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Ministério da Saúde Fundação Oswaldo Cruz Av. Brasil, 4365 Manguinhos Cx. Postal 926 CEP 21045-900 Tel. (021) 598 4242 PABAX Rio de Janeiro - RJ - Brasil Contribuições de um cientista social para aproximar a virologia ambiental das políticas públicas no Brasil 1 Texto preparado para a 2ª Reunião dos Chefes de Atividades do Centro Colaborador da OPAS/OMS em Saúde Pública e Ambiental, no dia 20 de maio de 2011, das 9h00 às 17h00, na Residência Oficial da Fiocruz. Carlos José Saldanha Machado, Pesquisador em Saúde Pública e Professor dos Programas de Pós-Graduação em Biodiversidade e Saúde (PGBS-IOC) e Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS-ICICT) da Fundação Oswaldo Cruz E-mail: saldanha@fiocruz.br Durante uma reunião de trabalho há algumas semanas atrás, os colegas José Paulo e Marize, Chefe e Vice-Chefe do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do Instituto Oswaldo Cruz, me pediram para apresentar, de forma resumida, o trabalho que estamos desenvolvendo em parceria, parceria estabelecida entre um cientista social, especialista no estudo das relações entre ciência, tecnologia e políticas públicas em saúde e em meio ambiente, e dois virologistas, especialistas no desenvolvimento de metodologias de diagnóstico para detecção e caracterização molecular de vírus responsáveis pelas gastrenterites agudas e presentes em ecossistemas aquáticos. Trata-se de uma ação de aproximação que estou empreendendo entre a virologia ambiental e um conjunto de sete políticas públicas voltadas para o planejamento e gestão da cidade (Lei 10.257/2001), do ambiente (Lei 6.938/1981), dos recursos hídricos (Lei 9.433/1997), do saneamento (Lei 11.445/2007), da zona costeira (Lei 7.661/1988), da segurança alimentar (Lei 11.346/2006) e da vigilância sanitária (Lei 9.782/1999). 1 Esse texto é uma versão resumida do trabalho completo a ser apresentado no 1 o Seminário Brasileiro de Ciência, Tecnologia e Sociedade (Mesa-redonda 3: Culturas contemporâneas e a produção do conhecimento) da Universidade Federal de São Carlos, entre os dias 14 e 16 de junho de 2011, em São Carlos-SP. 1

É importante frisar que a natureza desta ação é resultante da junção entre o diagnóstico das minhas pesquisas sobre as transformações que atravessam o mundo contemporâneo, num ritmo sem precedente, e através de uma variedade de escalas, onde as pesquisas científicas são intimadas a atenderem às demandas sociais das formas mais diversas, e o desejo da Chefia e da Vice-chefia do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental, os colegas José Paulo e a Marize, de se envolverem com um mundo que profissionalmente não é de sua atuação direta, o das políticas públicas federais pertencentes ao vastíssimo e intrincado arcabouço jurídicoinstitucional brasileiro. Mas, segundo minha avaliação, agir nesse mundo é possível porque diversos instrumentos que estruturam e implementam aquelas sete políticas públicas que me referi anteriormente estão abertos a profissionais da comunidade científica como aqueles que praticam a Virologia Ambiental. Um dado importante a ser aqui destacado é que esse trabalho em parceria, num mundo em mudanças, advém do entendimento comum de que as pesquisas que desenvolvemos estão prioritariamente voltadas para a busca de soluções de problemas em saúde pública e o valor da sustentabilidade com redução da pobreza e justiça social deve ser promovido. Nossas ações de pesquisa vão ao encontro de uma das finalidades constitucionais estabelecidas no art. 196, caput, especificamente no que toca à redução do risco de doença, contribuindo com as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, com a formulação de políticas de saneamento básico e com o desenvolvimento científico e tecnológico, incluídas entre as responsabilidades do Sistema Único de Saúde (art. 200, II, IV e V, CF e art. 6º, I, a e b, II e X, Lei 8.080/90). Pois bem, nesse mundo em mudanças, os processos sociais, tecnológicos e ecológicos relacionados à saúde e à doença, à alimentação e à agricultura, ou às questões ambientais, não são apenas dinâmicos em si, mas também interagem de maneira complexa demandando dos pesquisadores novos métodos, novas técnicas, novos instrumentos, novas parcerias, ou seja, mais espaços ou novos rearranjos nos espaços de produção de conhecimentos, os laboratórios, porque a pesquisa deixa de ser uma atividade individual para se tornar uma atividade coletiva. Quando olhamos para a dinâmica social, vemos que aspectos diversos da vida humana e de uma sociedade apontam de forma inequívoca para a interdependência entre questões ambientais, sociais e econômicas e estão associados diretamente à qualidade do meio ambiente e de vida de sua população, atuando como determinantes no perfil da mortalidade de uma comunidade. Fatores sócioeconômicos como distribuição de renda, condições gerais de saneamento, de trabalho, 2

moradia, escolaridade e outros, têm exercido influência direta no processo saúdedoença. No entanto, a mudança, para melhor, em um único desses fatores é capaz de alterar significativamente o perfil de uma comunidade. Um desses fatores é a água, que veicula doenças transmitidas por via oral e por penetração na pele, tais como, disenteria amebiana, balantidíase, enterite campybacteriana, cólera, diarreia por Escherichia coli, giardíase, diarreia de etiologia viral por rotavírus, norovirus, astrovirus, adenovirus entérico, salmonelose, disenteria bacilar, febre tifóide e febre paratifóide, poliomielite, hepatite A, leptospirose, ascaridíase e tricuríase e esquistossomose. Ao mesmo tempo, olhando mais de perto para a organização e dinâmica institucional da administração pública, constatamos que a insuficiência e má aplicação de recursos públicos e a falta de integração na gestão dos problemas urbanos, principalmente devido à setorização das ações públicas, tem sido duas das grandes causas da deterioração das condições hídricas nas cidades brasileiras, resultando em custos elevados para a saúde e reflexos diretos na economia e no setor público. Essa deterioração é expressa através da contaminação dos mananciais; da falta de tratamento e de disposição adequada de esgoto sanitário, industrial e de resíduos sólidos; do aumento das inundações e da poluição devido à drenagem urbana e da ocupação das áreas de risco de inundação, com graves consequências para a população, sobretudo a mais pobre, situada nas áreas periféricas dos centros urbanos. A água, substância da vida, tornou-se, então, um elemento natural ameaçado em termos de qualidade e quantidade. Ou seja, as condições higiênicas e sanitárias encontradas nas grandes cidades brasileiras não coadunam com o objetivo constitucional de ordenamento do pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e a garantia de bem-estar da população (art. 182, caput, in fine, CF/88). Portanto, estamos diante de um cenário de desafios muito grandes para as ciências, sobretudo porque não existem problemas iguais, nem realidade padrão, e nem metodologias e parâmetros universais, mas desafios práticos, científicos, políticos e morais do nosso tempo, que são ainda maiores num país continental como o Brasil, politicamente diverso, culturalmente heterogêneo, regionalmente e socialmente desigual com sucessivos governos e partidos políticos resistentes à compatibilização entre crescimento econômico, desenvolvimento social e político e proteção do meio ambiente. Neste cenário paradoxal, o processo multifacetado da globalização, associado à intensificação do deslocamento humano e de cargas pelo mundo através de transportes aéreos e marítimos, tem contribuído para o aumento acelerado da quebra 3

de barreiras ecológicas e da introdução de espécies exóticas invasoras no território nacional causando danos a saúde das populações (molusco gigante-africano, mexilhão dourado, víbrio cólera...). A formulação de uma política pública que objetive enfrentar os efeitos de espécies exóticas invasoras necessariamente precisa considerar a heterogeneidade ambiental registrada no Brasil, que reflete a biodiversidade de cada um dos ecossistemas presentes no país. Mais do que nunca, agir em prol da saúde pública, exige um trabalho entre mulheres e homens de ciência sob um novo regime de trabalho, o da efetiva colaboração entre diferentes profissionais no processo de produção de conhecimentos voltados para a busca de soluções dos problemas que comprometem a sustentabilidade da vida nas cidades, espaços urbanos onde vivem mais de 75% da população brasileira. Como base nessa breve exposição da visão holística ou integrada que temos da realidade onde desenvolvemos nossas profissões, gostaria de finalizar dando apenas um exemplo de como a Virologia Ambiental pode contribuir, no meu entender, para a melhoria da saúde das populações das cidades brasileiras. Destaco, então, três instrumentos de uma das sete Políticas Públicas que estão abertas ao envolvimento da Virologia Ambiental em sua implantação, a Política Nacional de Meio Ambiente (Lei 6.938/81). Trata-se dos instrumentos Avaliação de impactos ambientais (art. 9º), Licenciamento ambiental (art. 9º, IV) e Sistema de informações ambientais (art. 4º, V e art. 9º, VII). Qual é o papel a ser desempenhado pela Virologia Ambiental no fortalecimento de cada um desses três instrumentos como mecanismos para a garantia do direito a cidades sustentáveis? Em relação à Avaliação de impactos ambientais, a metodologia de produção de conhecimentos da Virologia Ambiental sobre os vírus no meio ambiente deve ser incorporada nas fases de identificação e avaliação dos impactos ambientais. Já no caso do Licenciamento Ambiental, os resultados alcançados pela Virologia Ambiental podem subsidiar as conclusões acerca da viabilidade ambiental de empreendimentos/atividades humanas num dado território do espaço urbano. E, finalmente, em relação ao Sistema de informações ambientais, o acompanhamento e o cruzamento dos dados com parâmetros ambientais poderão contribuir para o acompanhamento da qualidade sanitária-epidemiológica-ambiental do município e para a revisão de critérios e padrões de qualidade ambiental. Finalizo, então, esta apresentação sobre uma experiência acadêmica em processo de realização, dizendo que felizmente, diante de sociedades contemporâneas complexas e complicadas, com organizações da pesquisa científica assentadas em 4

divisões centenárias do conhecimento, a maneira de fazer ciência tem mudado radicalmente, demandando ações conjuntas entre ciências com processos distintos de formação histórica e de institucionalização, mas abertas ao diálogo, e voltadas para à resolução de problemas geograficamente situados, como forma de acompanhar a dinâmica do tempo presente. São iniciativas individuais com as que estamos desenvolvendo que contribuirão também para assegurar o direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos de qualidade, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações. 5