Cumprimentos protocolares Ex.mo Senhor Secretário de Estado da Juventude e Desporto Ex.mo Senhor Presidente do Conselho Nacional da ANJAP Dr. Miguel Alves Ex.mo Senhor Presidente do Conselho Distrital de Coimbra da ANJAP Dr. Paulo Almeida Caros Colegas Não vos dou as boas-vindas porque estão em vossa casa, desejo, contudo, que se sintam confortáveis e que os trabalhos decorram com normalidade. Nunca fiz distinção entre jovens advogados e advogados. Todos somos advogados de corpo inteiro e assumidamente advogados. Uma única diferença encontro, o aspecto físico entre os jovens e os outros menos jovens, como eu, aliás. Não posso desconhecer, contudo, que existem perspectivas, sonhos, realidades e circunstâncias que, de uma forma ou de outra, distinguem a jovem advocacia da advocacia já instalada. Embora, nos tempos que correm e em algumas comarcas as diferenças não são de grande monta, excepto que uns têm tempo na vida e outros falta dele.
Verifica-se hoje que a advocacia se encontra numa encruzilhada à procura de um novo paradigma. Entendo que só há duas formas de a encarar: ou como prestação social ou como actividade económica. A primeira é a forma libertadora de encarar a profissão a outra a sua versão escravizante. Uma vê a advocacia como poder libertador que lhe advém da luta por causas em favor da cidadania, a outra escraviza porque prima pelo primado da facturação, do mercado, do lucro, dos resultados, do ranking. Cabe-vos a escolha. Por mim prefiro ficar pela primeira, foi assim que comecei, foi por isso que quis ser advogado, é por isso que continuo a ser advogado e é por isso que continuo a ter orgulho na toga. E deixem que vos diga que não vivo mal, apesar de não facturar milhões nem ser sócio de uma grande sociedade. Mas tenho a riqueza de aceitar as causas em que acredito, de ajudar as pessoas sem posses, de trabalhar para grandes grupos empresariais, nacionais e estrangeiros, mas sempre com o sentido de contribuir, numas situações ou noutras, para a dignificação do exercício da cidadania, quer na sua vertente social, quer na económica.
Obviamente que a massificação da advocacia traz problemas acrescidos não só aos que já se encontram em pleno exercício da profissão, mas também aos que nela querem entrar. Daí a proletarização, a necessidade de obter nomeações oficiosas, a subserviência ao cliente, mas, também, a verificação de diversas formas de associação para o exercício da profissão, com sucesso, de jovens advogados, da sua implantação nas mais diversas comarcas com brilhantismo, da sua integração com dignidade em sociedades, ou em escritórios já existentes e nos quais fizeram o seu estágio, e tantas outras formas de sucesso no início da profissão. Mas não se pode esperar que se chega e se vence. São necessários vários anos para se ter uma clientela estabilizada e uma imagem sólida na comarca. Ou produzir trabalho de qualidade e de forma abnegada para que os escritórios já instalados possam e queiram associar os jovens advogados. O CDC entende que deve dar as ferramentas necessárias à inserção dos advogados no mundo do trabalho. Essas ferramentas traduzem-se numa sólida formação deontológica e na arte legis. Para isso desenvolveu e está a desenvolver iniciativas que pretende venham a promover essa inserção, designadamente através da descentralização da
formação e da criação de modelos diferenciados mais adequados a uma mais eficiente e correcta formação. Entendemos que o modelo de estágio deve ser alterado, por forma a que a 1ª fase concentre a formação em sala, destinada a preparar o estagiário para o exercício das suas competências próprias no início da 2ª fase e a libertá-lo, nesta fase, para trabalho de escritório e tribunal, ao mesmo tempo que se disponibilizam acções de formação com modelos práticos, em workshop, em seminário, ou em discussão de casos práticos com colegas mais velhos e experientes, ou ainda através de painéis de discussão de doutrina inovadora, de alterações do sentido da jurisprudência, de conferências proferidas por outros profissionais, como sejam, filósofos, sociólogos, psicólogos, médicos, engenheiros, e outros profissionais, atenta a necessidade quotidiana de lidar com outros saberes. Por outro lado, não podemos nunca desviarmo-nos da matriz que constitui a essência da Advocacia estar ao serviço do cidadão e da cidadania. Como já tive oportunidade de o afirmar por várias vezes, uma melhor advocacia implica uma melhor e mais eficiente cidadania, no que esta representa de evolução social e humana. Penso que são estas as linhas mestras que podem e devem guiar a construção identitária da advocacia nos tempos actuais. Todos nós devemos à sociedade e ao cidadão uma entrega abnegada na defesa do Estado de Direito e na salvaguarda do direitos, liberdades e
garantias constitucionalmente garantidas e que constituem hoje património da humanidade. Estou certo que, apesar dos ventos que sopram, assim será, a bem da advocacia e da cidadania.