PREVALÊNCIA DE ATRASOS NO DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR EM CRIANÇAS DE 06 A 24 MESES

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Transcrição:

PREVALÊNCIA DE ATRASOS NO DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR EM CRIANÇAS DE 06 A 24 MESES Ludmilla C. V. de Aguiar 1, Lyvyam L. dos Reis 1, Nathalie Furieri 1, Royger C. Nascimento 1, José Apolinário S. Neves Jr 1, Fagner L. P. Salles 1, Márcia M. Corrêa 2, Denise Maciel Ferreira 1 1-Faculdade Salesiana de Vitória/Clínica Escola de Fisioterapia, Av. Vitória, 950, Forte São João, Vitória, ES, dferreira@salesiano.com.br 2- Faculdade Salesiana de Vitória/Clínica Escola de Nutrição, Av. Vitória, 950, Forte São João, Vitória, ES, marciamara@uol.com.br RESUMO O objetivo desse trabalho foi verificar a prevalência de atrasos ou desvio do desenvolvimento neuropsicomotor de crianças de 06 a 24 meses e os principais fatores de interferência. Materiais e Métodos: Participaram 101 crianças. Como ferramenta de medida utilizou-se o Developmental Screening Test (DDST) validado para o Brasil em 1992. Resultados: Observou-se prevalência de 14,8% de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor. A maioria de crianças com alterações no desenvolvimento encontravam-se em famílias com renda per capita menor que um salário mínimo e escolaridade materna menor que 8 anos, embora o pequeno número da amostra não permita a identificação desses fatores como risco para o desenvolvimento da população. Conclusão: Os resultados encontrados corroboram aos dados da literatura para população brasileira nesta faixa etária. Os principais fatores de interferência encontrados foram a renda per capita e a escolaridade materna. Palavras-chave: Desenvolvimento neuropsicomotor, Risco para o desenvolvimento, Desenvolvimento Infantil. Área do Conhecimento: Fisioterapia Introdução O desenvolvimento é o resultado da interação entre as características biológicas e ambientais. Nos primeiros 24 meses de vida, é representado pela aquisição dos marcos motores do desenvolvimento e pela transformação de movimento reflexos sinergísticos por movimentos seletivos e coordenados, além da aquisição das habilidades motoras adaptativas, da linguagem e do comportamento social (OLIVEIRA e col, 2001; COOK e WOOLLACOTT, 2003). Assim, a aquisição de novas habilidades relaciona-se à faixa etária e às interações vividas com os outros indivíduos de seu grupo social. A avaliação do desenvolvimento é, portanto um processo individualizado, dinâmico e compartilhado com cada criança (JENG, 2000). A identificação precoce alterações no desenvolvimento é de relevante importância e tem como objetivo minimizar os efeitos negativos, uma vez que fatores ambientais podem sobrepor-se aos determinantes genéticos do desenvolvimento (OLIVEIRA e col, 2001). Existem evidencias suficientes de que quanto mais precoce for a intervenção, menor será o impacto desses problemas na vida futura da criança e no impacto na morbi-mortalidade infantil (MANCINI, 2004). O objetivo desse trabalho foi verificar a prevalência de atrasos ou desvio do desenvolvimento neuropsicomotor e os principais fatores de interferência em crianças de 18 a 24 meses. Materiais e Métodos O estudo piloto descritivo transversal foi realizado em 37 Centros Municipais de Educação Infantil de Vitória ES (CMEI s) com amostra composta por 101 crianças. Foram incluídas crianças, de ambos sexos, matriculadas e freqüentando os CMEI s que no momento da primeira avaliação prevista no estudo estivesse na faixa de 06 a 24 meses de idade completos, que apresentavam idade gestacional superior a 37 semanas, que portavam as autorizações dos pais ou responsáveis para a participação do estudo e cujos pais e educadores consideravam com desenvolvimento adequado para a idade. Foram excluídas as crianças cujos pais ou responsáveis legais não assinaram o termo de consentimento ou crianças consideradas com desenvolvimento inadequado para a idade pelos pais ou educadores das CMEI s. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Salesiana de Vitória. Para a avaliação das crianças foi usado o Developmental Screening Test (DDST), validado para o Brasil em 1992 (FRANKENBURG et al, 1992). Foi calculada a percentagem do desempenho da criança avaliada pelo teste de 1588

DDST em cada grupo etário que conseguiu realizar uma das 42 provas divididas em quatro sessões: pessoal-social, adaptação motora fina, linguagem e motricidade grosseira. O percentil 90 (p90) do teste de Denver II foi o ponto de corte para classificar as crianças com atraso e o intervalo entre os percentis 75-90 (p75-p90) para definir como cautela (SOUZA, 2003; FRANKENBURG et al, 1992). As crianças classificadas como desenvolvimento atípico portavam dois ou mais falhas (<p75), crianças consideradas questionáveis portavam uma falha (p75) ou duas ou mais cautelas (p75- p90). Foram consideradas crianças com desenvolvimento típico as que não apresentavam nenhum atraso (p90) ou apenas uma cautela (p75- p90) (SOUZA, 2003; CAON e RIES, 2003). A análise dos dados foi realizada através da diferença entre a idade da criança de Vitória (A) e a de Denver (B) no p90, realizando o seguinte cálculo: [(A-B)/A]x100, sendo considerado resultado p>20% como valor estatístico (UEDA, 1978). Variáveis de Interferência: Tomando como determinante do desenvolvimento, o ambiente em que a criança está inserida, as variáveis ambientais foram representadas pela renda per capita, escolaridade materna e peso ao nascer (HALPERN e col, 1996). Resultados Prevalência de atrasos no desenvolvimento De acordo com a distribuição dos resultados da avaliação do desempenho das crianças de Vitória no teste de DDST foi observado que 14,8% das crianças avaliadas apresentaram alguma alteração no desenvolvimento neuropsicomotor. Consideradas com desenvolvimento questionável 10,9% crianças e 3,96% com desenvolvimento atípico (Tabela 1). Não foi possível a análise estatística da contingência da tabela em função da pequena amostra populacional. Fatores de interferência As variáveis ambientais demonstraram que 73,27% das famílias viviam com renda per capita menor que um salário mínimo. Quanto a escolaridade materna 48,51% das mães apresentavam tempo de escolaridade menor que 8 anos. De todas as mães entrevistadas, nenhuma era analfabeta. Em relação à variável peso ao nascer a maior parte das crianças 84,16% nasceram com peso considerado adequado para idade gestacional entre 2500g a 4000g. (Tabela 2) Tabela 1 Classificação do desenvolvimento neuropsicomotor Desenvolvimento N % Típico 86 85,14 Questionável 11 10,9 Atípico 4 3,9 Total 101 100 Tabela 2 Fatores de interferência no desenvolvimento Variáveis Ambientais N % RENDA PER CAPITA < 1 salário mínimo 74 73,27 1 a 3 salários mínimos 25 24,75 > 3 salários 2 1,98 ESCOLARIDADE MATERNA 8 anos 49 48,51 8 a 11 anos 37 36,63 > 11 anos 15 14,85 PESO AO NASCER <1.500g 00 0,00 1.500 a 2.500g 14 13,86 2.500g à 4000g 85 84,16 > 4000g 2 1,98 Relação dos fatores de interferência e classificação do desenvolvimento A tabela 3 abaixo demonstra a relação das variáveis ambientais como fatores de interferência no desenvolvimento neuropsicomotor. Não foi possível calcular o risco estatístico de cada uma das variáveis em função de números menores que 5 em algumas células. No entanto, é possível observar que todas as crianças com desenvolvimento atípico encontram-se na categoria de menor renda per capita e menor tempo de escolaridade materna. Análise do desempenho das crianças de Vitória-ES A tabela 4 abaixo demonstra as provas em que houve diferenças entre o desempenho das crianças de avaliadas (Vitória) e a proposta de desempenho do DDST (Denver) considerou-se como ponto de corte p90. Tabela 3 Relação das variáveis ambientais e classificação do desenvolvimento 1589

Variáveis ambientais Renda per N % N % N % capita < 1 sm 69 80,3 10 90,9 4 100 1 a 3 sm 16 18,7 1 9,1 0 0 > 3 sm 1 1,1 0 0 0 0 Escolaridade 8 anos 47 54,7 7 63,6 4 100 8 a 11 anos 26 30,2 4 36,4 0 0 > 11 anos 13 15,1 0 0 0 0 Peso nasc. 1.500g 0 0 0 0 0 0 1500g a 11 12,8 6 54,5 3 75 2500g 2500g a 73 84,8 5 45,5 1 25 4000g > 4000g 2 2,4 0 0 0 0 * sm salário mínimo TABELA 4 Comparação do desempenho Setores n p90 p90 DP % Denver (B) Vitória (A) Pessoal Social Lavar e secar as 15 36 27,6 5,1 * -30,6 mãos Retirar roupa 6 24 20,3 1,2-18,3 Média do setor 30-24,5 Motor Fino Torre de 4 11 24 21,8 2-10 cubos Torre de 2 3 20 23 1 13 cubos Média do setor 22 11,5 Linguagem Combina 8 24 23,6 4,1-1,6 palavras Fala 6 palavras 7 21 20,4 3,5-2,8 Aponta 2 figuras 12 23 19,6 0,9-17,2 Média do setor 22,6-7,2 Motor Grosseiro Chutar bola 11 23 20,6 2,4-11,5 Sobe degraus 3 22 18 0 *-22,2 Média do setor 22,5-16,8 * Diferença significativa do ponto de vista epidemiológico. Discussão Típico (n=86) Questionável (n=11) Atípico (n=4) Todas as crianças avaliadas foram consideradas crianças com desenvolvimento típico sem necessidade de atenção ou acompanhamento do desenvolvimento, no entanto, 14,85% delas apresentaram algum tipo de alteração, segundo o teste aplicado. Países em desenvolvimento como o Brasil tendem a propiciar fatores de risco para o desenvolvimento humano. Assim, vários estudos sobre o impacto de fatores psicossociais, biológicos e ambientais sobre o desenvolvimento infantil vêem sendo realizados utilizando o DDST por tratar-se de um teste rápido e de fácil aplicabilidade para grandes populações (SOUZA, 2003; CAON e RIES, 2003). Dentre eles destacam-se os estudos de Fisberg (1997) que estudou crianças de dois a seis anos, freqüentadoras de três creches do Município de São Paulo, e relatou 70,8% com desempenho normal, 22,3% com desempenho questionável e 6,9% destas com desempenho anormal. Caon e Ries (2003) estudaram crianças de 0 a 2 anos e verificaram que 13,85% apresentaram teste de triagem de Denver suspeito de atraso na área motora. O autor considerou o percentual encontrado pequeno em relação a outras pesquisas que contemplam a mesma faixa etária e utilizam o mesmo instrumento de medida. O estudo realizado por Halpern e cols (2000) no Rio Grande do Sul, relata incidência de suspeita no atraso no desenvolvimento motor para a faixa etária de 0 a 12 meses de 15%. Comparando os resultados do presente estudo á literatura observa-se que o índice de 3,96% de crianças com desenvolvimento atípico e 10,9% de desenvolvimento questionável pode ser considerado previsível para população brasileira. Quanto as variáveis de interferência no desenvolvimento, a literatura relata que as condições socioeconômicas são decisivas no desenvolvimento humano (SOUZA, 2003). Os resultados apresentados nas tabelas 02 e 03 demonstram que as maiorias das famílias das crianças avaliadas encontravam-se dentro da faixa de renda per capita de menos de 1 salário mínimo, 73,27%, escolaridade materna menor ou igual a 8 anos, 48,51%, equivalente ao ensino fundamental completo ou incompleto, mas a maioria das crianças nasceram com peso adequado para idade gestacional, 84,16%. Não foi possível estimar o risco estatístico por tratar-se de um estudo piloto no qual a amostra pode ser considerada pequena para um estudo populacional, no entanto, pode-se observar na tabela 3, que todas as crianças com desenvolvimento atípico encontram-se na categoria de famílias com menor renda per capita e menor escolaridade materna. Torralva, (1999) relata que independente do nível sócio econômico das famílias, as atitudes e ações dos pais, a qualidade de vinculo e da estimulação da criança interferem na velocidade da aquisição de determinadas capacidades, sobretudo cognitivas e de linguagem. Ainda na tabela 3 verifica-se que 75% das crianças com desenvolvimento atípico estão 1590

inclusas na categoria de baixo peso ao nascer. Essa condição em recém-nascido a termo vem sendo descrita como importante risco para o adequado desenvolvimento e como impactante na morbi-mortalidade infantil, devendo ser considerado relevante problema de saúde pública (MANCINI e col, 2004). Apesar do índice de 14,8% de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, observa-se na tabela 4 que as provas em que houve maiores diferenças médias entre o desempenho das crianças de Vitória e o desempenho proposto pelo DDST, as crianças de Vitória tiveram desempenho superior ao sugerido pelo teste para a idade cronológica, na maioria das provas. Na tabela 4 observa-se que as crianças de Vitória são capazes de subir degraus 4 meses antes da idade tomada como base para essa atividade no DDST, representando uma diferença significativa de 22,2%. Subir degraus requer a habilidades de equilíbrio completa na marcha, além da transferência de peso na fase de apoio e aumento da tríplice flexão na fase balanço da marcha (COOK e WOOLLACOTT, 2003). O desenvolvimento pessoal social é mais evidente após os 24 meses (CAON e RIES, 2003). A tarefa de lavar as mãos compreende além da atividade motora envolvida, a capacidade de auto cuidado e higiene (COOK e WOOLLACOTT, 2003). Essa é uma atividade incentivada pelos professores da pré-escola e efetuada diariamente de maneira coletiva, provavelmente o que estimula não só a habilidade motora para a tarefa como a compreensão do auto-cuidado e higiene. Conclusão Observou-se prevalência de 14,8% de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor de crianças de 06 a 24 meses Verificou-se que a maioria de crianças com alterações no desenvolvimento encontravam-se em famílias com renda per capita menor que um salário mínimo e escolaridade menor que 8 anos embora o pequeno número da amostra não permita a identificação desses fatores como risco para o desenvolvimento da população de crianças de Vitória. Referências Bibliográficas - CAON, G.; RIES, L.G.K. Triagem do desenvolvimento motor nos dois primeiros anos de vida. Pediatria Moderna, Vol 39, nº 07, julho 2003, pág. 248 252. Comparação do desempenho de pré- escolares mediante teste de desenvolvimento de Denve, antes e após intervenção nutricional. Rev Ass Med Brasil 1997; 43(2): 99-104. - FRANKENBURG WK, DODDS J, ARCHER P, SHAPIRO H, BRESNICK B. The Denver developmental screening test. Pediatr 1992; 89: 91-7. - HALPERN, R.; BARROS, F.C.; HORTA, B.L.; VICTORA, C.G. Desenvolvimento neuropsicomotor aos 12 meses de idade em uma coorte de base populacional no Sul do Brasil: diferenças conforme peso ao nascer e renda familiar. Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 12(Supl.1): 73-78, 1996. - HALPERN, R.; GIUGLIANI, E.R.J.; VICTORA, C.G.; BARROS, F.C.; HORTA, B.L. Fatores de risco para suspeita de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor aos 12 meses de vida. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro, v.76, p. 421-8, 2000. - JENG S, YAU KT, CHEN L, HSIAO S. Alberta infant motor scale: reliability and validity when used on preterm infants in Taiwan. Phys Ther 2000; 80: 168-78. - MANCINI, M.C; MEGALE, L; BRANDÃO, M.B; MELO,A.P.P., SAMPAIO, R.F. Efeito Moderador do Risco Social na Relação entre Risco Biológico e Desempenho Funcional Infantil. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil. V. 4 n 1 Jan/Març. pp 1-14. 2004. - OLIVEIRA CEN, SALINA MEE, ANNUNCIATO NF. Fatores Ambientais que influenciam a plasticidade do Sistema Nervoso Central. Acta Fisiátrica 2001; 8 (1): 6-13. - SOUZA, S.C. Avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor do pré-escolar de creches públicas de Cuiabá-MT. [Dissertação]. São Paulo (SP): Faculdade de Medicina USP; 2003. - TORRALVA T, et.al. Desarrollo mental y motor en los primeiros años de vida: su relacíon con la estimulacion ambientaly el nível sócio-econômico. Arch. Argent. Pediatr. 1999; 97(5):306. - UEDA, R.Standartization of the Denver developmental screening test on Tokyo children. Dev Med Child Neurol 1978; 20(5): 647-56 - COOK AS, WOOLLACOTT MH. Controle Motor, Teorias e Aplicações Práticas. 2 ed. São Paulo: Manole, 2003 p.167-256. - FISBERG M, PEDROMÔNICO MR, BREGA JAP, FERREIRA AMA, PINI C, CAMPOS SCC. 1591

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