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Transcrição:

1984 : a obra de George Orwell sob a perspectiva funcionalista das comunicações de massa 1 Fernanda MARTINS 2 Marcela GUIMARÃES 3 Universidade Federal do Pampa, São Borja, RS RESUMO Este artigo tem como objetivo analisar o filme 1984, dirigido por Michael Radford e baseado na obra de George Orwell, sob a perspectiva da teoria funcionalista das comunicações de massa, presente no estudo das Teorias da Comunicação. Procura analisar o enredo da história com o estudo funcionalista, e de que forma ela é retratada na versão cinematográfica do romance mais famoso de Orwell. A metodologia utilizada para a construção teórica foi a pesquisa bibliográfica das obras de Mauro Wolf, Antonio Hohlfeldt, Armand e Michèle Mattelart, e Ilana Polistchuk e Aluizio Ramos Trinta, e a análise da própria produção cinematográfica. PALAVRAS-CHAVE: comunicação; meios de comunicação de massa; teoria funcionalista. INTRODUÇÃO Durante a graduação na área da Comunicação Social, é necessário que o discente tenha contato com os diversos tipos de aprendizagem propostos, sejam eles essencialmente teóricos, práticos ou ambos os segmentos em um só. Dentre o que é proposto na parte teórica, está o de apreender acerca do processo evolutivo da comunicação e do relacionamento do indivíduo com os meios de comunicação de massa com o passar do tempo. Essa abordagem é feita no estudo das Teorias da Comunicação, disciplina 1 Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho Estudos da recepção do V SIPECOM - Seminário Internacional de Pesquisa em Comunicação 2 Estudante de Graduação 3º semestre do Curso de Relações Públicas Ênfase em Produção Cultural da UNIPAMPA, email: fernandaca.martins93@gmail.com 3 Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Relações Públicas Ênfase em Produção Cultural da UNIPAMPA, email: marcelaunipampa@gmail.com 1

essencial para o acadêmico compreender como evoluiu, é analisado e qual o papel do seu principal instrumento de trabalho: a comunicação. Cotidiana, dialógica, jamais concluída e em permanente recomeço, a comunicação se faz e refaz pelos incontáveis dizeres de que todos somos capazes, em nossa condição e de acordo com nossa situação em distintos tempos e variados lugares. A comunicação é humana. Busca encontrar sentidos para as coisas, interpretar os acontecimentos, entender os fatos do mundo (POLISTCHUK e TRINTA, 2003, p.63). Buscando definir o conceito de teoria, Polistchuk e Trinta a afirmam como uma construção intelectual, o modo de apresentação de um saber [...], uma explicação da realidade, por exemplo, em sentido filosófico, ou a uma exposição explicativa de algo latente em fatos naturais ou culturais (2003, p.57-58). Ou seja, uma teoria objetiva a construção de um conhecimento e sua formalização. No que diz respeito às teorias, Wolf (2003) diz que as análises devem ser feitas não somente pelo viés cronológico, mas também através do contexto social, histórico, econômico em que surgiram. Assim como pelo tipo de teoria social lançada pelas teorias da mídia da época, e estilo do modelo de processo comunicacional de cada uma. No que concerne esses modelos, a teoria funcionalista, utilizada para análise do filme 1984, e para a construção do artigo aborda a sociedade e as funções que a comunicação de massa exerce sobre ela. O PAPEL DA COMUNICAÇÃO SOCIAL A Comunicação Social é caracterizada como uma ciência social aplicada que busca estudar, analisar e compreender a relação do indivíduo com os meios de comunicação de massa presentes no seu cotidiano, e como ela se estabelece na sociedade. Na área acadêmica engloba habilitações dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Rádio e Televisão, e Relações Públicas. Os profissionais formados nessas áreas têm papel de porta-vozes da sociedade, e no decorrer da sua construção profissional devem estar aptos a relacionar o que apreendem conceitualmente na universidade (teoria) com as práticas que a profissão demanda (prática), para assim servirem à sociedade com prestações de serviço e contribuições intelectuais e científicas. 2

O ENSINO DAS TEORIAS DA COMUNICAÇÃO NOS CURSOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL Dentre as disciplinas obrigatórias dos cursos, está a de Teorias da Comunicação. Esse campo de estudo, que pode ser considerado como multidisciplinar por englobar em suas análises filosofia, sociologia e psicologia, é formado por diversos estudos sobre a Comunicação Social. Esses estudos voltados para as mídias tiveram início em 1946, no período entre-guerras (1ª e 2ª Guerras Mundiais), com a Teoria Hipodérmica. Com o avanço dos meios de comunicação e da sua forma de utilização, surgiram teorias posteriores como o Modelo de Lasswell, teorias da persuasão, empírica de campo, funcionalista, crítica (Escola de Frankfurt), culturológica, e posteriormente hipóteses contemporâneas como a agenda-setting, o newsmaking, e a espiral do silêncio. O conhecimento desse processo evolutivo é fundamental para compreender como os meios de comunicação de massa eram utilizados antigamente e como o são nos dias de hoje, além de ser possível analisar essa relação com propriedade através da observação do indivíduo na sociedade e no contexto onde está inserido. A TEORIA FUNCIONALISTA DAS COMUNICAÇÕES DE MASSA Presente nos estudos das Teorias da Comunicação, a teoria funcionalista aborda hipóteses sobre as relações entre os indivíduos, a sociedade e os meios de comunicação de massa (HOHLFELDT, 2011, p.122). É uma teoria de orientação sociológica surgida nos Estados Unidos entre 1940 e 1960, que analisa o indivíduo a partir da presença dos meios de comunicação de massa em seu cotidiano e a ação que possui sobre ele. Seus estudos se preocupam em explicar as funções que esses meios exercem sobre determinados grupos, superando conceitos de manipulação e persuasão vindos anteriormente. Ainda segundo Hohlfeldt, já não é a dinâmica interna dos processos comunicativos que define o campo de interesse de uma teoria dos meios de comunicação de massa, mas sim a dinâmica do sistema social (2011, p.123). 3

Essa corrente preocupou-se não somente em analisar a comunicação em situações específicas, como em campanhas eleitorais, e sim em situações habituais dentro de um sistema social, onde as mensagens eram produzidas e difundidas cotidianamente (Wolf, 2003). O funcionalismo supõe que o desenvolvimento dos meios de comunicação corresponda a novas necessidades sociais e, sendo esse o caso, a tais meios compete proporcionar satisfações a expectativas de um público parte da população total que se acha exposta à ação dos referidos meios (POLISTCHUK e TRINTA, 2003, p.85). 1984 : A OBRA VISIONÁRIA DE GEORGE ORWELL 1984 é a célebre obra do escritor Eric Arthur Blair, mais conhecido pelo seu pseudônimo George Orwell. O livro, finalizado em 1948 e publicado no ano seguinte, retrata o dia a dia de uma sociedade distópica que vive sob regime totalitário. A obra teve sua adaptação para as telas pelo diretor Michael Radford em 1984, coincidindo com seu nome. Na história, as nações são divididas em três grandes potências mundiais: Oceania, Eurásia e Lestásia. A Oceania, onde a história se passa, é comandada pelo Partido IngSoc (Socialismo Inglês). Ele possui características totalitárias e de extrema dominação, exterminando qualquer tipo de verdade que não seja a sua própria. Dentre suas ações manipuladoras, está a da criação de uma falsa guerra contra a Eurasia, e a constante exposição da figura de Emmanuel Goldstein, visto como um antigo membro do Partido e traidor. Para alimentar ainda mais o processo de manipulação, possui departamentos que anulam qualquer tipo de contato vindo de fora da Oceania. O IngSoc prega que toda sua população deve ser totalmente devota ao Big Brother (O Grande Irmão), que é a imagem de um homem que aparentemente os observa a todo instante, constantemente exposta para os cidadãos e funcionários do Partido. Além da devoção ao Grande Irmão, os cidadãos devem amá-lo e idolatrá-lo cega e incondicionalmente. 4

Winston Smith é um dos cidadãos da Oceania que trabalha a favor do Partido no Departamento da Verdade, onde as notícias veiculadas via jornal são totalmente distorcidas a favor dos interesses do regime. O personagem Winston não acredita na ideologia do Partido, no Grande Irmão, e em nada do que é pregado. Como forma de expressar seus pensamentos, guarda em seu quarto um diário secreto, onde relata o que vê e sente em relação ao regime totalitário ao qual é submetido. Durante a história Winston conhece a jovem Julia, funcionária do Departamento de Ficção, que assim como ele não acredita na ideologia do regime. Ambos se apaixonam e iniciam um romance secreto, pois o Partido proíbe qualquer tipo de relacionamento amoroso e sexual com fins de sentir prazer. Porém o romance é descoberto, e inicia-se um processo de tortura e lavagem cerebral no casal na tentativa de torná-los efetivamente simpatizantes e membros do Partido. ANÁLISE DA ADAPTAÇÃO CINEMATOGRÁFICA SOB A PERSPECTIVA FUNCIONALISTA A história de 1984 relata o regime opressor que a população da Oceania é sujeita e como o Partido utiliza-se dos meios de comunicação de possui. Exemplos desses meios são a Teletela, que observava e controlava 24 horas por dia a rotina de seus funcionários, e os noticiários que disseminavam notícias distorcidas a seu favor a todo instante. Essa disseminação tinha o propósito de atingir cada indivíduo com o fim de alcançar êxito no trabalho coletivo. [...] A mídia [...] tende a influenciar comportamentos individuais e a dobrar a vontade coletiva (POLISTCHUK e TRINTA, 2003, p.87). A primeira cena do filme mostra claramente como a mídia exerce poder sobre o comportamento do cidadão e da coletividade. Um grande telão diante de todos os funcionários do Partido transmite a guerra entre a Oceania e a inimiga Eurasia. Engrandecendo sua terra e maldizendo sua opositora, coloca-se a imagem de Emmanuel Goldstein, considerado como o grande traidor do regime. Os cidadãos neste momento passam a caluniá-lo, mostrando ódio e aversão às suas atitudes e ao que dizia contra o Partido. 5

Até este momento todos os funcionários aparentemente compartilhavam da mesma opinião. Porém no decorrer do filme Winston se mostra contrário ao que o IngSoc prega em seu regime, sendo a favor da sua liberdade de expressão e a do seus semelhantes. Por este fator, todo o bombardeio de informações disseminadas para o funcionário não surtia efeito algum, o que se relaciona com a observação realizada por Lazarsfeld a respeito da narcotizing dysfunction ( disfunção narcotizante ). A disfunção narcotizante é resultado da falta de interesse do público devido ao excesso de informações a que é exposto. A falta de organização e hierarquização das informações as torna desinteressantes perante os olhos dos cidadãos, que no caso de Winston não surte efeito algum, apenas maior alheamento. Hipótese também utilizada para a análise da relação do personagem Winston Smith com os meios de comunicação utilizados pelo Governo é a dos usos e gratificações. Essa corrente se preocupa com o uso que as pessoas fazem dos meios com os quais tem contato. O efeito da comunicação de massa é compreendido como consequência das gratificações às necessidades experimentadas pelo receptor: os meios de comunicação de massa são eficazes se o receptor lhes atribui essa eficácia e em que medida, com base justamente na gratificação das necessidades. [...] A influência das comunicações de massa permanece incompreensível se não se considerar a sua importância em relação aos critérios de experiência e aos contextos situacionais do público: as mensagens são desfrutadas, interpretadas e adaptadas ao contexto subjetivo de experiências, conhecimento, motivações (Merten, 1982 apud Wolf, 2003, p.60). No caso de Winston, esses meios não lhe repercutem efeito algum, em vista da sua opinião formada sobre o Partigo IngSoc e seu regime totalitário e opressor. Outro personagem analisado dentro das perspectivas funcionalistas é o membro do Partido Interno O Brien. O agente do Governo pode ser considerado um líder de opinião, modelo criado também por Lazarsfeld intitulado two-step flow of communication ( fluxo comunicacional realizado em duplo estágio ). O Brien usa seu poder de influência para persuadir e realizar o intermédio entre a ideologia do Partido e os seus cidadãos. 6

[...] se as mensagens elaboradas e transmitidas pela mídia nem sempre atingem os potenciais receptores de forma direta, isso se dá em função de um repasse informativo que fazem pessoas bem informadas, socialmente influentes, de elevado grau de instrução e que inspiram confiança. Seus juízos, suas opiniões, suas atitudes e o gosto que revelam contagiam o corpo social (POLISTCHUK e TRINTA, 2003, p.92). Em situações extremas, como o caso de Winston e Julia, sua companheira, a tortura física e psicológica e a lavagem cerebral no final do filme foram as formas que O Brien utilizou para torná-los verdadeiros seguidores do Partido. CONCLUSÃO Pode ser utilizada tanto para bons como para maus fins (MATTELART, 2009, p.37). A partir dessa afirmação, compreende-se como a comunicação encontra-se nessa dualidade, podendo tanto servir para informar e agregar conhecimento ao seu público de maneira ética, quanto para manipulá-lo com informações distorcidas e inverdades inventadas a favor de interesses superiores. Com a análise da obra 1984 segundo a perspectiva funcionalista, percebe-se como a distópica sociedade de Oceania presencia atos horrendos do Partido IngSoc, e de como está sujeita a suas ações, de tal forma que não percebem. Os cidadãos são sujeitados a enterrar qualquer traço de individualidade que os diferencie, o que os torna sujeitos de uma única massa: a massa devota ao Grande Irmão. Winston e Julia são exemplos de que um regime totalitário pode controlar suas ações, horários, maneiras de se vestir e falar, mas que não pode simplesmente corromper seus próprios valores. Cada indivíduo tem o poder de distinguir o que lhe serve, o que lhe convém assistir em um telejornal, ou ler numa revista. Ou o que deve sentir, amar, ou odiar. A mensagem de George Orwell sobre o uso manipulativo dos meios de comunicação de massa foi e é considerada bastante contemporânea pela época em que foi escrita. Os meios interferem no nosso dia-a-dia, provavelmente não tão diretamente como retratado na obra, mas de tal maneira que talvez não percebamos ao que estamos sujeitos, à manipulação e indução de atitudes. 7

REFERÊNCIAS 1984. Direção: Michael Radford. Roteiro: Jonathan Gems, baseado na obra de George Orwell. Lançamento: (EUA) 1984. Disponível em: <http://reviufilmes.blogspot.com.br/2013/07/1984-filme-online-legendado-1984.html> Acesso em: 05 de setembro de 2013. HOLFELDT, Antonio; MARTINO, Luiz C; FRANÇA, Vera Veiga. Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências. Petrópolis RJ: Ed. Vozes, 2011. MATTELART, A e M.. História das teorias da comunicação. São Paulo: Ed. Loyola, 2009. POLISTCHUK, Ilana. e TRINTA, Aluizio Ramos. Teorias da comunicação: O pensamento e a prática da Comunicação Social. Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2003. WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2003. 8