No último dia 10 de outubro foi publicada a Lei nº 12.865, fruto da conversão da Medida Provisória (MP) nº. 615, de 17 de maio de 2013, que, dentre outros assuntos: (i) tratou da reabertura do prazo para adesão aos benefícios instituídos pela Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009 (REFIS IV), e pela Lei nº 12.249, de 11 de junho de 2010; (ii) estabeleceu outros três programas de pagamento à vista ou parcelamento de créditos tributários federais com benefícios; e (iii) alterou a base de cálculo da Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/Pasep) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) incidentes sobre a importação de bens e serviços, estabelecidas pela Lei nº 10.865, de 30 de abril de 2004. I. REABERTURA DO PRAZO PARA ADESÃO AO REFIS IV E DEMAIS PARCELAMENTOS FEDERAIS Em 28 de maio de 2009 a Medida Provisória nº. 449/08 foi convertida na Lei nº. 11.941, instituindo programa de pagamento à vista/parcelamento denominado "REFIS IV", para a liquidação de débitos fiscais relativos a tributos federais vencidos até 30 de novembro de 2008, permitindo-se a inclusão de débitos administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) e para com a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN), constituídos ou não, com exigibilidade suspensa ou não, inscritos ou não em Dívida Ativa, inclusive ajuizados, e débitos decorrentes de parcelamentos anteriores não integralmente quitados, ainda que cancelados por falta de pagamento. A adesão deveria ocorrer até o dia 30 de novembro de 2009, porém o cumprimento de diversas obrigações e a indicação pormenorizada dos débitos a serem incluídos nas respectivas modalidades ocorreram em momento posterior, escalonadamente, conforme as disposições das Portarias Conjuntas PGFN/RFB nºs 06, 10, 11 e 13/2009, 03, 11, 13 e 15/2010, 02, 04 e 05/2011. Por seu turno, a Lei nº 12.249/10 estabeleceu a possibilidade de pagamento à vista ou parcelamento com descontos dos débitos administrados pelas autarquias e fundações públicas federais¹ e os débitos, tributários ou não, para com a Procuradoria-Geral Federal, vencidos até 30 de novembro de 2008, com prazo de adesão até 30 de dezembro de 2010. Assim, com a promulgação da Lei nº 12.865/13, foram reabertos até 31 de dezembro de 2013 os prazos para adesão aos referidos programas, sendo certo que até a respectiva consolidação, obrigase o contribuinte à desistência de todos os processos administrativos e judiciais que a eles se refiram, com renúncia ao direito sobre o qual se pautam as respectivas discussões, devendo 1
proceder ao recolhimento mensal equivalente ao resultado da divisão entre o total dos débitos e o número pretendido de parcelas. Vejam-se os descontos estabelecidos: Opção Multas Mora/Ofício Multa Isolada Juros de Mora Encargos Legais À vista 100% 40% 45% 100% Até 30x 90% 35% 40% 100% Até 60x 80% 30% 35% 100% Até 120x 70% 25% 30% 100% Até 180x 60% 20% 25% 100% Entretanto, nos termos do 1º do artigo 17 da Lei nº. 12.865/13, a opção de pagamento ou parcelamento acima não se aplica aos débitos que já tenham sido parcelados nos termos das Leis nº. 11.941/09 e nº 12.249/10, o que por sua vez inviabiliza a reinclusão de débitos já objetos de adesão ao REFIS IV no prazo original, no caso de inadimplência ou rompimento do parcelamento anterior. Ademais, a Lei nº 12.865/13, por seus artigos 39 e 40, instituiu ainda três novos parcelamentos, como forma de encerrar inúmeras discussões judiciais de contribuintes contra a União, ainda que relativamente a matérias ainda não pacificadas nos tribunais superiores, conforme abaixo: (a) débitos das instituições financeiras e companhias seguradoras (à exceção daquelas cuja falência foi decretada) relativos à Contribuição para o PIS/Pasep e à COFINS, conforme dispostas no Capítulo I da Lei nº 9.718, de 27 de novembro de 1998: Vencimento dos Débitos: 31 de dezembro de 2012 À vista 100% 80% 45% 100% Até 60x c/ 20% (b) débitos das pessoas jurídicas (à exceção daquelas cuja falência foi decretada) decorrentes da discussão relativa à exclusão do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS) da base de cálculo da Contribuição para o PIS/Pasep e da COFINS: 2
Vencimento dos Débitos: 31 de dezembro de 2012 À vista 100% 80% 45% 100% Até 60x c/ 20% (c) débitos das pessoas jurídicas (à exceção daquelas cuja falência foi decretada) relativos ao Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), decorrentes da aplicação do artigo 74 da MP nº 2.158-35/01² - tributação dos lucros auferidos no exterior por empresas coligadas ou controladas: Vencimento dos Débitos: 31 de dezembro de 2012 - parcelas mínimas de R$ 300.000,00; - vedado parcelamento relativo a incentivos fiscais devidos ao Fundo de Investimento do Nordeste - FINOR, Fundo de Investimento da Amazônia - FINAM e Fundo de Recuperação do Estado do Espírito Santo - FUNRES; - liquidação das multa e juros moratórios com utilização de prejuízo fiscal (25%) e base de cálculo negativo da Possibilidade: CSLL (9%) próprios e/ou de empresas coligadas domiciliadas no Brasil, controladas em 31/12/2011 e na data de adesão; À vista 100% 100% 100% 100% Até 120x c/ 20% Desta forma, como se pode depreender das matérias que envolvem os parcelamentos federais acima descritos e considerando-se que: (i) a adesão a qualquer dos parcelamentos implica confissão irrevogável e irretratável dos débitos incluídos, inclusive com renúncia a quaisquer direitos de ação judicial em que tais temas são discutidos; e que (ii) as próprias discussões judiciais que permeiam a origem desses débitos sequer alcançaram, em sua integralidade, o posicionamento definitivo dos Tribunais Superiores favoravelmente aos interesses da União; verifica-se que as disposições da Lei nº. 12.865/13, em vez de benefícios fiscais, podem trazer prejuízos aos contribuintes cujas ações judiciais gozam de prováveis chances de êxito, pelo que se recomenda a análise bastante aprofundada do status processual relativo aos débitos elegíveis aos parcelamentos em questão. 3
II. ALTERAÇÃO DA BASE DE CÁLCULO DA CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP E DA COFINS NA IMPORTAÇÃO Por fim, considerando-se que em 20 de março último o Tribunal Pleno do Supremo Tribunal Federal (STF), por unanimidade de votos, negou provimento ao Recurso Extraordinário nº 559.937, interposto pela União em face de decisão do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região que reconhecia a inconstitucionalidade do dispositivo legal que determinava a inclusão do ICMS, da Contribuição para o PIS/Pasep e da COFINS na base de cálculo dessas mesmas contribuições sociais, quando incidentes na importação de bens e serviços (artigo 7º, inciso I, da Lei nº 10.865, de 30 de abril de 2004), a Lei nº 12.865/2013, por seu artigo 26, alterou a redação daquele inciso I para fixar como base de cálculo das contribuições incidentes na importação exclusivamente o valor aduaneiro. No entanto, é de ressaltar-se que não houve alteração do inciso II daquele artigo, abaixo transcrito, tendo sido mantida a inclusão do Imposto sobre Serviços de qualquer Natureza ("ISSQN") e das próprias contribuições na base de cálculo aplicável ao respectivo fato gerador, conforme inclusive corroborado pela RFB por meio da Instrução Normativa (IN) RFB nº. 1.401, de 11 de outubro de 2013: "II - o valor pago, creditado, entregue, empregado ou remetido para o exterior, antes da retenção do imposto de renda, acrescido do Imposto sobre Serviços de qualquer Natureza - ISS e do valor das próprias contribuições, na hipótese do inciso II do caput do art. 3º desta Lei." Desta forma, a alteração legislativa acima evitará uma série de ações judicias atualmente em andamento e ainda por serem ajuizadas contra a União em função da decisão recente do STF, favoravelmente à exclusão do ICMS e das próprias contribuições sociais da base da Contribuição para o PIS/Pasep e COFINS; entretanto, considerando-se a aplicabilidade das disposições da Lei nº. 12.865/13 a partir da data de sua publicação, a recuperação de valores pagos a maior em períodos de apuração anteriores a ela deverá ser feito por meio exclusivamente litigioso. Essas são as alterações de maior relevância instituídas pela Lei nº. 12.865/13, sendo certo que permanecemos à inteira disposição de V.Sas. caso se façam necessários maiores esclarecimentos, bem como para assessorá-los na análise da viabilidade e providências para adesão a qualquer dos parcelamentos federais acima destacados. Atenciosamente, Passos e Sticca Advogados Associados ¹Exceção a débitos administrados por Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE, Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - INMETRO e Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL. 4
²"Art. 74. Para fim de determinação da base de cálculo do imposto de renda e da CSLL, nos termos do art. 25 da Lei no9.249, de 26 de dezembro de 1995, e do art. 21 desta Medida Provisória, os lucros auferidos por controlada ou coligada no exterior serão considerados disponibilizados para a controladora ou coligada no Brasil na data do balanço no qual tiverem sido apurados, na forma do regulamento. Parágrafo único. Os lucros apurados por controlada ou coligada no exterior até 31 de dezembro de 2001 serão considerados disponibilizados em 31 de dezembro de 2002, salvo se ocorrida, antes desta data, qualquer das hipóteses de disponibilização previstas na legislação em vigor." 5