CLIMA URBANO EM PARANAVAÍ/PR: CARACTERÍSTICAS DA TEMPERATURA E UMIDADE RELATIVA DO AR NOS PERÍODOS VESPERTINO E NOTURNO 1

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Transcrição:

CLIMA URBANO EM PARANAVAÍ/PR: CARACTERÍSTICAS DA TEMPERATURA E UMIDADE RELATIVA DO AR NOS PERÍODOS VESPERTINO E NOTURNO 1 Larissa Piffer Dorigon laridorigon@hotmail.com Graduanda da Faculdade de Ciência e Tecnologia da UNESP, campus de Presidente Prudente Bolsista CNPq/PIBIC Margarete Cristiane de Costa Trindade Amorim mccta@fct.unesp.br Professora Dra. do curso de Graduação e de Pós-Graduação em Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNESP, campus de Presidente Prudente SP RESUMO O presente estudo teve como objetivo comparar as características da temperatura e da umidade relativa do ar entre a cidade e o campo no município de Paranavaí às 16h (período vespertino) e às 20h (período noturno), visando investigar as diferenças nos elementos do clima em condições adversas de uso e ocupação do solo. Os dados foram registrados por estações meteorológicas automáticas do tipo Vantage PRO 2 da marca Davis Instruments instaladas em áreas características dos ambientes urbano e rural, durante o período de julho a dezembro de 2008. Após coletados, estes dados foram organizados na forma de gráficos apresentando as diferenças térmicas e higrométricas. Os resultados obtidos demonstraram que, diferentemente do que habitualmente se obtém nesses estudos, as diferenças entre o campo e a cidade em Paranavaí foram pequenas, especialmente no período noturno, quando frequentemente os contrastes são mais evidentes. As maiores diferenças entre os pontos foram registradas às 16h, principalmente em condições de tempo estável. Concluiu-se que a pequena diferença de temperatura e umidade relativa do ar, especialmente no período noturno, seja consequência da organização do espaço urbano de Paranavaí, e principalmente, da presença da cobertura vegetal arbórea na malha urbana. PALAVRAS CHAVE: Clima Urbano; Temperatura do ar; Umidade relativa do ar e Paranavaí. 1 Eixo: Geografia Ambiental e da Saúde

INTRODUÇÃO Foi no período de auge do modo capitalista de produção e após a Revolução Industrial, que o crescimento urbano mundial foi impulsionado. Esse processo de urbanização atingiu proporções significativas a partir do século XIX, quando as cidades passaram a exercer o papel de pólo de atração populacional. No entanto, foi no século XX que esses aglomerados ganharam destaque, passando a abrigar, em 1980, 41,5% da população total do planeta. Atualmente 78% da população mundial habitam em áreas urbanas e, [...] cerca de 350 milhões de pessoas no mundo todo vivem em aglomerados de mais de três milhões de habitantes, número que há quinze anos era de apenas 170 milhões. A população urbana global, portanto, duplicou em apenas uma década e meia, e essa tendência vem se acentuando em progressão geométrica (CONTI, 2003, p.42). Para abrigar esse crescimento populacional e todas as atividades que deste derivam, a cidade passou a sofrer grandes transformações e adaptações. Entretanto, a mais relevante foi a modificação de sua paisagem natural por uma resultante da ação humana. Nesse contexto, na busca de construir, ou melhor, edificar um ambiente para si, Amorim (2000) afirma que o homem modificou o equilíbrio entre a superfície e a atmosfera, afetando assim, o funcionamento dos componentes climáticos e criando condições específicas definidas como clima urbano. Segundo Monteiro (1976, p. 95), o clima urbano é um sistema que abrange o clima de um dado espaço terrestre e sua urbanização, por isso será específico para cada ambiente urbanizado, uma vez que as cidades se diferem de acordo com suas características naturais, como: geomorfologia, direção predominante dos ventos, etc.; e suas características antropizadas, tais como: tipo e cor dos materiais utilizados nas edificações, densidades de construções, pavimentação, verticalização, presença de áreas verdes e arborização nas ruas e fundos de quintais etc.. Atualmente destacam-se como imprescindíveis os estudos relacionados à temática climatologia urbana, uma vez que a preocupação com o entendimento da relação entre a natureza e a sociedade, que afeta diretamente a qualidade de vida da população e a qualidade ambiental, desperta grande interesse em estudiosos e pesquisadores. Neste sentido, esta pesquisa buscou comparar as características da temperatura e da umidade relativa do ar entre o campo e a érea urbana na cidade de Paranavaí/PR em horários representativos do período vespertino (16h) e noturno (20h), atrelando as prováveis diferenças nas características do clima aos diferentes usos e ocupações do solo e às condições atmosféricas atuantes.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para a elaboração deste estudo, primeiramente foi realizado um levantamento bibliográfico sobre o tema clima urbano e as características da área de estudo, o qual serviu como auxílio para o entendimento do Sistema Clima Urbano, principalmente no que se refere às variações da temperatura e umidade relativa do ar. Buscou-se também a identificação dos sistemas atmosféricos atuantes no município de Paranavaí/PR e também a caracterização dos ambientes, tanto em relação aos aspectos físicos (geomorfologia, geologia, vegetação, entre outros), quanto também aos aspectos econômicos e socioculturais da região. A coleta dos dados meteorológicos (temperatura e umidade relativa do ar) utilizados no estudo, foi realizada através de registros de estações meteorológicas automáticas do tipo Vantage PRO 2 da marca Davis Instruments. Essas estações foram instaladas em dois ambientes, um característico da área urbana e outro da área rural, no município de Paranavaí/PR. O registro dos elementos climáticos ocorreu a cada duas horas durante o período do mês de julho a dezembro do ano de 2008. Para análise dos resultados foram elaborados gráficos na planilha eletrônica EXCEL 2, que auxiliaram na análise da variação dos elementos climáticos (temperatura e umidade relativa do ar), nos dois ambientes com uso e ocupação do solo diferenciados. O CLIMA URBANO A partir do boom populacional ocasionado pela Primeira Revolução Industrial e confirmado com o êxodo rural, o crescimento urbano tem sido um processo constante e progressivo. Atualmente esse crescimento é regido pelo avanço tecnológico e pelas mudanças ocorridas nos setores de produção. Muitas são as tecnologias empregadas, alterando o padrão de produção e da divisão social do trabalho, sendo que as pessoas são obrigadas a seguir a lógica do capital e assim, os diferentes usos e ocupações dos solos dentro da cidade vão surgindo de acordo com os diferentes modos de agir sobre o território. Como conseqüência desse crescimento populacional nas cidades e da espacialização da divisão social do trabalho, ocorreu o processo de transformação do meio natural em meio antropizado, ou seja, o homem agindo sobre o meio ambiente. Essa interferência humana pode alterar significativamente a natureza anteriormente existente. Nas cidades essas modificações são expressivas e decisivas, por isso, segundo Monteiro (1976), os centros urbanos tornaram-se a expressão máxima da ação antrópica, [...] seja pela implosão demográfica, seja pela explosão das atividades, os espaços urbanos passaram a assumir a responsabilidade do impacto 2 Excel é marca registrada da Microsoft Corporation.

máximo da atuação humana sobre a organização na superfície terrestre e na deterioração do ambiente (MONTEIRO, 1976, p. 54). Deste modo, no que se refere ao clima gerado a partir dessas transformações, o crescimento urbano atribui à baixa troposfera um caráter particular, produzindo condições atmosféricas locais diferentes das apresentadas nas áreas próximas. Há assim, a formação de um clima particular, chamado de clima urbano (DANNI, 1987). Segundo Amorim (2000), o processo de urbanização altera o balanço de radiação e o hídrico da superfície devido à substituição dos materiais naturais pelos materiais urbanos. Essas substituições podem ser feitas através da retirada da vegetação original, aumento da circulação de veículos e pessoas, impermeabilização generalizada do solo, mudanças no relevo, canalização de córregos, concentração de edificações, instalações de indústrias, além do lançamento de partículas e gases poluentes na atmosfera. No processo de urbanização, a remoção da cobertura verde e sua substituição por áreas construídas elevam o índice de albedo e, consequentemente, a superfície do solo passa a reter menos quantidade de energia, aumentando a refletância. Sabe-se que, quanto mais elevado é o volume de energia armazenado, maior é o equilíbrio térmico. Nas cidades, verifica-se, portanto, uma desorganização do mecanismo climático (CONTI, 2003, p.43). Essas alterações realizadas nos ambientes urbanos conduzem a modificações dos elementos climáticos, como a temperatura, a umidade relativa do ar e a direção dos ventos. Muitas são as complicações decorrentes dessas mudanças, entre elas está a ilha de calor. As propriedades das pavimentações e dos materiais de construções utilizados nas edificações urbanas tendem a reter calor durante o dia, e liberá-lo mais lentamente no decorrer do período noturno, contribuindo para o rápido aumento da temperatura diurna e a lenta redução térmica noturna. Esse fenômeno é denominado ilhas de calor, e se constitui como um bolsão com características próprias de temperatura, mais elevada quando comparada as áreas adjacentes. Além da ilha de calor, a péssima qualidade do ar, as inundações causadas pelas chuvas concentradas e a impermeabilização do solo, são também, problemas gerados pela urbanização. A população que vive nas cidades sofre, diretamente, com os efeitos destas alterações e as percebem através de manifestações ligadas ao conforto térmico, à qualidade do ar, aos impactos pluviais, capazes de desarranjar o modo de viver urbano e deteriorar a qualidade de vida de seus habitantes. Deste modo, a intervenção no planejamento urbano é de grande importância, pois o estudo de clima urbano em cidades de pequeno e médio porte

[...]se torna um bom exemplo para o estudo de clima urbano, pois o entendimento dos mecanismos fundamentais de geração de especificidades principalmente no campo térmico e de umidade relativa, aliado as possibilidades de intervenção no ordenamento territorial da cidade, fato que é muito mais difícil em cidades de grande porte, poderão resultar em ações efetivas para a melhoria da qualidade de vida urbana. (AMORIM, 2000, p. 22). CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO Paranavaí localiza-se no noroeste do Estado do Paraná, entre as coordenadas 23º 07 00 S de latitude e 52º 46 00 W de longitude, em uma altitude em relação ao nível do mar de 529m. Segundo o Censo de 2010, realizado pelo IBGE, possui população de 81.595 habitantes. Quanto à superfície, sua área total é de 1202 km 2 (IBGE, 2010), sendo a área urbana correspondente a 41.090 m 2 (Figura 01). Figura 01: Mesorregião Noroeste (A) de acordo com a divisão territorial brasileira de 1990, onde se localiza o município de Paranavaí (B). Fonte: IBGE, 2007 O histórico de ocupação e colonização do município foi realizado a partir da concessão de terras feita pelo Governo Provisório em 1890. No Noroeste Paranaense, a empreiteira Brazil Railway Company, através da sua subsidiária Braviaco Companhia

Brasileira de Viação e Comércio S/A, obteve uma área de 317 mil hectares. Nessa área de concessão, a Braviaco teve como uma de suas obrigações a demarcação das áreas devolutas concedidas e proceder à sua colonização, vinculada ainda à construção de um ramal de uma estrada de ferro. Foi então, [...] demarcada e titulada a área denominada Gleba Pirapó à Braviaco e reservada à mesma Companhia a área de terras a oeste desta Gleba, delimitada pelos rios Paraná, Paranapanema e Ivahy, todas localizadas no município de Tibagy, que mais tarde se transformou na Colônia Paranavaí (ALCANTAR, 1987 apud BERNARDINO, 1999, p.68). Em 1930, todos os títulos de terras expedidos em favor da Braviaco, inclusive da Gleba Pirapó, foram anulados e na região de Paranavaí, o Governo Federal retomou a concessão de terras. Esse novo loteamento recebeu o nome de Colônia Paranavaí e já contava com estradas que ligavam a região a Londrina e a Maringá. Os novos lotes eram vendidos pelo governo e as propriedades rurais eram maiores ou menores econforme a sua localização era mais distante ou próxima a sede da colônia (CARGNIN, 2001). A população aumentou e a colônia se desenvolveu; os colonos plantavam cereais, café e dedicavam-se à pecuária. Assim, em 1947, a Colônia torna-se Distrito do Município de Mandaguari com o nome de Paranavaí (BERNARDINO, 1999) e com a Lei 790 de 14 de novembro de 1951, tornou-se Município, cuja instalação ocorreu em 14 de dezembro de 1952. No que se refere a suas características físicas, o município encontra-se na bacia sedimentar do Paraná, no compartimento denominado de Terceiro Planalto Paranaense. O tipo de solo predominante é arenoso, profundo, drenado, bem desenvolvido e de pouca fertilidade natural, com grande tendência à erosão. No âmbito da climatologia regional, o noroeste paranaense é a região mais quente do estado. Os valores médios de temperatura e precipitação da Mesorregião Noroeste variam entre 22ºC a 24ºC e 1.200mm a 1.600mm respectivamente. A ação das frentes frias é mais frequente no inverno. (MULLER, 2011). As estações meteorológicas que registraram os dados para a pesquisa, ficaram localizadas em uma área representativa do ambiente urbano e outra do rural, ambas com altitudes muito próximas, sendo 468m no ponto rural e 451m no ponto urbano. No que concerne ao ambiente urbano, a estação foi instalada em uma área com alta densidade de construções e alta densidade de cobertura vegetal arbórea especialmente nas calçadas, sendo que em várias ruas, a visão do céu pelo observador da superfície era interrompida devido à presença das árvores com grandes copas (AMORIM, 2010). Já a estação que coletou os dados referentes ao ambiente rural, foi instalada em uma área com baixa densidade de construções e com predomínio de vegetação rasteira.

ANÁLISES DA TEMPERATURA E UMIDADE RELATIVA DO AR EM PARANAVAÍ DURANTE OS MESES DE JULHO A DEZEMBRO DE 2008 Esse artigo se propôs a analisar as características da temperatura e umidade relativa do ar nos horários de 16h e 20h, a fim de destacar horários representativos do período vespertino e noturno, buscando realçar uma das especificidades encontradas no clima urbano de Paranavaí, visto que as diferenças térmicas e higrométricas mais significantes ocorrem no período da tarde. Diferenças térmicas e higrométricas às 16h Às16h registrraram-se as maiores diferenças térmicas e higrométricas quando comparado com os dados das 20h, como pode ser observado na Figura 2. Estas se evidenciaram nos meses de julho e dezembro, pelo fato da não ocorrência de precipitações e pela influência predominante da Massa Atlântica Continentalizada em julho, e da Massa Tropical Continental em dezembro. As maiores diferenças foram registradas no dia 06 de dezembro, atingindo 5,8ºC de diferença térmica e 11% de diferença higrométrica. Já no mês de agosto observou-se as menores diferenças do horário, fato ocorrido pela presença de precipitação em 3 dias do mês e pela alternância de sistemas atmosféricos, sendo estes: Frente Fria, Frente Polar Reflexa, Massa Polar Atlântica, Massa Polar Velha, Massa Atlântica Continentalizada e Massa Tropical Continental. Os meses de setembro e outubro também registraram pequenas diferenças, tanto térmicas quanto higrométricas, pela ocorrência, assim como o mês de agosto, de precipitações e pela atuação de diferentes sistemas atmosféricos. As menores diferenças foram detectadas enquanto a Massa Polar Atlântica esteve em atuação. Novembro apresentou as diferenças intermediárias detectadas no horário. Acontecimento este, que pode ser explicado pela atuação de somente dois sistemas atmosféricos, a Massa Tropical Atlântica e a Massa Atlântica Continentalizada, sendo que a última atuou durante 24 dias, além da precipitação ocorrida no mês.

Figura 02 - Temperatura e Umidade relativa do ar no ambiente rural e na área urbana de Paranavaí às 16h.

DIFERENÇAS TÉRMICAS E HIGROMÉTRICAS ÀS 20H Às 20h registraram-se pequenas diferenciações térmicas e higrométricas, como pode ser verificado na figura 3. Como ocorrido no horário anterior, julho e dezembro foram os meses que apresentaram as maiores diferenças, 2,7ºC de diferença térmica e 25% de diferença higrométrica, em decorrência da ação predominante da Massa Tropical Atlântica Continentalizada, durante 20 dias do mês e a não presença de precipitação. Agosto, setembro e outubro apresentaram as menores diferenças, sendo que em dois dias do mês de agosto e um do mês de outubro, o rural se apresentou mais quente. Esses registros podem ser explicados pela atuação de cinco sistemas atmosféricos na cidade de Paranavaí no mês de agosto: a Massa Polar Atlântica, a Tropical Atlântica Continentalizada, a Frente Polar Reflexa, a Massa Tropical Continental e a Frente Fria. No mês de outubro atuaram três sistemas atmosféricos: a Massa Tropical Atlântica, a Tropical Atlântica Continentalizada e uma Frente Fria, o que caracteriza um maior dinamismo na sequência de sucessões de tempos atmosféricos. Vale ressaltar, que os dois meses que apresentaram dias em que o ambiente rural esteve mais quente que o urbano, contaram com a presença de frentes frias. As diferenças intermediárias foram detectadas no mês de novembro, verificação que pode ser explicada pela atuação de somente dois sistemas atmosféricos, a Massa Tropical Atlântica e a Massa Tropical Atlântica Continentalizada. Também registrou-se precipitação de 22 mm no dia 2, 1 mm no dia 5 e 6 mm no dia 6. Cabe ressalvar que neste horário, predominou pequenas diferenças térmicas e higrométricas (entre 0,3 o C e 1,5 o C, e 1% e 11%, respectivamente).

Figura 3- Temperatura e Umidade relativa do ar no ambiente rural e na área urbana de Paranavaí às 20h.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio da realização de levantamentos bibliográficos referentes à dinâmica regional em que se insere o município de Paranavaí, constatou-se que as relações estabelecidas entre a sociedade e a natureza, diferentemente do que ocorreu habitualmente nas cidades brasileiras, originou-se de forma planejada. Amorim (2010) ao citar Passos (2006), revela que a colonização implantada no noroeste do Paraná, região onde se localiza Paranavaí, foi baseada numa concepção moderna, pois se arquitetou com a construção de vias de circulação e com pequenos centros urbanos, coordenados por cidades de porte médio (Maringá, Paranavaí, Cianorte, Umuarama); ao mesmo tempo, o parcelamento dos lotes rurais estruturou-se com o objetivo maior de promover o dinamismo regional. Assim, nota-se que o modelo de urbanização adotado em Paranavaí e em sua região, apresenta-se de uma forma particular, pois é possível identificar-se um planejamento no crescimento da cidade, fato que não ocorreu na maioria das cidades brasileiras. Ao se comparar os dados de temperatura e umidade relativa do ar registrados no ambiente urbano e rural, verificou-se que as diferenças encontradas às 16h foram maiores do que as coletadas às 20h, atingindo o máximo de 5,8ºC de temperatura e de 14% de umidade relativa. Além disso, as maiores diferenças quando comparado o ambiente urbano e o rural em Paranavaí, se apresentaram principalmente em dias com tempo estável e calmaria. Todavia, o fator mais importante a ser destacado é que o estudo em Paranavaí se distinguiu de outros realizados anteriormente, que se utilizaram dos mesmos procedimentos metodológicos. Nas pesquisas realizadas por Lima (2009) na cidade de Rosana, Viana (2006) em Teodoro Sampaio, Pinheiro (2008) na cidade de Euclides da Cunha Paulista e Amorim (2010) em Nova Andradina/MS, as maiores diferenças, tanto térmicas quanto higrométricas foram registradas no período noturno e não no período da tarde como ocorreu em Paranavaí. Essa especificidade do município de Paranavaí pode ser explicada pela presença de cobertura vegetal arbórea na malha urbana, especialmente nas calçadas e terrenos particulares. Acredita-se que essa cobertura de vegetação fez com que os resultados obtidos fossem diferentes dos identificados habitualmente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMORIM, Margarete C. de C. Trindade. O Clima urbano de Presidente Prudente/SP. Tese (doutorado) FFLCH-USP, 2000.. Anais XII Simpósio brasileiro de geografia física aplicada. UFRN, Natal. 2007.. Climatologia e gestão do espaço urbano. Mercator (Fortaleza. Online), v. 9, p. 71-90, 2010 BERNARDINO. Virgilio M. P. Processo de ocupação do município de Paranavaí: A mobilidade da força de trabalho e a sua redistribuição espacial. (Tese de Mestrado apresentada ao conselho de Curso de Pós-Graduação em Geografia/FCT-UNESP). Presidente Prudente, 1999. CARGNIN, Ronalda C. N. Vila Alta: concentração da pobreza urbana em um espaço periférico de Paranavaí. (Tese de Mestrado apresentada ao conselho de Curso de Pós- Graduação em Geografia/FCT-UNESP). Presidente Prudente, 2001. CONTI, José B.. Circulação secundária e efeito orográfico na gênese das chuvas na região lesnordeste paulista; alguns aspectos. São Paulo: IGEOG/USP, 1975, 82p.. Clima e Meio Ambiente. São Paulo: Editora Abril, 2003. DANNI, I. M. Aspectos Temporo-espaciais da Temperatura e Umidade relativa de Porto Alegre em Janeiro de 1982: contribuição ao estudo do clima urbano. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 1987. 129p. (Dissertação, Mestrado em Geografia Física). MONTEIRO, Carlos A. F. Teoria e Clima Urbano. (Tese de Livre Docência apresentada ao Departamento de Geografia/FFLCH-USP). São Paulo, 1976. MULLER, Nice Lecocq. Contribuição ao estudo do Norte do Paraná. Revista Geografia, Londrina, v.10, n.01, p. 89-118, Jan./Jun. 2001. Disponível em: http://www2.uel.br/revistas/geografia/v10n1.pdf#page=89, acesso em: 25 de fev. 2011.