Mecanismos processuais da União Européia: um paradigma para o Mercosul



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Transcrição:

Artigos Mecanismos processuais da União Européia: um paradigma para o Mercosul Jânia Maria Lopes Saldanha Doutora em Direito, Pesquisadora, Coordenadora e professora do Mestrado em Integração Latino-Americana (MILA/UFSM). Silviane Meneghetti de Freitas Advogada, Mestranda em Integração Latino-Americana (MILA/UFSM). silvimeneghetti@gmail.com Resumo: Este artigo apresenta a problemática da adoção dos mecanismos processuais da justiça comunitária no direito latino-americano. A União Européia constitui uma organização, na qual vige o direito comunitário, com a previsão de instrumentos processuais que garantem a correta observância das normas comuns, servindo de paradigma para o Mercosul, um organismo dotado de insegurança jurídica, além de possuir um processo civil minimalista. O direito material para ser efetivo necessita de normas processuais que assegurem correta observância e efetividade destas, por isso os mecanismos processuais são muito relevantes para a concretização da segurança jurídica de que as organizações internacionais precisam para ampliação do seu processo de integração. Porém, a adoção desses meios processuais no Mercosul exige modificações consideráveis no âmbito da organização e de seus Estados-membros, visando à valorização dos interesses comunitários, frente aos valores individualista e soberanos então vigentes. Palavras-chave: mecanismos processuais; direito comunitário; Mercosul Sumário: 1 Mecanismos processuais da União Européia - 1. 1 Ação de anulação - 1. 2 Ação de incumprimento - 1. 3 Ação de indenização - 1. 4 Ação por omissão - 1. 5 Recurso ordinário - 1. 6 Reenvio prejudicial 2. Mecanismos processuais da União Européia: perspectiva para o Mercosul - 3 Considerações finais - Referências 1 Mecanismos processuais da União Européia A União Européia é uma organização supranacional, constituída com o fim de fortalecer os Estados-membros frente ao mundo globalizado, assegurando o bem-estar dos cidadãos que dela fazem parte, a fim de concretizar objetivos comunitários, por meio da democracia, cidadania, estabilidade econômica e segurança jurídica. A organização internacional européia possui, além de outras inovações estruturais, um ordenamento jurídico próprio, que se sobrepõe às ordens normativas dos Estados nacionais, com a vigência de normas e princípios próprios, que norteiam o direito comunitário. Para a garantia da correta observância das regras comuns, existem mecanismos processuais, quais sejam: ação de anulação, ação de incumprimento, ação omissiva, ação indenizatória, recurso ordinário, que constituem o contencioso comunitário, e o reenvio prejudicial, sendo uma forma de cooperação jurisdicional entre o ordenamento da Comunidade Européia e os direitos dos Estados-membros, visando à interpretação uniforme e eficaz das regras comunitárias. A União Européia, dotada de supranacionalidade e de uma ordem jurídica efetiva, serve de paradigma para o Mercosul, uma organização intergovernamental, que, apesar de possuir Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 84, p.161-170, abr./maio, 2007 161

um ordenamento jurídico particular, não tem meios para assegurar a sua correta observância. Em vista disso, a adoção dos mecanismos processuais comunitários é um passo relevante à ampliação do processo integracionista do direito latino-americano, cuja problemática será objeto de análise do presente artigo. 1. 1 Ação de anulação A ação de anulação é um meio processual que permite aos Estados, ao Conselho, à Comissão e, em certas condições, ao Parlamento, requerer ao Tribunal de Justiça que as disposições comunitárias sejam anuladas, permitindo também que os particulares possam solicitar a anulação de atos jurídicos que prejudiquem seu direito individual, com a garantia do controle da legalidade dos atos dos órgãos comunitários 1, tendo como fim precípuo o controle da legalidade dos atos das instituições da União Européia. 2 A ação anulatória tem como legitimados ativos: os Estados-membros, a Comissão, o Conselho e o Parlamento Europeu, em qualquer caso, o Tribunal de Contas e o Banco Central Europeu, se estiverem relacionados direitos conferidos a esses órgãos, e as pessoas singulares (cidadãos) ou coletivas (empresa da Comunidade), caso sejam destinatários dos atos eivados de nulidade, ou, embora dirigidos a terceiros, lhes atingem direta e individualmente. O fundamento da ação de anulação, que está prevista nos arts. 230, 231 e 233 do Tratado das Comunidades Européias (TCE), pode ser: incompetência, violação de formalidades essenciais, violação dos tratados constitutivos ou das regras comuns, ou desvio de poder, dependendo de cada caso e da espécie de ato a ser desrespeitado. O Tribunal, analisando as provas angariadas nos autos, conforme a livre convicção dos julgadores, anulará o ato impugnado, se o recurso tiver fundamento. Porém, no que tange ao Regulamento, fonte derivada da União Européia que contém prescrições gerais, impessoais e abstratas, com força cogente e eficácia contra todos, o órgão jurisdicional, quando considerar imprescindível, indicará os efeitos deste ato que continuarão vigentes, devido a sua relevância para a ordem comum. A ação de anulação é muito importante para a efetividade das normas da ordem comunitária, garantindo a plena segurança de que estas serão devidamente cumpridas, pois, se houver qualquer ato comum eivado de nulidade, as partes legítimas poderão requerer a sua anulação e, por conseqüência, a sua retirada do mundo jurídico. Após a análise da ação anulatória, será abordada a ação de incumprimento, que constitui um outro importante meio processual do contencioso comunitário. 1. 2 Ação de incumprimento O Tribunal de Justiça das Comunidades Européias não tem a função de modificar as decisões proferidas pelos julgadores dos Estados-membros, visto que este não se caracteriza como um tribunal recursal, nem possui jurisdição suprema frente aos juízes nacionais. Desse modo, esta instituição não tem o poder de reformar os julgamentos contrários ao direito comunitário emitidos pelos juízes dos Estados, nem de anular ou 1 MEDEIROS, Antonio Paulo Cachapuz de. Tribunais supranacionais e a aplicação do direito comunitário. In: Direito comunitário do Mercosul. Porto Alegre: Liv. do Advogado, 1997. p. 166. 2 SEITENFUS, R.; VENTURA, D. Introdução ao direito internacional público. 3. ed. Ver. ampl. Porto Alegre: Liv. do advogado, 2003. p. 193. Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 84, p.161-170, abr./maio, 2007 162

revogar os atos contrários à justiça supranacional emanados pelos Estados-membros. 3 Por isso, é necessário que exista um instrumento capaz de efetivar a primazia do ordenamento jurídico comunitário com relação às normas nacionais, com o fim de coibir decisões contrárias à ordem comum, garantindo a sua efetividade, sendo esse meio processual a ação de incumprimento, prevista nos art. 226 a 229 do Tratado das Comunidades Européias (TCE). A ação de incumprimento pode ser conceituada como um mecanismo processual, julgado pelo Tribunal de Justiça, a serviço da União Européia, para garantir a aplicabilidade e primazia de suas regras com relação aos Estados Nacionais, devendo estes cumprir a decisão proferida, sob pena de sofrer uma sanção pecuniária. Esse instrumento processual ora analisado tem por finalidade o controle do cumprimento das obrigações decorrentes do direito comunitário pelos Estados-membros, que podem ser condenados a uma sanção pecuniária se não agirem em conformidade com a determinação judicial prolatada pelo Tribunal de Justiça, consoante acima mencionado. 4 Com relação à legitimidade, para a propositura da ação de incumprimento, estão legitimados a Comissão e os Estados-membros; por outro lado, os legitimados passivos podem ser qualquer Estado nacional que descumprir com as obrigações decorrentes das normas comunitárias. Os Estados somente poderão propor recurso de incumprimento perante o Tribunal de Justiça se a Comissão não tiver formulado parecer no prazo de três meses, a contar da data do pedido; por outro lado, a Comissão age extrajudicialmente, observando e velando pelo cumprimento do acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça, ocorrendo nessa instituição o contraditório, a apreciação fática e o pedido de sanção na fase extrajudicial, funcionando o mesmo como um fiscal da lei. 5 Agora, será analisada a ação indenizatória do direito europeu, sendo um relevante instrumento processual que assegura a correta observância das normas comuns. 1. 3 Ação de indenização A ação de indenização consiste num meio pelo qual o sujeito lesado busca judicialmente o ressarcimento dos prejuízos sofridos por um ato de outrem, que tem o dever legal de responder pelo seu dano. No contencioso comunitário, a ação indenizatória é um mecanismo processual, prevista nos arts. 235 e 288 do Tratado das Comunidades Européias (TCE), que permite ao Tribunal de Justiça a determinação de responsabilidade das instituições da União Européia por danos que possam causar 6, advindos, tanto dos contratos por elas celebrados, ou de responsabilidades extracontratuais das instituições e de seus agentes no exercício funcional. Este instrumento processual tem o intuito de reparar o dano quando a responsabilidade é das Comunidades Européias, cujos legitimados ativos são: as pessoas físicas, ou jurídicas, e os Estados-membros vítimas diretas de um prejuízo ocasionado por atos das instituições comunitárias. 7 3 CAMPOS, J. M. Direito comunitário. 8. ed. Lisboa: Fundação Calousto Gulbenkian, 1997. p. 320.. 1º volume O Direito Institucional 4 SEINTENFUS; VENTURA, 2003. p. 193. 5 O fato da Comissão ser fiscal das normas comunitárias, denunciando as irregularidades contrárias a estas, faze-se pensar no Ministério Público, que age para garantir a correta aplicação da lei, podendo ser feito um comparativo entre essas instituições, embora não tenham relação alguma. 6 MEDEIROS, 1997, p. 166. 7 SEITENFUS ; VENTURA, 2003, p. 194. Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 84, p.161-170, abr./maio, 2007 163

Segundo a Lei da ordem comum, art. 215 do TCE, a responsabilidade contratual da União Européia é regulada pela norma aplicável ao contrato em causa e, tratando-se de responsabilidade extracontratual, a indenização deve se dar em conformidade com os princípios gerais comuns aos direitos dos Estados-membros, aos danos ocasionados pelos seus órgãos ou pelos seus agentes no exercício funcional. Agora, feita a análise acerca da ação de indenização, será comentado sobre outro mecanismo processual da União Européia responsável pela efetividade do direito comunitário: a ação por omissão. 1. 4 Ação por omissão A ação por omissão é um mecanismo processual, previsto nos arts. 232 e 233 do Tratado das Comunidades Européias, que possibilita o controle das omissões ilegais dos atos das instituições da União Européia, por meio de uma decisão dos órgãos jurisdicionais deste organismo internacional, a fim de que cumpram com o ato do qual se omitiram. A finalidade desse instrumento processual ora analisado é constatar a carência de parte do Parlamento, do Conselho, da Comissão, ou do Banco Central, no domínio de suas competências, que, ao cumprirem o Tratado, deveriam ter decidido, obrigando, judicialmente, a instituição a suprir sua omissão. 8 A legitimidade ativa para a propositura da ação omissiva é ampla, possibilitando aos Estados-membros, às instituições comunitárias ou às pessoas, físicas ou jurídicas (quando a instituição comunitária não lhe dirigiu um ato com força decisiva) buscar o cumprimento de atos ilegalmente omissivos. Com relação à legitimidade passiva da ação por omissão, esta pode ser intentada contra: o Parlamento Europeu, o Conselho, a Comissão, ou o Banco Central Europeu, para fazer com que estas instituições ajam em conformidade com as diretrizes da União Européia, a fim de resguardar sua segurança e efetividade. Antes da propositura do recurso de omissão, há um procedimento prévio, no qual a parte demandante deve convidar a instituição omissa a agir em obediência às normas comunitárias. Após esse convite de ação, a instituição tem o prazo de dois meses para cumprir às disposições comuns, sob pena de, num novo prazo de igual período (dois meses), do ingresso da ação de omissão junto ao órgão competente para o julgamento da lide. Os Tribunais europeus, tanto o Tribunal de Justiça das Comunidades Européias, como o Tribunal de Primeira Instância, não são competentes para decidir qual medida é necessária a ser tomada em casos específicos das instituições comunitárias, limitando-se a constatar a ilegalidade da omissão ditada no pedido inicial, e a determinação do seu cumprimento, caso entenda pela obrigação da ação do órgão omisso. Outro mecanismo processual do contencioso comunitário é o recurso ordinário, que será analisado a seguir, constituindo em um meio que possibilita a reapreciação da questão litigiosa por uma jurisdição diversa, a fim de obter o entendimento de outros julgadores acerca do mesmo objeto da lide. 8 SEINTENFUS; VENTURA, 2003, p. 194. Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 84, p.161-170, abr./maio, 2007 164

1. 5 Recurso ordinário O recurso ordinário 9 é um mecanismo processual, interposto perante o Tribunal de Justiça das Comunidades Européias, que propicia a análise da decisão proferida pelo Tribunal de Primeira Instância, visando a sua modificabilidade, existindo, assim, no direito comunitário o duplo grau de jurisdição. As decisões que podem ser objeto de reforma mediante recurso ordinário são as que colocam termo à instância, as que somente julgam o mérito parcialmente e as que finalizam um incidente processual de uma exceção de incompetência ou colocam termo a uma questão de admissibilidade, podendo o recurso ser interposto no prazo de 2 (dois) meses, a partir da notificação da decisão possível de reforma. Com relação à legitimidade ativa para a interposição do recurso ordinário, este pode ser interposto por qualquer dos sujeitos processuais que sofreram a sucumbência, total ou parcial. Quanto às pessoas físicas ou jurídicas, estas devem comprovar que a decisão objeto de recurso os afetou diretamente. Além disso, também são partes legítimas os Estadosmembros e as instituições comunitárias que não interviram na lide, igualando-se, nesse caso, às partes processuais, exceto em situações relativas a causas entre os Estados e seus agentes. O recurso ordinário deve ser limitado às questões de direito tratadas na decisão do litígio pelo Tribunal de Primeira Instância, podendo ter como fundamentos a incompetência deste órgão jurisdicional, as irregularidades do processo prejudiciais ao interesse da parte recorrente, e a violação da ordem jurídica comunitária pelo órgão julgador. No julgamento do recurso ordinário, se o Tribunal entender pela sua procedência, anula o acórdão do Tribunal de Primeira Instância, podendo decidir a lide definitivamente, ou remeter o processo ao Tribunal de Primeira Instância, a fim de ser julgado, ficando, essa instituição, vinculada a solucionar as questões de direito analisadas no acórdão do Tribunal de Justiça. O recurso ordinário é muito importante para o direito da União Européia, pois garante o duplo grau de jurisdição, com a possibilidade das decisões prolatadas serem revistas por julgadores também competentes, assegurando a justiça das decisões. Após as considerações sobre os instrumentos processuais do contencioso comunitário, será objeto de análise o processo de reenvio prejudicial, sendo o mecanismo mais importante para a concretização da uniformidade interpretativa do direito comunitário europeu. 1. 6 Reenvio prejudicial O reenvio prejudicial 10 é um mecanismo processual da União Européia, que tem por fim assegurar uma interpretação e uma aplicação uniforme do direito comunitário nos Estadosmembros, constituindo-se em um meio de colaboração entre o Tribunal de Justiça e os juízes nacionais, com o intuito de garantir a eficácia do ordenamento jurídico comum. No entendimento de Saldanha: 9 O recurso ordinário está devidamente previsto no Estatuto do Tribunal de Justiça das Comunidades Européias, de novembro de 2004, nos artigos 56. º e seguintes, com suas atualizações posteriores. 10 Devido à relevância do reenvio prejudicial para garantir a efetividade das normas comunitárias, além da sua previsão em textos legais, também existe a sua difusão mediante nota informativa no Jornal Oficial da União Européia, que foi editada em 1996, e devidamente atualizada, através da nota 2005/C 143/01, de 11 de junho de 2005. Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 84, p.161-170, abr./maio, 2007 165

O reenvio prejudicial é um mecanismo de direito processual comunitário, destituído de caráter contencioso, que permite às jurisdições nacionais dos Estados-membros da União Européia buscar resposta junto ao Tribunal de justiça, a respeito de uma questão prejudicial à resolução do objeto litigioso que fundamentou eventual ação processual proposta. 11 No decurso de um processo, em qualquer fase deste, se o juiz nacional considerar que a decisão sobre uma questão de direito comunitário, objeto de divergências interpretativas ou de validade, é imprescindível para decidir a lide, remeterá, oficiosamente ou por pedido das partes, a questão prejudicial à apreciação do Tribunal de Justiça, a fim de dirimir as dúvidas existentes, garantindo a segurança jurídica das normas comuns. O Tribunal de Justiça das Comunidades Européias, no que tange ao reenvio prejudicial, deve interpretar o direito comunitário ou pronunciar-se sobre a sua validade, não tendo a competência de aplicar este direito ao caso concreto a ser julgado no processo principal, cuja aplicação incumbe ao órgão jurisdicional do Estado-membro. O Tribunal, ao decidir sobre o processo de reenvio prejudicial, deve fazê-lo de forma suscinta, mas suficientemente completa, a fim de esclarecer a questão submetida a título prejudicial, que ensejou a suspensão processual no âmbito nacional. Após a prolação da decisão do reenvio, o Tribunal de Justiça envia a mesma ao juiz nacional, requerendo-lhe informações sobre a sua aplicação na lide principal e que lhe informe a sua decisão definitiva. O meio processual do reenvio prejudicial é muito eficaz na construção da União Européia, auxiliando na constituição de um espaço comum europeu 12, visando à efetividade do ordenamento jurídico comunitário, com sua conseqüente segurança jurídica, sendo um sistema muito vantajoso por possibilitar a interpretação uniforme e a aplicação homogênea das normas comuns, visto que viabiliza o diálogo permanente entre os juízes nacionais dos Estados integrantes da União Européia e o Tribunal de Luxemburgo 13, assegurando à correta observância da ordem comunitária. 2 Mecanismos processuais da União Européia: perspectiva para o Mercosul A existência de mecanismos processuais similares aos da União Européia constituiriam uma mudança relevante ao direito do Mercosul, para a ampliação de sua meta integracionista, com a impulsão dos Estados nacionais ao crescimento internacional almejado. Para a concretização da implantação dos instrumentos processuais presentes no direito comunitário em sociedades tão assimétricas como a dos Estados integrantes do Mercosul, devem ser estudadas as modificações estruturais necessárias neste organismo internacional, a fim de analisar a possibilidade da aplicação dos mecanismos processuais da União Européia. No âmbito do direito do Mercosul, as normas não possuem aplicabilidade direta nos Estados nacionais, pois necessitam do processo de incorporação nos ordenamentos jurídicos destes, inexiste uma instituição permanente para a aplicabilidade e interpretação normativa, além de não haver uniformidade interpretativa de suas regras, deixando a interpretação a cargo do 11 SALDANHA, J. L. Cooperação jurisdicional: reenvio prejudicial mecanismo processual a serviço do direito comunitário: perspectiva para a adoção no Mercosul. Porto Alegre: Liv. do Advogado, 2001. p. 34. 12 POZZOLI, L. Direito comunitário europeu: uma perspectiva para a América Latina. São Paulo: Método, 2003. p. 104. 13 SALDANHA, J. L. O direito processual e sua efetividade na condição de instrumento de atuação da ordem constitucional e comunitária. Revista de Integração Latino-Americana, Santa Maria, ano 1, n. 1, 2004, p. 178. Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 84, p.161-170, abr./maio, 2007 166

Poder Judiciário de cada Estado-membro, ocasionando entendimentos díspares acerca da mesma situação normativa. A resposta a essas incertezas jurídicas deve ser buscada na Norma Suprema de cada Estado-membro, com o estudo das disposições constitucionais sobre a permissão ou proibição da adoção do direito comunitário no Mercosul, com a conseqüente discussão acerca de um tribunal supranacional e de mecanismos processuais nessa organização internacional. No caso do Brasil, não há um permissivo constitucional previsto para a existência de uma ordem jurídica comunitária no Mercosul, nem um proibitivo 14, por isso, a questão passa a ser interpretativa. Além disso, a Carta Magna do ordenamento jurídico brasileiro, no seu art. 4º, parágrafo único 15, dispõe acerca da possibilidade da existência de uma comunidade latinoamericana das nações, através da integração no âmbito político, econômico, social e cultural dos povos das América Latina, deixando, desse modo, margem à interpretação jurídica da aceitação da supranacionalidade do Mercosul. No que tange ao Estado argentino, na Constituição então vigente, há referência à supranacionalidade 16, porém num sentido diverso do europeu, no qual as normas da ordem comum são superiores às normas internas, visto que, na Argentina, existe hierarquia entre as regras jurídicas nacionais e internacionais, mas, assim como o Brasil, sem haver a negação à adoção de uma ordem jurídica latino-americana. 17 Quanto ao Paraguai, é o único Estado-membro do Mercosul que faz menção expressa à admissão de uma ordem jurídica supranacional 18, no entanto não há similitude com a União Européia, que é uma verdadeira organização dotada de poderes acima dos Estado nacionais, equiparando-se a visão do direito argentino, no qual a supranacionalidade referese ao princípio da igualdade no âmbito internacional. 19 No que concerne ao Uruguai, a Constituição Federal deste país não faz referência à supranacionalidade, nem à ordem jurídica comunitária, permanecendo omissa com relação a essa problemática, porém, não obstaculiza a sua existência no Mercosul. 20 Como as modificações legislativas, nestes casos, por emenda constitucional, na totalidade dos integrantes do Mercosul, envolve diversos interesses e necessita da limitação da soberania destes Estados, a jurisprudência dos tribunais de cada país assume relevante função de interpretar as normas internas, priorizando a maior integração latino-americana. Além disso, é impossível se pensar na adoção de mecanismos processuais comunitários em um organismo que não possui um órgão jurisdicional permanente para o julgamento desses. No Mercosul, com sua estrutura jurídica, deve-se indagar quais magistrados julgariam uma ação proposta por uma instituição ou por um cidadão dos Estados nacionais, já que o Tribunal é composto com base nos países partes do litígio, ou como ficaria a análise do 14 VENTURA, D. A ordem jurídica do Mercosul. Porto Alegre: Liv. do Advogado, 1996. p. 65. 15 BRASIL. Constituição Federal 1988. Art. 4º, parágrafo único: A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. 16 Art. 75, inciso 24, da Constituição Nacional Argentina. 17 VENTURA, op. cit., p. 69. 18 Art. 145 da Constituição Paraguai, promulgada em 1992, faz menção expressa a uma ordem jurídica supranacional no Mercosul. 19 VENTURA, op. cit., p. 73. 20 VENTURA, p. 75. A Constituição da República Oriental do Uruguai, vigente desde 14 de janeiro de 1997, assegura a soberania estatal, não admitindo intervenção de outros Estados (art. 2º), porém, aceita a integração latino-americana (art. 6º), restando a questão da supranacionalidade relegada à interpretação jurisprudencial. Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 84, p.161-170, abr./maio, 2007 167

reenvio prejudicial, se o Tribunal é instituído caso a caso, perdendo esse instrumento a sua relevante função de uniformidade interpretativa, restando claro a necessidade de um Tribunal no Mercosul similar ao Tribunal de Luxemburgo. Ademais, a inserção da Cláusula Democrática no âmbito mercosulino representa um grande passo à consolidação de um processo mais integracionista, com a proteção da democracia e dos direitos humanos. No entanto, pelo fato das regras do Mercosul não terem uniformidade interpretativa e do significado de democracia não ser tratado no Protocolo, este fica a critério de cada caso concreto, conforme o entendimento dos diversos países integrantes, dificultando o avanço da integração regional. No Mercosul, apesar de existirem Estados democráticos, a cidadania resta minimizada, visto que os cidadãos dos países-membros ficam a mercê de suas decisões, permanecendo, este organismo internacional, na fase meramente econômica. A adoção dos mecanismos processuais da justiça supranacional no direito do Mercosul é uma forma de ampliar a sua cidadania, pois os cidadãos terão legitimidade ativa em determinadas ações para a defesa dos interesses comunitários, participando do processo de integração, além disso, por intermédio de um meio processual interpretativo, como o reenvio prejudicial na União Européia, o conceito de democracia será uniformizado, proporcionando maior efetividade aos princípios democráticos no âmbito esse organização. Primeiramente, antes da adoção dos mecanismos processuais presentes no direito comunitário, o Mercosul pode evoluir para a criação de normas processuais comuns nos Estados nacionais, com o intuito de aplicar e interpretar as normas da organização com mais harmonia e uniformidade. Os Estados-membros devem observar suas regras comuns, garantindo a segurança jurídica do cumprimento das mesmas, propiciando meios judiciais que assegurem a aplicabilidade normativa destas, por meio de um processo civil instrumental 3 Considerações finais Os mecanismos processuais do direito comunitário são relevantes para a garantia da segurança jurídica da União Européia, uma vez que, são meios judiciais que asseguram o cumprimento das normas comuns, com a aplicação de sanções à parte sucumbente, quando se tratar das ações contenciosas, ou a obrigatoriedade do juiz nacional de seguir a interpretação do órgão jurisdicional, no reenvio prejudicial. Para a aplicação dos mesmos institutos em sociedades tão diversas, como a européia e a latino-americana, o Mercosul deve passar por significativas modificações na sua atual estrutura, deixando de lado os interesses particulares dos Estados-membros pelos benefícios do organismo como um todo. Para a adoção dos institutos processuais da União Européia, o Mercosul deve modificar o seu sistema de solução de controvérsias, pois é incompatível com as ações comunitárias. É necessária a existência de um tribunal supranacional permanente nessa organização, para o julgamento dos mecanismos específicos, que, inclusive, poderão ser propostos, conforme o caso, pelos cidadãos dos seus integrantes e por suas instituições. Desse modo, o Mercosul deve afirmar a sua democracia e cidadania, possibilitando a presença dos cidadãos no processo de integração, que terão a competência, consoante ocorre no direito comunitário, para pleitear direitos frente à organização internacional, zelando, também, pela sua efetividade. Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 84, p.161-170, abr./maio, 2007 168

Os Estados integrantes do Mercosul devem abandonar a visão egoística para a adoção de uma estrutura comunitária, limitando-se a sua soberania para o bem comum, com a existência de normas jurídicas que transcendem os Estados-membros e seus cidadãos. Espera-se que, no futuro próximo, aconteçam mudanças significativas no direito latinoamericano, que ensejam, pelo menos, a iniciação de valorização de um organismo internacional efetivamente comunitário, para, após, a concretização prática de projetos doutrinários de adoção dos institutos da União Européia no Mercosul, como os mecanismos processuais. Abstract: This paper presents the problem of the adoption of the proceeding mechanisms of the community justice in the Latin-American right. The European Union constitutes an organization, in the which exist the community right, with the forecast of procedural instruments that they guarantee the correct observance of the common norms, serving as paradigm for Mercosul, an organism endowed with juridical insecurity, besides possessing a civil process minimalist. The material right to be effective needs procedural norms that they assure correct observance and effectiveness of these, for that the procedural mechanisms are very important for the juridical safety's materialization that the international organizations need for amplification of your integration process. However, the adoption of those procedural means in Mercosul demands considerable modifications in the ambit of the organization and of your States-members, seeking to the valorization of the community interests, front to the values individualist and sovereigns then effective. Keyswords: procedural mechanisms; community right; Mercosul Referências CAMPOS, J. M. Direito comunitário. 8. ed. Lisboa: Fundação Calousto Gulbenkian, 1997. v. 1. DINAMARCO, C. R. A instrumentalidade do processo. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 1998. MEDEIROS, Antonio Paulo Cachapuz de. Tribunais supranacionais e a aplicação do direito comunitário. In: Direito comunitário do Mercosul. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997. PEROTTI, A. D.; VENTURA, D. F. El proceso legislativo del Mercosur. Montevideo: Konrad-Adenauer-Stiftung A. C, 2004. PFETSH, F. R. A União Européia: história, instituição e processos. Tradução de Estevão C. de Rezende Martins. Brasília: UnB, 20 POZZOLI, L. Direito comunitário europeu: uma perspectiva para a América Latina. São Paulo: Método, 2003. SALDANHA, J. L. Cooperação jurisdicional: reenvio prejudicial: mecanismo processual a serviço do direito comunitário: perspectiva para a adoção no Mercosul. Porto Alegre: Liv. do Advogado, 2001. SALDANHA, J. L.; GOMES, J. F.; CUNHA J. L. Educar para a integração: a formação de uma identidade e de uma cidadania comuns como condição de possibilidade para a Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 84, p.161-170, abr./maio, 2007 169

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