Comparação entre tratamento preventivo e curativo na proteção dos grãos de trigo contra as pragas durante o armazenamento Amauri Romani 1, Irineu Lorini 2 89 1 Pós-graduação em Qualidade no Armazenamento de Grãos da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Campus Toledo. Av. da União, 500, Jardim Coopagro, 85902-532 Toledo, PR. E-mail: amauri.romani@iriedi.com.br 2 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Centro Nacional de Pesquisa de Soja (Embrapa Soja). Rodovia Carlos João Strass Sn - Distrito de Warta, Caixa Postal 231, 86001-970 Londrina, PR. E-mail: lorini@cnpso.embrapa.br Resumo O uso de inseticidas químicos é o método mais utilizado pra o controle de pragas de grãos armazenados. O controle químico pode ser aplicado de forma preventiva ou curativa. Este trabalho teve como objetivo fazer uma comparação entre o tratamento preventivo, e o tratamento curativo ou expurgo, com o intuito de comparar os custos de controle com os benefícios e qualidade do trigo armazenado. Palavras-chave: Rhyzopertha dominica, controle de insetos, limpeza e higienização. Introdução Com o aumento populacional tornou-se indispensável também o aumento na produção de alimentos. Os povos e o poder de compra estão aumentando e com isso gerando uma grande defasagem na produção e armazenagem de grãos. A armazenagem tem uma deficiência enorme, gerando a estocagem em locais inadequados tendo uma necessidade de retirar e/ou vender os grãos em épocas desfavoráveis, ocasionando perdas qualitativas, quantitativas e financeiras. Estima-se que cerca de 144 milhões de toneladas de grãos produzidas atualmente no Brasil, 20% são desperdiçados no processo de colheita, transporte e armazenamento (LORINI, 2008). A metade destas perdas é devido ao ataque de pragas. Nesse ponto, a armazenagem desempenha papel fundamental com relação à qualidade final do produto industrializado. Segundo Biagi, Bertol e Carneiro (2002) armazenar, nada mais é que conservar o produto diminuindo ao máximo as perdas utilizando-se, da melhor maneira possível, as técnicas existentes, preservando assim a qualidade física, sanitária e nutricional dos grãos depois de colhidos. Assim, 637
o setor armazenador de grãos necessita de novas tecnologias e que estas sejam limpas, não tóxicas, não agressivas ao meio ambiente e viáveis economicamente de modo a reduzir custos e perdas, e proporcionar produtos saudáveis para a alimentação humana e animal. O correto armazenamento de grãos deve-se desenvolver, principalmente, dentro de um caráter preventivo. Assim sendo, a boa conservação dos grãos armazenados e a prevenção das perdas tanto quantitativas, como qualitativas durante o período de armazenamento, envolve, necessariamente, a realização de uma série de procedimentos indispensáveis, como a prévia limpeza e higienização dos armazéns, silos, máquinas e equipamentos, a secagem, a limpeza e classificação dos produtos, os tratamentos preventivos dos grãos com inseticidas residuais líquidos, a aeração, e outras práticas que englobam o correto manejo da massa de grãos e o controle integrado de pragas. A resistência dos insetos a inseticidas está aumentando mundialmente e constitui um dos maiores problemas de controle de pragas na atualidade. Isso tudo está acontecendo devido às estruturas precárias que tivemos no início da armazenagem e que até hoje estes armazéns estão em uso. A falta de infra-estrutura seja na recepção, no processamento e, principalmente, no armazenamento, eleva as perdas tanto na ordem quantitativa como também qualitativa. Estas construções foram feitas sem o devido planejamento para uma boa armazenagem, dificultando o processo de limpeza e desinfestação de insetos nessas instalações. Este trabalho teve como objetivo comparar os sistema de tratamento da massa de grãos de trigo, preventivo e curativo, com uso de inseticidas, visando principalmente o controle da praga Rhyzopertha dominica. Foi comparado o custo dos tratamentos, os benefícios e a qualidade do produto ao final do período de armazenamento. Materiais e métodos O trabalho foi realizado em uma unidade armazenadora de grãos da região oeste do Estado do Paraná, em dois silos com trigo armazenado de forma similar, durante um período de 180 dias. Os dois silos foram preparados e higienizados para armazenar o trigo por um longo prazo. A limpeza das paredes laterais foi feita através de varreduras, as chapas perfuradas da aeração foram retiradas, as canaletas e as peneiras de aeração foram limpadas para desobstruir orifícios obstruídos pelas impurezas de outros grãos armazenados anteriormente. Esta limpeza foi feita também em túneis, fitas transportadoras, elevadores e canalizações. Após a limpeza foi feita uma aplicação líquida com inseticida em um pulverizador costal de 20 litros, sendo aplicado em todas as paredes, pisos, canaletas, túneis e poços de elevadores. Após uma semana foi feita uma nova aplicação através dos exaustores da aeração com terra diatomácea, deixando as canaletas, pisos e paredes com a coloração do pó. Estando os silos cheios de trigo foi feita uma aplicação de inseticida na parte superior da massa de grãos e nas laterais externas (anel e chapas) para proteger a massa de grãos de insetos que pudessem vir de áreas externas dos silos. Após os processos de recebimento dos grãos, em um dos silos foi feito o tratamento preventivo do trigo com inseticida líquido e o outro não recebeu nenhum tratamento prévio ao armazenamento. Os inseticidas utilizados preventivamente foram K-Obiol 25 CE (deltamethrin) e Actellic 500CE 638
(pirimiphos-methyl), ambos na dosagem de 15 ml do inseticida por tonelada de grão. O sistema de tratamento foi à aplicação da calda inseticida na correia transportadora no carregamento do silo no início do armazenamento. Para monitorar a presença de pragas durante o armazenamento, amostras de trigo foram retiradas através de um equipamento pneumático onde possui diversos canos com 1,20 metros de comprimento cada um. Estes canos foram introduzidos na massa de grãos coletando amostras em seis pontos diferentes, sendo em toda a profundidade da massa do trigo nos silos. Foi separada uma amostra geral de cada silo, para fazer análise do trigo e verificar infestação de insetos. As coletas das amostras dentro dos silos foram analisadas para verificar se já havia infestação. Esta análise foi feita através de peneiras de testes com furação de 1,75 mm x 20 mm, onde foram separadas as impurezas e matérias estranhas do trigo para uma melhor visualização dos insetos. Em todos os pontos de coleta de amostras foram utilizados os mesmos procedimentos e em nenhum ponto foi encontrada qualquer infestação de insetos na amostragem inicial, principalmente da Rhyzopertha dominica. Uma parte da amostra coletada foi enviada ao laboratório para análise de qualidade e o restante da amostra foi colocado em uma garrafa plástica transparente que foi deixada em local de temperatura favorável ao desenvolvimento de insetos, sendo acompanhada semanalmente, paralelamente a coleta de amostras e peneiragem dos grãos dentro dos silos. Logo após o armazenamento foi realizada uma avaliação de presença de pragas, nos dois silos, através de coleta de amostras de grãos e peneiragem. Como existia pragas em ambos os silos, foi realizado um expurgo com fosfina para eliminar a presença das pragas. Para o expurgo usou-se 6 gramas de fosfina por m³, ou seja, duas pastilhas de 3 gramas cada. Após a aplicação das pastilhas na massa de grãos, a superfície do silo foi vedada com lona própria para expurgo de modo que o gás não pudesse sair. Não foi medida a concentração do gás durante o expurgo. Resultados e discussão O conhecimento das vantagens e limitações do uso tanto do método preventivo, quanto do curativo, permite ao armazenador otimizar ambos os métodos para cada situação. Do momento que apareceram insetos nas amostras das garrafas plásticas, intensificou-se as amostragens nos silos, onde em poucos dias apareceram insetos. Com a presença de insetos (Rhyzopertha dominica), conforme relatado na Tabela 1, onde não foi feito tratamento preventivo com inseticida, acompanhou-se semanalmente com as amostragens e verificamos que não houve uma evolução grande de insetos. Não teve necessidade de fazer tratamento com inseticida ou aplicação de fosfina (expurgo) na massa de grãos. O acompanhamento foi feito através de amostragens e aplicações de inseticidas líquidos (K-Obiol e Actellic) na superfície e na parte inferior da massa de grãos. A mesma infestação ocorreu na amostra da garrafa plástica do silo sem tratamento preventivo, porém, vinte e cinco dias mais tarde. Após 15 dias, constatou-se que pela infestação nas amos- 639
tras havia a necessidade de fazer o expurgo dos silos. O trigo tratado teria que ser novamente tratado, precisando, portanto de um silo vazio, não existente no momento para fazer a transilagem. Isso acarretaria custos de todos os equipamentos que seriam utilizados na transilagem, como também, o custo com o inseticida usado no tratamento e a mão-de-obra para acompanhar o tratamento. A decisão foi de expurgar ambos silos, os quais foram comercializados com qualidade padrão de produto. As primeiras diferenças entre o método preventivo e curativo foram observadas logo no início, no momento da aplicação. Na aplicação de inseticida líquido, é necessário que os equipamentos de aplicação estejam devidamente regulados para que toda a massa de grão receba o produto. Já o expurgo tem uma vantagem em relação a isso, pois a fosfina consegue penetrar em toda massa de grão, fazendo assim uma melhor distribuição do produto. Outra vantagem do uso do curativo é que não há necessidade de se fazer diluições do produto, estando este pronto para o uso. Outra vantagem do expurgo é que não deixa resíduo nos grãos o que permite uma comercialização do grão sem resíduos do pesticida. Além disso, considerando-se, o tempo de armazenagem do trigo de um silo para o outro, notouse que a diferença para o início da infestação do silo tratado para o não tratado foi insignificante. Deste modo, o custo com tratamento inicial mostrou-se desnecessário, pois o tempo de infestação de insetos foi muito curto. Tabela 1. Monitoramento da presença de insetos e da temperatura nas avaliações do silo de trigo onde foi realizado apenas o tratamento preventivo. Avaliações na massa de grãos e na garrafa plástica. Temperatura Temperatura Quantidade de Quantidade de Data da Hora da Temperatura média da massa da garrafa Rhyzopertha Rhyzopertha amostragem leitura ambiente de grãos, da amostra, no silo em na garrafa Temp ºC ºC ºC 6 pontos testemunha 16/10/08 8:30 21 19,2 27,0 0 0 23/10/08 8:30 22 19,7 27,0 0 0 30/10/08 8:30 17 19,5 24,0 0 0 06/11/08 8:30 17 19,5 24,0 0 0 13/11/08 8:30 18 19,7 24,0 0 0 20/11/08 8:30 20 20,2 26,0 0 0 27/11/08 8:30 22 20,8 30,0 0 0 04/12/08 8:30 18 20,8 29,0 0 0 11/12/08 8:30 20 21,2 29,0 0 0 18/12/08 8:30 22 21,6 31,0 0 0 26/12/08 8:30 24 21,9 30,0 0 0 02/01/09 8:30 23 22,1 32,0 0 1 08/01/09 8:30 22 22,5 32,0 1 1 15/01/09 8:30 22 22,5 33,0 1 3 22/01/09 8:30 23 22,7 34,0 3 4 29/01/09 8:30 24 23,3 35,0 6 6 05/02/09 8:30 25 23,8 35,0 6 7 12/02/09 8:30 25 24,4 36,0 8 10 640
Tabela 2. Monitoramento da presença de insetos e da temperatura nas avaliações do silo de trigo onde foi realizado apenas o tratamento curativo com fosfina (expurgo). Avaliações na massa de grãos e na garrafa plástica. Temperatura Temperatura Quantidade de Quantidade de Data da Hora da Temperatura média da massa da garrafa Rhyzopertha Rhyzopertha amostragem leitura ambiente de grãos, da amostra, no silo em na garrafa Temp ºC ºC ºC 6 pontos testemunha 16/10/08 8:30 21 19,6 26,0 0 0 23/10/08 8:30 22 20,3 27,0 0 0 30/10/08 8:30 17 20,2 24,0 0 0 06/11/08 8:30 17 19,8 24,0 0 0 13/11/08 8:30 18 19,6 24,0 0 0 20/11/08 8:30 20 20,5 26,0 0 0 27/11/08 8:30 22 21,2 30,0 0 0 04/12/08 8:30 18 20,9 26,0 0 0 11/12/08 8:30 20 21,8 29,0 0 0 18/12/08 8:30 22 22,4 31,0 0 0 26/12/08 8:30 24 22,2 30,0 0 0 02/01/09 8:30 23 22,5 30,0 0 0 08/01/09 8:30 22 22,8 29,0 0 1 15/01/09 8:30 22 23,1 29,0 0 1 22/01/09 8:30 23 22,9 30,0 0 2 29/01/09 8:30 24 23,6 30,0 2 5 05/02/09 8:30 25 24,4 32,0 2 8 12/02/09 8:30 25 25,2 35,0 6 11 Portanto, o expurgo com fosfina tornou-se a melhor opção para resolver a infestação de insetos, nesta situação avaliada. O custo para o tratamento com fosfina ficou abaixo do tratamento com inseticida líquido. A qualidade do produto final foi similar nos dois sistemas de tratamento. Referencias BIAGI, J.D.; BERTOL, R.; CARNEIRO, M.C. Armazéns em Unidades Centrais de Armazenamento. In: LORINI, I.; MIKE, H. L.; SCUSSEL, V. M. Armazenagem de Grãos. Campinas, SP: IBG, 2002. LORINI, I. Manual Técnico para Manejo Integrado de Pragas de Grãos de Cereais Armazenados. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2008. 641