ESTUDO DE ALGUMAS VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS QUE AUXILIARAM NA PREVISÃO DE TEMPO PARA O DIA 18 DE JANEIRO DE 1998 PARA O ESTADO DE PERNAMBUCO. Flaviano Fernandes Ferreira 1 Ricardo de Souza Rodrigues 2 RESUMO Este trabalho dá ênfase ao uso do modelo global, com uma resolução de 200x200 km, utilizado no CPTEC para o estudo de algumas variáveis meteorológicas que auxiliaram na previsão de tempo para o dia 18 de janeiro de 1998 no estado Tomando a análise (condições iniciais do modelo numérico) para o dia 18 de janeiro de 1998 (00 GMT - Unidade de Tempo Convencional) e as previsões para 24, 48 e 72 GMT. DADOS E METODOLOGIA Foram utilizadas imagens (canal IR) do satélite GOES-08 com intervalo médio de 2 horas, para o período de 18 a 21 de janeiro de 1998. Foram utilizadas análises para os níveis de 1000 a 250 hpa válidas para às 00 GMT do dia 18 de janeiro de 1998 e as previsões das 24 GMT até as 72 GMT do modelo global rodado no CPTEC/INPE. Com essas análises foram traçadas os campos de convergência de umidade, direção e velocidade do vento e o corte vertical (7,7º S) da componente vertical do vento omega (ω). Os dados de precipitação observado para o período 18 a 21 de janeiro de 1998 fornecidos pelo DEHM/SECTMA do estado de Pernambuco. RESULTADOS IMAGENS DO SATÉLITE GOES-08 NO IR (Infravermelho) Pelas imagens do satélite GOES-08 (00:00 as 23:00 GMT) do dia 18 de janeiro de 1998, observa-se que o NEB está praticamente todo encoberto por nebulosidade na maioria das imagens, devido a influência dos seguintes sistemas: em altos níveis pela Alta da Bolívia (AB), por um cavado e por um Vórtice Ciclônico de Ar Superior (VCAS) sobre o oceano adjacente; e nos baixos e médios níveis por instabilidade causada pela frente fria sobre o sul da Bahia. Esses sistemas acoplados provocaram muita instabilidade sobre toda a região do NEB, figuras 01 e 02. 1 aluno de graduação do DCA/UFPB. 2-Pesquisador do SECTMA/DEHM
Figura 01 - Imagens do satélite GOES-8 (IR) para o dia 18 de janeiro de 1998 as 00:00 e 12:00 GMT. Figura 02 - Imagens do satélite GOES-8 (IR) para o dia 19 de janeiro de 1998 as 00:00 e 12:00 GMT. CONVERGÊNCIA DE UMIDADE ANÁLISE A partir das imagens de satélite das 00:00 e 12:00 GMT, figura 01 e comparando-a com os campos de análise de convergência de umidade para o dia 18 de janeiro de 1998, onde pode-se observar em 1000 hpa valores significativos de convergência na maior parte das regiões leste e oeste de PE. Por outro lado, na região central de PE, pode-se ver que os máximos valores de convergência superiores a 1.5 *10-5 g/kg*s se concentram nessa região. Em 850 hpa, figura 03, verifica-se valores inferiores a 0.5 *10-5 g/kg*s de convergência de umidade sobre o Agreste ao Sertão, enquanto, na Zona da Mata e Litoral existe uma divergência de umidade.
10 mm 8 mm 6 mm 4 mm 2 mm Figura 03 - Campo da convergência de umidade ao nível de 850 hpa. Modelo inicializado com os dados do dia 18/01/98 as 00:00 GMT. Em 700 hpa, apenas na microrregião de Araripina, nota-se uma fraca divergência, e no restante do estado observa-se uma neutralidade, os quais podem ter favorecido a formação da nebulosidade observada na imagem do satélite e verificada nos dados observados de precipitação, figura 4. Figura 04 - Precipitação acumulada para o dia 18 de janeiro de 1998 sobre o estado PREVISÃO Nas primeiras 48 horas observava-se que, no nível de 1000 hpa, o núcleo de máximos valores de convergência de umidade deslocaria-se para o Sertão de PE, sendo também verificado uma intensificação em 850 hpa, figura 05 e 06. Em 700 hpa notava-se divergência no Sertão, evidenciando que, poderia existir a possibilidade de formação de nuvens convectivas, principalmente nas regiões montanhosas. Enquanto que, no litoral, os campos mostravam uma fraca divergência, inibindo assim, a formação de nuvens. Essa previsão foi confirmada através dos campos observados da precipitação nas figuras 07 e 08.
35 mm 30 mm 25 mm 20 mm 15 mm 10 mm 5 mm 0 mm 55 mm 50 mm 45 mm 40 mm 35 mm 30 mm 25 mm 20 mm 15 mm 10 mm 5 mm Figura 05 - Campo da convergência de umidade ao nível de 850 hpa. Modelo inicializado com os dados do dia 18/01/98 as 00:00 horas GMT. Previsão para o dia 19/0198 00:00 horas GMT. Figura 06 - Campo da convergência de umidade ao nível de 850 hpa. Modelo inicializado com os dados do dia 18/01/98 as 00:00 horas GMT. Previsão para o dia 20/0198 00:00 horas GMT. Figura 07 - Precipitação acumulada para o dia 19 de janeiro de 1998 sobre o estado Figura 08 - Precipitação acumulada para o dia 20 de janeiro de 1998 sobre o estado
95 mm 85 mm 75 mm 65 mm 55 mm 45 mm 35 mm 25 mm 15 mm 5 mm Em 1000 hpa para 72 horas, sobre o setor oeste do Sertão de PE, mostrava que a convergência de umidade indicava possibilidade de formação de nuvens no setor. E também, observava-se uma região de divergência estendendo-se desde o Litoral até o Agreste. Essa divergência não favorecia a formação de nuvens, mas poderia causar precipitações devido aos efeitos de brisas. Quando comparamos essa previsão com os dados observados de precipitação, figura 09, percebe-se a ocorrência de chuvas acima de 2,0 mm no Litoral, Zona da Mata e Agreste do estado, enquanto que, no Sertão não foi observado registros de chuvas. Figura 09 - Precipitação acumulada para o dia 21 de janeiro de 1998 sobre o estado DIREÇÃO E VELOCIDADE DO VENTO ANÁLISE Na análise dos campos do ventos do dia 18 de janeiro de 1998 em 1000 hpa, pode-se observar que, desde o Litoral até o setor oriental do Sertão do estado de Pernambuco, os ventos predominantes são de leste, com valores em torno de 10 m/s. Por outro lado, no setor oeste do estado, os ventos predominantes são de nordeste com intensidade de 10 m/s. Em 200 hpa, as 00:00 GMT, observava-se a presença da AB, que está associada a intensa atividade convectiva, precipitação e liberação de calor latente. Esse sistema favoreceu a formação de um cavado em altos níveis sobre o NEB. Devido a amplificação desse cavado formou-se um vórtice ciclônico de ar superior (VCAS) sobre o oceano Atlântico, com centro entre os meridianos de 28ºW e 32ºW. Esses sistemas acoplados produziram muita instabilidade e chuvas em algumas regiões do NEB. PREVISÃO Nas previsões das 24 e 48 GMT em 1000 hpa mostravam que as configurações permaneceriam semelhantes as observadas na análise, evidenciando a confluência dos ventos sobre o estado do Piauí e no extremo oeste Na previsão das 72 GMT, observava-se uma mudança significativa dos ventos de leste para sudeste próximo ao litoral do NEB. Enquanto que, a região de confluência dos ventos, no setor oeste de Pernambuco, deslocaria-se em direção aos estados do Piauí e Maranhão. Nas previsões de 24, 48 e 72 GMT em 200 hpa, observava-se que o VCAS perderia força e deslocaria-se para oeste, desaparecendo totalmente após 48 GMT, A AB intensificaria o transporte de umidade para o setor oeste do NEB e intensificaria o cavado em altos níveis, favorecendo a nebulosidade na região.
VELOCIDADE VERTICAL - OMEGA ANÁLISE Observando a imagem do satélite GOES-08 para as 00:00 GMT dos dias 18 de janeiro de 1998, figura 01, e comparando-a com a análise (corte vertical no paralelo de 7,7º S) da componente vertical da velocidade (ω), figura 15, para o mesmo horário e dia, podemos observar que os movimentos ascendentes atingem valores superiores a 3 mb/s, entre os meridianos de 35ºW a 42ºW e entre os níveis de 950 a 300 hpa, mais especificamente sobre as microrregiões de Salgueiro e Pajeú no estado Essas informações são condizentes com a nebulosidade observada na imagem do satélite, bem como, com os dados de precipitação observados na figura 04. Figura 15 - Corte latitudinal em 7,7 S da componente vertical da velocidade do vento (omega) em mb/s. Modelo inicializado com os dados do dia 18/01/98 as 00:00 horas GMT. PREVISÃO A previsão para 24 horas (19/01/1998), observou-se o deslocamento para oeste (39ºW e 44ºW) e intensificação do movimento ascendente. Essa previsão foi confirmada pela precipitação observada na figura 07, onde podemos observar que na faixa entre 38,5ºW e 41ºW, ocorreram chuvas acima de 10 mm que se concentraram nas microrregiões de Salgueiro e de Araripina. Na previsão para 48 horas (20/01/1998), observou-se movimentos verticais com valores inferiores a 3 mb/s se concentrando, entre os níveis de 900 e 700 hpa, e nos meridianos de 39ºW e 42ºW, que corresponde ao setor ocidental do Sertão de Pernambuco. Essa variável indica a possibilidade de que ocorram precipitações nessa região. E essa previsão foi confirmada quando obtivemos os dados reais de precipitação com chuvas acima de 10 mm na microrregião de Araripina, figura 08. Entretanto na previsão para 72 horas, os valores de omega diminuíram, em valor absoluto, foram intensos suficientes para provocar precipitações em pontos isolados no extremo oeste do estado. No entanto, essa previsão não foi confirmada,
pois não foram observadas precipitações no extremo oeste do Sertão, figura 09. Mas apenas no Litoral e Zona da Mata do estado Possivelmente, ocorreram chuvas em locais não cobertos pela rede de observação. CONCLUSÕES 1. Podemos concluir que as três variáveis respondem satisfatoriamente para as previsões no prazo máximo de até 48 horas, por outro lado, às previsões acima de 72 horas não se concretizam, devido as limitações do modelo. 2. Os sistemas acoplados, Alta da Bolívia, Cavado, Vórtice Ciclônico e as instabilidade associadas a frente frias sobre o sul da Bahia, influenciaram as precipitações que ocorreram nos período estudo. 3. As chuvas ocorridas no litoral do estado de Pernambuco foram provocadas por sistemas de brisas.