INCLUSÃO EM TRANSICIONALIDADE Profa Dra IVONISE FERNANDES DA MOTTA * Profa Dra SANDRA CONFORTO TSCHIRNER ** RESUMO Um tema bastante abordado na contemporaneidade é a inclusão de pessoas com algum tipo de diferença marcante na sociedade. A psicanálise extra-muros mais precisamente a teoria winnicottiana nos permite pensar em possibilidades ou entraves sobre esse assunto. Entendemos que a inclusão não se faz apenas de forma objetiva, via uma determinação legal. Antes, haveria necessidade de uma prontidão interna, subjetiva, para que o processo possa ocorrer. Assim, ela aconteceria de três maneiras: objetiva, subjetiva e transicional. Utilizamos contos de fadas e mitos para apresentar nosso tema por entender que estes expressam representam, descrevem nossa humanidade, nossos processos de humanização e, sobretudo os processos transicionais de inclusão desde a família até à sociedade. Além disso, citamos a experiência transicional vivida no Carnaval por meio de um personagem, como exemplo máximo de inclusão subjetiva, real, individual e principalmente social onde e quando toda e qualquer pessoa e possibilidade de inclusão se realizam. Palavras chave Inclusão, Transicionalidade, Contos de Fadas, Carnaval. * Doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo; Docente da graduação e Pós graduação do Dpto de Psicologia Clínica do IPUSP ** Doutora em Saúde Mental de Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas; Membro do Espaço Potencial Winnicott do Dpto de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae
INCLUSÃO EM TRANSICIONALIDADE Profa Dra IVONISE FERNANDES DA MOTTA * Profa Dra SANDRA CONFORTO TSCHIRNER ** Um tema bastante abordado na contemporaneidade é a inclusão de pessoas com algum tipo de diferença marcante na sociedade. A psicanálise extra-muros mais precisamente a teoria winnicottiana nos permite pensar em possibilidades ou entraves sobre esse assunto. Não seria apenas de forma objetiva via uma determinação legal que uma pessoa poderia ser inclusa. Entendemos que a inclusão pode e deve ser feita pelo menos de três maneiras: objetiva, subjetiva e transicional. Antes do processo de inclusão objetiva propriamente dita haveria necessidade de uma prontidão interna para que esse processo possa ocorrer. Usamos a metáfora dos contos de fadas presente no mito das princesas, para entender este processo uma vez que estes expressam, representam dão significados e sentidos a certos aspectos humanos desde os pessoais, internos e subjetivos até mesmo os externos, sociais e universais. Deste modo, representam e descrevem nossa humanidade, nossos processos de humanização e, sobretudo de inclusão da família à sociedade. * Doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo; Docente da graduação e Pós graduação do Dpto de Psicologia Clínica do IPUSP ** Doutora em Saúde Mental de Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas; Membro do Espaço Potencial Winnicott do Dpto de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae
Utilizando os contos de fadas e mitos e a Psicanálise, podemos compreender aspectos conscientes, inconscientes, desejos e realidades presentes nas pessoas e em seus processos psíquicos. Segundo Bettelheim (2009) existem algumas semelhanças e diferenças entre mitos e contos de fadas. Em ambos o herói cumpre uma trajetória triste e sofrida, contado de forma metafórica, semelhante às dificuldades experimentadas no decorrer do desenvolvimento e dos processos humanos entre eles, o de inclusão. A diferença básica é que os mitos geralmente têm finais trágicos e inevitáveis, ao passo que os contos de fadas podem ser mutáveis e apresentam esperança, possibilidade de transformação, de felicidade e até mesmo de final feliz. Escolhemos usar contos de fadas sobre princesas pela possibilidade de reparação nele contida. O que significa ser princesa? Podemos entender pelo começo, ou seja, pela origem, pela inclusão na família. Nos contos de fadas de princesa a criança é sempre de origem nobre, especial, diferenciada e vantajosa se comprada às demais pessoas. Uma princesa quando nasce não sabe de sua origem como qualquer bebê humano. Deste modo, por princípio, todos os humanos podem ser majestade. Para uma mãe que deseja ser mãe de seu filho, aquela criança é uma majestade para ela e continua sendo pelos seus olhos e pela representação que ela faz da criança em sua vida. O que faz um ser humano se sentir humano seria mais do que a realização de desejos mas, principalmente ter suprida a necessidade de ser e de se sentir incluído na fantasia e no desejo dos pais. Quando a criança se identifica com a representação que os pais fazem dela ela não se sente, mas ela é uma majestade, princesa, ou seja, ela tem origem nobre. Este é um início de inclusão. O bebê é sua majestade no imaginário dos pais, na identificação primária e na sua inclusão familiar.
O que faz com que uma princesa seja vista e possa usufruir da magia de uma origem especial, de sua nobreza? Os contos de fadas têm sua base na ilusão como nos apresenta Winnicott (1975) quando afirma que a criatividade tem suas origens no processo que inclui a crença de que se criou o mundo e que o mundo criado nos inclui, nos cria e nos deseja. Sob esta perspectiva a vida vale a pena ser vivida e a esperança de criar e ser criado se realiza. Passamos a fazer parte do mundo dos humanos sob uma inclusão originária que não começa com uma atitude ou atividade social, mas com uma realização imaginativa. Em seguida haveria um outro tipo de inclusão que podemos tomar por base pela afirmação de Bettelheim (2009, pg 284). Toda criança deseja em algum momento ser um príncipe ou uma princesa e, por vezes, inconscientemente acredita sê-lo, tendo apenas sofrido um rebaixamento temporário devido às circunstâncias Nos mitos a ilusão pode servir ao propósito de aliviar a dor inevitável do final trágico e irreparável. Nos contos de fadas, a ilusão serve ao propósito do final feliz cindido, onde o bom e somente este prevalece de forma cindida e onipotente. No desenvolvimento humano, a ilusão mantém o desejo de viver e a esperança de reparação com a possibilidade de algum tipo de inclusão. Os contos de fadas proporcionam a possibilidade de nos identificarmos com a personagem de tal forma que possamos mais do que nos colocar no lugar, mas sermos, de verdade, o próprio personagem. Este seria um brincar situado no espaço de transição entre a fantasia e a realidade, mundo subjetivo e mundo objetivo que Winnicott (1975) denominou Espaço Intermediário ou Transicional que significa uma área intermediária de experiência, incontestada quanto à pertencer à realidade interna ou externa (compartilhada), que diz respeito ás artes, à religião ao viver imaginativo e ao trabalho científico criador.
Ouvir uma história de contos de fadas, assistir ou viver um personagem de príncipe ou princesa quer seja por identificação subjetiva e/ou por experiência objetiva pode significar uma experiência transicional de inclusão. A experiência vivida por meio de um personagem, na avenida no Carnaval pode ser citada como exemplo máximo de inclusão subjetiva, real, individual e social via transicionalidade. Naquela situação não existe classe social, doença mental, saúde, limitação, ilusão ou realidade. Todas as pessoas e todas as possibilidades de inclusão se realizam. Apesar da origem da inclusão estar situada em uma situação interna, subjetiva, ideal e na ilusão como nos finais felizes do casamento do príncipe com a princesa, a possibilidade ou até mesmo a realização de obtenção de um espaço social significa sem dúvida o final feliz igualmente sonhado e desejado dos contos de fadas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BETTELHEIM, B. A Psicanálise dos contos de fadas, trad. Arlene Caetano, 21ª edição, São Paulo, Ed. Paz e Terra, 2009 WINNICOTT,D.W. A Criatividade e suas origens In: O Brincar e a realidade, trad. Jose O. A. Abreu e Vanede Nobre, Rio de Janeiro, Imago, 1975 WINNICOTT,D.W. Objetos transicionais e fenômenos transicionais In: O Brincar e a realidade, trad. Jose O. A. Abreu e Vanede Nobre, Rio de Janeiro, Imago, 1975