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Transcrição:

São Leopoldo/RS - Edição 117 - Outubro de 2009 http://blogenfoque.blogspot.com/ A praça da Brás precisa ser cuidada Reivindicada e esperada há 20 anos pela comunidade, área de lazer sofre com descaso e falta de manutenção. PÁGINA 9 Foto GIOVANI NEVES JR. A história de Lauro é a história da Vila Morador do tempo dos mutirões que deram forma à Brás, há 20 anos, Lauro viu a Vila onde mora crescer e se desenvolver. PÁGINA 6 Foto ALUNO Um ofício passado de pai para filhos Alcidez Motta, 59 anos, criou seus cinco filhos e sustenta a família a partir de taças que ele mesmo fabrica com garrafas recicladas. PÁGINA 4 Foto NATACHA KÖTZ Foto AMANDA FETZNER Aírton Xexéu dá nome à Capela Mortuária O local homenageia o líder comunitário que morreu assassinado, cuja falta é sentida ainda hoje na comunidade. PÁGINA 4 Foto BÁRBARA KELLER Foto DEMÉTRIO SOSTER Você sabe como é feito o Enfoque? Confira nesta edição como os alunos da Unisinos fazem o Enfoque, desde o momento em que planejam a edição até quando o jornal chega até você. PÁGINA 2 Com o que sonham as crianças da Brás? Elas gostam da comunidade: é lá que moram seus amigos, onde brincam depois das aulas e se sentem seguras perto de suas famílias. Quando pensam no futuro, sonham com dias ainda melhores. É o caso de Deivid Mateus da Silveira, 7 anos; Lucas Rafael, 5; e Daniel Porto, 8. PÁGINA 9 Enfoquinho Você quer nos ajudar a escolher um nome para o personagem na página Enfoquinho o espaço dedicado à gurizada no Enfoque Vila Brás? CONTRACAPA Esta edição traz uma novidade: um caderno sobre saúde. Não deixe de conferir informações e dicas para você e para sua família. ENCARTE

2 Especial Enfoque São Leopoldo Outubro de 2009 Você sabe como o Enfoque é feito? 4º passo Você que mora na Brás sabe: é só começar as aulas e lá vêm os estudantes de jornalismo da Unisinos até a Vila em busca de matérias para o Enfoque, que eles mesmos distribuem assim que fica pronto. Isso já há cinco anos. O que pouca gente conhece é como o Enfoque Vila Brás é feito; o que a gurizada faz com as informações e as fotos que eles coletam quando visitam a comunidade. Pensando nisso, decidimos contar, nesta página, como é construída cada edição do jornal Enfoque Vila Brás. Vamos por partes. 5º passo 1º passo O primeiro passo é o planejamento da edição. A gente chama isso de reunião de pauta. É uma espécie de conversa que fazemos com representantes da Brás antes de cada edição. O segundo passo você conhece. Vamos até a Brás para coletar informações e imagens para as matérias. Fazemos isso sempre aos sábados pela manhã, três vezes por semestre. O terceiro passo é verificar que informações conseguimos e depois escrever o que a gente 2º passo conversou com vocês. Quarto passo: hora de montar as páginas. Neste meio tempo, o Blog do 6º passo Enfoque Vila Brás http:// blogenfoque.blogpot.com está bombando com fotos, vídeos e áudios. O quinto passo é quando o jornal está quase pronto. É chegada a hora de revisar tudo para que não saia nenhum erro. Por fim, o sexto passo é 3º passo quando a edição, já pronta, é entregue a você, como acaba de acontecer. Fotos BRUNA QUADROS, BRUNA SCHUCH e DEMÉTRIO SOSTER Reitor: Marcelo F. de Aquino Vice-reitor: José Ivo Follmann Pró-reitor Acadêmico: Pedro Gilberto Gomes Diretor de Graduação: Gustavo Borba Coordenador do Curso de Jornalismo: Edelberto Behs Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Endereço: Av. Unisinos, 950, Cristo Rei, São Leopoldo/RS. Contatos: (51) 3591.1122 e unisinos@unisinos.br. enfoque O Enfoque Vila Brás é um jornal-laboratório produzido para os moradores da Vila Brás, em São Leopoldo/RS. Os textos e as fotos foram produzidos pelos alunos da disciplina de Redação Experimental em Jornal. & 3590 8466 ) enfoque@icaro.unisinos.br REDAÇÃO - Professores-editores: Demétrio de Azeredo Soster e Thaís Furtado. Alunos-repórteres: Alessandro Oliveri, Aline Bof, Andressa Xavier Alves, Bruna de Oliveira Quadros, Bruna Schuch, Camila Vargas de Oliveira, Carine Wallauer Ferreira, Cathierine Helen Freitas Hoffmann, Clairinês Rosane de Oliveira, Cristiane Machado Medeiros, Cristiane Serra, Cristiano Farias Martins, Daniela Cristina Machado, Eduardo Nozari Araújo, Elisandra Borba, Fernanda Barbosa, Giovani Francisco Vicente das Neves Junior, Gisele Nefi, Gustavo Heldt, Juliana Jeziorny, Kelly Betina Veronez, Letícia Bresolin Cardoso, Mateus Ferraz de Farias, Natacha Nonnenmacher Kötz, Paulo Henrique Machado, Pedro Foss, Roberta Pacheco, Rodney Silva, Vinícius Ghise Alves e Vitor Hugo. Ilustrações: Guilherme Ramos. PRODUÇÃO GRÁFICA - Realizada pela Agência Experimental de Comunicação (AgexCOM). Coordenação-geral: professora Thaís Furtado. Projeto gráfico e diagramação: jornalista Marcelo Garcia. Diagramação: estagiários André Seewald e Maria Maurente.

Enfoque São Leopoldo Outubro de 2009 Vamos cortar esse cabelão? Opinião 3 Gustavo Heldt Dezenas de praticantes de jornalismo saem do ônibus com câmeras e blocos em mãos, à procura da pauta iluminada. Nativos da Vila Brás observam assustados a volúpia dos forasteiros. Os primeiros vislumbres da caminhada captam a presença de diversas igrejas, como a Pentecostal, a Pronto Socorro de Jesus, a Assembleia de Deus Unida e - oba, porta aberta - a Deus é Amor. Antes de entrar, o repórter avista uma colega perseguindo um idoso na rua. É uma caça, pensa. O menino Cândido recebe a reportagem. O ambiente é simples, com cores claras e vasta ocupação para um pedreiro. O garoto, que estuda na Escola João Goulart, na 8ª série, responde em poucas palavras. Usa chinelos de dedos e rói as unhas. Frequenta a igreja por ser um lugar calmo, onde se busca Deus. Na saída do sacro recanto, o repórter fecha os olhos devido ao reflexo dos raios solares e, subitamente, ouve um chamado. Do outro lado da rua, no Silva Cabeleireiro, Valdecir pergunta: És do Enfoque Vila Brás? Munido de costumeira confusão mental e histórico de ausência nas aulas, o repórter diz que não sabe o que é o Enfoque Vila Brás. A filosofia da casa se encontra em uma plaquinha, na frente do espelho: Peça fiado e ganhe um não grátis. Valdecir sugere: Vamos cortar esse cabelão?. O repórter recusa, mas Carlos, o cliente, já está posicionado e ansioso por perder alguns fios. Enquanto espera, conta histórias que não poderiam ser proferidas na igreja ali à frente. Valdecir arregala os olhos e os lança até o bloco de notas: Tua letra não é fácil, hein? É pro cara não entender mesmo. Um segundo cliente, Válter, aproximase vagarosamente, trazendo uma bicicleta azul e um pé machucado. Com a vantagem numérica, Valdecir propõe que segurem o repórter, para a salvação do seu cabelo. Do outro lado da rua, na igreja Deus é Amor, as mulheres não podem cortar o cabelo nem usar saia. Os fiéis contribuem com 10% de seus ganhos, mensalmente. É a lei de Deus, afirma Valdecir. Sentando na cadeira, pronto para a conversão capilar, Válter louva o talento do amigo. Até se consultar com Valdecir, todo mundo cortava errado. Há quatro anos, ele encontrou a luz. Os forasteiros da Brás GABRIEL RAMOS DANIELA C. MACHADO Sol a pino. O frenético ritmo do trânsito na Rua Leopoldo Wasun lembra as ruas de uma grande cidade. Diversas pessoas vendendo, anunciando ou fazendo entregas mostram o quanto o comércio é forte por ali. O calor anima as crianças a jogar bola no pátio, correr e sorrir junto dos amigos. Cachorros dormindo, brincando ou olhando o movimento agitam ainda mais a bela manhã. Este é o retrato que a Brás me passou assim que ali cheguei pela primeira vez. Já lemos no Jornal Enfoque, ou ouvimos de professores e colegas, diversas histórias de famílias que construíram a sua vida na Vila Brás. Mas também existem pessoas que vêm de outras cidades aproveitar as oportunidades que o bairro oferece. Seu Édio, de 63 anos, morador de Novo Hamburgo, sai cedo de casa todas as manhãs para fazer biscates com sua carroça em São Leopoldo. Este simpático viúvo garante que até tentou ter uma namorada, mas não quer mais saber de mulher. Desde que sua esposa faleceu de câncer no estômago, ele cria sozinho o filho de 16 anos. Apesar desta triste realidade, não perdeu a vontade de viver. Gosta de acordar às 5 horas da manhã, fazer um chimarrão e sentar na frente de sua casa para escutar os passarinhos anunciarem a chegada de um novo dia. Seu Édio fatura por mês o suficiente para viver. Tem dias que faz vários fretes e em outros, nenhum. E assim ele segue a vida. Fala com orgulho do filho que estuda e trabalha em uma marcenaria para aprender uma profissão e ajudar nas despesas domésticas. O pai, que também é mãe, se diz feliz, por mais que as adversidades se imponham em seu caminho. A Brás é assim: surpreendente a cada passo que damos em sua avenida principal. Apaixonante por suas histórias. Inspiradora para qualquer estudante de jornalismo que pode, e deve mostrar quantas lições podemos aprender em uma bela manhã de sol em um lugar mal falado por muitos ou esquecido por tantos. Crianças e bergamotas Matheus Farias Quando aquele grupo de alunos saiu da Unisinos, em um sábado de manhã bem cedinho, achamos que, ao chegar à Vila Brás, seríamos vistos com admiração pelos moradores do local. Olha, eles são jornalistas, comentariam os mais afoitos. Porém, a admiração foi nossa. Assim, era como se fôssemos reles parisienses admirados com algo realmente novo, ao ver como voava aquele pessoal em uma das tantas vilas populares brasileiras. Assim, contivemos o brilho nos olhos e saímos em disparada pelas ruas irregulares atrás de boas histórias. Na primeira esquina, encontramos duas meninas, com seus onze, doze anos, com um carrinho de mão cheio de bergamotas. Ora, isso dá pauta, pensamos. Ao nos aproximarmos das pequenas, as enchemos de perguntas. Por que o carrinho de mão? Por que as duas meninas não estavam brincando? Por que tinham que trabalhar em um momento que deveria ser usado apenas para sua recreação? Por quê? Por quê? Por quê? A resposta das duas, em uníssono, veio com um singelo e macio olhar de quem ainda não deixou de ser criança e já conhece as agruras da vida. Ajudamos em casa, foi o que disseram. Interrogamos e descobrimos mais: elas são primas, vão à escola, possuem vários irmãos e, apesar do trabalho, são felizes. Essa felicidade, afirmaram, está intimamente ligada ao carinho. Afinal, elas pertencem a uma família que, embora grande, carece de sentinelas em constante atenção. Até por que, se o destino não calhou de dar-lhes as benesses da fortuna material, ofereceu-lhes algo muito mais intenso, que é a afetividade que acompanha sua (ainda) infantil condição.

4 Vila Brás Enfoque São Leopoldo Outubro de 2009 Alcidez criou os filhos fazendo taças Desemprego levou família Motta, ainda em 1991, a começar um próspero negócio Elisandra Borba Alcidez Motta, 59 anos, exibe com satisfação a arte que o ajudou a criar os cinco filhos: taças feitas a partir de garrafas recicladas. Na verdade, a história que mudaria a vida de toda a família Motta se inicou em 1991. O pai, Alcidez, comprou um conjunto de taças que chamou a atenção pela maneira diferente que foram produzidas por meio dela pequenas garrafas de bebidas como Smirnoff, Summer e Skol Beats, através de uma técnica de aquecimento, perdem o fundo e se transformam em lindas taças de vidro. Na época, Alcidez trabalhava como pedreiro em obras de construção civil, mas ficou desempregado. Foi então que surgiu a ideia de começar a produzir as peças. O problema é que o produto já não era mais novidade no Estado. A saída, então, foi investir no Paraná, um mercado ainda a ser descoberto. Alcidez trabalhou lá por 10 anos em seu promissor negócio. Para dar conta do trabalho, além do chefe da família, a esposa, Noemi, com 52 anos; e quatro dos cinco filhos (Marli, 36, Valmir, 32, Valdir, 30 e Marlene, 33), engajaramse na produção dos copos. A única que não seguiu o ofício foi Elisângela, a filha mais nova, hoje com 26 anos: segundo o pai, era muito cedo ainda para ela trabalhar. Durante o tempo em que morou fora do Estado, a família vendia os copos de casa em casa. Quando viajavam para longe, montavam acampamento até vender todo estoque. Foi assim que Alcidez conheceu quase todas as cidades do Paraná, Santa Catarina, Argentina e Paraguai. A família voltou ao Rio Fotos NATACHA KÖTZ Grande do Sul em 2001 e hoje já não trabalha mais junto. A produção de Alcidez e da esposa chega a cinco mil unidades mensais, distribuídas por ele próprio no reboque do seu carro para lojas em todo Estado. Mas a profissão ensinada SEU ALCIDEZ: cinco filhos criados com esforço do trabalho pelo pai não foi deixada de lado pelos filhos. Hoje, cada um deles possui sua própria fabriqueta. Seja como fonte principal de renda ou para complementar o orçamento familiar. Para ajudar sua própria produção, Alcidez contratou outra família. Perci e Dica ajudam dependentes químicos Cathierine Hoffmann A Vila Brás conta hoje com um projeto de recuperação de dependentes químicos, coordenado pela Igreja Ministério da Glória de Deus. O pastor Perci Pereira, 46 anos, realiza esse trabalho voluntário juntamente com Guiomar dos Santos, 48 anos, mais conhecida como Dica. O pastor ajuda os moradores da Brás encaminhando aqueles CARIDADE: família realiza trabalho voluntário há 12 anos na Brás que o procuram para centros de recuperação. Os familiares do dependente me pedem ajuda, e então os conduzo para centros que não cobram dos carentes, explica Pereira. Dica e o pastor Pereira já participaram de outro projeto social na Brás. O sopão oferecido às pessoas carentes era realizado no pavilhão da Igreja. Com a melhora das condições de vida dos moradores, o projeto acabou, afirma o pastor. Foto CATHIERINE HOFFMANN Capela da Vila leva o nome de Xexéu Pedro Foss Evaldir Ramires de Azevedo, 60 anos, mora há 30 anos na Vila Brás e hoje é o responsável pela chave da capela. O local, inaugurado no dia 22 de novembro de 2004, foi batizado com o nome Aírton Timóteo Xexéu, presidente da Associação dos Moradores e idealizador do projeto da capela. Porém, acabou morrendo no dia 12 de outubro de 2004, assassinado em um bar no Bairro Campina. Xexéu foi morto um pouco antes da inauguração, o que foi uma fatalidade e uma ironia ao mesmo tempo, já que ele SE LIGA! Você quer preparar uma festa de aniversário ou precisa de alguma ferramenta e/ou material (hidráulico ou elétrico) para realizar pequenos reparos na sua casa?! Pois saiba que no Mini Bazar Caca+Ero+Lôlô você encontra muito mais que apenas material escolar SAUDADES: família ainda lamenta a perda quase inaugurou a Capela. Cláudio Renato da Silva, 59 anos, lamenta a perda do cunhado: Xexéu era como um filho pra mim! Era do Bazar Caca+Ero+Lôlô oferece de tudo e brinquedos. A loja possui panelas, tapetes, bijuterias, vestuário, material para higiene pessoal, doces, salgados e muito mais. Vá agora ao estabelecimento que fica na Rua Leopoldo Wasum, nº 589, e fale com a vendedora Nita Vais. Produzido por Giovani Neves Jr. povo, era popular, bom e ajudava o próximo. Foi uma perda lamentável, ressalta com lágrimas nos olhos. Prisão é pouco pra quem fez isso com ele!, comenta Ivone Timóteo da Silva, 56 anos, irmã de Xexéu. Evaldir conta que são veladas na capela, em média, 15 pessoas por mês. O número varia: há semanas em que é menor, e outras em que não há nenhum velório a ser feito. Foto BÁRBARA KELLER Foto GIOVANI NEVES Jr.

Enfoque São Leopoldo Outubro de 2009 Vila Brás 5 Carlos conquista clientes com simpatia Guegue, como é conhecido, é um dos muitos evangélicos que conseguiram encontrar um futuro melhor na Brás Cristiane Medeiros Com um largo sorriso no rosto e um simpático bom dia para aqueles que passam pela Rua Leopoldo Wasun, Carlos de Mello vai conquistando sua clientela. Aos 33 anos, o paranaense já possui o seu próprio negócio: a Loja e Bazar Eliane. Dono de um dos muitos estabelecimentos comerciais da Vila Brás, o morador do bairro Santos Dumont atribui a conquista e o sucesso nas vendas a um fator principal: a fé. Fiel à religião, Guegue, como é conhecido entre amigos e familiares, faz das missas de domingo um dos compromissos inadiáveis da família. O evangélico acredita que Deus seja o grande responsável por tudo aquilo que alcançamos. Casado há cinco anos com Eliane dos Anjos, 20, o casal já tem uma herdeira para a lojinha: Gabrielle de Mello, de apenas 2 anos. Apesar de toda garra e determinação, foi ao lado da esposa que Carlos encontrou o incentivo que precisava para despertar o seu lado empreendedor. No início, surgiram as dúvidas em relação ao tipo de negócio que seria montado. Era a hora de pensar naquilo que mais necessitavam os moradores da Vila: brinquedos, materiais escolares, bijouterias, calçados, roupas, alimentos ou doces e guloseimas? Foi aí que Guegue teve a ideia de criar um espaço onde todos GUEGUE: dono da Loja e Bazar Eliane, ele se orgulha de possuir o seu próprio negócio esses produtos estivessem disponíveis aos seus clientes. Um único lugar com uma infinidade de opções. Mas, apesar de toda simplicidade e simpatia ao atender à comunidade, Carlos é, acima de tudo, profissional: Não vendemos fiado, revela o vendedor. Atualmente, o casal possui apenas uma loja, mas não descarta a ideia de, futuramente, abrir novas representantes. O pai da Gabriele se diz, hoje, um homem realizado, mas, caso tivesse oportunidade, gostaria de ser advogado. E, sobretudo, é um homem de muitos sonhos. O que tu pedir para Deus, ele vai te dar. Foto BRUNA SCHUCH Graciela é uma professora apaixonada pela dança Roberta Pacheco Desde que começou a ensaiar seus primeiros passos nas aulas de dança do Programa Esporte Integral (PEI), projeto social da Unisinos dirigido a crianças e adolescentes de escolas públicas de São Leopoldo, Graciela de Oliveira não parou mais. Seu gosto pela dança aumentou e em 2005, com apenas 18 anos, a estudante de Educação Física da Unisinos decidiu criar o Grupo Explosão da Dança. No início, era formado SE LIGA! O Edinho do Mecânico é o lugar certo. Lá a sua moto recebe tratamento de primeira: pintura, preparação, alinhamento de quadros. E ainda: reposição de peças, revisão e manutenção. Especializado nas marcas Honda e Yamaha. Passe lá e converse com o Éderson Fernandes ou Márcio por cerca de 30 crianças e adolescentes. Mas a motivação e o empenho de Graciela atraíram cada vez mais jovens, fazendo o grupo crescer. Adriano Guerra, aluno de Graciela desde o início do projeto, ficou tão motivado com a ideia que hoje é assistente cênico do grupo, responsável pelos figurinos, ensaios e cenários. A paixão pela dança uniu a professora e o aluno, que já estão juntos há quase dois anos. Hoje, o grupo conta com mais de 100 pessoas, crianças e adultos entre Quer cuidar bem de sua moto? de Souza, eles batem qualquer preço! O horário de atendimento de segunda à sexta-feira é das 8 às 12 horas e das 13h30 às 19 horas. Aos sábados, das 8 às 17 horas. O Edinho do Mecânico fica na rua Leopoldo Wasun, 804. Telefones: (51) 8136-0236 / (51) 9301-3813. Produzido por Kelly Betina Veronez 3 e 30 anos de idade. As turmas são divididas por modalidade de dança, entre elas street dance, contemporânea e jazz. O grupo já participou de vários festivais, inclusive fora do Estado, e já ganhou muitos prêmios. No início, ensaiava em um espaço cedido pela escola, mas hoje conta com um espaço na sede da Associação de moradores da Vila Brás. A maioria do dinheiro arrecadado pelo grupo vem de rifas feitas pelos dançarinos, além de espetáculos de dança. Videogame é um verdadeiro ritual para Haridi James Cristiane Serra O videogame se tornou uma espécie de ritual sagrado para o estudante Haridi James, de 14 anos. O garoto vai todos os dias ao fliperama, localizado na avenida principal da Brás, onde joga apenas uma hora e o mesmo game de futebol. O time? Ele nunca trocou. Desde que comecei a jogar com o Real Madri, só ganhei, conta o garoto, sem tirar os olhos da TV. REGRAS: garotada joga, mas fora do horário de aula Craque no controle, Haridi revela não ter a mesma habilidade com a bola nos pés, por isso a fixação pelo jogo virtual. Na verdade, a preferência pelo futebol é unanime entre os garotos que frequentam o local. Eles optam pelo futebol porque assim têm a chance de jogar com seus ídolos, mesmo que seja pelo videogame, acredita Giovani Bertissolo, de 26 anos, dono do estabelecimento. Foto ANDRESSA XAVIER

6 Vila Brás Enfoque São Leopoldo Outubro de 2009 Lauro ajudou a construir a Brás Do mutirão de 20 anos atrás até hoje, muita coisa mudou para melhor na Vila Aline Bof Sem água, com as ruas de chão batido, sem escola e ônibus só na entrada da vila. Era assim a Brás quando Seu Lauro Osvaldo Vieira chegou há 20 anos. Lauro morava no bairro Rio Branco e não tinha casa própria. Por meio de um projeto da prefeitura, conseguiu o sonhado terreninho na Vila Brás e não duvidou. Deixou tudo pra trás e foi erguer sua casa com as próprias mãos. Ele é da turma do mutirão que levantou muitas casas na Rua Leopoldo Wasun. No final de semana, a gente vinha pra cá, um ajudava ao outro, mas chegou na hora de fazer a minha e ninguém tinha tempo, disse ele. A falta de água não foi um problema. Ele resolveu cavando um poço na sua casa. Lauro acabou ajudando a vizinhança, que buscava água de balde enquanto o abastecimento não chegava. Seu Lauro viu a Vila crescer. Lembra dos tempos violentos, quando escutar tiroteio era comum. Certa vez foi surpreendido com o assassinato do vizinho, bem na esquina da sua casa. Mas ele não se amedrontava. Eu não dava nem bola, ficava dentro de casa. Além do trabalho, Lauro gosta também de dançar. Foi entre um passo de dança e outro, no salão do Gigante do Vale, que dona Carla entrou na sua vida. Ela morava em Novo Hamburgo e quando soube que o namorado vivia na Brás, balançou. Quando falava da vila todo mundo me assustava; contei para minha filha que o Lauro morava aqui e ela ficou com medo. Com o tempo, Carla foi conhecendo o bairro e, segundo ela, viu que a lugar é bom. Os dois vivem juntos há dois anos. Em 20 anos de Vila Brás seu Lauro criou o filho, que hoje mora no bairro Vila Nova e reconstruiu sua moradia. A casinha de madeira deu lugar aos tijolos. E diante LAURO: duas décadas junto à comunidade e muitas histórias para contar Foto ALINE BOF das propostas para vender a propriedade, Lauro se justifica: Para mim tá bom aqui. A vizinhança é boa, o transporte também; desço na frente de casa. Então, não tem porque sair daqui. Olha a galinha, freguesia! Daniela Machado Juliana Jeziorny Rodney Silva Todas as manhãs, Adilson Soares, 19 anos, exerce o ofício que aprendeu com o pai e o avô. Acorda cedo e busca cerca de cem galinhas no criadouro com sua carroça. Há cinco anos, ele garante o sustento da mulher e dos dois filhos vendendo galinhas pelas ruas da Brás e de outros bairros de São Leopoldo e Novo Hamburgo. Entre o barulho dos Foto Juliana Jeziorny motores dos carros, motos e caminhões que circulam pela Vila é possível escutar, bem ao fundo, o lento trote de um cavalo. É Adilson chegando com suas galinhas. É só anunciar no auto-falante improvisado que a freguesia logo aparece. A frase é sempre a mesma: Olha a galinha, olha a galinha! E funciona sempre: nos finais de semana, chega a vender 120 animais. Colorado, este jovem é apaixonado por sua profissão. Mesmo se pudesse escolher, não trocaria este trabalho por outro. Adilson estudou somente até a 4ª série, mas reconhece a importância de uma formação. Quero dar um futuro melhor aos meus filhos. ADILSON: ganha a vida vendendo frangos em uma carroça Sara virou nome de sorveteria Andressa Xavier A nova placa da sorveteria Oliveira, na Leopoldo Wasun, é motivo de orgulho para a pequena Sara. Caçula dos cinco filhos de dona Bernardina e do seu Adão de Oliveira, moradores da Vila há mais de 20 anos, a menina de 7 tem seu nome na frente do prédio onde funciona o comércio da família. Fizemos uma placa nova e o pai colocou o nome dela. Pronto: virou a sorveteria da Sara, divertese a mãe. A manhã de sol e calor animava os clientes enquanto Sara brincava SE LIGA! Vá até a casa do Seu Schneider, onde funciona a Casa de chaves Schneider. Agente de saúde aposentado, Seu Ivo trabalha com chaves há um ano para ajudar na renda da família. A casa funciona das 8 às 19 horas, na Rua em casa, no segundo andar, com as sobrinhas, ainda de pijama. Ao saber que a equipe do Enfoque esperava por ela, trocou de roupa e arrumou os cabelos rapidamente. Tímida, a aluna da primeira série Quer fazer uma chave na hora? nº 15. Além de fazer cópia, Ivo faz serviços de abertura de casas, carros e venda de fechaduras e cadeados. É só chegar lá e bater na porta, que Seu Schneider atende a qualquer hora do dia e também, para quem precisar, à noite. Foto ANDRESSA XAVIER PREDILETO: a filha de dona Bernardina adora sabor morango disse que não lembrava o nome do colégio em que estuda, ao lado de sua casa. Mas, ao falar dos sorvetes, logo apontou o preferido: Morango. Apesar de ser a dona da sorveteria, Sara contou que não atende aos clientes, apenas experimenta. Quem produz os sorvetes e os vende são seus pais. É que tenho aula, explica. Produzido por Letícia Cardoso

Enfoque São Leopoldo Outubro de 2009 Vila Brás 7 Mercado imobiliário está aquecido Comprar uma casa na Vila pode custar até R$ 150 mil; procura por imóveis é grande Daniela Machado Juliana Jeziorny Rodney Silva Existe um mercado imobiliário forte e diversificado na Vila Brás. Placas de vende-se se espalham pelas ruas do bairro. Em menor número, aparecem anúncios de alugam-se peças. Acontece que entre o estar à venda e o poder comprar existe, às vezes, uma grande distância. Que o diga dona Verlides de Souza, 40 anos. Por muito tempo, ela quis comprar a casa de seus sonhos, do outro lado da rua. Só conseguiu quando seu marido se aposentou. O dinheiro entrou e eu comprei à vista por R$ 75 mil, ressalta. Com isso, realizou-se um sonho de seis anos; tempo que ela olhava para a casa de três pisos e imaginava residir ali um dia. Morando no local com o marido e seus dois filhos, a dona-de-casa assegura que o imóvel valorizou nos últimos anos. A casa está avaliada hoje em R$ 150 mil, mas não vendo de jeito nenhum, enfatiza. Vender a casa, onde mora com a esposa, dois filhos e a sogra, é o objetivo de Gilmar dos Santos, 31 anos. O rapaz argumenta que o terreno é pequeno, por isso o motivo da venda. Quero comprar outra casa aqui na Vila, que tenha mais espaço para as crianças. Assim como Gilmar, dezenas de outros moradores que colocaram casas à venda não pensam em sair da Brás. É o caso de Margarete Aparecida Cerveira, 48 anos, que há 30 mora na Brás. Além de ser proprietária de uma loja de roupas, ela complementa a renda familiar alugando duas peças nos fundos de sua propriedade, localizada na Rua das Tulipas, nº60. Normalmente, alugo para pessoas que veem do interior estudar em São Leopoldo, explica. O aluguel varia. O custo da peça menor sai por R$ 200,00 ao mês e inclui água e luz. Já a peça maior sai por R$ 260,00. Margarete conta que a crise econômica também afetou o seu negócio. Antes, sempre estava com os quartos alugados. Agora,está difícil de conseguir inquilinos. Tanto é que a peça maior está vaga há alguns meses, informa. SONHO: dona Verlides namorou a casa por um longo tempo Foto Juliana Jeziorny Márcia está muito preocupada com o lugar onde sua filha vai estudar Fernanda Bernardes Márcia Fernandes é moradora da Vila Brás há 22 anos. E tem orgulho de dizer que suas filhas são criadas lá. Gosta do local porque as crianças brincam juntas na rua, e todo mundo se conhece. A filha mais velha de Márcia frequenta a quarta série na escola municipal da Vila, a João Belchior Marques Goulart, e, segundo a mãe, só tira dez. Gosta de ir pra escola, e não achou legal ficar uma semana de molho em casa por causa de SE LIGA! Quando o Internacional ou o Grêmio estão em campo, qualquer lugar vira ponto de encontro dos torcedores. Mesmo que não consigam ir até o estádio para embalar o time rumo à vitória, os amantes do futebol fazem dos bares a casa do clube. Na Vila Brás, uma gripe. A filha mais nova de Márcia terá idade escolar daqui a três anos. A mãe demonstrou preocupação sobre o ingresso na primeira série do ensino fundamental, já que há pouco tempo faltavam vagas para alguns. Até 2004, crianças em idade escolar, seis anos completos para a primeira série, passavam por um sorteio para preencher o número de vagas disponíveis. Aqueles que não fossem sorteados tinham poucas opções: esperar um ano e tentar o próximo sorteio, ou tentar uma escola Gre-Nal é no Bar do Pezão o Bar do Pezão, na esquina da Rua Leopoldo Wasun com a dos Girassóis, é o local de concentração de gremistas e colorados. Em funcionamento há dois meses, o bar já é referência e fica lotado em dia de jogos. Antes da meia-noite, ninguém desiste da torcida. em outra região da cidade. A preocupação em ampliar o número de vagas levou à construção da Escola Padre Orestes João Stragliotto, localizada na Rua Santos Dumont. A instituição completou em 2009 um ano, e atende a 749 alunos. Segundo Andrea Petry, integrante da diretoria pedagógica do município, se for necessário pode ser criada uma nova turma de primeira série na escola João Goulart, e todos terão acesso às vagas. Boa notícia para Márcia e outras mães da região. Giovana e Solange fazem sucesso com música gospel Daniela Machado Juliana Jeziorny Rodney Silva Cantar sempre foi o dom de Giovana dos Anjos Moraes, 29 anos. De família evangélica, ela frequenta a Igreja Assembleia de Deus da Vila Brás todos os dias. Foi lá que conheceu Solange e formou a dupla Mensageiras de Cristo. Para a maioria dos músicos, gravar um CD, ouvir suas composições na rádio e viajar para o exterior é algo difícil de ser conquistado. Porém, Giovana mostrou que a determinação e sua fé fazem as pessoas irem longe. O primeiro CD, intitulado Promessas de Deus, foi lançado no final de 2008 e o segundo já está sendo GIOVANA: a caminho de Deus por meio da música produzido. Quero passar a confiança em Deus para as pessoas, afirma. As Mensageiras de Cristo têm uma agenda lotada. Todos os finais de semana se apresentam em cultos, congressos ou campanhas, por todo o Estado. Mas estas mulheres já foram mais longe. No início do ano, se apresentaram na Argentina. Foi uma experiência única, diz. Foto DANIELA MACHADO Produzido por BRUNA QUADROS

8 Vila Brás Enfoque São Leopoldo Outubro de 2009 Cassiana acredita no futuro Mesmo com as dificuldades, a solidariedade é uma marca entre os que moram na Vila Cathierine Hoffmann As ruas da Brás são repletas de pessoas que buscam oportunidades e uma vida mais digna. E é por esse caminho que Cassiana Fontoura da Silva anda. Bisavó aos 53 anos, ela tem uma vida marcante. Casada com Honório da Silva Palmeira, moradora da Vila Brás há 30 anos, ela já viveu a perda de um filho para a violência. Meu filho Éderson foi assassinado no meio da rua. Hoje, Cassiana cuida da filha Aline, de 20 anos, e abriga também seus três netos, Nicole, Natan e Nicolas. O pequeno Nicolas, de 5 anos, é a aposta da avó. Vaidoso e muito falante, ele chamou a atenção de uma representante de uma agência de modelos no Centro de Novo Hamburgo, há cerca de três meses. Ela pediu se poderia fotografar o menino naquele momento, e a avó permitiu. Dias depois, ligaram da agência oferecendo uma oportunidade para que Nicolas desfilasse em um concurso, onde o vencedor ganhava uma camiseta, e ele venceu. Porém, para que o menino continuasse a ser convidado para os desfiles, teve que pagar um book fotográfico, que custou R$530,00. Depois das fotos, Nicolas já foi chamado duas vezes para desfilar, porém sem remuneração. Vou orar a Deus para que abençoe meu neto e ele tenha um futuro na profissão. Não vou desistir. É com essa persistência que Cassiana leva seus sonhos adiante. Ela é tão presente na vida de seus netos que eles a chamam de mãe. Estou criando os EM FAMÍLIA: Cassiana, apesar da numerosa família, sempre ajuda quem precisa fillhos de Aline desde bebês, ela precisa de minha ajuda, afirma. Da mesma forma que auxilia sua filha, ela estende a mão para a amiga de Aline. Michele Porto, de 23 anos, deu à luz a Larissa há quase um mês. Não tendo onde morar, Michele solicitou ainda no hospital que fosse levada para a casa de Cassiana, que a abrigou com todo carinho. Não tenho muito a oferecer, mas ajudo a quem posso, diz. Michele e seus dois filhos, Larissa e Pablo Ricardo, vivem agora na mesma casa que abriga a filha Aline e os três netos, o marido, o filho mais novo Alan Cristiano, 15 anos, e acolhe os demais netos e bisneto que vem lhe visitar. Foto CATHIERINE HOFFMANN Marlei e Neiva lutam pelo futuro KELLY BETINA VERONEZ Para chamar uma casa de lar, ela precisa ter mais que quatro paredes e um teto. Ela precisa dar segurança para a família que vive nela. Em busca desse sonho, Marlei Fontes, 37, e Neiva Siqueira, 52, lutam diariamente. Elas se inscreveram no Projeto de Habitação de São Leopoldo. O trabalho na fábrica de grampos garante o sustendo de Marlei e seus três filhos pequenos. A jovem senhora se emociona ao falar do malabarismo para cuidar da família. A expressão de tristeza se intensifica quando comenta a situação de risco em que vive na casa. Dona Neiva enfrenta o mesmo problema. Enquanto cuida de seus quatro filhos, deixa a saúde de lado. Com problemas cardíacos, precisa tomar cerca de seis remédios por dia. Ambas intercalam a renda do mês, quando pagam a conta de água não pagam a de luz e vice e versa. A situação das duas casas é caótica. Buracos no telhado, espaço reduzido e paredes com risco de desabamento a qualquer momento. Isso sem esquecer da parte da frente da casa da Melei, esta já caída há meses. As dificuldades encontradas pelas duas mulheres são contornadas com fé e esperança. Embora a matéria tenha traços de tristeza esta história terá um final feliz. Contempladas no projeto mencionado acima, no início do mês de setembro, Marlei e Dona Neiva, viram suas casas serem derrubadas para dar lugar a sua nova moradia: um novo lar. Inclusão digital dá resultados na Brás Aline Bof O estudante Lucas de Oliveira, de 14 anos, não tem computador em casa, mas frequenta uma das lan-houses da localidade, dia sim, dia não. Ele conta que aprendeu a navegar na rede por meio de um projeto de inclusão digital que participa duas vezes por semana. Entre suas preferências estão os jogos e o Orkut, a rede social que reúne amigos pela internet. Se isso está sendo possível, é porque a Secretaria de Segurança Publica de São Leopoldo promove desde 2005 um SE LIGA! Está com tempo livre e não sabe o que fazer? Que tal assistir a um filme? Vá até a locadora Vídeo BlueMix na Rua Leopoldo Wasun, n 518, e encontre os últimos lançamentos. Os preços variam de R$ 2,20 até R$ 4,50. O dono do LUCAS: na falta de um computador só seu, diverte-se na lan-house projeto de inclusão digital e economia solidária com os jovens da Vila Brás. As aulas ocorrem no telecentro da Escola Municipal João Quer assistir um bom filme? estabelecimento há 12 anos, Jorge Soares, garante que o local fica aberto todos os dias, das 10 às 22 horas. A locadora oferece ainda serviços de xerox, recarregamento de cartuchos e acesso à Internet. Para saber mais ligue 3568-3097. Produzido por Bárbara Keller e Pedro Foss Goulart para os jovens que estão em situação de vulnerabilidade social. Iniciativas como estas vêm dando bons resultados na Brás. É o que percebemos ao conversar com os jovens que frequentam as lan-houses da Vila. O programa é destinado a jovens de 15 a 29 anos. Interessados devem se inscrever na secretaria da escola ou entrar em contato pelo fone 3568 4050. Foto ALINE BOF

Enfoque São Leopoldo Outubro de 2009 Vila Brás 9 Praça da Paz precisa de cuidados Ainda há muito o que ser feito no local, mas pelos menos a maioria das árvores que foram plantadas ainda estão lá Giovani Neves Jr. Na última edição do Enfoque Vila Brás, o jornal publicou que 40 mudas de árvores foram plantadas na praça da Vila. O Enfoque voltou ao local para conferir se, ao contrário de 2006, quando as mudas não sobreviveram, elas foram mantidas. Para alegria da comunidade, das 40 mudas plantadas, 30 continuam a crescer. No entanto, nem tudo é motivo para felicidade. Em enquete realizada com cerca de 20 moradores da Brás, foi constatado que a Praça da Paz não possui boa imagem perante sua população. A moradora Meire de Souza, que mora há 16 anos na Brás, comenta que costumava ir seguidamente à praça, mas que a sujeira, a falta de sombra e de manutenção fizeram com deixasse de visitar o local. Afinal, por que tanto descaso com a praça que foi reivindicada e esperada por mais de 20 anos pela comunidade? O presidente da Associação de Moradores da Vila Brás, Claudemir Schütz, acredita que o preconceito é de moradores que não conhecem muito bem a praça. Eu, por exemplo, sou um que caminho terças e quintas das 5h30min às 6h30min da manhã e nunca vi nada de errado., diz o presidente. No entanto, ele confirma algumas dificuldades que a praça enfrenta. Falta uma manutenção da prefeitura e um cuidado maior da comunidade, alerta Schütz. Para solucionar o problema da limpeza, a associação de moradores entrou em contato com a Secretaria Municipal de Obras Viárias e Serviços (Semov). Já foi feito um pedido à Secretaria de Obras para conseguir pessoas que prestam serviços à PAS para deixar pessoas ali (na praça) no dia a dia para limpeza, afirma o presidente da associação. A prefeitura de São Leopoldo foi procurada pelo Enfoque para falar sobre a manutenção e limpeza da praça, mas até o fechamento PRIORIDADE: inaugurada em 2006, praça requer manutenção da prefeitura e cuidado de seus moradores Foto GIOVANI NEVES JR. da edição não deu retorno. As prioridades para praça são o preenchimento do local com areia fina da praia, além da troca dos brinquedos do playground e a colocação de novas lixeiras. Quem disse que as crianças não sonham? BRUNA QUADROS Ser policial ou crescer com a ilusão de continuar criança? Este é o ideal de Joel Júlio Silva de Chaves. Aos 10 anos, enxerga a Brás com um olhar bem diferente. Aqui tem muita gente legal. E não tem DANIEL: um dos meninos que se diverte, mas pensa sair da Vila SE LIGA! Atenda prontamente às orientações do policial, sempre respeitando-o. A desobediência às ordens do policial pode gerar graves consequências. Se, mesmo atendendo às brigas. É a tranquilidade que cerca a casa e a proximidade com os amigos que faz com que ele deseje continuar morando na Vila. No quarto ano do Ensino Fundamental, tem uma certeza com relação ao futuro. Quero ser policial para ajudar as pessoas. Mas a desilusão é visível em Deivid Mateus Pinheiro da Silveira, 7. Entre os poucos atrativos que vê na Vila está o projeto Escola Aberta, que oferece esportes na Escola Municipal João Goulart. Quando sai, vai à Campina, no sítio do tio, Chico. Querer ser policial é desejo de justiça. Quero prender quem roubou o violão do meu pai. Daniel Vinícius Porto, 8, também pensa em sair da Vila, mas seu sonho é continuar criança. Ele é o Peter Pan da Vila Brás o personagem do cinema que não queria crescer. Mas a Vila Brás não é a Terra do Nunca, onde Peter Pan vivia. Aqui, os desejos dos meninos podem se transformar em realidade. O que fazer em caso de abordagem policial? solicitações do policial, você vier a ser desrespeitado, memorize o maior número possível de dados, como data, hora e local do fato, número da viatura, nome do policial, sinais particulares. Produzido por CRISTIANO MARTINS Foto AMANDA FETZNER Comunique o fato ao Disque Denúncia, pelo 181 logo após ser liberado. A ligação é gratuita, e o sigilo é assegurado. Esteja certo do ocorrido, não criando falsas acusações. Brechó Maísa oferece roupas boas e baratas Letícia Cardoso Natural de Três Passos e moradora da Vila Brás há 18 anos, Márcia Schutze, 31 anos, mãe de três filhos e casada, é proprietária do brechó Maísa, localizado na Rua Leopoldo Vassun, 804, há três anos. Busco os produtos para minha loja em Canoas; 98% são roupas usadas. Escolho os melhores produtos para meus clientes, afirma Márcia. Quando a procura é baixa, Márcia faz a feira de R$ BRECHÓ: lá você encontra roupas por R$ 1,00 1,00 por peça. É possível encontrar blusas, meias, jaquetas de couro e até roupas para festas mais sofisticadas, entre vestidos e sapatos. Os preços podem chegar a R$ 200,00. Márcia paga por mês um aluguel de R$ 400,00, o que às vezes dificulta a permanência da loja aberta. Muitas vezes meu marido me ajuda a pagar o aluguel, pois o lucro da loja é de mais ou menos R$ 14,00 por dia, ressalta Márcia. Foto LETÍCIA CARDOSO

10 Vila Brás Enfoque São Leopoldo Outubro de 2009 O lado roqueiro da Vila Brás Banda A Síntese reúne galera que aposta no rock como estilo musical Cler Oliveira Imagine você andando pela Vila Brás e, de repente, dar de cara com um músico que já fez mais de 50 shows em 2009, tem um DVD de apresentação, músicas tocando na rádio e na internet, comunidade no Orkut e até fã clube. Parece difícil, mas não é. Que o diga Leandro Souza, mais conhecido como Dedos de Vento, guitarrista da banda de pop rock A Síntese. Com 20 anos, Leandro leva, junto com o sucesso do grupo, o orgulho de pertencer à Vila Brás. Unimos várias influências e, a partir delas, fazemos um som diferenciado: pop rock de qualidade. Para incentivar o talento do filho, Leandro, Verlides de Souza, a maior fã do projeto, faz diversos sacrifícios, entre eles financeiro, para que eles nunca desistam do que querem. A dona de casa, inclusive fechou parte da garagem onde o guitarrista montou o que chama de home studio, um estúdio caseiro com instrumentos musicais e aparelhagem de som para os ensaios da banda. O esforço vale a pena, já que eles já entraram no concurso garagem do Faustão. A gente faz de tudo pelos filhos, diz ela com orgulho. A banda nasceu em março de 2008. Além de Leandro, que toca guitarra, é formada por Elton Quadros (vocais), Di (baixo), Édson Rodrigues (bateria) e Tiago Ribas (backing vocal/teclado). No futuro, pretendem gravar um CD e, para isso, a composição das músicas não param. Entre elas, o maior sucesso, Por onde andou?, que já é pedida pelos fãs na Rádio FM Play, em São Leopoldo. O talento já colocou a banda no palco da São Leopoldo Fest, mas a banda se entusiasma mesmo foi com o show realizado no colégio João Goulart, onde tocaram duas vezes no mesmo dia e distribuíram até autógrafos. Os nossos pais acreditam na PIONEIROS: jovens apostam em estilo próprio para construir sua carreira gente e nossos amigos nos incentivam bastante. Não tem como dar errado, diz Leandro, com o sorriso de quem sabe aonde quer chegar. Foto CLER OLIVEIRA A voz da Brás está calada CAMILA VARGAS Apesar da rádio comunitária da Vila Brás ter encerrado seus trabalhos há cerca de dois anos, ainda provoca saudades. E um dos que mais sentem sua falta é o locutor Renato Severo, 37 anos. A rádio não poderia ter terminado, lamenta. O deficiente visual descobriu seu talento como radialista na própria rádio. Lá, fez renascer suas esperanças na vida, ajudando os outros por RENATO: saudades do tempo em que podia ajudar as pessoas meio de sua voz. O programa que ele participava contava com a parceria de seu amigo Laranjinha, também deficiente visual. No período reservado para eles, entre às 9 às 13 horas, exerciam solidariedade. Eram distribuídas fraldas, alimentos, fichas para consultas médicas e até mesmo dinheiro para quem precisava de tratamento médico. A gente não prometia, apenas falava que iríamos lutar pelo caso, lembra Renato. Foto MÁRCIO SARDÁ Rubens vende delícias a R$ 2,50 Bruna Schuch Rubens de Freitas, 28 anos oito deles morando na Brás -, não vende apenas rapaduras: oferece aos seus clientes delícias gigantes mais parecidas com pés de moleque. Rubens sai para trabalhar às oito horas da manhã e só volta para casa com a caixa vazia. Vai com 25 rapaduras e, se vender todas, pega mais para vender. A média são 60 rapaduras vendidas por dia, cada uma a R$ 2,50. Para isso, caminha pela Vila inteira e vai batendo palma na frente das casas. Na Brás ele só trabalha SE LIGA! Procurar um novo imóvel, organizar tudo e fazer mudança é cansativo! Não faça tudo sozinho, passe menos trabalho. A equipe Scheffer ajuda na sua mudança: fornece caixas, embala, desmonta e monta móveis e entrega tudo RAPADURAS: Rubens vende 60 unidades por dia para ajudar a família aos sábados e durante a semana vende em outros bairros e cidades. Duas vezes por semana pedala até Sapiranga, onde fica a fábrica de rapaduras. Demora cerca de uma hora e meia na ida e volta. Scheffer ajuda na sua mudança no seu novo lar! Também faz mudanças para outras cidades, inclusive nos finais de semana. Os telefones são 3554 0362 e 9883 2688. Já o endereço é Rua Alfredo Gerardt, 650 Bairro São Miguel São Leopoldo. Produzido por FERNANDA BERNARDES Todo seu esforço e comprometimento com o trabalho não ajudam a manter somente ele. Sua renda vai para as despesas da casa, onde mora com seus pais e mais quatro irmãos, e também para o seu irmão que está na prisão. Todo mês, ele e seu pai, separam um pouco de dinheiro e mandam para o presídio para que seu irmão possa comer comida da cantina e não a que servem para todos os presos, pois, segundo Rubens, é nojenta. Foto BRUNA SCHUCH

Enfoque São Leopoldo Outubro de 2009 Vila Brás 11 Parceria entre moradores e BM deixa a Brás segura Houve tempos em que a Vila era sinônimo de violência; hoje, as coisa mudaram Cristiano Martins Paulo Henrique Machado Em busca de um futuro melhor, Maria Teresinha da Rosa Firme, junto de sua família, partiram de Cruz Alta procurando melhores oportunidades de emprego. O destino tomado pela família foi São Leopoldo, mais exatamente a Vila Brás, e as informações que tinham eram de uma localidade violenta e marginalizada. Nos últimos três anos, tempo em que reside na BRIGADA: presença garante tranquilidade aos moradores Foto PAULO HENRIQUE MACHADO Vila, no número 218 da Rua 16, Maria Teresinha presenciou grandes mudanças em relação à segurança do local. Antigamente não entravam nem os mercados para entregar os ranchos porque tinham medo. Hoje podemos entrar e sair da Brás a qualquer hora que não tem problema algum. Esta redução da criminalidade no local é atribuída ao intenso trabalho que a Brigada Militar vem realizando na Brás, principalmente por meio de abordagens rotineiras e ações policiais. Apesar do bom trabalho, ainda existe um déficit de ações para prevenção de possíveis ocorrências, em especial dentro das escolas. Quando eu vim morar na Brás eu coloquei meu neto na escola (João Goulart) e tive que tirar, porque tinha muita agressão. 24 dos 46 anos de sua vida como morador da Brás, Verci Nogueira, o Pezão, também avalia o trabalho da Brigada Militar como positivo. Porém, assim como Maria Teresinha, vê problemas quanto à prevenção de crimes. Residente na Rua 20, número 25, e dono do Bar do Pezão, localizado na esquina da Leopoldo Wasun com a Rua 14, mudou-se para a Brás em busca de emprego. Disseram a ele que o local era considerado um dos mais perigosos do município. E era, mas as coisas mudaram. A Brás começou a melhorar mesmo de uns cinco ou seis anos para cá. Apesar de reclamar da falta de ações da BM dentro das escolas, com projetos como o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD), Pezão ressalta que hoje a Brás está mais segura do que quando possuía um posto policial dentro da Vila. ENTREVISTA / Ten. Cel. Carlos Magno Schwantz Oliveira, comandante do 25 BPM, responsável pelo policiamento em São Leopoldo Enfoque - A comunidade não concorda com algumas abordagens feitas pelo POE. O que pode ser feito para melhorar esta relação? Tenente Oliveira - A BM ao receber qualquer queixa ou denúncia de procedimento dos seus policiais, procura avaliar o por que da conduta, para que se possa mudar o modo de atuação sem prejudicar o trabalho institucional. Enfoque - Existem projetos de prevenção à criminalidade na Brás? Tenente Oliveira - Todos os comandantes são orientados para que busquem contato junto aos estabelecimentos SE LIGA! Quem passa pela Vila Brás percebe o grande número de animais soltos ou perdidos nas ruas. Algum tempo atrás, a Associação Leopoldense de Proteção aos de ensino, ao comércio, lideranças dos bairros, para saber o que podemos melhorar no dia-a-dia. Enfoque - Os moradores manifestaram interesse em ter a BM mais próxima da comunidade. De que forma pode ser construída esta aproximação? Tenente Oliveira - A disponibilidade é tanto nossa de ir até a comunidade, como elas podem comparecer junto aos nossos quartéis, para que possamos conversar na busca de melhorar ainda mais a nossa prestação de serviços. Quer ajudar os cães e gatos? Procure a Alpa Animais (ALPA) era responsável pelo destino dos animais sem lar. Atualmente, no entanto, a Alpa está sendo administrada por voluntários e, em função da superlotação, recolhe somente Produzido por Natacha Kötz OLIVEIRA: BM aberta para o diálogo com a comunidade animais feridos e doentes. Quem tiver interesse em adotar um animalzinho, fazer denúncias ou solicitar o recolhimento de um animal ferido, deve entrar em contato pelo telefone 3572-0320. Foto PAULO HENRIQUE MACHADO Uma escola que forma cidadãos ANA ROSA E RAQUEL: amor e dedicação com as crianças Francine Scherer Para os alunos da 2ª série da Escola João Goulart, aprender vai além do conteúdo de aula. Desde o início de setembro, mais de 100 crianças estão participando do Programa Mais Educação. A ideia é melhorar a aprendizagem dos alunos oferecendo atividades na escola em tempo integral. Por meio do programa, os estudantes participam de oito oficinas, da capoeira ao xadrez. Para a professora comunitária Raquel Prux, o programa é um trabalho de integração entre os professores e os monitores. Já sua colega Ana Rosa, 32 anos e mãe de dois alunos, o trabalho é muito gratificante. Ana conta que, à medida em que ensina a importância da boa alimentação e do cuidado do corpo com a higienização, sente o quanto está sendo importante. Os pequenos estão achando o máximo escovar os dentes com os coleguinhas, brincou Ana. Foto FRANCINE SCHERER