxo na veia safena parva em varizes primárias não complicadas dos membros inferiores pelo eco-doppler colorido

Jornal Vascular Brasileiro ISSN: Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular. Brasil

Avaliação da insuficiência da veia safena magna com classificação C2 e C3 (CEAP) pela pletismografia a ar e pelo eco-doppler colorido

AVALIAÇÃO DOS DOENTES COM SUSPEITA CLÍNICA DE TEP COM RECURSO A ANGIO-TC Estudo retrospectivo

AÇÕES DESENVOLVIDAS NO ACOMPANHAMENTO DE PACIENTES DO AMBULATÓRIO DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR

Teste de Valsalva ortostático no refluxo venoso

Prevalência de insuficiência venosa superficial dos membros inferiores em pacientes obesos e não obesos

Eficácia do tratamento cirúrgico das varizes com preservação de veia safena interna

Jornal Vascular Brasileiro ISSN: Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular. Brasil

VARIZES DE MEMBROS INFERIORES. Dr Otacilio Camargo Junior Dr George Kalil Ferreira

É a lesão venosa a única responsável pela clínica da insuficiência venosa crônica dos membros inferiores?

Classificação anatomofuncional da insuficiência das veias safenas baseada no eco-doppler colorido, dirigida para o planejamento da cirurgia de varizes

Glomerulonefrite Membranosa Idiopática: um estudo de caso

A pletismografia a ar avalia a gravidade da insuficiência venosa crônica?

Existe associação entre doenças venosas e nível de atividade física em jovens?

UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES CAMPUS DE ERECHIM DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE ENFERMAGEM

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA DOUTORADO EM PRÓTESE DENTÁRIA

Capacidade Funcional e Bomba Muscular Venosa na Doença Venosa Crónica

I. RESUMO TROMBOEMBOLISMO VENOSO APÓS O TRANSPLANTE PULMONAR EM ADULTOS: UM EVENTO FREQUENTE E ASSOCIADO A UMA SOBREVIDA REDUZIDA.

SABRINA LAISE PIERDONÁ PATRÍCIA DALSASSO FORNAZARI FACULDADE ASSIS GURGACZ- FAG, CASCAVEL, PARANÁ, BRASIL

A pletismografia a ar avalia a gravidade da insuficiência venosa crônica?

Varicose veins surgery of lower limbs. Can we preserve great saphenous vein?

AVALIAÇÃO DA INSUFICIÊNCIA DA VEIA SAFENA MAGNA COM CLASSIFICAÇÃO C2 E C3 PELA PLETISMOGRAFIA A AR E PELO ULTRASSOM COM DOPPLER

Avaliação da telelaringoscopia no diagnóstico das lesões benignas da laringe

DOR EM MEMBROS INFERIORES PATOLOGIAS VENOSAS

Effects of water-exercise versus land-exercise therapy in the management of chronic venous disease a structured exercise protocol

Avaliação do sistema venoso após a ressecção da veia femoral superficial

Duplex Scan. Análise das Imagens

Jornal Vascular Brasileiro ISSN: Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular. Brasil

Como avaliar o impacto da doença venosa crónica na qualidade de vida

Dissertação de mestrado

Alessandra Alcindo de Magalhães Arcanjo

CASO CLÍNICO DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA NÃO ATEROSCLERÓTICA

Palavras-Chave: 1. ESUS; 2. Ressonância magnética cardíaca; 3. Doppler transcraniano; 4. Estenose intracraniana; 5. Microembolia.

PREVENÇÃO DE RECIDIVA DE ÚLCERA VENOSA: um estudo de coorte

VARIZES O PAPEL DO CIRURGIÃO GERAL

RESSALVA. Atendendo solicitação do(a) autor(a), o texto completo deste trabalho será disponibilizado somente a partir de 17/08/2018.

Implementação financeira e o impacto do mutirão de cirurgias de varizes, após a criação do Fundo de Ações Estratégias e Compensação (FAEC)

Investigação Clínica, Epidemiológica, Laboratorial e Terapêutica. Fabiane Noronha Bergonse 1 Evandro Ararigboia Rivitti 2

ARTIGO ORIGINAL. Iara Ballaminut da Silveira 1, Isadora Isis de Oliveira Araújo 1, Melissa Andreia de Moraes Silva 2 RESUMO. Palavras-chave ABSTRACT

Identificação pelo eco-doppler colorido de fístula arteriovenosa na trombose venosa profunda

CLASSIFICAÇÃO GOLD E SINTOMAS RESPIRATÓRIOS EM IDOSOS ESTUDO GERIA

Ana Paula Morbio. Orientador: Prof. Dr. Hamilton Almeida Rollo. Botucatu

Artigo Original INTRODUÇÃO

Adaptação transcultural do questionário VEINES/QOL-SYM: avaliação da qualidade de vida e sintomas na doença venosa crônica

trombótica: tica: epidemiologia, prevenção e tratamento clínico

Avaliação do efeito da meia elástica na hemodinâmica venosa dos membros inferiores de pacientes com insuficiência venosa crônica

Escleroterapia ecoguiada com espuma para tratamento da insuficiência venosa crônica grave

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO PARECER COREN-SP CAT Nº 019/2010

Acesso e acessibilidade em dois centros de diagnóstico pneumológico de Lisboa*

Projeto 1. de. Pesquisa: variáveis. Divisões do Projeto. Objetivos da aula

Artroplastia unicompartimental do joelho Oxford Phase 3 - resultados a médio prazo

1. Legislação em vigor sobre acessibilidade aos cuidados de saúde. Portaria n.º 95/2013. D.R. n.º 44, Série I de

ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ MARIO MARTINS

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

Jornal Vascular Brasileiro ISSN: Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular. Brasil

Tratamento da congestão pélvica associada a varizes dos membros inferiores: relato de uma pequena série de casos

safena magna, na veia safena parva 'Ou em qualquer 'Outra veia da sistema superficial de maneira isalada 'Ou assaciada

Jornal Vascular Brasileiro ISSN: Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular. Brasil

Jornal Vascular Brasileiro ISSN: Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular. Brasil

apresenta CASO CLÍNICO II VIGILÂNCIA DE ENXERTO

Associação entre o Nível de Actividade Física e o Refluxo Venoso dos Membros Inferiores

Trombose Associada ao Cancro. Epidemiologia / Dados Nacionais

DIFUSÃO DA TÉCNICA DA ARTERIALIZAÇÃO DO ARCO VENOSO DO PÉ PARA SALVAMENTO DE EXTREMIDADE COM ISQUEMIA CRÍTICA SEM LEITO DISTAL

LINA MONETTA ANÁLISE EVOLUTIVA DO PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO EM ÚLCERAS DIABÉTICAS, DE PRESSÃO E VENOSAS COM USO DE PAPAÍNA

Úlceras de Perna. Definição Epidemiologia Etiologia Manifestações Clínicas Diagnóstico Diferencial Tratamento 2015 ENF.

Deficiência mental Síndroma de Down Tipos ou classes de Síndroma de Down Etiologia 9

Pé Diabético Epidemiologia Qual a dimensão do problema?

Estudo das variações anatômicas da terminação da veia safena parva pelo eco-doppler colorido

Produção e gestão hospitalar: o caso das ciências laboratoriais

Jornal Vascular Brasileiro ISSN: Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular. Brasil

ASSOCIAÇÃO ENTRE O DESEMPENHO NO HEEL RISE TEST E A GRAVIDADE CLÍNICA DA INSUFICIÊNCIA VENOSA CRÔNICA

1. O exame eco Doppler venoso dos membros inferiores deve ser efetuado em doentes:

De forma a determinar a prevalência das queixas de insónia nos doentes. que recorrem às consultas de clínica geral no Centro de Saúde de Figueiró dos

Artigo Original TUMORES DO PALATO DURO: ANÁLISE DE 130 CASOS HARD PALATE TUMORS: ANALISYS OF 130 CASES ANTONIO AZOUBEL ANTUNES 2

Revista Portuguesa de. irurgia. II Série N. 20 Março Órgão Oficial da Sociedade Portuguesa de Cirurgia ISSN

Ecoescleroterapia de varizes com espuma: revisão de literatura

Patologia arterial Patologia venosa Patologia linfática. Definição e extensão da patologia vascular periférica. Schwartz - Principles of Surgery

INTRODUÇÃO. Nota Técnica

Preservação da veia safena magna na cirurgia das varizes tronculares primárias

Hospital de São Marcos Departamento de Cirurgia Director: Dr. António Gomes

Revista Portuguesa de. irurgia. II Série N. 22 Setembro Órgão Oficial da Sociedade Portuguesa de Cirurgia ISSN

Cirurgia Vascular Codificação Clínica

SOBRECARGA DO CUIDADOR DE DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL E DOENÇA DE ALZHEIMER.

RELATÓRIO ESTATISTICO DOS DADOS RECOLHIDOS NA CAMPANHA MÊS DA SAÚDE ORAL DA COLGATE E SPEMD EDIÇÃO 2011

Transcrição:

ARTIGO ORIGINAL Autor Correspondente Miguel Maia Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/ Espinho EPE Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular Rua Conceição Fernandes 4434-502 Vila Nova de Gaia Telf. 227 865 100 Fax. 227830209 Tlm pessoal: 914927543 Email: miguelopmm@hotmail.com Associação entre a classificação CEAP e alterações no Eco-doppler venoso dos membros inferiores Association between the CEAP classification and Duplex-scan findings Miguel Maia, Joana Ferreira, Sandrina Braga, João Vasconcelos, Pedro Brandão, Alexandra Canedo, Guedes Vaz. Apresentado no Congresso Nacional da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular, Porto 2010, como comunicação oral. A b s t r a c t R E S U M O Objective: The aim of our study was to correlate the clinical manifestations of the CEAP classification with insufficiency at lower extremity venous ultrasound examination. Methods: Eight hundred and six extremities (corresponding to 403 consecutive patients) were evaluated by vascular ultrasonography during the investigation of chronic venous insufficiency. Results: Mean age of 46,8 years-old, 360 women and 43 men. There was a statistically significant difference between symptomatic patients according to gender, 62,5% women versus 44,2% men (p <0,001). Patients with 60 years-old were also more frequently classified as symptomatic (p <0,001) A symptomatic C class was more often attributed to limbs with great saphenous vein and medial leg perforators insufficiency. The extremities classified as asymptomatic, C1a and 2a, presented medial leg perfora- Objectivos: Correlacionar as manifestações clínicas da classificação CEAP com as alterações no Eco-Doppler venoso dos membros inferiores. Material e métodos: Foram avaliados 806 membros (403 doentes consecutivos), submetidos a Eco-Doppler venoso dos membros inferiores no decurso da investigação de insuficiência venosa crónica. Resultados: Média de idades de 46,8 anos, 360 mulheres e 43 homens. Constatou-se uma diferença entre o número de doentes sintomáticos conforme o género, 62,5% mulheres versus 44,2% homens (p<0,001). Doentes com idade 60 anos também foram mais frequentemente classificados como sintomáticos (p<0,001). A atribuição de uma classe C sintomática correlacionou-se com insuficiência da veia grande e de perfurantes da perna (p<0,001). Angiologia e Cirurgia Vascular Volume 6 Número 4 Dezembro 2010 195

tors insufficiency in only 36,4%, opposing to 64,9% of insufficiency in limbs classified as C0s, C1s and C2s, 76% in limbs graded C3s and C4s and to 100% of the limbs classified as C5s and C6s (p <0,001). In 20,5% of the extremities graded as C3s there was deep venous insufficiency on ultrasound, whereas in the other extremities only 5,2% had deep venous insufficiency. (p <0.001;OR:4,686). Conclusions: Symptomatic patients were more frequently women with 60 years-old. Great saphenous vein and medial leg perforators insufficiency correlated with the presence of symptoms. There was a significant association between medial leg perforators insufficiency and the severity of the clinical manifestations of CEAP classification. Deep venous insufficiency was more frequent in extremities classified as C3s. Key Words ceap classification chronic venous insufficiency clinical picture echo-doppler Membros classificados como assintomáticos, C1a e C2a, apresentaram insuficiência de perfurantes da perna em apenas 36,4%, enquanto que a mesma foi identificada em 64,9% nos membros C0s, C1s e C2s, em 76% dos membros C3s e C4s e em 100% dos membros C5s e C6s (p<0,001). Os membros classificados como C3s apresentaram insuficiência venosa profunda em 20,5% dos casos, contrastando com apenas 5,2% nos restantes membros (p<0.001;or:4,686). Conclusões: Os doentes classificados como sintomáticos foram mais frequentemente mulheres com idade 60 anos. A presença de insuficiência da veia grande e de perfurantes da perna correlacionou-se com a presença de sintomas. Verificou-se uma associação entre insuficiência de perfurantes da perna e gravidade das manifestações clínicas da classificação CEAP. A presença de insuficiência venosa profunda foi mais frequente em membros classificados como C3s. Palavras-Chave ceap manifestações clínicas insuficiência venosa crónica eco-doppler Introdução A insuficiência venosa crónica é uma das patologias mais frequentes no mundo ocidental. A classificação CEAP foi estabelecida na tentativa de homogeneizar o seu diagnóstico, diminuindo a variabilidade entre diferentes observadores. Actualmente, o eco-doppler venoso dos membros inferiores é o método imagiológico de escolha para o seu diagnóstico. O objectivo deste estudo foi correlacionar as manifestações clínicas da classificação CEAP com as alterações no eco-doppler dos membros inferiores. Materiais e métodos Foram avaliados 806 membros, correspondendo a 403 doentes consecutivos, submetidos a ecodoppler venoso dos membros inferiores no decurso da investigação de insuficiência venosa crónica. Os doentes foram observados previamente na consulta externa de Angiologia e Cirurgia Vascular. Todos os exames ultrassonográficos foram realizados pelo mesmo médico, credenciado pela American Registry for Diagnostic Medical Sonography. Foram recolhidos os dados relativos à idade e sexo dos doentes, manifestações clínicas segundo a classificações CEAP e sectores venosos insuficientes na ultrasonografia. A nomenclatura utilizada foi a recomendada pelo Consenso Interdisciplinar da International Union of Phlebology. [1] Os critérios ultrassonográficos utilizados foram os recomendados pela International Union of Phlebology. [2,3] 196 Angiologia e Cirurgia Vascular Volume 6 Número 4 Dezembro 2010

A classe C da classificação CEAP foi dividida da seguinte maneira: C0 sem sinais de doença venosa; C1 telangiectasias ou veias reticulares; C2 veias varicosas; C3 edema; C4 alterações cutâneas atribuídas a doença venosa; C5 úlcera cicatrizada; C6 úlcera activa. Foram considerados doentes sintomáticos quando existiu pelo menos um dos seguintes sintomas: dor; prurido; sensação de peso, irritação cutânea ou cãimbras. Os dados foram registados numa base de dados em Excel (2003, Microsoft, Redmond, WA, EUA) e a análise estatística foi realizada com recurso ao programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS, Chicago, IL, EUA). Um valor de p <0,05 foi considerado significativo. Resultados Média de idades de 46,8 anos. Trezentas e seis (89,3%) mulheres e 43 (10,7%) homens. A distribuição da classe C, segundo a classificação CEAP, foi: C0s (92 membros), C1a (114 membros), C1s (246 membros), C2a (18 membros), C2s (226 membros), C3s (78 membros), C4s (22 membros), C5s (6 membros) e C6s (4 membros). FIGURA 1 A presença de insuficiência no eco-doppler venoso dos membros inferiores foi a seguinte: FIGURA 2 Mais de metade dos membros avaliados apresentaram insuficiência de veia grande (53,6%) e/ou insuficiência de perfurantes da perna (62%). FIGURA 2 Na correlação entre o género e a presença ou ausência de sintomas, verificamos uma associação estatisticamente significativa entre o género feminino e a presença de sintomas (p <0,001). Assim, apenas 38 (44,2%) membros de doentes do sexo masculino foram classificados como sintomáticos contrastando com 510 (70,8%) membros de doentes do sexo feminino. Os homens apresentaram 3 vezes mais probabilidade de terem membros classificados como assintomáticos (OR: 3,068; p <0,001). Na correlação com a idade, constatamos uma associação estatisticamente significativa entre doentes com idade menor ou igual a 60 e a presença de sintomas. Assim, 242 (72,7%) doentes com idade 60 anos referiram sintomas contrastando com apenas 32 (45,7%) doentes com mais de 60 anos (p <0,001). FIGURA 1 Distribuição da classe C, 800 700 600 500 400 300 200 100 0 C3s 9,68% C4s 2,73% C5s 0,74% C6s 0,50% Cos 11,41% C1a 14,14% C1s 30,52% C2a 2,23% C2s 28,04% segundo a classificação CEAP, por membro. 98 68,8 grande Insuficiência 95,7 pequena 60 venoso Competência 95,7 95,7 53,3 FIGURA 2 Presença de insuficiência venosa crónica 53,3 no eco-doppler venoso dos membros inferiores, por sector. Angiologia e Cirurgia Vascular Volume 6 Número 4 Dezembro 2010 197

Da correlação entre insuficiência venosa no ecodoppler e sintomatologia, verificamos que a atribuição da uma classe C sintomática associou-se à presença de insuficiência da veia grande e de perfurantes da perna (p <0,001). Ou seja, um membro classificado como sintomático tinha mais probabilidade de apresentar insuficiência da veia grande e de perfurantes da perna, quando comparado como um membro classificado como assintomático. TABELA I Analisando a influência da insuficiência de perfurantes da perna na presença ou na ausência de sintomas, verificamos que apenas 36,4% dos membros considerados como assintomáticos apresentaram insuficiência de perfurantes da perna, contrastando com 67,1% dos membros sintomáticos. Dividindo os membros sintomáticos pelas respectivas classes C, verificamos insuficiência de perfurantes da perna em 64,9% dos membros C0s, C1s e C2s, em 76% dos membros C3s e C4s e em 100% dos membros C5s e C6s. A presença de insuficiência em perfurantes da perna associou-se a um aumento da gravidade das manifestações clínicas (p <0,001). TABELA II Os membros classificados como C0s corresponderam a 11,4% do total dos membros avaliados. Nestes membros verificamos insuficiência de perfurantes da perna em 32,6%, insuficiência da veia grande em 28,3%, insuficiência da veia pequena em 4,3%, insuficiência de perfurantes em 4,3% e insuficiência venosa profunda em 2,2%. Dos membros com telangiectasias e varizes reticulares (C1), 31,7% foram classificados como assintomáticos (C1a) e 68,3% como sintomáticos (C1s). Nos membros classificados como C1a, observamos que 77,8% apresentavam competência da veia grande, que 73,7% apresentavam competência das perfurantes da perna e que 86% apresentavam competência das perfurantes da perna. Aliás, verificou-se uma associação estatisticamente significativa entre a atribuição da classe C1a e a competência normal da veia grande (p = 0,021), das perfurantes da perna (p <0,001) e das perfurantes da perna (p = 0,007). TABELA III TABELA I Correlação entre insuficiência venosa no eco-doppler e sintomatologia. grande pequena da perna da perna Insuficiência Sintomáticos Assintomáticos Valor p Sim 390 42 <0,001 Não 284 90 Sim 234 26 0,089 I Não 440 106 Sim 48 6 0,344 Não 626 126 Sim 452 48 <0,001 Não 222 84 Sim 226 26 0,200 Não 448 106 TABELA II Correlação entre classe C (manifestações clínicas) e insuficiência de pelo menos uma perfurante medial da perna. da perna Classe C Insuficientes Competentes Valor p C1a + C2a 48 (36,4%) 84 (63,6%) <0,001 C0s + C1s + C2s 366 (64,9%) 198 (35,1%) <0,001 C3s + C4s 76 (76%) 24 (24%) <0,001 C5s + C6s 10 (100%) 0 (0%) <0,001 TABELA III Correlação entre classe C1 e insuficiência venosa na ultrasonografia. grande pequena Classe C Insuficiência C1a C1s Valor p Sim 26 (22,8%) 86 (35%) Não 88 (77,8%) 160 (65%) Sim 16 (14%) 56 (22,8%) Não 98 (86%) 190 (77,2%) Sim 30 (26,3%) 116 (47,2%) Não 84 (73,7%) 130 (52,8%) Sim 16 (14%) 66 (26,8%) Não 98 (86%) 180 (73,2%) Sim 2 (1,8%) 10 (4,1%) Não 112 (98,2%) 236 (95,9%) 0,021 0,065 <0,001 0,007 0,353 198 Angiologia e Cirurgia Vascular Volume 6 Número 4 Dezembro 2010

TABELA IV Correlação entre classe C3s e insuficiência venosa na ultrasonografia. CEAP Insuficiência C3 Outras C Valor p OR grande pequena 40 392 0,760 0,902 34 226 0,111 1,716 54 446 0,330 1,423 32 220 0,167 1,606 16 38 <0,001 4,686 Na sub-análise dos membros classificados como C3s verificamos que 20,5% apresentava insuficiência venosa profunda, contrastando com apenas 5,2% dos membros das restantes classes. A associação entre a classe C3s e a presença de insuficiência venosa profunda foi estatisticamente significativa (p <0,001). Os membros classificados como C3s apresentaram quase 5 vezes mais probabilidade de insuficiência venosa profunda no eco-doppler (p <0,001; OR: 4,686). A atribuição da classe C3s não se correlacionou com a presença de insuficiência em outro sector venoso no eco-doppler. TABELA IV Discussão A classificação CEAP foi desenvolvida na tentativa de homogeneizar os diferentes critérios de diagnóstico da doença venosa crónica. [4] No nosso estudo decidimos utilizar, para cada membro, a classe C da classificação CEAP para caracterizar objectivamente as manifestações clínicas. Alguns estudos atestam a boa reprodutibilidade intra-observador da classe C atribuída. [5] No nosso estudo, todos os membros foram classificados pelo mesmo médico. Da análise dos nossos dados podemos constatar que as classes C0, C1 e C2 corresponderam a 86,5% do total dos membros avaliados. Este facto pode reflectir uma evolução favorável na orientação destes doentes, com uma procura mais precoce dos cuidados de saúde e logo um tratamento da doença venosa crónica em estadios mais iniciais. Outro dado relevante foi a elevada percentagem de membros com insuficiência da veia grande e/ou de perfurantes da perna. Contudo, na análise destes dados, temos que salientar que todos os doentes foram avaliados previamente na consulta externa de Angiologia e Cirurgia Vascular. Logo, apenas foram referenciados para a realização de eco-doppler venoso dos membros inferiores aqueles doentes com suspeita de doença venosa crónica. Assim se poderá explicar a elevada percentagem de membros com insuficiência da veia grande e/ou de perfurantes da perna observada no nosso estudo, quando comparamos com outros estudos de cariz populacional. [6] Um dado curioso foi a associação entre o género feminino e a presença de sintomas. De facto, as mulheres foram mais frequentemente sintomáticas e o género masculino apresentou 3 vezes mais probabilidade de possuir membros assintomáticos. Vários estudos publicados referem que as mulheres são mais frequentemente sintomáticas. [7,8] Analisando a influência da idade na presença de sintomas, verificamos que doentes mais jovens foram mais frequentemente sintomáticos quando comparados com doentes com idade superior a 60 anos. Alguns artigos confirmam estes dados, referindo que a prevalência de insuficiência venosa crónica, e sintomatologia associada, aumenta com a idade. [8] Um membro classificado como sintomático apresentou mais probabilidade de insuficiência da veia grande e de perfurantes da perna quando comparado com um membro assintomático. Não verificamos outras associações estatisticamente significativas entre a presença de insuficiência de outros territórios venosos e sintomatologia. Verificamos uma elevada percentagem de insuficiência venosa em membros com varizes reticulares e telangiectasias. No nosso estudo verificamos que a insuficiência da veia grande e das perfurantes e da perna foi mais frequente nos membros sintomáticos, quando comparados com os membros Angiologia e Cirurgia Vascular Volume 6 Número 4 Dezembro 2010 199

assintomáticos. Um estudo publicado revelou que 46% dos membros classificados como C1 apresentavam insuficiência da veia grande e/ou veia pequena e recomendou o estudo sistemático, por eco-doppler venoso dos membros inferiores, de membros classificados como C1. [9] Contudo, este estudo não dividiu os membros em sintomáticos e assintomáticos, nem estudou a presença de insuficiência em outros territórios venosos. Não compartilhamos da mesma opinião, mas sim consideramos que o estudo imagiológico dos membros classificados como C1 deve ser avaliado doente a doente, considerando que o eco-doppler venoso dos membros inferiores é um método imagiológico não invasivo e praticamente inócuo, mas acarreta alguns custos monetários e logísticos que deverão ser ponderados. Outro dado relevante deste estudo foi a influência da insuficiência de perfurantes da perna na gravidade das manifestações clínicas. De facto, um aumento na gravidade das manifestações clínicas, medida pela atribuição da classe C, correlacionou-se com um aumento da percentagem de membros com insuficiência em perfurantes da perna. Diversos estudos sublinham a importância da insuficiência de perfurantes da perna na gravidade da doença venosa crónica. Estimase que cerca de 40 a 60% dos membros com doença venosa crónica apresentem insuficiência de perfurantes da perna. [10,11] Alguns estudos referem a importância da sua insuficiência na gravidade dos sintomas da doença venosa crónica. [9,12] Além disso, a associação entre insuficiência de perfurantes da perna e úlceras venosas activas ou cicatrizadas, portanto membros C6 e C5, é amplamente citada na literatura. [13] No nosso estudo verificamos uma clara associação entre edema dos membros inferiores e insuficiência venosa profunda. Assim, os membros classificados como C3s apresentaram quase 5 vezes mais probabilidade de insuficiência venosa profunda, quando comparados com os restantes membros. Este dado reforça que uma das principais causas de edema unilateral dos membros inferiores é a presença de insuficiência venosa profunda. [14,15] Conclusão Do nosso estudo podemos concluir que os doentes com membros classificados como sintomáticos foram mais frequentemente mulheres com idade menor ou igual a 60 anos. A presença de insuficiência da veia grande e de perfurantes da perna correlacionouse com a presença de sintomas. Verificamos uma associação clara entre a insuficiência de perfurantes da perna e o aumento da gravidade das manifestações clínicas, segundo a classificação CEAP. Para além disso, a presença de insuficiência venosa profunda foi mais frequente em membros classificados como C3s. 200 Angiologia e Cirurgia Vascular Volume 6 Número 4 Dezembro 2010

BIBLIOGRAFIA [1] Caggiati A, Bergan JJ, Gloviczki P, Jantet G, Wendell-Smith CP, Partsch H; International Interdisciplinary Consensus Committee on Venous Anatomical Terminology. Nomenclature of the veins of the lower limbs: an international interdisciplinary consensus statement. J Vasc Surg 2002 Aug;36(2):416-22 [2] Coleridge-Smith P, Labropoulos N, Partsch H, Myers K, Nicolaides A, Cavezzi A. Duplex ultrasound investigation of the veins in chronic venous disease of the lower limbs UIP consensus document. Part I. Basic principles. Eur J Vasc Endovasc Surg 2006 Mar;31(1):83-92 [3] Cavezzi A, Labropoulos N, Partsch H, Ricci S, Caggiati A, Myers K, Nicolaides A, Smith PC. Duplex ultrasound investigation of the veins in chronic disease of the lower limbs UIP consensus document. Part I. Anatomy. Eur J Vasc Endovasc Surg 2006 Mar;31(3):288-99 [4] Eklof B, Rutherford RB, Bergan JJ, Carpentier PH, Kistner RL, Meissner MH, Moneta GL, Myers K, Padberg FT, Perrin M, Ruckley CV, Smith PC, Wakefield TW. Revision of the CEAP classification for chronic venous disorders: consensus statement. J Vasc Surg 2004 Dec;40(6):1248-52 [5] Uhl JF, Cornu-Thénard A, Carpentier PH, Schadeck M, Parpex P, Chleir F. Reproducibility of the C classes of the CEAP classification. J Phlebology 2001;1:39-48 [6] Criqui MH, Jamosmos M, Fronek A, et al: Chronic venous disease in an ethnically diverse population: the San Diego Population Study. Am J Epidemiol 2003;158:448-456. [7] Beebe-Dimmer JL, Pfeifer JR, Engle JS, Schottenfeld D. The epidemiology of chronic venous insufficiency and varicose veins. Ann Epidemiol 2005 Mar;15(3):175-84 [8] Carpentier P, Priollet P. Epidemiology of chronic venous insufficiency. Presse Med. 1994 Feb 10;23(5):197-201 [9] Engelhorn CA, Engelhorn AL, Cassou MF, Salles-Cunha S. Patterns of saphenous venous reflux in women presenting with lower extremity telangiectasias. Dermatol Surg 2007 Mar;33(3):282-8 [10] Cooper DG, Hillman-Cooper CS, Barker SG, et al: Primary varicose veins: the sapheno-femoral junction, distribution of varicosities and patterns of incompetence. Eur J Vasc Endovasc Surg 2003;25:53-59 [11] Guex JJ: Ultrasound guided sclerotherapy (USGS) for perforating veins (PV). Hawaii Med J 2000;59:261-262 [12] Masuda EM, Kessler DM, Lurie F, et al: The effect of ultrasound-guided sclerotherapy of incompetent perforator veins on venous clinical severity and disability scores. J Vasc Surg 2006;43:551-556. [13] Iafrati MD, Pare GJ, O Donnell TF, et al: Is the nihilistic approach to surgical reduction of superficial and perforator vein incompetence for venous ulcer justified?. J Vasc Surg 2002;36:1167-1174. [14] Ludwig M, Vetter H. Diagnosis and differential diagnosis of swollen leg. Schweiz Rundsch Med Prax 1989 Sep 12;78(37):987-92 [15] Friedlj S, Mahler F. Venous and lymphatic reasons for edema the swollen leg from the angiologist s point of view. Ther Umsch 2004 Nov;61(11):643-7 Angiologia e Cirurgia Vascular Volume 6 Número 4 Dezembro 2010 201