AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO MOTOR EM JOVENS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL SEDENTÁRIOS

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Transcrição:

Recebido em: 10/08/2015 Parecer emitido em: 31/08/2015 Artigo original MONTEIRO, G.N.; NASCIMENTO, L.C.G do; TONELLO, M.G.M.; SCHULLER, J.A de P.; Avaliação do desempenho motor em jovens com deficiência intelectual sedentários. Coleção Pesquisa em Educação Física, Várzea Paulista, v. 14, n. 04, p.41-50, 2015. ISSN; 1981-4313. AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO MOTOR EM JOVENS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL SEDENTÁRIOS RESUMO Gabriella Nelli Monteiro 1 Lilian Cristina Gomes do Nascimento 2 Maria Georgina Marques Tonello 2 Juliana Aparecida de Paula Schuller 1,2 1 Faculdade de Educação Física - FEF, UFMT 2 Bolsista Capes em Promoção da Saúde - Universidade de Franca O objetivo desta pesquisa foi analisar o desempenho motor de indivíduos com deficiência intelectual não praticantes de atividade física, através da bateria de testes KTK antes e após intervenções de atividades semanais, desenvolvendo os conteúdos básicos da ginástica geral. O estudo apresentou uma abordagem quantitativa e caracterizou-se como descritivo. A amostra foi constituída por 10 alunos de ambos os sexos, sendo 3 meninas e 7 meninos, com idade entre 8 e 14 anos. Os resultados foram expressos pela média e desvio padrão da média, para a comparação entre o pré-teste e o pós-teste foi aplicado o teste Pairad t. Constatou-se que os indivíduos obtiveram uma melhora significativa na somatória das tarefas do teste KTK com P=0,001, porém todos continuaram apresentando uma classificação considerada baixa, com repertório motor abaixo do esperado. Entretanto esta população apresentou melhoras significativas, demonstrando que a prática destas atividades físicas, contribuem favoravelmente no desenvolvimento global de pessoas com deficiência intelectual. Destacando a importância das atividades físicas direcionadas/planejadas do profissional educador físico para essa população específica, no sentido de melhorar a qualidade de vida. Palavras-chave: Deficiência Intelectual. Coordenação Motora. Desempenho Motor. KTK. ENGINE PERFORMANCE ASSESSMENT IN YOUNG PEOPLE WITH DISABILITIES INTELLECTUAL SEDENTARY ABSTRACT The objective of the research was to analyze the intellectual disabled not engaged in physical activity, through the KTK test battery and weekly activities interventions developing the basic contents of the general motor fitness performance. The study presents a quantitative approach and is characterized as descriptive. The sample consisted of 10 students of both sexes, with 3 girls and 7 boys, aged 8 to 14 years. The pretest, post-test and the interventions were carried out within the institution, in the morning. The results were analyzed according to the classification table of the KTK test and descriptive procedures from the average and standard deviation of the average. For the comparison between the pre-test and post-test Pairad t test was applied. It was concluded that individuals had a significant improvement in the sum of the KTK test P = 0.001 tasks, but by analyzing the total score of the test, all presented a classification considered low, with motor repertoire underwhelming. The findings of this study showed that even with the partial realization of the KTK program this population showed significant improvements showing that the practices of these physical activities contribute favorably in the global development of the intellectual disabled. Highlighting the importance of physical activities directed/planned professional physical educator for this special population and to improve the quality of life. Keywords: Intellectual Disability. Motor Coordination. Motor performance. KTK. Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 14, n. 4, 2015 - ISSN: 1981-4313 41

INTRODUÇÃO O desenvolvimento motor em crianças com deficiência intelectual tem sido objeto de estudo, ainda que timidamente, de pesquisas na área da Educação Física Adaptada, pois essa população pode apresentar diversas alterações no equilíbrio, no esquema corporal, na organização espaço-temporal, lateralidade e na motricidade fina e global. Desta forma, estudar a coordenação motora torna-se uma crescente necessidade, por tratar-se de um dado decisivo, não só por ser fundamental como suporte para a aprendizagem de um vasto leque de habilidades, como também por poder indicar insuficiência senso neuro musculares na resposta à situação que o envolvimento impõe (SCHMIDT e WRISBERG, 2001). Atualmente, a definição mais aceita da deficiência intelectual é da Associação Americana de Deficiências Intelectual e do Desenvolvimento (AADID): A deficiência intelectual é caracterizada pela limitação significativa tanto no funcionamento intelectual como no comportamento adaptativo que se expressam nas habilidades conceituais, sociais e práticas. A deficiência origina-se antes dos 18 anos de idade (AADID, 2010, p. 1). Ruiz Perez (1987) refere que as características motoras dos deficientes intelectuais se caracterizam por: alterações anatômicas e funcionais (por ex. obesidade, problemas cardiorrespiratórios); atraso médio de dois anos no desenvolvimento e desempenho motor; problemas para aprender tarefas perceptivo-motoras básicas e problemas de equilíbrio, coordenação, força, velocidade, resistência e planificação motora. A coordenação motora é como uma habilidade de associar padrões eficazes de movimento, sistemas motores distintos com modalidades sensoriais diversas (GALLAHUE e OZMUN, 2001). Entretanto, Filho (2008) define a coordenação motora como a competência de executar várias ações musculares simultâneas e consecutivas, produzindo um movimento eficiente e econômico. Os graus de desempenho motor de um indivíduo tendem a aumentar com a prática de atividade física, e é frequentemente analisado pela observação das condições estáveis da performance motora dos praticantes. Através da prática contínua de atividade física há um benefício biopsicossocial do indivíduo como um todo, sendo este independente de se ter ou não algum tipo de deficiência. A aprendizagem motora estuda processos e mecanismos envolvidos na aquisição de habilidades motoras e os fatores que a influenciam, ou seja, como a pessoa se torna eficiente na execução de movimentos para alcançar uma meta desejada com a prática e a experiência (TANI, 2005). Um dos recursos para se verificar o desempenho motor é o Teste de KTK (KIPHARD e SCHILLING, 1974), este instrumento é composto por quatro tarefas definidas e pontuadas, e pode ser aplicado para avaliar o desempenho motor de crianças entre cinco anos a quatorze anos e onze meses de idade. Observa-se que ainda não existem dados de referência do KTK para crianças brasileiras, porém, é inegável a importância da aplicação deste (GORLA, 2012), pois diversos estudos têm utilizado este teste para a avaliação de crianças brasileiras, sendo na atualidade considerado um teste padrão ouro. Este vem se mostrando um viável e eficiente meio de avaliar os níveis de coordenação motora e evolução da coordenação de distintas populações de jovens (STRAPASSON, 2009; RIBEIRO et al., 2012; GOMES et al., 2013; FREITAS, 2013; GORLA, 2012; MAIA e PEREIRA, 2014). A Educação Física Adaptada tem uma pedagogia voltada para a saúde e qualidade de vida sem distinção, pois todos são diferentes uns dos outros. Os programas adaptados precisam propor atividades coletivas visando atender demandas circunstanciais e específicas, não deixando de atender ninguém, mas diferenciando a forma de ministrar as aulas. Ao proporcionar a melhora dos aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais, a educação física contribui na melhora da aprendizagem dos sujeitos, minimizando suas dificuldades (FRUG, 2009). Na atual literatura há uma escassez de pesquisas sobre o desempenho motor de jovens com deficiência intelectual, novos estudos poderão contribuir com o conhecimento da evolução motora em indivíduos com deficiência, bem como contribuir para a melhora na coordenação motora, favorecendo o desenvolvimento global e o aprendizado. Frente ao exposto, este ensaio teve como objetivos analisar o desempenho motor de jovens com deficiência intelectual de 8 a 14 anos, não praticantes de atividade física, antes e após intervenção de atividades físicas semanais. 42 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 14, n. 4, 2015 - ISSN: 1981-4313

MÉTODOS Este estudo apresenta uma abordagem quantitativa de caráter descritivo, pois foi exposto um fenômeno em análise numérica e registrada a maneira como o qual ocorre. Amostra Para participar do estudo, foram selecionados jovens com deficiência intelectual que não realizassem nenhum tipo de exercício físico, que tivessem vontade própria em participar do projeto, fossem capazes de entender instruções simples, estivem aptos fisicamente para realizar as tarefas propostas e que o pai ou responsável, concordassem em assinar o termo de consentimento. Após esclarecer todos os procedimentos da pesquisa, os pais ou responsáveis dos participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, importante ressaltar que o estudo foi conduzido em concordância com as normas e recomendações de ética e pesquisa nacionais. Para participar do estudo foram selecionados aleatoriamente 10 alunos com deficiência intelectual, com idade entre 05 e 14 anos e onze meses de idade, sendo 03 meninas e 07 meninos, que frequentam as dependências de uma unidade da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de um município do estado do Mato Grosso. Instrumento O instrumento utilizado foi o Teste de Coordenação Corporal KTK (GORLA, ARAÚJO e RODRIGUES, 2009). Trata-se, assim, de uma bateria homogênea, composta de quatro etapas: a trave de equilíbrio que objetiva verificar a estabilidade do equilíbrio em marcha para trás sobre a trave, verifica o equilíbrio dinâmico; saltos monopedais, que verifica a força de membros inferiores; saltos laterais, que analisa velocidade; e transferência sobre plataformas, que envolve lateralidade e estruturação espaço temporal: Tarefa 1 - Trave de Equilíbrio (EQ) Objetivo: verificar a estabilidade do equilíbrio em marcha para trás sobre a trave. Material: foram utilizadas três traves de 3 metros de comprimento e 3 cm de altura, com larguras de 6cm, 4,5cm e 3cm, na parte inferior foram presos pequenos travessões de 15 x 1,5 x 5cm, espaçados de 50 em 50cm. Com isso, as traves alcançaram uma altura total de 5cm, como superfície de apoio para saída, colocou-se à frente da trave, uma plataforma medindo 25 x 25 x 5cm. As três traves de equilíbrio foram colocadas paralelamente. Execução: a tarefa consistiu em caminhar à retaguarda sobre três traves de madeira com espessuras diferentes. São validadas três tentativas em cada trave, durante o deslocamento (passos) não foi permitido tocar o solo com os pés no chão. Antes das tentativas válidas, o sujeito teve um pré-exercício para se adaptar a trave, no qual realizou um deslocamento a frente e outro a retaguarda. Avaliação da Tarefa: para cada trave, foram contabilizadas três tentativas válidas, o que perfaz um total de nove tentativas. Contou-se a quantidade de apoios sobre a trave no deslocamento a retaguarda com a seguinte indicação: o aluno parado sobre a trave, o primeiro pé de apoio não foi tido como ponto de valorização. Só a partir do momento do segundo apoio é que se começa a contar os pontos. O avaliador contou em voz alta a quantidade de passos até que um pé toque o solo ou até que sejam atingidos 8 pontos (passos), sendo assim a máxima pontuação possível foi de 72 pontos. O resultado foi igual ao somatório de apoios à retaguarda nas nove tentativas. Tarefa 02 - Salto Monopedal (SM) Objetivo: verificar a coordenação dos membros inferiores; energia dinâmica/força. Material: foram utilizados 12 blocos de espuma, medindo cada um 50 x 20 x 5cm. Execução: a tarefa consistiu em saltar um ou mais blocos de espuma colocados uns sobre os outros, com uma das pernas. O avaliador demonstrou a tarefa, saltando com uma das pernas por cima de um bloco de espuma colocado transversalmente na direção do salto, com uma distância de impulso de aproximadamente 1,50m. A Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 14, n. 4, 2015 - ISSN: 1981-4313 43

altura inicial a ser contada como passagem valida baseou-se no resultado do exercício e na idade do indivíduo. Com isso, deveriam ser alcançados mais ou menos os mesmos números de passagens a serem executadas pelos sujeitos, nas diferentes faixas etárias. Foram previsto dois exercícios ensaio para cada perna (direita e esquerda). Para sujeitos de 5 a 6 anos, são solicitados como exercícios ensaio duas passagens de 5 saltos por perna, sem blocos de espuma (a nível zero). Avaliação da tarefa: para cada altura, as passagens foram avaliadas da seguinte forma: na primeira tentativa válida 3 pontos, na segunda tentativa 2 pontos e na terceira tentativa 1 ponto. Para saltar os blocos de espuma, o sujeito precisou de uma distância de aproximadamente 1.50 m para a impulsão, que também deveria ser passada em saltos na mesma perna. Após ultrapassar o bloco, o aluno precisava dar pelo menos mais dois saltos com a mesma perna, para que a tarefa fosse aceita como realizada. Foram realizadas até três passagens válidas por perna, em cada altura. Como erro, considerou-se o toque no chão com a outra perna, o derrubar dos blocos, ou ainda, após ultrapassar o bloco de espuma, tocar os dois pés juntos no chão, por isso pedia-se que depois de transpor os blocos de espumas que sejam dados mais dois saltos. A continuidade somente era realizada se nas duas passagens anteriores houvesse um total de 5 pontos, caso contrário, a tarefa era interrompida. Isso foi valido para a perna direita, assim como para a perna esquerda. Avaliação da Tarefa: com os 12 blocos de espuma (altura = 60cm), podem ser alcançados no máximo 39 pontos por perna, totalizando, dessa forma, 78 pontos. Tarefa 03 - Salto Lateral Objetivo: verificar a velocidade em saltos alternados. Material: uma plataforma de madeira (compensado) de 60 x 50 x 0,8cm, com um sarrafo divisório de 60 x 4 x 2cm e um cronômetro. Execução: consistiu em saltitar de um lado para o outro, com os dois pés ao mesmo tempo, o mais rápido possível, durante 15 segundos, no total foram executadas duas tentativas válidas. O avaliador demonstrava a tarefa, colocando-se ao lado do sarrafo divisório, saltitando por cima dela de um lado a outro, com os dois pés ao mesmo tempo, orientou-se evitar a passagem alternada dos pés (um depois do outro). Como exercício ensaio, foram realizados cinco saltitos, não era considerado erro enquanto os dois pés forem passados respectivamente sobre o sarrafo divisório, de um lado para o outro. Quando o aluno tocava o sarrafo, saía da plataforma ou parava durante um momento, a tarefa não podia ser interrompida, porém, o avaliador instruía imediatamente o sujeito: Continue! Continue!. Não pode ser permitido mais que duas tentativas não avaliadas, no total, deveriam ser executadas duas passagens válidas. Avaliação da Tarefa: registra-se o número de saltos dados, em duas passagens de 15 segundos (saltitando para um lado, conta-se 1 ponto; voltando, conta-se outro, assim sucessivamente). Tarefa 04 - Transferência Sobre Plataforma Objetivo: verificar a lateralidade e a estruturação espaço-temporal. Material: foram utilizados para o teste, 2 plataformas de 25 x 25 x 5cm e um cronômetro. As plataformas foram posicionadas lado a lado com uma distância entre elas de 5cm. Na direção e deslocar foi adotado uma área livre de 5 a 6 metros. Execução: a tarefa consistiu em deslocar-se sobre a plataforma que estava colocada no solo, em paralelo, um ao lado da outra, com um espaço de 12,5 cm entre elas. O tempo de duração foi de 20 segundos, e o indivíduo teve duas tentativas para a realização da tarefa. Primeiramente, o avaliador demonstrou a tarefa da seguinte maneira: ficou em pé sobre a plataforma da direita colocada a sua frente; pegou a da esquerda com as duas mãos e a coloca a seu lado direito, passando o pisar sobre ela, livrando sua esquerda, e assim sucessivamente (a transferência lateral era feita para a direita ou para a esquerda, de acordo com a preferência do indivíduo. Essa direção deveria ser mantida nas duas passagens válidas). Se houvesse apoio das mãos, toque dos pés no chão, queda ou quando a plataforma for pega apenas 44 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 14, n. 4, 2015 - ISSN: 1981-4313

com uma das mãos, o avaliador instruía o participante a continuar e, se necessário, fazia uma rápida correção verbal, sem interromper a tarefa. Não foram permitidos mais do que duas tentativas falhas. Foram executadas duas passagens de 20 segundos, devendo ser mantido um intervalo de pelo menos 10 segundos entre elas. Avaliação da tarefa: conta-se tanto o número de transferência das plataformas, quanto às do corpo. Os testes propostos pelo KTK podem ser aplicados individualmente, apresentando confiabilidade de 0.65 a 0.87, mas ao se realizar a bateria completa, há confiabilidade de 0.90, o que demonstra credibilidade para a sua aplicação (GORLA, ARAÚJO e RODRIGUES, 2009). Procedimentos O período da coleta de dados foi no período de maio a julho de 2014, nas dependências de uma APAE de uma cidade do estado do Mato Grosso, Brasil. Realizou-se um pré-teste em três dias, no período da manhã, os alunos um por vez eram levados à quadra da instituição onde realizavam a bateria de teste do KTK com duração de 30 a 40 minutos. Após o pré-teste foram feitas 10 intervenções, no período de duas semanas, que tinham como objetivo trabalhar a coordenação motora geral dos alunos por meio de aulas de ginástica geral. As aulas eram acompanhadas da professora responsável pela turma com duração de uma hora. Ao final, foi realizado o pós-teste da bateria de teste KTK em três dias, com duração de 30 a 40 minutos. Análise Estatística Os resultados foram analisados de acordo com a tabela de classificação do teste KTK e a partir dos procedimentos descritivos da média e desvio padrão da média. Para a comparação entre o pré-teste e o pós-teste foi aplicado o teste Pairad t, o nível de significância assumido foi de 5% (P 0,05). Foi utilizado o software Microsoft Office Excell RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise dos resultados obtidos através das coletas do pré e pós-teste foram apresentados e organizados em forma de gráficos contendo a somatória das tarefas e o escore individual de cada sujeito da pesquisa. Por meio deste resultado no pré-teste, determinamos o desempenho motor de cada indivíduo e de acordo a classificação do teste KTK, se o coeficiente motor do sujeito se encontrar entre 56 70 teria classificação considerada baixa, que consiste em um repertório motor insuficiente. A seguir, o gráfico 1 mostra a comparação dos resultados da tarefa trave de equilíbrio pré e pós-teste: Gráfico 1. Resultados do pré e pós-teste na trave de equilíbrio. Nota: construção da autora. Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 14, n. 4, 2015 - ISSN: 1981-4313 45

No gráfico 1, observa-se que a maioria dos sujeitos no pós-teste apresentou uma melhora de desempenho na trave de equilíbrio. O sujeito IV foi o que teve melhor desempenho, com uma diferença de 13 pontos do pré-teste para o pós-teste, já o sujeito VI manteve o desempenho. Durante a aplicação do pré-teste todos os indivíduos mostraram insegurança ao andar sobre a trave, mesmo após as tentativas para o reconhecimento do equipamento. Durante as intervenções foram feitas atividades que estimulassem a questão do equilíbrio, como: andar sobre uma corda ou risco de giz no chão, realizar saltitos de costas, de frente ou lateralmente. Na realização do pós-teste notou-se que a insegurança ainda existia, mas com uma significativa melhora da maioria dos indivíduos. No estudo de Scopel (2008) apenas um sujeito teve uma pontuação diferente de zero na tarefa trave de equilíbrio, sendo que este resultado pode estar relacionado com insegurança e ansiedade dos indivíduos, por estarem em uma situação nunca vista antes e na presença de pessoas novas. A seguir o gráfico 2 mostra a comparação dos resultados da tarefa salto monopedal no pré e pós-teste: Gráfico 2. Resultados do pré e pós-teste no salto monopedal. Nota: construção da autora. Os dados encontrados no gráfico 2, mostram que os sujeitos II, IV, V, VIII, IX e X melhoraram a classificação da tarefa, entretanto os indivíduos III, VI e VII obtiveram a mesma pontuação e o sujeito I apresentou pontuação inferior no pós-teste, com déficit de 6 pontos em relação ao pré-teste. A tarefa de salto monopedal foi à que os sujeitos demonstraram maior dificuldade de compreensão e execução tanto no pré quanto no pós-teste. A tarefa poderia ter sido mais eficiente se não fossem notadas dificuldades no conceito de lateralidade, imagem corporal e excesso de peso. Rodrigues e Nohama (2012) buscaram verificar a dificuldade no desenvolvimento psicomotor dos alunos com deficiência intelectual do sexto ao nono ano do Ensino Fundamental. Uma das dificuldades é a questão da lateralidade, que é definida como a capacidade motora de percepção associada à predominância motora do sujeito relacionada a um dos lados do corpo, direta ou esquerda. Gorla (2012) afirma a existência de uma correlação antropométrica e de coordenação motora em pessoas com deficiência intelectual, que valores de IMC estão ligeiramente associados ao nível de desenvolvimento coordenativo, sobretudo no salto monopedal, onde há um deslocamento vertical do centro de gravidade, prejudicando os sujeitos no teste. Nas primeiras aulas de intervenções, os participantes demonstraram dificuldades e receio nas atividades de saltar dentro de arcos, pois eram estimulados a saltar cada momento com uma perna. No decorrer das aulas, foi observado que a perna dominante era mais eficiente, tornando o movimento um pouco mais seguro. A seguir, o gráfico 3 mostra a comparação dos resultados da tarefa salto lateral do pré e pós-teste: 46 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 14, n. 4, 2015 - ISSN: 1981-4313

Gráfico 3. Resultados do pré e pós-teste do salto lateral. Nota: construção da autora. No gráfico 3, podemos perceber que a maioria dos sujeitos obtiveram melhora na classificação da tarefa, com escore de desempenho variando de 1 a 10 pontos. Apenas o sujeito II apresentou pontuação inferior no pós-teste, pois perdeu muito tempo arrumando o corpo para a realização dos saltos, com isso apresentou um déficit de 7 pontos em relação ao pré-teste. Durante a realização do pré-teste alguns participantes ultrapassavam a área delimitada, perdiam o equilíbrio, pisavam no sarrafo e paravam de um salto para o outro antes do tempo terminar. Após as intervenções, a realização do pós-testes deixou os indivíduos mais confiantes para a realização da tarefa, as dificuldades continuaram, mas com menor frequência. A seguir o gráfico 4 mostra a comparação dos resultados da tarefa transferência sobre plataforma pré e pós-teste: Gráfico 4. Resultados do pré e pós-teste da transferência sobre plataforma. Nota: construção da autora. Os dados do gráfico 4, mostram que os sujeitos VIII e IX obtiveram resultados inferiores no pós-teste, com uma diferença de 6 e 1 ponto respectivamente em relação ao pré-teste. Os demais sujeitos participantes desta pesquisa apresentaram melhora, com variação de 1 a 10 pontos. Durante a execução da tarefa, foi observado que os indivíduos demonstraram preocupação em arrumar a plataforma uma ao lado da outra em vez de fazer a atividade com rapidez, que no caso é o objetivo da tarefa. Para a comparação entre o pré-teste e o pós-teste foi aplicado o teste Pairad t. Nesta análise P = 0,001 mostrou diferença significativa na somatória das tarefas entre o pré e pós-teste. O gráfico a seguir demonstra a comparação pré e pós-teste, do total geral. Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 14, n. 4, 2015 - ISSN: 1981-4313 47

Gráfico 5. Resultado geral do pré e pós-teste. Nota: construção da autora. É necessário estimular jovens com deficiência na tentativa de reduzir as suas dificuldades diárias, problemas de comportamentos (ansiedade) nas habilidades motoras, elaborar atividades adaptadas, formas diferentes de se realizar uma tarefa, análises do comportamento destas pessoas para que os profissionais possam e saibam trabalhar com este grupo (SCOPEL, 2008).Consideramos que a participação e prática regular nas aulas de educação física, ou em um programa de atividades físicas, podem contribuir, e muito, nos aspectos citados acima. Gorla (1997) explica que o objetivo da Educação Física Adaptada é ter um programa composto de diferentes atividades, que tem em vista a melhora do desenvolvimento motor, a saúde e o crescimento do indivíduo como um todo de acordo com sua idade cronológica. Cidade e Freitas (2002, p.27) afirmam que: No que concerne à área da Educação Física, a Educação Física Adaptada surgiu oficialmente nos cursos de graduação, por meio da Resolução número 03/87, do Conselho Federal de Educação, que prevê a atuação do professor de Educação Física com o portador de deficiência e outras necessidades especiais. A nosso ver, está é uma das razões pelas quais muitos professores de Educação Física, hoje atuando nas escolas, não receberam em sua formação conteúdos e/ou assuntos pertinentes à Educação Física Adaptada ou à inclusão. Os achados deste estudo demonstraram que mesmo com a realização parcial do programa KTK esta população apresentou melhoras significativas, mostrando que as práticas destas atividades físicas contribuem favoravelmente no desenvolvimento global do participante com deficiência intelectual. Destacase a importância das atividades físicas direcionadas/planejadas do profissional educador físico para essa população especial e no sentido de melhorar a qualidade de vida. A Educação Física é um dos fatores determinantes para o desenvolvimento motor de qualquer indivíduo. Ao avaliar o desenvolvimento motor de pessoas com deficiência intelectual, buscam-se meios que colaborem com o desenvolvimento global dos mesmos, favorecendo o alcance máximo ou um nível satisfatório de desempenho em suas tarefas motoras diárias. As atividades foram planejadas e conduzidas como se fossem aulas de educação física na escola, tendo como conteúdos principais a ginástica geral, sendo necessários alguns ajustes em decorrência das características dos sujeitos. CONCLUSÃO Por meio da análise dos resultados, verificou-se que os indivíduos participantes deste estudo, após as 10 intervenções, obtiveram uma melhora significativa na somatória das tarefas do teste KTK com P=0,001, no entanto a classificação total do teste, todos os voluntários apresentaram uma classificação considerada baixa, com repertório motor abaixo do esperado, o que condiz com o quadro geral desta população. 48 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 14, n. 4, 2015 - ISSN: 1981-4313

Na inspeção geral, foi perceptível a ambientação entre eles. Nas primeiras aulas, tínhamos que parar muitas vezes para minimizar os conflitos entre os próprios alunos e durante o processo a interação entre eles foi melhorando, tornando as aulas mais proveitosas. Está evidente que estes sujeitos mesmo tendo apenas 10 aulas comprovaram uma evolução no seu desenvolvimento motor, mostrando que se este trabalho fosse contínuo estes alunos poderiam apresentar uma classificação muito melhor. Ao analisar na literatura estudos que avaliam a coordenação motora desta população, percebemos que está ainda necessita ser mais explorada pela Educação Física se comparada aos estudos vinculados a outras áreas da Educação Física. Se houver mais estudos com esta temática, tanto professores, quanto alunos, terão uma nova oportunidade de campo de pesquisa e estudos para o seu conhecimento, assim como uma maior aquisição de conhecimento a cerca do tema. A população estudada necessita de mais atenção, necessitam de estímulos e estes estímulos podem partir da atividade física planejada, sendo que isto só vai ser possível por meio de professores e alunos capacitados. Neste trabalho ficou claro que aulas de Educação Física planejadas e direcionadas a este público, com o foco na melhora do seu desempenho motor, mostrou-se satisfatório e atingiu os objetivos propostos. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE DEFICIÊNCIAS INTELECTUAL E DO DESENVOLVIMENTO (AADID). Concepção de deficiência intelectual segundo a associação americana de deficiências intelectual e do desenvolvimento. Washington, DC: AAIDD, 2010. CIDADE, R.E; FREITAS, P. S. Educação física e inclusão: considerações para a prática pedagógica na escola. Integração, v. 14 Edição Especial - Educação Física Adaptada, p. 27, 2002. FILHO, C.K., Educação física: uma (nova) introdução. 2. ed. PUC/SP, p. 123, 2008. FREITAS, J.V. Nível de coordenação de jovens atletas de atletismo. Coleção Pesquisa em Educação Física, Várzea Paulista, v. 12, n. 3, p. 109-116, 2013. FRUG, C.S. Educação especial, educação física e inclusão. In: Moreira, E. C. (Org.). Educação física escolar: desafios e propostas I. Jundiaí: Fontoura, p. 229-239, 2009. GALLAHUE, D.L; OZMUN, J. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos; 3. ed. São Paulo: Phorte, 2001. 561 p. GOMES, A.E.G. et al. Equilíbrio dinâmico em praticantes de tênis de campo: um estudo preliminar. Coleção Pesquisa em Educação Física, Várzea Paulista, v. 12, n. 2, p. 55-62, 2013. GORLA, J.I. Educação física especial: testes. Rolândia, PR: Physical-Fisio, 1997. p. 37. GORLA, J.I. Correlação antropométrica e da coordenação motora em pessoas com deficiência intelectual. Revista da Faculdade de Educação Física da Unicamp, Campinas, v. 10, n. 2, p. 165-179, maio/ago. 2012. GORLA, J.I; ARAÚJO, P.F; RODRIGUES, J. L. Avaliação motora em educação física adaptada. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2009. KIPHARD, E.J; SCHILLING, V.F. Köperkoordinations-test für kinder. Beltz test gmbh: Weinhein; 1974. MAIA, M.A.C.; PEREIRA, V.R. Efeito um programa centrado na dança de salão sobre a coordenação motora de escolares de 8 a 10 anos de idade. Coleção Pesquisa em Educação Física, Várzea Paulista, v. 13, n. 2, p. 63-72, 2014. RIBEIRO, A.S. et al. Teste de coordenação corporal para crianças (KTK): aplicações e estudos Normativos; Motricidade, v. 8, n. 3, p. 40-51, 2012. RODRIGUES, V.S.L; NOHAMA, P. A importância da psicomotricidade no processo de ensino-aprendizagem para alunos com deficiência intelectual. O professor PDE e os desafios da escola pública paranaense, Secretaria de Educação, Paraná, v. 1, p. 2-15, 2012. Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 14, n. 4, 2015 - ISSN: 1981-4313 49

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