Medicamentos genéricos no Brasil: um estudo sobre a característica da demanda



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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA Medicamentos genéricos no Brasil: um estudo sobre a característica da demanda D.Sc. Gerson Rosenberg, Fundação Oswaldo Cruz Fiocruz/MS Orientadora: Profa. Dra. Maria da Graça Derengowski Fonseca 1- Introdução A indústria farmacêutica pode ser compreendida como um sistema ou uma rede, onde as atividades inovadoras, de produção e de comercialização dos medicamentos envolvem vários âmbitos de análise especialmente aqueles relacionados com competitividade e inovações. As empresas do setor farmacêutico atuam em várias etapas, a saber: (i) pesquisa e desenvolvimento (P&D) de novos fármacos; (ii) produção industrial; (iii) formulação de especialidades farmacêuticas; e (iv) marketing (QUEIROZ, 1993, p. 19). Os fabricantes de medicamentos genéricos normalmente só atuam nas duas últimas fases, o que a torna diferente da indústria farmacêutica convencional de medicamentos de marca no Brasil, onde algumas produzem as suas matérias-primas. A matéria-prima utilizada tanto na produção de medicamentos de marca quanto na de medicamentos genéricos podem ser de três diferentes origens, a saber: (i) farmoquímica, proveniente da síntese química de substâncias orgânicas; (ii) fitoterápicos, produzidos exclusivamente a partir do isolamento da substância medicamentosa encontrada em plantas medicinais; e (iii) biotecnológicos sendo obtidos ou elaborados por procedimentos biotecnológicos, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico 1. Atualmente os farmoquímicos representam a maior parte da matéria-prima utilizada mundialmente pela indústria farmacêutica. Entretanto, as mudanças na estrutura de P&D do setor apontam para um aumento na matéria-prima obtida por processos biotecnológicos (MALERBA; ORSENIGO, 2001, p. 668). Diagnóstico realizado por Bermudez (1992, p. 30) sobre a indústria farmacêutica brasileira em 1992 já apontava que tanto as empresas multinacionais quanto nacionais tinham as suas operações produtivas mais voltadas para a formulação de medicamentos, uma vez que as matérias-primas eram importadas de suas matrizes ou de fornecedores independentes. Em estudos mais recentes realizados por Abreu (2004) e por Fonseca et al. (2005) junto aos maiores fabricantes de genéricos do País constatouse que estas importam as suas matérias-primas principalmente da Índia e da China. O saldo negativo da balança comercial de medicamentos mostra um aumento crescente das importações, onde em 2006 foi de US$ 1,98 bilhões, conforme mostra a Figura 1. 1 Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/medicamentos/glossario/glossario_m.htm>. Acesso em: 15 dez. 2009. 1

Tal situação foi originada com a abertura econômica implementada no início da década de noventa e a política cambial da valorização cambial, que fez crescer as importações de medicamentos pelas multinacionais instaladas no País a partir de 1994. Neste período diversas empresas multinacionais deixaram de produzir farmoquímicos no País fechando suas unidades fabris e passaram a importar medicamentos. Entre estas empresas estão a Pfizer, a American Home, a Rhodia a Farma, a Hoechst e a Bayer (CALLEGARI, 2003, p. 21). 4.000 Balança Comercial de Medicamentos 3.000 Milhões 2.000 1.000 US$ 0-1.000-2.000 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 y = -133.777.006x - 643.219.543 ano -3.000-4.000 Exportação US$ Fob Saldo Comercial US$ Fob Importação US$ Fob Linear (Saldo Comercial US$ Fob) FIGURA 1: Balança comercial de medicamentos Fonte: Adaptado dos dados MDIC/Secex apud. FEBRAFARMA/Departamento de Economia em 2006 2. Legenda: Produtos Farmacêuticos = Somente Capítulo 30 da Nomenclatura Comum do MERCOSUL (NCM). Fob (Free on Board) = o exportador deve entregar a mercadoria, desembaraçada, a bordo do navio indicado pelo importador, no porto de embarque. Todas as despesas até o momento em que o produto é colocado a bordo do veículo transportador, são da responsabilidade do exportador. Ao importador cabem as despesas e os riscos de perda ou dano do produto a partir do momento que este transpuser a amurada do navio 3. Assim, ainda que o Brasil tenha uma base tecnológica industrial farmacêutica importante e um dos maiores mercados do mundo, a indústria de farmacêutica brasileira é hoje basicamente uma importadora de princípios ativos e caracteriza-se, com raras exceções, pela atividade de formulação. Nos anos recentes, a China e a Índia tornaram-se grandes exportadores de fármacos e medicamentos para o Brasil, substituindo, em parte, as exportações dos países desenvolvidos. Visto pelo ângulo social, é importante garantir o acesso de medicamentos para toda a população brasileira, logo se torna indispensável que a indústria atue com eficiência, inclusive para atender a demanda pública por medicamentos. No entanto, o País tem poucas patentes na área farmacêutica e, com exceção dos esforços do setor público, não é um grande investidor de P&D farmacêutico. 2 Disponível em: <http://www.febrafarma.com.br/divisoes.php?area=ec&secao=co&modulo= arqs_economia>. Acesso em: 15 dez. 2008. 3 Disponível em: <http://www.schualm.com.br/9fipe.htm>. Acesso em: 15 dez. 2008. 2

Tanto no Brasil quanto nos EUA, a proteção patentária é de vinte anos. Segundo o estudo realizado por Grabowski e Vernon (1994), o tempo efetivo do poder de monopólio para a comercialização de um novo medicamento é aproximadamente de 13 anos, devido ao tempo levado para consolidar os testes clínicos, aprovação do FDA Federal Department of Agriculture e o início da comercialização do produto. O desenvolvimento de novos medicamentos é custoso e com alto risco para os fabricantes. Assim, os gastos em Pesquisa e Desenvolvimento das companhias farmacêuticas americanas aumentaram de US$ 262 milhões em 1951 para US$ 1,7 bilhões em 1967, passando de US$ 3,1 bilhões em 1980 para US$ 8 bilhões em 1990, em preço constante de 1990 (SCHERER In: CULYER; NEWHOUSE, 2000, p. 1307). Atualmente, são gastos mais de 30,3 bilhões de dólares anuais 4 com P&D. Assim, altas somas em P&D combinadas com a regulamentação obrigatória tornam o setor de alto risco para novos entrantes. Em 1996, a relação de gastos de P&D e o faturamento bruto das empresas brasileiras foram em média de 0,78% (ALBUQUERQUE; CASSIOLATO, 2000, p. 60), porém este valor não se alterou muito nos anos subseqüentes como mostra a Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica PINTEC 2003 do IBGE, onde os dispêndios globais em P&D foram da ordem de R$ 666,2 milhões. O efeito potencial produzido pelo acordo TRIPS (Agreement on Trade Related Aspects of Intellectual Property Rights) de 1994 em particular nos países em desenvolvimento, refere-se a forte proteção da propriedade intelectual, onde este fortalece o poder de mercado das multinacionais, podendo levar à redução de vendas e aumento de preços, bem como limitar a extensão da difusão da tecnologia. Desde então, várias políticas públicas são consistentes com o acordo TRIPS com a finalidade de compensar o efeito do poder de mercado das empresas, tais como: controle de preços, introdução dos medicamentos genéricos, licenças compulsórias e importações paralelas (FALVEY & FOSTER, 2006, p. 51). Neste sentido, torna-se importante verificar os efeitos produzidos sobre o mercado farmacêutico brasileiro a introdução dos medicamentos genéricos a partir de 2000. Quando a patente expira uma nova competição surge, que são os medicamentos genéricos onde normalmente pouca ou nenhuma propaganda é feita. A extensão pela qual os medicamentos genéricos são substitutos dos medicamentos de marca originais e seus impactos sobre os preços, varia de país para país e também através da classe terapêutica (SCHERER In: CULYER; NEWHOUSE, 2000, p. 1321). A tendência é que cada vez mais aumente da concorrência pelos medicamentos genéricos devido ao fato de que nos países desenvolvidos o consumo de medicamentos e de serviços saúde tem crescido a taxas elevadas, devido ao envelhecimento da população, do aumento das doenças crônicas e da disseminação das novas e custosas tecnologias médicas. A característica mais óbvia distinguindo a demanda de um indivíduo por serviços médicos é que este não está seguro quanto a sua aquisição, como na compra de alimentos ou roupas, mas este é irregular e imprevisível. Além disso, a demanda por serviços médicos está associada com uma probabilidade de agressão à integridade pessoal, pois sempre existe o risco da pessoa morrer ou de um prejuízo parcial a saúde (ARROW, 1963, p. 3). Os autores Zucchi et al. (1998) apontam os seguintes fatores que influenciam na demanda em geral por serviços de saúde: (i) a necessidade que o indivíduo percebe de ter que recorrer à assistência médica; (ii) os aspectos culturais, psicossociais e sócio-econômicos que variam com o gênero, grau de instrução e nível de renda da pessoa; (iii) a forma da seguridade social (cobertura pelo plano de 4 Disponível em: <http://www.fda.gov/cder/ddmac/p4masia/sld002.htm>. Acesso em: 10 jan. 2007. 3

saúde); (iv) as características demográficas da população; (v) a incidência das doenças (perfil epidemiológico); e (vi) o desenvolvimento tecnológico e difusão de melhores maneiras do tratamento das doenças. Com relação especificamente à compra de medicamentos éticos, os consumidores dependem das decisões dos médicos, pois são estes que determinam o tratamento a ser aplicado ao paciente e à freqüência do seu uso. Desta forma, o consumidor possui baixo grau de informação sobre como proceder alternativamente a um determinado tratamento em função da especialidade técnica envolvida na utilização dos medicamentos. Na relação entre o médico e o paciente existem diversos aspectos a serem considerados, tais como: o risco do médico em substituir certos medicamentos considerados mais eficazes para certas doenças, rigidez na continuidade do tratamento e grau da essencialidade do medicamento. Assim, identificar o comportamento dos médicos é uma parte importante do presente estudo para compreender como o mercado de prescrição opera e como os médicos se comportam quando enfrentam diferentes informações e incentivos das empresas de produtos de marca. Tanto nos EUA quanto no Brasil, o consumidor pode solicitar ao farmacêutico orientações quanto à substituição do medicamento de marca pelo genérico, conforme estabelecido pela prescrição médica. Em 1995, nos EUA esta substituição aconteceu com cinqüenta por cento das prescrições médicas de medicamentos de marca onde possuíam medicamentos genéricos (HELLERSTEIN, 1998, p. 131). Os consumidores mostram forte estado de dependência com um determinado medicamento, a qual é demonstrada pela compra continuamente crescente. Semelhantemente, o comportamento dos médicos referente à prescrição mostra um hábito persistente a um determinado medicamento. Desta forma, existe uma lealdade tanto da parte do consumidor quanto do médico a um medicamento (COSCELLI, 2000, p. 367). O objetivo do estudo foi o de analisar a demanda dos medicamentos genéricos em relação aos produtos farmacêuticos no Brasil verificando quais os fatores levam os médicos a prescreverem medicamentos de marca ao invés de genéricos e viceversa. A pesquisa enfocou, em especial, os fatores relevantes na opinião dos médicos capazes de aumentar as prescrições dos medicamentos genéricos. O estudo também verificou quais os principais mercados relevantes de genérico e os medicamentos mais comercializados nas farmácias. 2- Aspectos conceituais e metodológicos A pesquisa foi interdisciplinar e de caráter exploratório, uma vez que criou um banco de dados contendo diversas informações sobre os aspectos regulatórios (registro, classes terapêuticas, apresentação e forma farmacêutica) e informações econômicas (preço, vendas e quantidades comercializadas) dos medicamentos genéricos. Essa também foi descritiva, já que teve o propósito de observar fenômenos procurando descrevê-los, classificá-los e interpretá-los (SELLTIZ et al., 1975; GIL, 1999). Também esta foi igualmente aplicada, pela necessidade de oferecer análises para que órgãos e agências possam elaborar políticas publicas para produção de medicamentos com prescrição no Brasil. Para verificar quais os fatores e as preferências dos médicos em relação aos medicamentos foi elaborado um questionário constando em seis etapas, conforme mostra a Figura 2. 4

ETAPA 1: Pesquisa bibliográfica ETAPA 5: Aplicação do questionário ETAPA 2: Identificação dos fatores e itens críticos para a escolha do tipo de medicamento ETAPA 3: Seleção da especificação das assertivas para representar os fatores críticos Etapa 6: Análise estatística (Confiabilidade) ETAPA 6: Análise dos resultados e refinamento do questionário NÃO ETAPA 4: Avaliação do questionário por especialista no assunto e um pré-teste. É preciso fazer revisão, pois as assertivas não representam o que se quer verificar? SIM FIGURA 2: Processo de desenvolvimento do questionário De acordo com a Figura 2, a primeira etapa incluiu uma ampla pesquisa bibliográfica sobre os métodos de pesquisa, elaboração de questionários, tipos de escalas e as dimensões a serem pesquisadas com relação às preferências dos médicos. Nas etapas 2 e 3 do processo de construção do questionário foram identificados os fatores e itens críticos para a seleção das assertivas. Entretanto, na sua formulação houve o cuidado destas não induzirem à resposta e nem as inferências ou generalizações. Uma vez montado o questionário este foi submetido a uma avaliação por um especialista no assunto, que domine a metodologia empregada. Após esta etapa, foi aplicado um pré-teste com o objetivo de verificar e apontar as possíveis falhas existentes. O questionário foi dividido em: informações gerais sobre o respondente, assertivas referentes a qualidade (Parte I), assertivas sobre a conduta do médico (Parte II), assertivas relativos a fidelidade do médico (Parte III), e indagação concernente a sugestões sobre a prescrição. A estimativa da confiabilidade estatística foi feita através do cálculo do Alfa de Cronbach em que permitiu verificar o grau em que os itens do questionário estavam inter-relacionados. Um alto índice de confiabilidade torna mais provável a descoberta de relacionamentos entre variáveis realmente relacionadas, enquanto que a baixa confiabilidade leva a um grau de incerteza nas conclusões, ou seja, apenas as grande diferenças de opiniões são detectadas (HAYES, 2001). Esta pesquisa utilizará um limite de 0,50 para verificação da confiabilidade dos questionários a serem aplicados (HAIR et al., 1995, p.44). O universo da pesquisa foi feito com os médicos cadastrados no banco de dados do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro - CREMERJ. Para efeito desta pesquisa foram amostrados 524 médicos, ou seja, um número bem maior que o necessário. 5

Na outra etapa da pesquisa o mercado de medicamentos genéricos é relacionado a sua demanda de preço e foi necessário usar diversos bancos de dados como segue: dados referentes quantidades e vendas disponibilizadas pelo IMS Health do Brasil para o período entre 1996 a 2008 referente à comercialização nas farmácias; informações sobre os registros de todos os medicamentos genéricos fornecido pela ANVISA e dados sobre os preços dos medicamentos cedido pela ABCFARMA 3- Os fatores que determinam a escolha do medicamento no Brasil A indústria farmacêutica é uma das precursoras na adoção da filosofia do marketing de relacionamento, cristalizada nas ações de propaganda médica, que buscam a construção de relacionamentos duradouros, onde os médicos são os principais agentes na decisão de compra no mercado ético, composto por medicamentos que dependem do receituário para serem comercializados podendo ser estes de marca ou genérico. Segundo Dranove (apud HELLERSTEIN, 1998, p. 111) os médicos não se beneficiam das escolhas que fazem para os seus clientes e isto poderia parecer que eles deveriam agir como perfeitos agentes 5 em relação aos seus pacientes, ou seja, prescrevendo somente aquilo que os seus pacientes poderiam escolher caso estes últimos fossem o agente capaz de fazer a decisão. Entretanto, existem custos para os médicos associados com a prescrição dos medicamentos, que podem fazer com que estes não sejam agentes perfeitos. Tais custos para os médicos podem ser de muitas formas possíveis, como por exemplo à necessidade da comprar informações importantes sobre: a disponibilidade dos genéricos, a eficácia dos genéricos e o preço diferencial destes sobre os de marca. A conquista e a manutenção da lealdade dos principais clientes de um segmento tornam-se alternativas reais para as empresas que pretendem aproveitar as melhores oportunidades que o mercado pode oferecer. A chegada ao mercado dos medicamentos genéricos criou para esse segmento uma nova realidade, pois a oferta de produtos com qualidade e bioequivalência (mesma eficácia) comprovadas, a custos bastante inferiores aos dos produtos tradicionais desse segmento, trouxe como conseqüência imediata a divisão de uma importante fatia de mercado, até então ocupada somente pelos medicamentos de marca. Essa realidade impôs às empresas fabricantes atuantes no mercado ético uma nova postura, na qual a tendência é ditada pelo investimento em produtos não concorrentes dos genéricos, como é o caso dos medicamentos com proteção de patente. Nesse cenário, identifica-se também a intensificação da utilização de ferramentas de marketing capazes de construir com um número cada vez mais selecionado de clientes médicos, vínculos de lealdade que objetivam, entre outras coisas, a construção de valor e a manutenção dos relacionamentos realmente duradouros com os clientes mais rentáveis dessas empresas. Após a patente expirar pode levar algum tempo para difundir a existência de um medicamento genérico e em adicional, o médico pode não prescrever um medicamento genérico devido a este não querer correr um risco adverso até que eficácia deste seja bem estabelecida. Os fabricantes de genéricos fazem pouca 5 O agente é um individuo contratado por uma pessoa (chamada de principal) e que tem de atingir os objetivos desta. A assimetria de informações cria problema entre o agente e o principal. Desta forma, os médicos podem adotar procedimentos que mesmo coerentes com as suas preferências vão de encontro com os objetivos do hospital, plano de saúde e do paciente (PINDYCK & RUBINFELD, 2002, p. 617). 6

propaganda, enquanto as informações sobre os de marca são largamente disseminadas formalmente através de propagandas e dos resultados publicados pelos estudos de eficácia dos referidos medicamentos. Assim, o médico pode ter que pagar para apreender sobre um novo medicamento genérico, já que nem sempre a informação deste está disponível gratuitamente. Outro fator que pode levar ao médico a não prescrever um medicamento genérico é o fato deste não ser sensível à diferença de preço existente entre os dois produtos (marca versos genérico), isso porque este normalmente não possui o conhecimento sobre o valor cobrado nas farmácias e apenas possui a informação do preço promocional do medicamento de marca fornecido pela empresa que o fabrica (KOLASSA, 1995, p. 25; CAVES et al., 1991, p. 5). Atualmente no Brasil a relação contendo todos os preços dos medicamentos praticados nas farmácias é comercializada pela Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico ABCFARMA por R$ 130,00 a assinatura de seis meses. A própria legislação vigente no País colabora para que este seja um agente imperfeito na sua decisão no ato da prescrição, uma vez que esta permite que o farmacêutico faça a substituição do medicamento de marca pelo genérico. Desta forma os médicos não precisam ter nenhuma informação explicita sobre a existência de um medicamento genérico, cabendo a estes apenas prescrever o medicamento de marca conhecido e deixando para o farmacêutico a possibilidade da substituição do mesmo. Existe também o risco moral 6 por parte dos pacientes no que se refere a estes terem um plano de saúde que reembolsa parte dos gastos com medicamentos (no Brasil somente algumas empresas dão este benefício para os seu empregados) ou quando usam o próprio SUS Sistema Único de Saúde e recebem de graça o medicamento. Isto está relacionado ao fato destes poderem demandar muito mais cuidados médicos do que o previsto pelo ótimo social porque existe um seguro para cobrir parte das despesas com os medicamentos ou recebem gratuitamente pelo governo. Assim, este tipo de assistência pode levar o paciente a enfrentar uma alteração no seu comportamento e por conseqüência consumir mais medicamentos do que o necessário. No caso das prescrições médicas o risco moral pode levar aos pacientes a não induzirem ao médico a investirem na obtenção de informações sobre tratamento com custos mais baixos. Embora os médicos possam ter uma completa informação o risco moral pode significar que os pacientes não demandam a quantidade ótima social sobre a prescrição do medicamento e por isso recebam uma maior quantidade de medicamentos ou mais caros (os de marca) em relação ao que seria o ótimo social (HELLERSTEIN, 1998, p. 112). Desta forma, para determinar os fatores que influenciam o médico na escolha do medicamento genérico foi realizado em 2008 com autorização do Conselho Regional de Medicina CREMERJ uma pesquisa junto aos médicos aos médicos que estão cadastrados junto a este órgão. 3.1- Características sobre os médicos pesquisados 6 O risco moral ocorre quando as ações das partes seguradas não podem ser observadas pela parte seguradora (PINDYCK & RUBINFELD, 2002, p. 613). 7

Quanto a características dos respondentes foram verificados os seguintes aspectos (ver QUADRO 1): tempo do exercício da profissão de médico, a especialidade e o local que o médico exerce a maior parte do seu trabalho. Em relação ao tempo de exercício da profissão verifica-se no QUADRO 1 que a maior quantidade dos respondentes se situam com maior de vinte anos (35,88 %), o que mostra uma confiabilidade das respostas quanto ao objeto da pesquisa. Também se pode afirmar que quanto mais anos de formado possui o médico maior é a influência das empresas farmacêuticas junto a este na escolha de um medicamento, já que o mesmo tem uma maior conhecimento sobre a sua aplicação. QUADRO 1: Características dos respondentes Aspecto 1: Tempo de profissão do médico (Anos) Porcentagem % Menor que 5 23,66 11-15 11,07 16-20 8,40 5-15 20,99 Maior que 20 35,88 TOTAL (%) 100,00 Aspecto 2: Especialidades 7 Porcentagem % anestesiologia 3,63 cardiologia 6,68 cirurgia geral 6,49 clínica médica 14,89 dermatologia 3,82 ginecologia e obstetrícia 9,54 oftalmologia 5,73 pediatria 12,60 psiquiatra 4,58 Sub-Total (%) 67,94 Outras especialidades (%) 32,06 Aspecto 3: Local exerce a maior parte do trabalho como médico Porcentagem (%) 1) No interior do Estado do Rio de Janeiro 6,49 2) Na cidade do Rio de Janeiro 73,09 3) Na região metropolitana do Rio de Janeiro 19,47 4) Não informou 0,95 TOTAL (%) 100,00 Fonte: Elaboração própria a partir de dados do questionário. Quanto à especialidade dos respondentes observa-se no QUADRO 1 um maior número de pediatra e de clínica médica, onde em ambas especialidades estão relacionadas a um número considerável de doenças que podem tratadas com medicamentos genéricos, e neste caso podemos por exemplo citar o uso antibióticos genéricos. 7 As especialidades médicas assinaladas pelos respondentes foram conferidas com a Resolução CFM n0. 1634/2002 com o objetivo de uniformizar as informações. 8

Com referência ao local onde o médico exerce a maior parte do seu trabalho foi verificado que a maioria dos respondentes são da cidade do Rio de Janeiro (ver QUADRO 1). Assim, estes estão atuando sobre a maior parte da população do Estado Rio de Janeiro implicando o grande efeito propagador com referência ao uso dos genéricos. 3.2- Informação sobre o uso dos medicamentos genéricos Com relação à indagação feita aos médicos sobre a freqüência com que este receita um medicamento genérico foi permitido que este escolhesse as seguintes opções de resposta:1-0% das vezes; 2-25% das vezes; 3-50% das vezes; 4-75% das vezes; e 5-100% das vezes. Foi constado que estes prescrevem o genérico em média 52,0 % das vezes, porém existiu uma grande variabilidade nas respostas. Esta variabilidade pode ser primeiramente devido a grande quantidade de especialidades médicas existentes, onde dependendo da especialidade não existe uma grande quantidade de tipos de medicamentos genéricos ainda disponíveis no mercado e em segundo tem haver com a percepção do médico em relação à qualidade e eficácia dos medicamentos genéricos fazendo com este prefira prescrever o medicamento de marca em muitas das vezes. Com o objetivo de confirmar a resposta acima sobre o uso do medicamento foi perguntado ao médico sobre o tipo de medicamento prescrito com maior freqüência, tomando como base a classificação da ANVISA prevista na Lei nº 9787 8, de 10/02/1999 que prevê os três tipos de medicamentos a seguir listados: 1) referência ou de marca; 2) genérico e; 3) similar. Assim foi indagado ao médico qual das alternativas ele mais receita aos seus pacientes: 1) o primeiro; 2) o segundo; 3) o terceiro; 4) os dois primeiros; 5) o primeiro e o último; e 6) os dois últimos. A resposta a esta pergunta teve como média o valor de 2,7 e mediana 2,0 indicando ser o medicamento genérico 50 % das vezes mais receitado. Esse resultado está coerente com a afirmativa que aponta a prescrição pelos médicos para o uso de 50% das vezes referentes aos medicamentos genéricos. Entretanto a moda aponta o uso do medicamento de marca e genérico com maior freqüência, informando que dependendo da especialidade médica a um maior ou menor prescrição dos medicamentos genéricos. Verifica-se que houve poucas respostas referentes aos similares, e isto pode ser atribuído que os médicos não fazem muita diferença entre medicamentos similares e os de marca. Até mesmo que não existe nenhuma lista oficial do Ministério da Saúde listando os similares. 3.3- Análise dos resultados da Partes I, II e III do questionário 8 A Lei n o 9.787 definiu medicamento genérico como: medicamento similar a um produto de referência ou inovador, que se pretende ser com este intercambiável, geralmente produzido após expiração ou renuncia da proteção patentária, comprovada a sua eficácia, segurança e qualidade, e designado pela Denominação Comum Brasileira ; medicamento de referência como: produto inovador registrado no órgão federal responsável pela vigilância sanitária e comercializado no País, cuja eficácia, segurança e qualidade foram comprovadas cientificamente junto ao órgão federal competente, por ocasião do registro do medicamento ; e o medicamento similar como: aquele que possui o mesmo princípio ativo, apresenta a mesma concentração, forma farmacêutica, vai de administração, posologia e indicação terapêutica, preventiva ou diagnóstica, do medicamento de referência registrado no órgão federal responsável pela vigilância sanitária, podendo diferir somente em características relativas ao tamanho e forma do produto, prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipientes e veículos, devendo sempre ser identificado por nome comercial ou marca. Disponível em:< http://www.anvisa.gov.br >.Acesso em: 10 nov.2008. 9

A Parte I do questionário abrange as perguntas relacionadas a dimensão qualidade dos medicamentos interfere na prescrição do médico. Assim, foi retirado da literatura especializada os seguintes aspectos que ajudaram a formular as assertivas do questionário: i) qualidade do medicamento genérico frente ao de marca (assertiva f); ii) substituição sempre que possível do medicamento de marca pelo genérico considerando que ambos são plenamente substituíveis (assertiva g); iii) a propaganda de forma a induzir no médico que determinado tipo de medicamento é melhor que outro (assertiva h); iv) o nível de informações que o médico dispõe são suficientes para escolher entre o medicamento de marca e o genérico (assertiva i); e v) restrição de qualquer natureza do médico para não prescrever o genérico (assertiva j). O Alfa de Cronbach calculado para as afirmativas f, g, h, i, j apresentaram um baixo índice conforme mostra o QUADRO 2, indicando pouca inter-relação entre os itens pesquisados. Considerando as afirmativas f,g,h,i o índice aumenta para aproximadamente 0,50. No que se refere às respostas f,g apresentam uma elevada correlação. Quando se analisam as respostas f,g e h juntas apresentam o índice de Cronbach de 0,53, um pouco maior que 0,50, o que resulta numa correlação entre as mesmas. Para as demais questões analisadas apresentam valores abaixo do estabelecido para a verificação da confiabilidade, conforme mostra o QUADRO 2. A média e a mediana das respostas f,g,h e i deu que os médicos não concordam e nem discordam das assertivas e portanto existe uma simetria dos dados. Pode-se concluir que existe uma dúvida dos médicos quanto à substituição dos medicamentos de marca por genéricos que pode ser atribuída pela incerteza da qualidade dos medicamentos genéricos, a pouca propaganda dos laboratórios de genéricos junto à classe médica e a falta de informação sobre os medicamentos genéricos pela classe médica. Com relação a afirmativa j foi analisada individualmente e esta apresentou uma simetria entre a média e a mediana, em relação aos médicos não concordarem e nem discordarem da assertiva. Assim, pode-se afirmar que existe uma dúvida quanto o médico possuir alguma restrição ao uso do medicamento genérico. O que de certa forma ressalta a sua dúvida quanto à qualidade do genérico. Esta resposta também foi a que apresentou maior percentual de não entendimento do conteúdo com 14 deixadas em branco, o que representa 2,67 % do total de respondidas. Entretanto a pergunta quanto ao seu conteúdo é validada, pois apresenta um valor abaixo de 10 %. Talvez esta afirmativa tenha que ser melhorada sendo mais objetiva no seu questionamento. A Parte 2 refere-se a conduta médica em relação a este indicar ou não um medicamento de marca, sendo abordados os seguintes aspectos: i) o médico consulta regularmente uma listagem dos medicamentos genéricos (assertiva k); ii) tende a prescrever um medicamento de marca seguindo a conduta já estabelecida por outros especialistas (assertiva l); iii) existe uma tendência do médico em prescrever o medicamento de marca já estabelecido por alguma rotina hospitalar (assertiva m); e iv) existe a confiança do médico em que o farmacêutico/balconista da farmácia irá fazer a substituição do medicamento de marca pelo genérico (assertiva n). Pelo QUADRO 2 constata-se que as afirmativas l,m,e n possui um valor para o Alfa de Cronbach em 0,50, havendo portanto uma correlação entre as mesmas. Verificar que existe uma simetria entre a média e a mediana para as perguntas l.m e n em relação à resposta destes não concordarem e nem discordarem da assertiva. Assim, quanto à conduta do médico em relação aos 10

medicamentos genéricos pode concluir que nem sempre estes tendem a prescrever um medicamento de marca seguindo a conduta já estabelecida por outros especialistas ou por alguma rotina hospitalar previamente determinada. Também quanto à prescrição dos genéricos existe uma incerteza do médico que o farmacêutico/balconista da farmácia fará a substituição do medicamento de marca pelo medicamento genérico. Então essa incerteza poderia ser traduzida num maior número de prescrições de genéricos, o que não ocorre. A resposta k foi analisada separadamente tendo em vista que esta apresenta um baixo índice Cronbach em todas as suas possíveis relações com as demais. O resultado da análise estatística das medidas de tendência central indica que os médicos não consultam regularmente a lista dos medicamentos genéricos no momento de receitá-los. A resposta pode estar associada ao fato que algumas especialidades prescrevem poucos genéricos e por isso usarem menos regularmente a listagem dos medicamentos do que outras. O fato de haver pouca consulta a lista dos medicamentos genéricos mostra que esta resposta está em consonância com o resultado obtido da resposta anteriormente, onde mostra que a freqüência de prescrição por este tipo de medicamento é de 52% das vezes. A penúltima Parte 3 diz respeito à fidelidade do médico em relação ao tipo de medicamento de marca ou genérico, onde algum fator econômico ou o próprio laboratório farmacêutico pode influenciar na escolha do medicamento, sendo abordados os seguintes aspectos: i) existe do médico uma obrigação moral de prescrever o medicamento de marca para assegurar pesquisas de novos medicamentos pelas empresas farmacêuticas (assertiva o); ii) o nome dos medicamentos de marca são mais fáceis para serem lembrados do que os genéricos (assertiva p); iii) o médico sempre leva em conta o preço do medicamento no ato da prescrição (assertiva q); iv) o medicamento genérico é sempre mais barato que o de marca (assertiva r); e v) o médico sempre que prescreve um medicamento leva em consideração a situação econômica do paciente (assertiva s). As afirmativas o,p,q,r,s apresentaram pouca inter-relação entre si, conforme mostra o QUADRO 2. Assim, estas não caracterizam adequadamente ao conceito da fidelidade do médico com um determinado tipo de medicamento. As afirmativas q,r,s são as que possuem maior índice de Cronbach (0,43), porém ainda abaixo que o estipulado de 0,50. Verifica-se um alto índice para as respostas q,s, porém um baixo valor para q,r e r,s significando pouca correlação entre as mesmas. Desta forma, foi analisado as variáveis q,s conjuntamente e depois a r e sua implicação com as mesmas. Observou-se que existe uma simetria entre a média e a mediana em relação dos respondentes concordarem com a assertiva. Então, pode-se concluir que os médicos sempre consideram a situação econômica do paciente na hora da prescrição, isto é, levando-se em conta o preço do medicamento e seu benefício para o paciente. Contudo, ao analisar individualmente a resposta r, constata-se que existe uma dúvida do médico quanto ao medicamento genérico ser sempre mais barato que o de marca. Esta dúvida de certa forma é coerente quando foi afirmado na resposta anterior que existe falta de informação sobre os medicamentos genéricos, ou seja, o médico nem sempre possui uma lista atualizada dos preços dos medicamentos a sua disposição. O Ministério da Saúde poderia disponibilizar no seu site os preços dos medicamentos para que o médico pudesse consultar em seu local de trabalho e com facilitar a sua decisão. Este fato pode explicar a razão da baixa relação entre as afirmativas q,s com a r. 11

As variáveis o e p foram analisadas separadamente, onde o resultado da resposta para a assertiva o mostra que os médicos não se sentem na obrigação moral de prescreverem o medicamento de marca para assegurar pesquisas de novos medicamentos pelas empresas farmacêuticas. O resultado da resposta da para a assertiva p faz concluir que existe uma dúvida dos médicos quanto ao fato dos nomes dos medicamentos de marca serem mais fáceis de lembrar do que os dos genéricos. Tais afirmativas demonstram que não existe uma preferência de forma consciente pelo tipo de medicamento, de marca ou genérico, o que leva a concluir que estes são levados a prescreverem os medicamentos de marca pelo efeito da propaganda tem no subconsciente. QUADRO 2: Alfa de Cronbach para as respostas Respostas Alpha Cronbach Alpha Cronbach baseado nos itens No. de afirmativas padronizados PARTE I DIMENSÃO QUALIDADE f,g,h,i, j 0,090 0,113 5 f,g,h,i 0,445 0,465 (~0,50) 4 f,g,h 0,509 0,532 3 I, j -0,582-0,582(*) 2 g,h,i,j -0,195-0,203(*) 4 g,h,i 0,162 0,170 3 f,g 0,716 0,716 2 g,h 0,174 0,177 2 PARTE II DIMENSÃO CONDUTA K,l,m,n 0,212 0,216 4 K,l,m 0,067 0,074 3 l,m,n 0,474 0,482 (~0,50) 3 l,m 0,604 0,609 2 k,l -0,457-0,458(*) 2 m,n 0,253 0,254 2 PARTE III DIMENSÃO FIDELIDADE DO MÉDICO AO MEDICAMENTO DE MARCA o,p,q,r,s 0,171 0,185 5 p,q,r,s 0,216 0,264 4 o,q,r,s 0,241 0,242 4 o,p,q,s 0,122 0,150 4 o,p,q,r 0,023-0,009 (*) 4 o,p,r,s 0,085 0,073 4 o,p,q -0,057-0,085(*) 3 o,p,s -0,048-0,050(*) 3 o,q,s 0,281 0,265 3 o,q,r -0,075 -,0096(*) 3 o,p,r 0,146 0,145 3 o,r,s 0,055 0,032 3 p,q,r -0,003-0,024(*) 3 p,q,s 0,178 0,257 3 p,r,s 0,085 0,086 3 q,r,s 0,400 0,433 3 q,s 0,651 0,655 2 r,s 0,200 0,202 2 q,r 0,018 0,018 2 (*) o valor negativo viola o modelo de confiabilidade. 3.4- Análise da PARTE IV sugestão do médico para aumentar a prescrição de medicamentos genéricos 12

O objetivo da Parte IV do questionário era saber na opinião dos médicos o quê poderia ser feito para aumentar a participação dos genéricos entre os medicamentos prescritos. Assim, foi solicitado ao respondente que numerasse de um a sete em ordem de importância as afirmativas relacionadas ao grau de importância, sendo 1 a mais importante e 7 a menos. As seis afirmativas apresentadas no questionário estão listadas abaixo, sendo que a última este poderia colocar a sua opinião referente ao que achasse melhor. Entre parênteses estão os códigos designados para a realização da análise estatística, tem-se: 1- Aumentar a quantidade de informações sobre os medicamentos genéricos. (vart1); 2- Aumentar a variedade de medicamentos genéricos e suas apresentações. (vart2); 3- Reduzir o preço dos medicamentos genéricos para os consumidores. (vart3); 4- Aumentar a fiscalização sobre a produção dos medicamentos genéricos. (vart4); 5- Melhorar a qualidade dos medicamentos genéricos. (vart5); 6- Aumentar a quantidade de propaganda dos medicamentos genéricos. (vart6); 7- Outra resposta (vart7). Após a análise estatística verifica-se que a importância das respostas seria: 1- Aumentar a fiscalização sobre a produção dos medicamentos genéricos. 2- Melhorar a qualidade dos medicamentos genéricos 3- Reduzir o preço dos medicamentos genéricos para os consumidores 4- Aumentar a variedade de medicamentos genéricos e suas apresentações 5- Aumentar a quantidade de informações sobre os medicamentos genéricos 6- Aumentar a quantidade de propaganda dos medicamentos genéricos 7- Outro fator identificado pelo médico Desta forma, as respostas indicam que o médico não acredita que a qualidade dos medicamentos genéricos é igual ao de marca, bem como esses nem sempre são mais baratos para o paciente. Também confirma a pouca informação disponível sobre os medicamentos genéricos já mencionada anteriormente como uma das causa para a não prescrição dos mesmos. Foram poucos os médicos que deram sua opinião, sendo que dez por cento que deram a sua opinião responderam que acham importante para aumentar a prescrição de medicamentos genéricos à necessidade dos médicos serem consultados sobre quais os genéricos que gostariam de dispor no mercado. A seguir está listado todas as sugestões respondidas pelos médicos: 1- A distribuição de amostra grátis; 2- Acabar com os similares e a bonificação de medicamentos de laboratórios ruins; 3- Apresentar/divulgar pesquisas fidedignas provando a eficácia dos genéricos nas doenças que se propõe a tratar; 4- As farmácias terem os medicamentos genéricos; 5- Colocar genéricos e não similares para vender nas Farmácias Populares no Brasil; 6- Conscientizar os médicos sobre o poder aquisitivo dos pacientes para prescrever segundo esta prioridade; 7- Consultar os médicos sobre quais os genéricos que gostariam de dispor no mercado; 8- Controle dos falsos medicamentos; 9- Diminuir a propaganda da indústria contra os genéricos; 10- Atualizar lista de genéricos liberados pelo Ministério da Saúde; 11- Educação nas faculdades de medicina quanto à prescrição de genéricos; 12- Estimular os pacientes solicitar prescrição dos medicamentos genéricos; 13- Evitar a troca por similar no balcão da farmácia; 14- Informar melhor a população sobre o medicamento genérico; 15- Lei que proíba a substituição do genérico pelo similar; 16- Os farmacêuticos sempre mostrarem o genérico para o paciente; 17- sugerir que a indústria farmacêutica, determinados laboratórios, tenha sua própria linha de genéricos 13

As afirmativas em negrito foram as que mais considerações tiveram entre os respondentes, o que de certa forma reforça as respostas dos questionários referente à falta de informação e a percepção do médico quanto à necessidade deste confiar na qualidade dos medicamentos genéricos em relação aos de marca. 4- O mercado de medicamentos genéricos no Brasil Segundo a ANVISA, o setor registrou vendas de 1.781 milhões em reais em 2007 representando um aumento no volume de 13,9%, conforme o QUADRO 3 que mostra a evolução das vendas. QUADRO 3: Evolução das vendas de genéricos Ano Vendas (em milhões de Reais) Vendas (Aumento %) 2000 87,39 -------------- 2001 432,99 79,8 2002 767,75 43,6 2003 856,75 10,4 2004 1.133,73 24,4 2005 1.244,23 8,9 2006 1.533,58 18,9 2007 1.781,03 13,9 Fonte: Elaboração própria a partir de dados fornecidos pela ANVISA/NUREM (Núcleo de Assessoramento Econômico em Regulamentação) em 2008 9. Em unidades comercializadas, os genéricos registraram em 2007 a venda de 233 milhões de unidades em comparação as 194 milhões em 2006, de acordo com dados do IMS Health 10. A participação de unidades comercializadas no mercado avançou de 16,7% em 2007 em relação a 2006. Em 2005, o setor vendeu 151,4 milhões de unidades de medicamentos genéricos no país contra 122,9 milhões no ano anterior. Em relação ao período 2006 a 2005 houve um aumento de 22,0 % de unidades vendidas. As vendas de medicamentos genéricos cresceram 23,2% em volume de unidades comercializadas no ano de 2005 em comparação com 2004 11. O desempenho dos fabricantes de genéricos contrasta com o restante da indústria farmacêutica brasileira com referência a 2007 e 2006, pois a indústria farmacêutica nacional vendeu 1,51 bilhão de unidades em 2007 contra 1,43 bilhão em 2006. Em valor, o mercado farmacêutico brasileiro cresceu 23,6 %, movimentando US$ 12,1 bilhões, um pouco maior que o crescimento de 20,1 % do segmento de medicamentos genéricos. Entretanto, no mercado farmacêutico brasileiro as vendas vêm crescendo ano a ano de US$ 5,5 bilhões em 2003 para US$ 6,8 bilhões em 2004, para US$ 9,9 bilhões em 2005, para U$ 11,8 bilhões em 9 Disponível em: < http://www.anvisa.gov.br/monitora/genericos/index.htm >. Acesso em: 20 dez. 2008. 10 Mercado de medicamentos genéricos cresce 20,1% em 2007. Folha Online. 21 fev. 2008. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u374676.shtml>. Acesso em: 10 nov. 2008. 11 Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u104851.shtml>. Acesso em:18 maio 2007. 14

2006, e para U$ 14,6 bilhões em 2007 respectivamente, mas em taxas menores que o segmento de medicamentos genéricos 12. Nos últimos cinco anos o número de empresas entrantes que fizeram registro para atuar neste segmento de mercado vem aumentado com cerca de 10 empresas novas por ano. Apesar das novas empresas entrantes o número de unidades vendidas vem apresentando um aumento continuado em relação a cada ano, como segue: 451,0% em 2001, 93,3% em 2002, 25,1% em 2003, 30,5% em 2004 e 23,6% em 2005 (ver na FIGURA 3). 160 140 120 100 80 60 40 20 0 7,3 14 0,5 Unidades vendidas (10x6) No. de laboratórios com registro % participação do mercado total de fármacos 38,9 26 2,7 75,2 35 4,9 94,1 46 6,4 122,8 55 7,6 151,8 2000 2001 2002 2003 2004 2005 FIGURA 3: Evolução do mercado de medicamentos genéricos no Brasil Fonte: Elaboração própria a partir dos dados fornecidos pela ANVISA e pelo IMS Health em 2008. Segundo dados da ANVISA, a grande parte dos registros dos princípios ativos referentes a medicamentos genéricos é produzida no Brasil, porém enquanto que 2006 tinha-se 20,7% sendo registros de medicamentos importados principalmente da Índia, em 2009 têm-se apenas 12,1 % (ver no QUADRO 4). O fato de um medicamento possuir o registro aprovado na ANVISA não implica deste ser comercializado, pois a empresa pode adiar o seu lançamento no mercado devido a problemas de marketing. A quantidade maior de registros de medicamentos oriundos da Índia explica a presença de diversas empresas daquele país no Brasil, sendo a Ranbaxy a maior delas. No QUADRO 4 observa-se que a quantidade de medicamentos registrados oriundos de outros países reduziu-se de 398 para 315 enquanto que o número de medicamentos comercializados importados quase que não se alterou. Entretanto o número de medicamentos comercializados por empresas nacionais nos últimos três anos mais que dobrou indicando um crescimento acentuado do mercado. 63 8,9 QUADRO 4: Registro do medicamento genérico no Brasil por país de origem 12 Disponível em: <http://www.febrafarma.com.br/divisoes.php?area=ec&secao=vd&modulo =arqs_economia>. Acesso em: 13 fev. 2008. 15

Países Registros de Medicamento s Nacionais e Importados em 30/04/2006 Registros de Medicamento s Nacionais e Importados em 26/01/2009 Países Comercializaçã o de medicamento Nacionais e Importados em 30/04/2006 Comercializaçã o de medicamento Nacionais e Importados em 26/01/2009 África do Sul 2 1 África do Sul 1 1 Alemanha 33 27 Alemanha 34 34 Argentina 4 9 Argentina 0 0 Austrália 5 3 Austrália 1 1 Áustria 9 8 Áustria 8 8 Bangladesh 7 5 Bangladesh 7 7 Canadá 65 19 Canadá 70 70 Espanha 24 20 Espanha 19 19 França 1 1 França 0 0 Grécia 1 1 Grécia 0 0 Holanda 7 0 Holanda 0 0 Índia 203 199 Índia 135 135 Islândia 4 0 Islândia 4 0 Israel 17 13 Israel 16 14 Itália 1 1 Itália 0 0 Jordânia 1 1 Jordânia 0 0 Malta 1 1 Malta 0 0 Portugal 2 2 Portugal 2 2 Suíça 2 2 Suíça 1 1 USA 9 2 USA 5 5 Importado 398 315 Comercializad o Importado 303 297 Nacional 1518 2293 Comercializad o Nacional 615 1292 Total Registrado s 1916 2608 Total Não Comercializad o 998 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados fornecidos pela ANVISA em 2009. No QUADRO 5, verifica-se que das oito empresas líderes do mercado de genéricos responsáveis por 90,8 % das vendas do setor em 2008, cinco são nacionais estando elas entre as maiores do ranking. QUADRO 5: País de origem dos maiores fabricantes de genéricos Ranking decrescente das oito maiores empresas de genéricos em 2005 País de origem 1- Medley Nacional 13 2- EMS Sigma Pharma Nacional 3- Ache/Biosintetica Nacional 4- Eurofarma Nacional 5- Novartis (Sandoz do Brasil) Suíça 14 6- Ranbaxy Indiana 7- GERMED Nacional 15 8- Merck SA Alemã Fonte: Elaboração própria a partir dos dados fornecidos pelo IMS Health em 2008. 1019 13 A Medley foi comprada pela Sandofi-Aventis em 2009, mas aguarda ainda aprovação do CADE. BASILE J. Cade suspende a compra da Medley pela Sanofi. Valor Econômico, São Paulo, 5,7,9 jun. 2009. Empresas/Indústria, B9. 14 A Hexal AG foi adquirida pela Novartis em 2007. Disponível em: <http://www.novartis.com.br/news/pt/releases/2005_06_16_sandoz.shtml>. Acesso em: 12 fev. 2008. 15 A Germed Farmacêutica Ltda é uma empresa coligada ao grupo EMS Sigma Pharma. Disponível em: < http://www.germed.pt/?id_page=4>. Acesso em: 12 mar. 2008. 16

O QUADRO 6 mostra o ranking das oito maiores empresas de genéricos no período de 2000 a 2008 com o respectivo percentual de vendas. A Medley é a que possui maior poder de mercado ao longo de 2000 a 2008, pois o seu faturamento está bastante acima dos demais concorrentes possuindo neste período em média 30,5% do mercado de medicamentos genéricos, enquanto que a segunda colocada EMS Sigma Pharma tem 26,0%. QUADRO 6: Participação das empresas no mercado de medicamentos genéricos no Brasil Empresas RK Ano 2000 Ano 2001 Ano 2002 Ano 2003 Ano 2004 Empresas Empresas Empresas Empresas RK RK RK RK Ven-da % Ven-da % Ven-da % EMS 34,03 MEDLEY 31,23 MEDLEY 27,34 MEDLEY 25,91 MEDLEY 27,61 MEDLEY 31,46 EMS 26,32 EMS 20,14 EMS 20,31 EMS 21,16 BIOSINTETICA 28,42 BIOSINTETICA 20,31 BIOSINTETICA 17,47 BIOSINTETICA 14,06 BIOSINTETICA 12,30 EUROFARMA 3,75 EUROFARMA 9,45 EUROFARMA 10,92 EUROFARMA 10,42 EUROFARMA 10,10 TEUTO 2,12 RANBAXY 8,37 RANBAXY 10,49 RANBAXY 8,93 RANBAXY 7,32 NEO QUIMICA 0,08 MERCK SA 1,37 NOVARTIS 3,88 APOTEX 4,73 NOVARTIS 4,89 DUCTO 0,04 TEUTO 1,21 MERCK SA 2,57 NOVARTIS 4,60 MERCK SA 3,42 RANBAXY 0,03 NOVARTIS 0,63 HEXAL DO BRASIL 1,66 MERCK SA 3,32 APOTEX 2,95 Ano 2005 Ano 2006 Ano 2007 Ano 2008 Empresas Ven-da Empresas Ven-da Empresas Ven-da Ven-da RK % RK % RK % Empresas RK % MEDLEY 27,96 MEDLEY 32,59 MEDLEY 36,43 MEDLEY 33,80 EMS 25,97 EMS 28,79 EMS 30,05 EMS 27,01 ACHÉ/ BIOSINTETICA/ 12,21 EUROFARMA 9,02 EUROFARMA 7,64 ACHÉ/BIOSINTETICA 7,77 ACHÉ/ ACHÉ/ EUROFARMA 8,92 BIOSINTETICA 8,36 BIOSINTETICA 6,61 EUROFARMA 7,06 RANBAXY 5,12 NOVARTIS 4,50 NOVARTIS 4,04 NOVARTIS 6,23 NOVARTIS 4,35 RANBAXY 3,37 RANBAXY 3,39 RANBAXY 4,03 MERCK SA 2,92 MERCK SA 3,12 MERCK SA 2,27 GERMED 3,08 HEXAL DO BRASIL 2,14 MEPHA 1,79 GERMED 2,12 MERCK SA 1,78 Legenda: Empresas RK = Ranking decrescente das empresas. Fonte: Elaboração própria a partir dos dados fornecidos pelo IMS Health do Brasil, em 2008. Venda % Venda % Em seguida vêem às empresas Aché/Biosintética e Eurofarma, cujas posições permanecem inalteradas ao longo deste período. Cabe ressaltar que das oito maiores empresas neste período a Germed Farmacêutica Ltda é uma empresa do grupo EMS Sigma Pharma, sendo que esta também está atuando na comercialização de genéricos em Portugal desde de 2004 16. Embora em 2008 a Medley tenha uma posição absoluta no ranking com 33,80 % das vendas, o grupo EMS formado pelas empresas Sigma Pharma (27,01% do mercado), Germed (3,08 % do mercado) e Legrand (0,89 % do mercado) tinham ao total 30,98 % do mercado de genéricos. A partir da participação de cada empresa no mercado de medicamentos genéricos, pode-se calcular a concentração através da Razão de Concentração (CR) e do índice de Hirschman-Herfindahl (HH i ), conforme mostra o QUADRO 7. Comparando os índices de concentração CR (4) e CR (8) para o segmento de genéricos vistos no QUADRO 7 são muito maiores do que aqueles referentes ao mercado brasileiro farmacêutico, sugerindo que há um nicho de mercado próprio 16 Disponível em: < http://www.germed.pt/?id_page=22 >. Acesso em: 12 jun. 2009. 17

para as empresas que comercializam genéricos. Cabe ressaltar que o mercado de genéricos tem pouco tempo de existência e é de se esperar que este ainda apresente níveis altos de concentração. QUADRO 7: Índice de concentração industrial no segmento de medicamentos genéricos e o número de equivalentes v H de 2000 a 2008 Índice de Ano Ano Ano Ano Ano Ano Ano Ano Ano Concentração 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 CR (N) CR(4) (%) 97,7 87,3 75,9 70,7 71,2 75,1 78,8 80,7 75,6 CR(8) (%) 99,9 98,9 94,5 92,3 89,8 89,6 91,5 92,5 90,8 Hirschman- 2.975,4 2.244,9 1.717,1 1.532,5 1.574,5 1.755,5 2.094,2 2.375,2 2.058,2 Herfindahl (HH i ) Número de 3 4 6 7 6 6 5 4 5 equivalentes (v H ) Fonte: Elaboração própria a partir dos dados fornecidos pelo IMS Health do Brasil, em 2008. A partir do QUADRO 7, algumas conclusões referentes à concentração são apontadas no período entre 2000 e 2008: (i) o nível de concentração do mercado CR (4) e CR (8) diminuiu no intervalo de 2000 a 2003, pois o número de novas empresas que solicitaram registros na ANVISA aumentou de 14 em 2001 para 46 em 2003, bem como a quantidade de unidades vendidas pelas empresas (ver FIGURA 3); (ii) apesar do aumento do número de novos entrantes entre 2004 e 2008, 55 para 83 respectivamente, o nível de concentração CR (4) aumentou consideravelmente neste período principalmente pela maior participação da EMS Sigma Pharma, visto no QUADRO 6; (iii) a fatia do mercado que as quatro maiores empresas dividem permaneceu praticamente inalterada no período estudado; (iv) como a razão de concentração é próxima de um, pode-se afirmar que se trata de um setor industrial cuja competição é imperfeita; (v) as oito maiores empresas CR (8) possuem um alto poder de mercado em relação às demais empresas que atuam no mercado de medicamentos de genéricos; e (vi) no período entre 2000 a 2008 o CR (1) médio das empresas foi 30,8%, o que segundo a legislação brasileira caracteriza um mercado bastante concentrado. O índice de concentração calculado por meio do HH i mostrou um valor bastante acima de 1800 (HH i > 1800) para os anos de 2000 a 2001 e ficando próximo deste valor para o período entre 2002 e 2008, o que conforme a classificação apresentada anteriormente pode-se considerar o setor de medicamentos genéricos com alta concentração. O índice HH i reduziu bastante no período de 2002 a 2003 mostrando uma correlação com o CR e enfatizando a redução do poder de monopólio das empresas. O número de equivalentes (v H ) aumentou com a redução do HH i o que enfatiza um processo de desconcentração no período de 2000 a 2003. 4.1- Market-share do mercado relevante de medicamentos genéricos no Brasil Uma alternativa de se estudar o mercado de genéricos é a divisão deste em subgrupos ou segmentos de mercado levando em consideração a real possibilidade de substituição dos medicamentos e a concorrência entre as empresas. Segundo o 18

Conselho Administrativo de Defesa Econômica CADE define-se mercado relevante como sendo o menor grupo de produtos (ou a menor área geográfica) no qual um suposto monopolista poderia manter seu preço acima do nível competitivo por um período significativo de tempo (BRASIL, CADE, 1999, p. 2). Desta forma, pode-se afirmar que o mercado relevante é o menor mercado possível, ou seja, o menor espaço econômico definido em termos geográficos ou de produtos, onde as empresas possam exercer o seu poder de mercado 17. A análise do market-share do mercado relevante foi feita baseada na classificação das classes terapêuticas da ANVISA. No estudo de mercado relevante houve a preocupação de agrupar algumas classes terapêuticas numa só devido à similaridade delas em relação à sua indicação terapêutica. A seleção das classes terapêuticas foi feita após discussão com alguns especialistas médicos e farmacêuticos. Assim algumas classes terapêuticas foram agrupadas, conforme descrito abaixo: No QUADRO 8 estão listadas as classes terapêuticas mais vendidas e observa-se que os antibióticos vêm liderando o ranking de vendas e estes estão em quinto lugar em número de registros de medicamentos. Pode-se constatar pelo que em todas as classes terapêuticas houve uma redução do seu market-share ao longo do período entre 2000 e 2008, isto porque novas classes terapêuticas foram sendo comercializadas. Constata-se que as vendas de antibióticos genéricos apresentaram a maior redução do seu market-share em relação as demais ao longo do período de 2003 a 2008, passando de 24,4% para 15,5% do mercado relevante. Enquanto que os antibióticos possuem 116 registros em 2009, sendo 73 delas comercializadas, os Aneroxicos estão em oitavo lugar nas vendas com apenas 14 registros, sendo que destes apenas nove registros são realmente comercializados. A redução market-share dos antibióticos dentro do mercado relevante ao longo dos anos pode ser explicado pela grande quantidade de medicamentos de marca existentes e/ou pelos novos lançamentos. Apesar dos antibióticos serem indicados em diversas doenças e no tratamento de infecções hospitalares, onde o nosso País possui um alto índice, estes podem estar sendo utilizados de forma incorreta pelos consumidores, como a auto-medicação. No estudo realizado por Frenkel (in NEGRI; GIOVANNI, 2001, p. 161) no período entre 1995 e 1998, portanto antes da entrada dos genéricos, foi verificado que o mercado de antibióticos representava 10,11% das vendas totais do mercado farmacêutico. No QUADRO 8, duas entre as oito classes terapêuticas mais vendidas no Brasil em 2008 são referentes a medicamentos de uso contínuo (ranking: 2 e 5 do QUADRO 8), mostrando assim que os consumidores que têm doenças crônicas estão substituindo os medicamentos de marca por genéricos. A análise do uso de medicamentos pela população leva em consideração o seguinte aspecto básico: de um lado, a necessidade de tomar com freqüência medicamentos e, de outro, eventualmente. Assim, a última pesquisa realizada em 1998 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que 31,6% da população brasileira possui pelo menos uma doença crônica, sendo que este percentual é de 27,7% para homens e 35,3% para mulheres. Com relação à renda, verifica-se que 33,0% com doenças crônicas estão entre aqueles com renda de um salário mínimo ou menos, e até 29,8% entre aqueles com mais de 20 salários 18. 17 POSSAS, M. L. Os conceitos de mercado relevante e de poder de mercado no âmbito da defesa da concorrência. Disponível em: <http://www.ie.ufrj.br/grc/pdfs/os_conceitos_de_mercado_ relevante_e_de_poder_de_mercado.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2007. 18 Disponível em:<http://www.ibge.gov.br/>. Acesso em: 3 maio 2008. 19

QUADRO 8: Market-Share das oito maiores classes terapêuticas de genéricos 2000 2001 2002 2003 2004 RK das CT (*) Venda (%) RK das CT (*) Venda (%) RK das CT (*) Venda (%) RK das CT (*) Venda (%) RK das CT (*) Venda (%) 1-Antihipertensivo 35,4 1-Antibiótico 30,5 1-Antibiótico 26,3 1-Antibiótico 24,4 1-Antibiótico 23,3 2-Antibiótico 31,4 2-Antihipertensivo 20,3 2-Antihipertensivo 13,8 2-Antihipertensivo 12,1 2-Antihipertensivo 11,5 3-Antiulceroso 15,6 3-Antiul-ceroso 12,8 3-Antiulceroso 10,2 3-Antiulceroso 8,9 3-Antiinflamatório 8,3 4-Antianginoso e 4-Antiinflamatório 4-Antiin- 4-Antiin- vasodila-tador 3,3 8,4 flamatório 8,4 flamatório 8,3 4-Antiulceroso 8,2 5-Betabloquea-dor Simples 3,2 5-Antilipêmico 4,4 5-Antilipêmico 5,0 5-Antilipêmico 5,3 5-Antilipêmico 5,1 6-Analgésico não narcótico 2,2 6-Betabloquea-dor Simples 3,7 6-Antimi-cóticos 4,2 6-Antimicótico 4,7 6-Antimicótico 4,7 7-Antiinflamatório 1,8 7-Analgésico não narcótico 2,8 7-Analgésico não narcótico 3,8 7-Antidepressivo 4,45 7-Antidepressivo 4,2 8-Antimi-cótico 1,6 8-Antimicótico 2,8 8-Antidepressivo 3,7 8-Betabloqueador Simples 3,5 8-Analgésico não narcótico 3,7 2005 2006 2007 2008 RK das CT (*) Venda (%) RK das CT (*) Venda (%) RK das CT (*) Venda (%) RK das CT (*) Venda (%) 1-Antibiótico 20,6 1-Antibiótico 18,8 1-Antibiótico 16,2 1-Antibiótico 15,5 2-Antihipertensivo 11,6 2-Antihipertensivo 11,4 2-Antihipertensivo 12,4 2-Antihipertensivo 13,1 3-Antiinflamatório 8,5 3-Antiinflamatório 8,1 3-Antiulceroso 7,9 3-Antiulceroso 8,0 4-Antiulceroso 7,7 4-Antiulceroso 7,9 4- Antiinflamatório 7,2 4- Antiinflamatório 6,7 5-Antimicótico 5,1 5-Antimicótico 4,9 5-Anorexicos 5,1 5- Antidepressivo 5,9 6-Antilipêmico 4,5 6-Antidepressivo 4,5 6-Antidepressivo 5,0 6- Antimicótico 4,5 7-7- Analgésico 7- Analgésico não Antidepressivo 4,4 não narcótico 4,5 7- Antimicótico 4,9 narcótico 4,4 8-Analgésico não narcótico 4,0 8- Antilipêmico 3,8 8-Analgésico não narcótico 4,5 8-Anorexicos 3,8 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados fornecidos pelo IMS Health do Brasil, em 2006. Legenda: cada cor representa uma classe terapêutica. (*) RK das CT = Ranking das Classes Terapêuticas. A partir da participação de cada classe terapêutica no mercado relevante de medicamentos genéricos, pode-se calcular a concentração através da Razão de Concentração (CR) e do índice de Hirschman-Herfindahl (HH i ), conforme mostra o QUADRO 9. Algumas conclusões referentes à concentração são apontadas no período entre 2000 e 2008: (i) o nível de concentração do mercado CR (4) e CR (8) diminuiu sensivelmente ao longo dos anos, pois houve a entrada de novas classes terapêuticas passando de 39 classes em 2000 para 104 classes em 2009; e (ii) em 2008 as quatro maiores classes terapêuticas ocupam 43,31%, significando que as empresas que atuarem nestas classes terapêuticas terão um maior poder de mercado. QUADRO 9: Índice de concentração das classes terapêuticas Índice de Concentração Ano Ano Ano Ano Ano Ano Ano Ano Ano CR (N) 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Razão de Concentração 85,8 72,0 58,6 53,7 51,3 48,5 46,2 43,7 43,3 20