UNIVERSIDADE: Universidade Estadual de Campinas UNICAMP TÍTULO DO TRABALHO: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA CONSTRUÇÃO CIVIL AUTORES: Paulo Sérgio Bardella; Gladis Camarini E-MAIL DOS AUTORES: pbardela@uol.com.br camarini@fec.unicamp.br PALAVRAS-CHAVE: desenvolvimento sustentável, construção civil, resíduos de construção e demolição. ÁREA TEMÁTICA: Desenvolvimento Sustentável. Resumo O objetivo desse trabalho é apresentar como a indústria da construção civil está se adequando para a utilização e transformação de resíduos industriais e resíduos de construção e demolição com a finalidade de aplicá-los novamente na cadeia produtiva da construção. O Desenvolvimento Sustentável é uma forma de desenvolvimento econômico que emprega os recursos naturais e o meio ambiente não apenas em benefício do presente, mas também das gerações futuras. A indústria da construção civil sempre foi caracterizada pela carência de qualidade em seus produtos e por uma filosofia altamente esbanjadora. Embora por questões econômicas os construtores tentem otimizar recursos e, portanto, minimizar perdas, os sistemas construtivos ultrapassados e que são de prática corrente na construção civil brasileira, nem sempre consideram os desperdícios na construção como uma variável importante no processo construtivo. Assim, uma construção sustentável deve basear-se na prevenção e redução dos resíduos pelo desenvolvimento de tecnologias limpas, no uso de materiais recicláveis ou reutilizáveis, no uso de resíduos como materiais secundários e na coleta e deposição inerte. O trabalho foi desenvolvido com base nos resultados de pesquisas que estão sendo realizadas e da legislação e normas técnicas referentes a esse assunto. Foram obtidas informações que avaliam a situação atual da construção civil brasileira, que tem procurado melhorar o sistema produtivo para uma construção sustentável. As informações obtidas mostram que o desenvolvimento sustentável na indústria da construção civil ainda está ocorrendo lentamente no Brasil. Para acelerar esse processo é necessário que ocorra regulamentação e fiscalização eficientes, e principalmente uma mudança cultural para o setor da construção civil. Diante da análise dos dados, observou-se que é preciso tomar providências para que os profissionais da indústria da construção civil se preparem para implementação de processos, desenvolvimento de pesquisas e de ensino, que sejam capacitados a divulgar as mudanças necessárias e que estejam dispostos a derrubar os paradigmas existentes no setor da construção civil brasileira.
1 Introdução Desde o final do século vinte e início do século vinte e um, a questão ambiental está cada vez mais sendo debatida nas esferas internacional, nacional e local. O crescimento da população, os progressos da indústria e da urbanização contribuem para um aumento da geração de resíduos que são abandonados no meio ambiente. Assim, o desenvolvimento no setor da construção civil ocasiona aumento de energia e da matéria prima consumida, e leva à geração de resíduos provocando impacto ao meio ambiente. Dessa forma, a conscientização a respeito dos problemas ambientais enfrentados no mundo moderno conduz a procura de produtos e serviços que motivem a existência de processos industriais voltados para um consumo limpo dos recursos naturais. Assim, é preciso se adequar a um modelo de desenvolvimento sustentável capaz de satisfazer as necessidades atuais sem comprometer as necessidades futuras. O Desenvolvimento Sustentável é um termo que pode ser definido como forma de desenvolvimento econômico que emprega os recursos naturais e o meio ambiente não apenas em benefício do presente, mas também das gerações futuras. Portanto, a sustentabilidade deve aprofundar suas propostas na constante avaliação comparada das implicações ambientais, nas diferentes soluções técnica, econômica e socialmente aceitas e deve considerar ainda, durante a concepção de produtos e serviços, todas as condicionantes que os determinem por todo o seu ciclo de vida (MANZINI & VEZZONI, 2005). Nesse sentido, é necessário compreender a necessidade de uma gestão ambiental a partir da consciência da dimensão que os impactos do setor da construção civil causam ao meio ambiente. Procurando disponibilizar conhecimentos e informações para as empresas construtoras envolvidas, pois a consciência com relação à construção sustentável até o momento ainda não é suficiente para desencadear ações ambientalmente positivas por parte das empresas construtoras que ainda não se interessam efetivamente pelas implementações de sistemas de gestão ambiental (DEGANI & CARDOSO, 2003). 2 Desenvolvimento Sustentável na Construção Civil Aspectos Gerais Os resíduos de construção e demolição são hoje um grave problema nas principais cidades brasileiras. De acordo com Pinto (1999), até o final da década de 1990 à produção média de entulho no Brasil era estimada como sendo da ordem de 0,50 toneladas por habitante por ano, chegando a corresponder a 50% da massa dos resíduos sólidos urbanos, podendo atualmente apresentar valores superiores a essa estimativa.
Uma mentalidade voltada para o desenvolvimento sustentável na construção civil não permite a concepção de que os recursos naturais e os locais de deposição de resíduos são abundantes. O crescente aumento da geração de resíduos leva a um aumento da extinção de recursos naturais (ANGULO, 2005). Dessa forma, o desperdício de materiais nas construções não se baseia somente na geração de resíduos sólidos, mas também na não reutilização de seus resíduos no processo de construção, desperdiçando assim as potencialidades desses materiais. Dessa forma, uma construção sustentável baseia-se na prevenção e redução dos resíduos pelo desenvolvimento de tecnologias limpas, no uso de materiais recicláveis ou reutilizáveis, no uso de resíduos como materiais secundários e na coleta e deposição inerte. Assim, devem ser tomadas medidas para se transformar resíduos em recursos reutilizáveis (VÁZQUEZ, 2001). De acordo com a Resolução nº 307 do Conselho Nacional de meio Ambiente CONAMA (2002), os geradores de resíduos da construção civil devem ser responsáveis pelos resíduos das atividades de construção. Dessa forma, a reciclagem e a reutilização se inserem em atitude necessária, pois além da conscientização dos aspectos relativos à questão ambiental, os geradores de resíduos estarão sujeitos a sanções judiciais no caso do não cumprimento da lei. No entanto, sempre existirá uma parcela de resíduos impossíveis de serem reduzidos e, se tratando de um resíduo pós-consumo, a sua reutilização torna-se mais complicada. Para esses resíduos devem-se criar destinos adequados. Atualmente, o que tem sido observado é que as empresas que atuam no setor da construção civil, que apresentam uma conduta ambiental mais responsável, por exemplo, as que buscam a certificação ISO 14001, estão substituindo formas convencionais de destinação dos resíduos por técnicas baseadas no conceito dos três R (redução, reuso e reciclagem), como formas sustentáveis de gerenciamento (ZORDAN, 2003). Dessa forma, a reciclagem e o reaproveitamento dos materiais desperdiçados nos canteiros de obras pode apresentar diminuição no custo final das construções, apresentando também diminuição da quantidade de resíduos destinados para as áreas urbanas. Isso é um aspecto desejável, pois os depósitos de resíduos estão se tornando cada vez mais escassos. Entretanto, embora as técnicas de reciclagem dos resíduos da construção civil tenham evoluído muito atualmente, não se pode afirmar com absoluta convicção que a reciclagem tenha se tornado uma idéia amplamente difundida no setor construtivo, sendo ainda um dos principais desafios que a construção civil brasileira deve enfrentar nos próximos anos. O sucesso da implementação de uma gestão ambiental eficiente e eficaz, em empresas construtoras dependerá sempre da conciliação entre os benefícios ambientais e os benefícios para empresa como unidade de negócio, desta forma, os aspectos gerenciais devem ser
adotados ao longo de toda a cadeia produtiva, englobando desde o planejamento, controle da produção, logística, suprimentos até a capacitação de mão de obra. 3 A Utilização de Resíduos na Construção Civil No Brasil, a discussão sobre a utilização de resíduos ainda se desenvolve com maior freqüência no ambiente técnico científico. A reciclagem de resíduos como material de construção ocorre ainda com maior intensidade com relação à reciclagem de resíduos industriais da industria do aço que são utilizados na fabricação de cimento Portland e na produção de concretos e argamassas (ANGULO; ZORDAN & JONH, 2001). Atualmente com a crescente degradação do meio ambiente e a preocupação das indústrias em atender às novas legislações, que as responsabilizam por essa degradação ambiental provocada pelos seus resíduos de produção, fazem com que esses resíduos industriais sejam utilizados cada vez mais em substituição de parte do cimento (escória granulada de alto-forno, cinza pozolânica e sílica ativa). Isso ocorre, pois além de favorecer a economia dos recursos naturais, pode reduzir os danos à natureza causados pela disposição desses resíduos ao ar livre e contribuir também para a diminuição dos percentuais de CO 2 adicionados à atmosfera durante a fabricação do cimento Portland (BOURGUIGHON et al., 2004). O emprego de adições minerais (escória granulada de alto-forno e cinza pozolânica) ao cimento Portland (em substituição ao clínquer) produz concretos e argamassas com resistência mais elevada ao longo do tempo, aumentando a sua durabilidade com relação à penetração de líquidos, gases e íons, quando comparados a concretos e argamassas produzidos somente com cimento Portland comum. Isso ocorre, pois essas adições minerais têm propriedade hidráulica latente e geram o silicato de cálcio hidratado (C-S-H) que é o mesmo produto gerado pela hidratação do clínquer do cimento Portland. A escória granulada de alto-forno (resíduo gerado na fabricação do ferro gusa) quando adicionada ao clínquer de cimento Portland gera dois tipos de cimento Portland encontrados no mercado, cujos teores de adição de escória são estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT): cimento Portland composto (CP II E 6% a 34%, NBR 11578 (ABNT, 1991a)) e cimento Portland de alto-forno (CP III 35% a 70%, NBR 5735 (ABNT, 1991b)). A cinza pozolânica adicionada ao clínquer do cimento Portland também gera dois tipos de cimentos Portland: CP II Z (cimento Portland composto) a quantidade de cinza pozolânica
varia de 6% a 14% - NBR 11578 (ABNT, 1991a) e cimento Portland pozolânico (CP IV) a quantidade de cinza pozolânica varia de 15% a 50% - NBR 5736 (ABNT, 1991c). Outro resíduo industrial freqüentemente utilizado na construção civil e a sílica ativa (resíduo da fabricação do silício e suas ligas), constituída de partículas muito finas, ela é empregada em adição ou em substituição parcial ao cimento na produção de concretos, principalmente em concretos de alto desempenho (CAD) (SIMPLÍCIO, 1999; AITCIN, 2000). Com o uso da sílica ativa o concreto passa a ter maior resistência à compressão, menor porosidade, maior resistência à abrasão e à corrosão química, maior adesão a outras superfícies de concreto e melhor aderência com o aço, dentre outras vantagens (SIMPLÍCIO, 1999). Os efeitos benéficos da sílica ativa na microestrutura e nas propriedades mecânicas do concreto são devidos não apenas à rápida reação pozolânica, mas também ao efeito físico das partículas, conhecido como efeito fíler (efeito de preenchimento de vazios entre as partículas de cimento) (SELLEVOLD, 1987; ROSENBERG & GAIDIS, 1989; KHAYAT, 1996 apud AITCIN, 2000). Outra fonte de resíduos que também pode ser utilizada na construção civil é o entulho gerado nas construções. Ao entulho sempre foi dispensado o mesmo tratamento dado ao lixo. Algo que se deve vender se houver alguém disposto a pagar por ele, ou em caso contrário, se paga a alguém para levá-lo, sem se preocupar sobre o destino que lhe será dado. Isto sempre foi facilmente resolvido pelos transportadores de resíduos que acabam jogando o material em locais nem sempre permitido (ZORDAN, 1997). Os resíduos de construção e demolição (RCD) são parte dos resíduos sólidos urbanos (RSU) que incluem também os resíduos domiciliares. Porém, para os resíduos de construção e demolição há agravantes: o profundo desconhecimento dos volumes gerados, dos impactos que eles causam, dos custos sociais envolvidos e, inclusive, das possibilidades de seu reaproveitamento faz com que os gestores dos resíduos se apercebam da gravidade da situação unicamente nos momentos em que são responsabilizados pela sua geração, demonstrando a ineficácia de suas ações corretivas (PINTO, 1999). Os resíduos de construção e demolição (RCD) representam de 13 a 67% em massa dos resíduos sólidos urbanos (RSU) tanto no Brasil como no exterior, cerca de 2 a 3 vezes a massa de lixo urbano (JOHN, 2000; ANGULO, 2005). Uma estimativa aponta para um montante de 68,5 milhões de toneladas por ano; Praticamente todos os países no mundo investem num sistema formal de gerenciamento para reduzir a deposição ilegal e sistemática, que causa assoreamento de rios, entupimento de bueiros, degradação de áreas e esgotamento de áreas de
aterros, além de altos custos sócio-econômicos, especialmente em cidades de médio e grande porte (ANGULO, 2005). No Brasil, o gerenciamento dos resíduos de construção e demolição (RCD) está previsto na Resolução nº 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA (2002), cabendo aos municípios a definição de uma política municipal para RCD sendo fundamental a reciclagem da fração de origem mineral, pois representa 90% da massa do RCD (ANGULO, 2005). Para efeito dessa Resolução, são adotadas as seguintes definições CONAMA (2002): - Resíduos de Construção Civil: são os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassas, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras. - Geradores: são pessoas, físicas ou jurídicas, pública ou privada, responsáveis por atividades ou empreendimentos que gerem resíduos. - Transportadores: são as pessoas, físicas ou jurídicas, encarregadas da coleta e do transporte dos resíduos entre as fontes geradoras e as áreas de destinação. - Agregado reciclado: é o material granular proveniente do beneficiamento de resíduos de construção que apresentam características técnicas para a aplicação em obras de edificação, de infra-estrutura, em aterros sanitários ou outras obras de engenharia. - Gerenciamento de resíduos: é o sistema de gestão que visa reduzir, reutilizar ou reciclar resíduos, incluindo planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos e recursos para desenvolver e implementar as ações necessárias ao cumprimento das etapas previstas em programas e planos. - Reutilização: é o processo de reaplicação de um resíduo, sem transformação do mesmo. - Reciclagem: é o processo de reaproveitamento de um resíduo, após ter sido submetido à transformação. - Beneficiamento: é o ato de submeter um resíduo a operações e/ou processos que tenham por objetivo dotá-lo de condições que sejam utilizados como matéria-prima ou produto. - Aterro de resíduos da construção civil: é a área onde serão empregadas técnicas de disposição de resíduos da construção civil, visando a reservação de materiais segregados de forma a possibilitar seu uso futuro e/ou futura utilização da área, utilizando princípios de engenharia para confiná-los ao menor volume possível, sem causar danos à saúde pública e ao meio ambiente.
- Áreas de destinação de resíduos: são áreas destinadas ao beneficiamento ou à disposição final de resíduos. A Resolução nº 307 CONAMA (2002), estabelece a classificação dos resíduos da seguinte forma: - Classe A: são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados (materiais que podem ser agregados em argamassas ou concretos). - Classe B: são os resíduos recicláveis para outras destinações (plásticos, papel, papelão, metais, vidros, madeiras e outros). - Classe C: são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem e/ou recuperação. - Classe D: são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como: tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros. Em diversos países, os resíduos de construção representam de 19 a 52% do RCD, enquanto os resíduos de demolição representam de 50 a 81% do RCD. No Brasil, estima-se que mais de 50% do RCD é originado da construção (construção informal e canteiros de obras) (ANGULO, 2005). O gerenciamento do RCD tradicionalmente praticado no Brasil e no exterior pelo poder público é caracterizado pela limpeza repetida de áreas de deposição ilegal dentro da malha urbana, e destinação do resíduo em aterros municipais (PINTO, 1999; ANGULO, 2005). A grande massa de RCD existente nas cidades contribui para o esgotamento de aterros, principalmente em cidades de grande porte, pois o resíduo é tradicionalmente aterrado nos mesmos locais que os resíduos sólidos urbanos (RSU). A existência de multas em razão da deposição irregular é, via de regra a única política voltada para o gerador de resíduos (ANGULO, 2005). Quase todas as políticas adotadas para diminuir esse impacto ao meio ambiente, incluem a reciclagem dos resíduos por meio da redução de sua geração, visto que a redução também reduz a utilização de aterros, a ocorrência de depósitos irregulares, o consumo de recursos naturais não renováveis e impactos ambientais das atividades de mineração (PINTO, 1999). De acordo com John et al (2004), as estratégias adotadas no gerenciamento de RCD podem ser resumidas em: (a) evitar deposições ilegais, (b) segregar os tipos de materiais do RCD na fonte e (c) estimular a reciclagem. Os RCD incluem diferentes materiais, tais como diferentes tipos de plásticos, isolantes, papel, materiais betuminosos, madeiras, metais, concretos, argamassas, blocos, tijolos, telha, solos e
gesso, dentre outros. A porção composta por concretos, argamassas, blocos, tijolos, telhas, solos e gesso, dos resíduos de construção e demolição são de origem mineral e representam aproximadamente 90% do RCD (ANGULO, 2005). De acordo com Angulo (1998) em estudo realizado em 10 canteiros de obras, na cidade de Londrina - PR, foi identificado como principais resíduos gerados, os materiais cerâmicos (52%), argamassas (16%) e gesso (15%). Nesse estudo também foi identificado que os entulhos de novas construções podem surgir em 4 fases de execução básicas, são elas: concretagem, alvenaria, revestimento e acabamento do edifício. Dessa forma, na composição dos RCD os resíduos mais freqüentes são os materiais cerâmicos (blocos de alvenaria, tijolos, azulejos), madeira, gesso, aço e argamassas. Nas obras de demolições (comerciais e residenciais), foi observado que os principais resíduos produzidos foram materiais cerâmicos (52%), concretos (33%) e madeira (8%) (ANGULO, 1998). Devido à cultura conservadora com relação às técnicas construtivas utilizadas nos canteiros de obras brasileiros atribui-se que esses números ainda representam a realizada atual na construção civil. 4 Racionalização do Processo Construtivo Em uma construção racionalizada, o objetivo prioritário é a não geração de resíduos e, secundariamente a redução, a reutilização, a reciclagem e a destinação final. Como em um processo construtivo é impossível que não sejam gerados resíduos devemos tentar minimizar ao máximo a quantidade de resíduos gerados. Dessa forma, uma construção racionalizada tendo como objetivo uma construção sustentável deve adotar técnicas construtivas baseadas no conceito de redução da geração de resíduos, reuso de resíduos gerados e reciclagem de resíduos que seriam destinados a aterros. Dessa forma, uma mentalidade de construção que visa a racionalização das etapas dos processos construtivos apresenta redução na quantidade de entulho gerado durante o processo de construção (conceito de obra limpa de acordo com a Resolução nº 307 CONAMA (2002). Como exemplo de racionalização das etapas de construção podemos citar a utilização de estruturas pré-moldadas, pois vem de encontro com esse conceito, oferecendo rapidez e agilidade na construção, economia no custo total da obra e diminuição na quantidade de entulho gerado durante o processo de construção, reduzindo os resíduos obtidos durante a
etapa de execução da estrutura da edificação. Estruturas pré-moldadas apresentam ainda a vantagem de poderem ser desmontadas e montadas novamente em outro local, sem que ocorra uma grande quantidade de RCD (desde que os elementos de ligação dessas estruturas não tenham sido fixados de forma definitiva durante a sua montagem). 5 Considerações Finais Os dados apresentados indicam que o processo de reaproveitamento de resíduos para utilização na indústria da construção civil está ocorrendo ainda lentamente no Brasil. É necessário que ocorra regulamentação e fiscalização mais eficientes para inibir as destinações irregulares, principalmente de entulho de construções. Para que isso ocorra é necessário uma mudança cultural do setor, visando uma conservação dos recursos naturais existentes, a preservação ambiental e uma preocupação com a qualidade de vida principalmente para os próximos anos, pois o entulho gerado por grandes geradores (construtoras) corresponde apenas em torno de 25% do entulho gerado nas grandes cidades, o restante é gerado pelos pequenos geradores (autoconstrução, reformas, etc). Embora a Resolução CONAMA nº 307 tenha representado um avanço e um marco inicial para regulamentação da redução dos impactos ambientais gerados pelos resíduos da construção civil, na pratica o que se verifica é o desconhecimento por parte dos setores responsáveis por sua implementação e/ou falta de vontade política para o seu atendimento. Diante da análise dos dados, observou-se que é preciso tomar providências para que os profissionais da indústria da construção civil se preparem para implementação de processos, desenvolvimento de pesquisas e de ensino, que sejam capacitados a divulgar as mudanças necessárias e que estejam dispostos a derrubar os paradigmas existentes no setor da construção civil brasileira. 6 Agradecimentos À FEC/UNICAMP (Bolsa BIPED) pelo apoio financeiro. 7 Referências ABNT ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 11578: Cimento Portland composto. Rio de Janeiro: ABNT, 1991a. NBR 5735: Cimento Portland de alto-forno. Rio de Janeiro: ABNT, 1991b. NBR 5736: Cimento Portland pozolânico. Rio de Janeiro: ABNT, 1991c.
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