Número do processo: 1.0145.09.551119-5/001(1) Númeração Única: 5511195-38.2009.8.13.0145 Processos associados: clique para pesquisar Relator: Des.(a) VERSIANI PENNA Relator do Acórdão: Des.(a) VERSIANI PENNA Data do Julgamento: 03/11/2011 Data da Publicação: 08/11/2011 Inteiro Teor: EMENTA: AÇÃO DE COBRANÇA. TAXA CONDOMINIAL. PAGAMENTO OBRIGATÓRIO. MINUTA DE CONVENÇÃO DO CONDOMÍNIO. DEMONSTRAÇÃO DO DÉBITO. ÔNUS DA PROVA DO RÉU. ART. 333, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. - A obrigação de pagamento de taxas condominiais ordinárias e extraordinárias decorre da lei e das regras estabelecidas na convenção de condomínio, obrigando a todos os condôminos. - A teor do inciso II do art. 333, do Código de Processo Civil incumbe ao réu a prova de existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. -Ausente a demonstração do pagamento ou comprovação da ilegitimidade dos valores cobrados, correta a decisão de primeiro grau que julgou procedente a cobrança. APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0145.09.551119-5/001 - COMARCA DE JUIZ DE FORA - APELANTE(S): MARCOS FRANCISCO MORAES - LITISCONSORTE: LEANDRO GOMES ESTEVES DA SILVA, ALFREDO LUIZ CLAUDIO - APELADO(A)(S): CONDOMÍNIO EDIFÍCIO RESIDENCIAL GARDENVILLE A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 17ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, à unanimidade, em rejeitar preliminar e negar provimento ao recurso. Belo Horizonte, 03 de novembro de 2011. DES. VERSIANI PENNA, RELATOR. DES. VERSIANI PENNA (RELATOR) R E L A T Ó R I O Trata-se de ação de cobrança ajuizada pelo Condomínio Edifício Residencial Gardenville em face de Marcos Francisco Morais, Leandro Gomes Esteves da Silva, Antônio Bovini e Alfredo Luiz Cláudio. Consta da inicial que os requeridos são proprietários de unidades autônomas do Edifício Gardenville, e que não estão cumprindo com suas obrigações de efetuar o pagamento de suas taxas condominiais. Pugnou pela condenação dos réus a pagamento das taxas vencidas e vincendas, acrescidas de multa de 2%, juros moratórios e correção monetária.
Junto com a inicial vieram os documentos de fls. 5/19. Petição de acordo firmado entre o autor e o réu Alfredo Luiz Cláudio, fls. 30/31. Regularmente citado, o apelante Marcos Francisco Morais apresentou contestação às fls. 32/35. Preliminarmente, alegou inépcia da inicial. No mérito, aduziu que o apelado não possui qualquer título executivo ou documento capaz de ensejar a propositura da ação. Ressalta que o fato constitutivo do direito do autor não restou comprovado. Requereu o acolhimento da preliminar ou a improcedência do pedido. Impugnação às fls. 41/42. Regularmente citado, o réu Leandro Gomes Esteves apresentou contestação e requereu o parcelamento do seu débito (fls. 37/38). O condomínio ofereceu contraproposta ao réu Leandro Gomes Esteves (fls. 45/46). A ação foi extinta em relação a Antônio Bovini, fl. 62. Em fase de especificação de provas, apelante e apelado informaram que não têm provas a produzir (fls. 63/64). O juízo de primeiro grau, às fls. 66/68, julgou: I) Extinto o processo em relação à Antônio Bovini, nos termos do inciso VIII, do art. 267 do CPC; II) Procedente o pedido inicial em relação a Marcos Francisco Morais, Leandro Gomes Esteves da Silva e Alfredo Luiz Cláudio, condenando-os, respectivamente, ao pagamento das quantias, R$5.534,69, R$1.108,29 e R$819,92. Inconformado, Marcos Francisco Morais interpôs recurso de apelação, pretendendo a reforma da decisão. Alega inépcia da inicial, ao argumento de ausência de documentos. No mérito, aduz que o fato constitutivo do direito do autor não restou comprovado. Afirma que os juros de mora devem ser de 0,5% ao mês, desde a citação (fls. 72/74). Embargos declaratórios, fls. 76/77. Decisão que inacolheu os embargos, fl. 81. O apelado ofertou contrarrazões e pleiteou a manutenção da sentença (fls.82/84). É o relatório. V O T O Trata-se de recurso de apelação interposto por Marcos Francisco Morais nestes autos em que litiga contra o Condomínio Edifício Residencial Gardenville, pretendendo a reforma da sentença a quo que julgou procedente o pedido e o condenou ao pagamento das taxas condominiais. O apelante alega inépcia da inicial, ao argumento de ausência de documentos. No mérito, aduz que o fato constitutivo do direito do autor não restou comprovado. Afirma que os juros de mora devem ser de 0,5% ao mês, desde a citação (fls. 72/74).
O apelado ofertou contrarrazões e pleiteou a manutenção da sentença (fls.82/84). Satisfeitos os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. PRELIMINAR - INÉPCIA DA INICIAL O apelante suscita, data venia, sem razão, preliminar de inépcia da inicial por ausência de documentos indispensáveis à propositura da ação. Entretanto, a meu sentir, a inicial apresentada pelo apelado além de conter todos os requisitos previstos no art. 282 do Código de Processo Civil, foi apta à formação do contencioso, propiciando ampla e combatida defesa, visto que possui narrativa lógica e suficiente dos fatos, e pedido certo de condenação do apelante no pagamento das taxas condominiais. Verifica-se, inclusive, que foi juntada às fls. 09/12, a minuta da Convenção de Condomínio que estabelece que o co-proprietário que deixar de pagar no prazo próprio as despesas do condomínio, estará sujeito à cobrança do débito, acrescida de juros, multa e correção monetária. Ademais, não vislumbro hipótese prevista no parágrafo único do art. 295 do CPC, in verbis: Art. 295: A petição inicial será indeferida: (...) Parágrafo único: Considera-se inepta a petição inicial quando: I-lhe faltar pedido ou causa de pedir; II-da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; III-o pedido for juridicamente impossível; IV-contiver pedidos incompatíveis entre si. Aliás, ressalte-se que cabe ao juiz a verificação da regularidade da petição inicial antes de despachá-la, devendo, inclusive, se houver alguma irregularidade, conceder prazo para que o autor a supra. Pelas razões expostas, rejeito a preliminar. MÉRITO Em análise detida dos autos, vejo que o julgamento das questões deduzidas alicerça-se na análise das provas produzidas pelas partes acerca dos fatos alegados, à luz do sistema processual do ônus da prova, disposto no art. 333, incisos I e II do CPC, verbis: Art. 333. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Sobre o tema, lecionam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart:
"A regra estampada no art. 333 é bastante simples, e recorre a paradigmas já consolidados no direito processual. O ônus da prova incumbe a quem alega (ou, mais precisamente, a quem tem o ônus de alegar). Assim, incumbe ao autor demonstrar os fatos constitutivos de seu direito, cabendo ao réu comprovar as exceções indiretas, ou seja, os fatos modificativos, extintivos ou impeditivos do direito do autor" (in Manual de Processo de Conhecimento - a tutela jurisdicional através do processo de conhecimento, 2. ed., São Paulo, Editora Revista dos Tribunais: 2003, p. 310). Sob esta perspectiva, tenho que a sentença deve ser mantida in totum. Ora, é certo que a obrigação de pagamento de taxas condominiais ordinárias e extraordinárias decorre da lei e das regras estabelecidas na convenção de condomínio, obrigando a todos os condôminos. E, in casu, o pedido do apelado em sua inicial foi meramente de cobrança, tendo acostado planilha como forma de demonstrar o débito referente às taxas condominiais cobradas. Entretanto, vejo que o apelante, por sua vez, não demonstrou ser ilegal o débito, nem alegou ou comprovou o pagamento, tendo se limitado a impugnar genericamente os valores apresentados na planilha, sem, contudo, trazer qualquer prova a embasar suas alegações. A propósito, a jurisprudência dominante orienta: AÇÃO DE COBRANÇA - TAXAS CONDOMINIAIS -COMPROVAÇÃO DE FATO IMPEDITIVO, MODIFICATIVO OU EXTINTIVO DO DIREITO DO AUTOR - ÔNUS DA PROVA DO RÉU. Em ação de cobrança de taxas condominiais, incumbe ao réu a produção de prova hábil a demonstrar a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, tal como o pagamento do débito ou a ilegitimidade dos valores cobrados. (Número do processo: 1.0024.06.008930-7/001(1) / Relator: Des.(a) FERNANDO CALDEIRA BRANT / Data do Julgamento: 28/02/2007 / Data da Publicação: 17/03/2007) AÇÃO DE COBRANÇA - TAXA CONDOMINIAL ORDINÁRIA E EXTRAORDINÁRIA - ASSEMBLÉIA GERAL - APROVAÇÃO REGULAR - AUSÊNCIA DE FATO IMPEDITIVO, MODIFICATIVO OU EXTINTIVO DO DIREITO DO AUTOR. Uma vez comprovado nos autos que as despesas cobradas tiveram aprovação regular em assembléia, tendo sido cumprido o disposto na Convenção de Condomínio a respeito, legítima se mostra a cobrança feita pelo condomínio autor. Cumpre ao réu a comprovação da inexistência da dívida ou qualquer fato extintivo ou modificativo do direito do autor. Não se desincumbindo satisfatoriamente do ônus imposto pelo art. 333, II do CPC, deve ser mantida a decisão que julgou procedente o pedido formulado nos autos da ação de cobrança, mormente quando pelo conjunto probatório restar demonstrada a relação contratual ensejadora da obrigação pleiteada. (Número do processo: 1.0024.05.796388-6/001(1) / Relator: Des.(a) SELMA MARQUES / Data do Julgamento: 29/11/2006 / Data da Publicação: 13/01/2007) Destarte, lícita é a cobrança das taxas condominiais na forma descrita na planilha de fl. 16. Por fim, pugna o apelante pela incidência de juros de mora no patamar de 0,5% ao mês, desde a citação. Todavia, não vejo razão para acolher o pleito do recorrente uma vez que consta da minuta da Convenção de Condomínio que o co-proprietário que deixar de pagar as despesas do condomínio no prazo próprio, estará sujeito à cobrança do débito, acrescida de juros de 1% ao mês (cláusula XV - fl. 11). Feitas tais considerações, o não provimento do recurso é a medida que se impõe. DISPOSITIVO
Ante o exposto, rejeito a preliminar suscitada, nego provimento ao apelo e mantenho a sentença. Custas e despesas pelo recorrente. É como voto. DES. EDUARDO MARINÉ DA CUNHA (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a). DESA. MÁRCIA DE PAOLI BALBINO - De acordo com o(a) Relator(a). SÚMULA: "PRELIMINAR REJEITADA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO."