O próximo ano será melhor para o varejo (mas nem tanto) SÃO PAULO, 13 DE NOVEMBRO DE 2014 POR REDAÇÃO DC. Os fantasmas da Copa e das eleições deixaram de rondar o consumidor, que voltará a comprar, mas com cautela. Mesmo que o comércio cresça, 2015 ainda ficará longe do patamar alcançado entre 2003 e 2012. As perspectivas para o varejo brasileiro em 2015 são melhores do que as projeções mais otimistas feitas para 2014, na avaliação de economistas da consultoria GO Associados. A Copa do Mundo, as eleições e o aumento da inflação provocaram um forte esfriamento da economia neste ano. O consumidor reduziu as compras, com impacto negativo na produção e nos investimentos. Este ano, portanto, foi marcado pela falta generalizada de confiança na economia. Esse momento de instabilidade, porém, já começa a sair de cena, na avaliação da GO Associados. Se tudo ficar mais ou menos como está, isto é, o governo mantiver plano de segurar a inflação, não subir exageradamente os juros e adotar políticas para o aumento da produção, do emprego e da renda, como tem dito a presidente Dilma, quase todos os setores do varejo devem crescer em 2015 mais do que em 2014, na avaliação da consultoria. O Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV) já identificou um cenário mais otimista neste final de ano. De acordo com o Índice Antecedente de Vendas (IAV), calculado pelo instituto, o varejo deve crescer 2,5% neste mês e 2,7% em dezembro.
De acordo com análise da GO Associados, o consumidor adiou neste ano as compras de bens mais caros ou porque ficou com medo de gastar ou porque chegou a ponto de não conseguir mais pagar as prestações em dia e, aos poucos, deve voltar às compras. Essas foram algumas das consequências de um choque de confiança que, na avaliação de Maurício Morgado, do Centro de Excelência em Varejo da FGV/EAESP, era necessário. Para ele, a desaceleração embute um forte elemento comportamental. O momento já era de pessimismo. Com a Copa, a autoestima do brasileiro ficou baixíssima e, com as eleições, isso piorou, diz. ''Vai levar seis meses para o mercado voltar ao ritmo" O comércio de eletroeletrônicos, conforme prevê a GO Associados, é o que deverá ter o melhor desempenho no setor de comércio no ano que vem, com expansão de 2,8%, um ponto percentual a mais do que a previsão de crescimento da consultoria para este ano, de 1,8%. Para o setor de tecidos e vestuário, o crescimento deve ser de 1,5%, também um ponto percentual a mais do que o aumento previsto para este ano, de 0,5%. No caso de supermercados, o crescimento deve ser apenas um pouco maior, de 2,3%, do que o previsto pela consultoria para este ano, de 1,8%. O ano de 2015 será melhor do que este para o varejo porque não terá mais os fantasmas da Copa e das eleições rondando o consumidor. Este ano houve adiamento de compras, postergadas para o ano que vem. Claro, não será um ano nada efusivo. Será um ano de baixo crescimento, de cautela, mas, para o comércio, deve ser, sim, um ano melhor do que 2014, afirma Fábio Silveira, sócio-diretor da GO, que prevê crescimento zero do PIB para este ano e de 1,5% para 2015. COMÉRCIO CRESCE, MAS NÃO CHEGA AO RITMO DE 2003-2012 O comércio pode crescer mais do que neste ano, porém, crescerá num ritmo bem menor do que o registrado no período de 2003-2012, segundo análise da GS&MD, consultoria
especializada em varejo. Naquele período, o crescimento médio anual do varejo foi de 7,9%. Alguns setores superaram até os dois dígitos de expansão, como o setor de móveis e eletroeletrônicos (14,7%) e o de veículos e peças (11,1%). Para Eduardo Yamashita, diretor do Núcleo de Estudos e Pesquisas Econômicas da GS&MD, é difícil prever o que vai acontecer com o comércio em 2015. Em 2013, o comércio cresceu praticamente metade do que vinha crescendo e, neste ano, o ritmo está em 2,9% (de janeiro a agosto). Para o varejo voltar a ter bom desempenho, o consumidor precisa estar confiante e ainda há dúvidas se isso vai ocorrer no ano que vem, afirma Yamashita. Quatro indicadores, na sua avaliação, precisam ser considerados para fazer qualquer previsão sobre o desempenho do comércio: emprego, renda, crédito e confiança do consumidor. A taxa de desemprego, ao redor de 5%, continua estabilizada, mas a renda começa a crescer menos, o crédito está mais seletivo por parte dos bancos privados e as pessoas estão mais endividadas, situação que não deve mudar muito ao longo de 2015. A grande incógnita é como vai ficar a confiança do consumidor no ano que vem, diz o diretor da GS&MD. Leia também: Pequenas e médias empresas representam metade do pelotão de inadimplentes Para Altamiro Carvalho, economista da Fecomercio-SP, o comércio tem pouca margem de crescimento, especialmente no ano que vem, quando o controle de preços e a política de juros já iniciada na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deverão manter o nível de atividade econômica mais baixo. Renda, emprego e crédito não crescem em períodos de ajustes fiscais e de inflação. Levará entre seis meses e um ano para que a credibilidade seja resgatada e o mercado volte a pegar ritmo, diz Carvalho. Claro que a confiança na economia só virá se o governo fizer a lição de casa, o que significa reduzir os gastos públicos, controlar a inflação e evitar medidas artificiais de reforço do consumo. Na avaliação da equipe da consultoria GO, a inflação, uma das maiores inimigas do consumidor, não deve disparar em 2015. A projeção da consultoria para o ano que vem é de uma inflação ao redor de 6% (IPCA), menor do que a prevista para este ano, de 6,4%. Silveira diz que a inflação deve ser menor porque os preços das matérias-primas estão caindo no mercado internacional, o que deve favorecer, de certa forma, o consumidor brasileiro. Os produtos fabricados no país, mesmo os importados, não sofrerão grande pressão de alta, o que deve trazer certo refresco para o consumidor, diz. Para o comércio em geral, a previsão da GO é de crescimento de 2,2% no ano que vem e de 2% neste ano. O que puxa para baixo o crescimento é o comércio de combustíveis, que deve crescer 1,6% em 2015 e 1,9% este ano, segundo a consultoria. Será um ano mais difícil para os postos de gasolina por conta dos aumentos de preços previstos para o setor. Recentemente, o governo autorizou a Petrobras a fazer reajustes nos preços da gasolina e do diesel, estabilizados desde novembro de 2013. Essa estabilização nos preços contribuiu para que o setor tivesse bom desempenho neste ano. De acordo com levantamento da Boa Vista SCPC, de janeiro a setembro, o movimento do comércio de combustíveis e lubrificantes no país subiu 8,8%, na comparação com igual período do ano passado. O desempenho dos postos de gasolina foi melhor do que a média do varejo, no período, de 5,3%. No caso de outros setores, os aumentos no movimento foram de: 8,1% (móveis e eletrodomésticos), 5,7% (tecidos, vestuário e calçados) e 2,3% (supermercados, alimentos e
bebidas), no período. Para a Boa Vista, o movimento do varejo deve crescer cerca de 4% neste ano. EM OUTUBRO, VENDAS FICAM ESTÁVEIS EM RELAÇÃO A SETEMBRO Considerando só o mês de outubro, há estabilidade nas vendas de todo o comércio no país, na comparação com setembro, segundo a Serasa Experian. Isto é, em outubro, o movimento dos consumidores nas lojas brasileiras subiu 0,1%, na comparação com setembro, descontados os efeitos sazonais. Em relação a outubro de 2013, a alta foi de 3,4% e, de janeiro a outubro, de 4% sobre igual período de 2013. Os setores do varejo que tiveram melhor performance de janeiro a outubro, segundo a Serasa Experian, foram supermercados, hipermercados, alimentos e bebidas (4,4%), seguidos pelos setores de combustíveis (1,8%), tecidos, vestuário e calçados (1,7%), móveis, eletroeletrônicos e informática (1,1%) e veículos, motos e peças (0,7%). Neste período, somente o setor de material de construção registou queda de vendas, de 4,7%. CONSUMIDOR VAI GASTAR PARTE DO 13º COM COMPRAS PARA O NATAL Se a disposição do consumidor para as compras de Natal for um indicador de tendência de consumo, pode-se dizer que 2015 não será um ano ruim para o comércio. Pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) com 624 consumidores em 27 capitais do país, em parceria com o Portal de Educação Financeira Meu Bolso Feliz, mostra que oito em cada dez brasileiros (82%) devem gastar o 13º salário com compras para o Natal.
Deste total, 55% disseram que vão utilizar uma parte do montante para adquirir presentes e 27% informaram que vão gastar todo o 13º em compras. Apenas 18% dos entrevistados responderam que não devem gastar o dinheiro com presentes. Entre o grupo dos que não vão gastar nada, 46% disseram que pretendem economizar, poupar ou investir o dinheiro recebido; 24% responderam que vão usar para pagar dívidas; 14%, para viajar, e 5% afirmaram que ainda não decidiram o que vão fazer com o dinheiro. Vale lembrar que na mesma pesquisa realizada no ano passado, os consumidores estavam até mais cautelosos com os gastos. Veja os números: 51% afirmaram que pretendiam usar o 13º salário para as compras de Natal, enquanto 25% disseram que não e outros 24% responderam que não sabiam ou ainda não tinham decidido (pergunta que não foi feita no levantamento deste ano). Pesquisa realizada pela ACSP (Associação Comercial de São Paulo) já mostrou um consumidor mais preocupado em poupar (20% dos entrevistados) e pagar dívidas (28,9%) com a primeira parcela do 13º. Em novembro de 2013, esses percentuais eram 20,4% e 24,5%, respectivamente. Cresceram pouco ou mantiveram-se estáveis em relação ao ano passado, as intenções de comprar presentes (20% ante 18,4% há um ano), roupas (2,2% ante 2%) e alimentos para festas de final de ano (2,2% ante 2%). Reformar a casa será a opção de 4,4% dos consumidores ante 4,1% em 2013. A pesquisa mostra que o consumidor está mais cauteloso, responsável, consciente. Isso sugere também que ele pode estar preocupado com as definições e mudanças na política econômica e, por isso, opta por fazer uma reserva, diz Rogério Amato, presidente da ACSP e da Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo). Outra pesquisa divulgada na semana passada pela SPC Brasil, em parceria com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), revelou também que subiu para 33% o porcentual de brasileiros que pretendem gastar menos com presentes no Natal, ante 13% registrado em 2013. O levantamento mostrou que, para 51% dos entrevistados, os produtos estão mais caros. O principal motivo para isso, apontado por 70% dos consumidores, é o aumento da inflação. Mesmo com a intenção de gastar menos, o tíquete médio por presente aumentou de R$ 86,59 para R$ 122,40. Os levantamentos realizados para identificar ritmo de vendas e intenções de consumo revelam algumas contradições, o que pode expressar certa preocupação dos consumidores em relação aos gastos. Como consequência, ainda difícil de enxergar qual será o comportamento do consumidor no novo ano que se aproxima.