Jewish-Christian Relations Insights and Issues in the ongoing Jewish-Christian Dialogue Watson, Nigel 01.01.2005 Além da Bíblia Hebraica: A Formação do Cânon do Novo Testamento Nigel Watson Um Processo Longo Quando os escritores do Novo Testamento se referem "às Escrituras" entendem, quase sem exceção, as Escrituras Hebraicas. A única exceção que conheço é 2Pedro 3,15s., onde o escritor implica que "as escrituras" incluem as cartas de Paulo. O processo que culminou no reconhecimento oficial duma coleção de escritos sagrados cristãos a serem honrados ao longo das Escrituras Hebraicas era prolongado, durando mais que 300 anos. Esse processo está muitas vezes descrito como a formação do "Cânon do Novo Testamento". Entre os significados listados em dicionários do grego antigo para a palavra grega kanon encontramos os seguintes: uma vara reta, uma regra, régua, metaforicamente, uma regra, padrão. O processo de "canonizar" ou aceitar, como regra de fé, certos escritos cristãos foi estimulado por eventos tanto internos como de fora da Igreja. Estímulos Internos - A Coleção das Cartas Paulinas Parece que, pelo fim do primeiro século da era comum, as cartas de Paulo foram coletadas juntas para formar uma espécie de antologia. Quando Clemente de Roma escreve aos coríntios em 95, pode citar 1Corintios tão prontamente como Romanos e parece que conhecia Efésios e Filipenses também. O Reconhecimento de Quatro Evangelhos Havia muitos Evangelhos escritos nos primeiros dois séculos depois de Cristo, alguns dos quais, como o Evangelho cóptico de Thomas, chegaram à luz em Nag Hammadi no Egito Superior em 1945-46. Evangelhos como o de Thomas competiam com os de Mateus, Marcos, Lucas e João na Igreja primitiva, mas estes ganharam ascendência rapidamente, a qual nunca perderam. Pelo fim do segundo século estava geralmente reconhecido que só esses quatro eram contendores sérios numa coleção de escrituras sagradas cristãs. Estímulos Externos - Marcião O movimento de pôr aparte quatro Evangelhos foi celebrado pela atividade de Marcião (excomungado em 144). A tese central era que o evangelho cristão era inteiramente um evangelho de amor, para a exclusão absoluta de lei. Essa convicção o conduziu a rejeitar as Escrituras Hebraicas completamente. O Criador Deus revelado nas Escrituras Hebraicas não tinha nada em comum com o Deus de Jesus Cristo. Assim, para Marcião, as únicas escrituras autoritativas eram as cartas de Paulo, mais uma versão editada do evangelho de Lucas. O efeito do cânon estreito de Marcião teria sido a rejeição completa das raízes da Cristandade no Judaísmo. Gnósticos e Montanistas 1 / 5
Enquanto Marcião tentou reduzir o corpo dos escritos autoritativos, outros, particularmente gnósticos e montanistas, o tentaram alargar. Esses eram movimentos diferentes, mas ambos reclamavam possuir revelação divina. A pressão combinada de todos esses movimentos criou um problema agudo para as Igrejas principais pelo fim do segundo século. Quais da massa crescente de escritos cristãos eram para serem reconhecidos como autoritativos? Os quais eram os critérios que deviam ser usados? Na prática, os critérios principais que aparecem ter sido usados eram (1) origem apostólica; (2) ortodoxia de conteúdo e (3) aceitação geral pelas igrejas. Não devemos supor, no entanto, que esses critérios estivessem cuidadosamente articulados, formalmente aceitos e então conscientemente aplicados. Estamos lidando com algo mais como reações instintivas na parte de igrejas membros. Para comentar brevemente sobre esses critérios: origem apostólica se comentava um como oposto às reivindicações por gnósticos e montanistas de terem acesso à revelação direta não aberta para outros. Assim foi argüido que os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João eram cada um obra ou dum apóstolo ou dum companheiro dum apóstolo. Muitos cientistas modernos duvidam seriamente se, de fato, algum dos quatro satisfaz esse critério. Numa carta escrita por Jerônimo a Dárdano em 414, vemos um Padre de Igreja aplicando todos os três dos critérios acima mencionados. Jerônimo está discutindo a Epistola aos Hebreus, considerada como paulina, mas não por outros. Para sua parte, ao longo com as igrejas de fala grega, a aceita, na balança, como paulina, mas então adiciona: "E não importa de quem é, desde que é obra dum homem da Igreja e honrada diariamente por ser lida nas igrejas." Assim, para Jerônimo, a questão de origem apostólica é relevante, mas não decisiva. Hebreus é obra dum homem da Igreja, não herético. E foi provado ser a espécie de livro que o povo de igreja quis ouvir e exposto regularmente. Crescimento do Fundo para Cima O último comentário de Jerônimo sobre Hebreus ilustra uma verdade importante sobre a formação do cânon. Eventualmente estabelecendo o cânon, as autoridades eclesiais estavam subseqüentemente ratificando decisões que já tinham sido alcançadas por comunidades cristãs. Os líderes da Igreja não criaram o cânon, reconheceram o cânon que já estava criado. Um Cerne Firme com Margens Controversas Durante alguns 200 anos, havia flocosidade sobre os cantos do cânon. Isso está claro a partir das variações nas listas de livros autoritativos que foram propostas no fim do segundo e no início do terceiro século. O assim chamado Cânon Muratoniano nos mostra que livros foram aceitos e que livros foram rejeitados em Roma pelo fim do segundo século. Essa lista compreende os seguintes livros: os quatro Evangelhos, Atos, treze cartas de Paulo, Judas, 1 e 2João, Sabedoria, Revelação e a Apocalipse de Pedro. Tertuliano (cerca 160-220), o primeiro escritor que fala do "Novo Testamento", aceita os seguintes: os quatro Evangelhos, Atos, treze cartas de Paulo, 1Pedro, 1João, Judas e Revelação. No entanto, o número dos livros que eram "reconhecidos" era consideravelmente maior que o número daqueles que estavam sendo "disputados". Pelo ano de 200, o cânon do Novo Testamento já era cinco sextos completo e aceito sem debate na Igreja inteira do Oriente e o Ocidente. Um Certo Fecho O processo de canonização alcançou algo como um fecho na Páscoa de 367, quando Atanásio, bispo 2 / 5
de Alexandria, fez circular uma carta festival, listando vinte-e-sete livros como constituindo os escritos do Novo Testamento. Atanásio foi seguido por Jerônimo, pelo Concílio de Hipo em 393 e o terceiro Concílio de Cartago em 397. No entanto, séculos passaram, antes que os vinte-e-sete livros prevalecessem em cada lugar. Lutero e um "Cânon Dentro do Cânon" O desafio mais importante ao consenso alcançado no século quarto veio do reformador, Martinho Lutero, no início do século dezessete. Lutero tinha problemas com quatro livros, em particular: Hebreus, Tiago, Judas e Revelação. Enquanto incluiu esses livros na Bíblia, os considerou claramente como marginais. Sem negar o cânon tradicional, Lutero levantou o assunto de um "cânon dentro do cânon". O cânon do Novo Testamento KANON: uma vara ou barra reta, uma regra o padrão; uma regra de fé; a lista de livros sagrados que serve como a regra da fé e vida cristãs. "As Escrituras" no NT regularmente significam as Escrituras Judaicas. O processo de formação do cânon do NT durou 300 anos. Catalisadores desse processo: A. Dentro da Igreja a coleção das cartas de Paulo, o reconhecimento de quatro Evangelhos. B. Fora da Igreja o cânon tendencioso de Marcião - as cartas de Paulo mais um Lucas editado; os gnósticos e os montanistas quiseram um cânon que os incluísse. As respostas das Igrejas Principais Aqueles escritos são autoritativos que (1) têm origem apostólica; (2) demonstram ortodoxia de conteúdo e (3) têm sido geralmente aceitos pelas Igrejas. Ilustração: a carta de Jerônimo a Dárdano em 414 dc. Alguns Estágios ao longo do Caminho ao Consenso O Cânon Muratoriano: 4 Evangelhos, Atos, 13 cartas de Paulo, Judas, 1 e 2João, Sapiência, Revelação e a apocalipse de Pedro. Tertuliano: 4 Evangelhos, Atos, 13 cartas de Paulo. 1Pedro, 1João, Judas, Revelação. Portanto: Consenso sobre o cerne: controvérsia sobre os cantos. A Carta Festival de Atanásio de 367 Declara 27 livros canônicos. Jerônimo segue Atanásio, como também o Concílio de Hipo em 393 e o terceiro Concílio de Cartago em 397. O Cânon de Lutero dentro do Cânon Hebreus, Tiago, Judas e Revelação relegados às margens. Questões, questões Podem as Igrejas adicionar livros ao cânon ou tirar livros fora? O quê se um livro antigo aparecer com fortes reivindicações para inclusão? 3 / 5
Conclusão: No todo, a Igreja decidiu bem. Não podemos dizer que o NT não teria jogado o papel que jogou, se tivesse incluído, digamos, Hermas ou excluído 2Pedro. "A fronteira exata do cânon do NT pode ser discutível, mas a distingibilidade e indispensabilidade daquilo que jaz central e solidamente dentro daquelas fronteiras fica bem claro e inegável" (H. H. Farmer). As Igrejas têm o Direito de Revisar o Cânon? A visão está por vezes expressa de que o cânon do Novo Testamento possa ser enriquecido por adição de alguns clássicos modernos, por exemplo, as Cartas de Dietrich Bonhoeffer e Papéis da Prisão. Mas à parte da dificuldade prática de segurar consenso entre as Igrejas sobre o que livros modernos incluir, há a objeção óbvia de que tais livros não têm sido usados e aceitos pelas Igrejas por quase dois mil anos, sejam tão inspirando e teológica como forem. Mas o quê se um livro antigo aparecer com fortes reivindicações para a inclusão? Por exemplo, a maioria dos cientistas do Novo Testamento crê Mateus e Lucas se valeram duma coleção de ditos de Jesus geralmente referidos como Q [do alemão Quelle = fonte]. Se Q existiu, foi perdido. Mas o quê se uma cópia de Q iria aparecer na areia do Egito? Outra vez, podemos ter certeza que não temos todas as cartas que Paulo escreveu às suas Igrejas. Em 1Cor 5,9, por exemplo, na sua primeira carta existente aos Coríntios, Paulo se refere a uma carta anterior. O quê se essa "Carta Prévia" aparecer? A minha própria opinião é que as Igrejas hoje teriam de aplicar os mesmos critérios que foram usados na Igreja primitiva, particularmente o terceiro, quer dizer, uso e aceitação pelas Igrejas. Em outras palavras, o escrito recentemente descoberto se tem de provar pelo tempo, justamente com os escritos eventualmente incluídos no Novo Testamento se provaram através do tempo. Para se aproximar ão problema de um outro Ângulo: de vez em quando, está sendo expressa a visão de que as Igrejas estariam mais bem servidas, se esta ou aquela parte do Novo Testamento fosse excluída. Alguns propuseram, por exemplo, que as Epistolas Pastorais (1 e 2Timóteu e Tito) fossem excluídos, por causa do seu padrão hierárquico-patriarcal de pensar. Outros propuseram que as passagens antijudaicas no Evangelho de João fossem omitidas. É altamente improvável, no entanto, que qualquer coisa sair dessas ou semelhantes propostas. Na prática, as Igrejas marginalizam partes de alguns livros do Novo Testamento, por simplesmente não as incluir nas suas lecionários. O Common Lectionary [Lecionário Comum] é um botão de mudar muito efetivo. Além disso, publicações como Rightly Explaining the Word of Truth [Explicar Retamente a Palavra de Verdade] provêem o clero com prefácios, com as quais possam introduzir quaisquer passagens problemáticas. Um Produto de Senso Comum Santificado? Poucos cientistas negariam que, no todo, a Igreja primitiva decidiu bem. Não vejo como alguém possa manter que o Novo Testamento não teria jogado o papel que jogou na vida da comunidade cristã e nas vidas dos seus membros individuais se tivesse incluído alguns escritos antigos que agora não inclui, como, digamos as cartas de Inácio (35-107). Nem vejo como alguém pudesse manter que o Novo Testamento não poderia ter jogado o papel que jogou se tivesse excluído alguns escritos antigos que estavam sendo considerados como disputados, com, digamos, 2Pedro ou Judas. A distintividade e a indispensabilidade daquilo que jaz central e solidariamente dentro das fronteiras 4 / 5
Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) do cânon do Novo Testamento é inegável. Para Leitura Ulterior: Veja no fim do texto inglês. Texto inglês Tradução: Pedro von Werden SJ - Caixa Postal 885-78005-970 Cuiabá-MT BRASIL - pwerden@terra.com.br 5 / 5