CORRELAÇÃO ENTRE HIPERTENSÃO ARTERIAL E ESTRESSE EM PROFESSORES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO

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Transcrição:

ARTIGO CORRELAÇÃO ENTRE HIPERTENSÃO ARTERIAL E ESTRESSE EM PROFESSORES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO Árlen Almeida Duarte de Sousa 1 Ana Cláudia Dias Braga 1 Flávia Ladeia Lima 1 Wagner Luiz Mineiro Coutinho 2 Geraldo de Paula Valle 3 RESUMO Dentre as causas ambientais da variação dos níveis pressóricos, o estresse durante a jornada de trabalho vem adquirindo expressividade nos últimos vinte anos. Em todos os níveis o professor está exposto a inúmeros estressores, que, quando identificados e interpretados como tais, tornam-no uma categoria profissional de risco quanto ao estresse. O presente estudo objetivou correlacionar hipertensão arterial e estresse no trabalho em professores da rede pública de ensino. A amostra constituiu-se de 45 professores da rede pública de ensino. Utilizou-se o instrumento Job Stress Scale para avaliação do estresse. A aferição da pressão arterial foi realizada a partir do método auscultatório. Obteve-se a análise dos dados a partir da correlação de Pearson. Encontraram-se valores compatíveis de hipertensão arterial em 37,8% dos sujeitos. A análise da Job Stress Scale inferiu exposição intermediária ao estresse no trabalho em 60% da amostra estudada, sendo que 77,8% dos sujeitos eram expostos a altas demandas no ambiente citado. Através dos dados analisados, podemos inferir que os níveis pressóricos nos professores mostraramse compatíveis com hipertensão arterial e que estes possuem coeficientes de estresse intermediário. Observou-se que o percentual 1 Graduandos em Fisioterapia - FUNORTE-MG. 2 Pós-graduado em Emergências de Saúde na Educação Inclusiva - FIP-MG. Pósgraduando em Saúde Coletiva com Ênfase na Estratégia de Saúde da Família FIP-MG. 3 Doutorando em Ciências do Movimento - UAA - Paraguai. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 37-45, 2010 37

dos sujeitos com níveis pressóricos elevados enquadrou-se na prevalência encontrada na população geral. Entretanto, não foi possível determinar correlação entre as categorias de estresse apresentadas pelos sujeitos e os níveis pressóricos obtidos. Palavras-chave: estresse, hipertensão, professores. INTRODUÇÃO O estresse ocupacional em professores refere-se a um agrupamento de respostas a sentimentos negativos, geralmente acompanhados de mudanças fisiológicas e bioquímicas, potencialmente patogênicas, resultantes de aspectos do trabalho do professor e mediadas pela percepção de que as exigências profissionais constituem uma ameaça à sua autoestima ou bem-estar (MARTINS, 2007). Em todos os níveis o professor está exposto a inúmeros estressores, que, quando identificados e interpretados como tais, tornam-no uma categoria profissional de risco quanto ao estresse. As características intrínsecas à sua ocupação sugerem que o professor exerce um trabalho que, ao mesmo tempo, pode ser muito gratificante e muito desgastante (REINHOLD, 2004). A relação íntima do estresse e da pressão arterial (PA) pode ser observada em um estudo realizado por Rocha et al. (2002), em que houve a variação da PA e da frequência cardíaca em um grupo submetido a um maior estresse ambiental no trabalho. O grupo com maiores variações realizava atividades caracterizadas por esforço físico moderado-intenso, submetidos a altas temperaturas e elevados níveis de ruído. Hipertensão arterial pode ser conceituada como a elevação dos níveis pressóricos acima do recomendado para uma determinada faixa etária e condição clínica. Incontestavelmente, é um dos mais importantes problemas de saúde pública no mundo e apresenta alta prevalência, que aumenta com a idade, com a alta ingestão de sal e aumento do peso corpóreo (LOPES; DRAGER, 2009). Entre as causas ambientais que influenciam na variação da PA, o estresse durante a jornada de trabalho vem adquirindo expressividade nos últimos vinte anos. Além disso, relata a importante 38 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 37-45, 2010

influência exercida pela genética individual associada a fatores ambientais no nível e na variação da PA. Dessa forma, este estudo teve por objetivo verificar a interferência do estresse produzido pelo ambiente de trabalho sobre os níveis pressóricos de professores (ROCHA et al., 2002). METODOLOGIA Caracterizou-se esta pesquisa como de caráter descritivo, com abordagem quantitativa e corte transversal. População e Amostra A população constituiu-se de professores da rede pública de ensino da cidade de Montes Claros MG. A amostra foi obtida de forma intencional, formada por 45 professores, de ambos os gêneros, atuantes nas escolas estaduais Professor Plínio Ribeiro e Polivalente Professor Alcides de Carvalho. Ser professor há mais de um ano e estar trabalhando ativamente compreendiam os critérios de inclusão. Após a escolha da instituição e dos profissionais a serem pesquisados, diante do consentimento destes, assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido para o desenvolvimento da pesquisa. Procedimentos de coletas de dados Foi realizada a mensuração dos níveis pressóricos em um único momento no membro superior esquerdo na posição sentada a partir do método auscultatório. Nesse procedimento utilizou-se um estetoscópio Premium e um aparelho denominado esfigmomanômetro Solidor. Considerou-se compatível com hipertensão arterial sistêmica valor para pressão arterial sistólica (PAS) >140 mmhg e para pressão arterial diastólica (PAD) > 90 mmhg (PIMENTA et al., 2007). Na avaliação do estresse foi utilizada a versão resumida da Job Stress Scale adaptada e traduzido para o português por Alves et al. (2004). Esse instrumento é composto por 17 questões estruturadas, que buscam, através de uma escala de graduação, a opinião do trabalhador acerca da demanda, controle e suporte social no trabalho. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 37-45, 2010 39

A cada resposta dada pelos participantes foi atribuído um valor entre 1 e 4. Considerou-se a combinação de alta demanda/baixo controle (trabalho de alto desgaste) como grupo de maior exposição ao estresse; como exposição intermediária, os grupos com alta demanda e alto controle (trabalho ativo) e baixo controle e baixa demanda (trabalho passivo). Como grupo não exposto considerou-se o grupo classificado como alto controle e baixa demanda (baixo desgaste - trabalho ideal) (AMARAL, 2006). Análise dos dados Para o processo de análise foi construído um banco de dados, a partir dos resultados obtidos da aplicação da pesquisa. No processamento, utilizou-se a planilha eletrônica Excel e o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 18.0. Foi realizado teste de correlação de Pearson. RESULTADOS A média de idade nos homens foi de 47,0 (± 9,81) anos, com tempo médio de profissão de 21,77 (± 11,1) anos. No gênero feminino a média de idade encontrada foi de 46,08 (± 7,39), com tempo médio de profissão de 20,23 (± 8,5) anos. Na totalidade da amostra, apenas seis eram homens. Observou-se que, juntamente com o incremento da idade, havia o acréscimo do tempo de profissão. Em relação aos resultados obtidos a partir da aferição da pressão arterial, 37,8% (n=17) da amostra apresentou valores compatíveis com hipertensão arterial. Dentre os valores pressóricos elevados, a média da PAS dos homens foi de 130,0 (±8,16) mmhg e PAD de 98,75 (±6,3) mmhg; no gênero feminino obteve-se a média de 136,15 (±26,4) mmhg para PAS e 96,92 (±10,9) mmhg para PAD. Observou-se que em ambos os gêneros a PAD teve maior representatividade, sendo encontrados níveis pressóricos mais elevados em homens. 40 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 37-45, 2010

Tabela 1 Classificação da pressão arterial em ambos os gêneros Fonte: dados coletados pelos autores. A análise da Job Stress Scale identificou que 26,7% (n=12) se enquadraram na categoria de trabalho desgastante, 8,9% (n=4) como trabalho passivo, 51,1% (n=23) apresentaram-se com quadro de trabalho ativo e apenas 13,3% (n=6) enquadraram-se como baixo desgaste. Assim, 60% dos participantes demonstraram sofrer exposição intermediária ao estresse no ambiente de trabalho. Interpretando isoladamente os domínios do questionário de estresse, identificou-se que 66,7% (n=30) dos participantes possuem alto controle no seu ambiente de trabalho; em contrapartida, 33,3% (n=15) possuem baixo controle. Em relação ao domínio demanda psicológica, 77,8% (n=35) dos sujeitos obtiveram alta demanda no trabalho e apenas 22,2% (n=10) apresentaram baixa demanda. Analisando o domínio suporte psicológico, constatou-se que 42,2% (n=19) dos sujeitos apresentaram baixo suporte no trabalho, seguidos por suporte intermediário (40% - n=18) e alto suporte (17,8% - n=8). Tabela 2 - Distribuição dos professores de acordo com a demanda/ controle e classificação da pressão arterial D E M A N D A Classificação da PA n % Normal 28 62,2 Elevada 17 37,8 Baixo Alta n = 12 50% pressão arterial elevada 50% pressão arterial normal Baixa n = 4 50% pressão arterial elevada 50% pressão arterial normal CONTROLE Alto n = 23 21% pressão arterial elevada 78% pressão arterial normal n = 6* 66% pressão arterial elevada 33% pressão arterial normal Modelo adaptado segundo Karasek (ALVES et al., 2004) *Observam-se valores elevados de pressão arterial neste quadrante, porém, devese considerar a pequena quantidade da amostra (n=6) Fonte: dados coletados pelos autores. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 37-45, 2010 41

Apesar de os sujeitos apresentarem níveis pressóricos significativamente elevados e exposição intermediária ao estresse, destacando a alta demanda imposta aos profissionais estudados, não houve correlação significativa entre estresse e hipertensão arterial. DISCUSSÃO Realizadas em algumas cidades do Brasil, investigações populacionais indicaram prevalência de hipertensão arterial (valores > 140/90 mmhg) de 22,3% a 43,9% (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2007). Os percentuais supracitados demonstram que os valores pressóricos elevados encontrados em professores estudados nesta pesquisa (37,8%), relacionam-se expressivamente com a investigação nacionalmente realizada. Em estudo realizado por Alves et al. (2009), semelhante à presente pesquisa, utilizou-se igualmente a Job Stress Scale e a avaliação da PA a partir do método auscultatório em funcionárias públicas. A prevalência de hipertensão arterial encontrada por esse autor foi de 24%. Considerando as categorias do estresse, o trabalho passivo foi a classe de estresse mais prevalente, com 28,3% dos sujeitos. Na atual pesquisa, a categoria mais expressiva foi trabalho ativo, existente em 51,1% dos sujeitos. Dessa forma, ambas as pesquisas enquadraram-se em exposição intermediária ao estresse, segundo a classificação de Amaral (2006). Além disso, no estudo promovido por Alves et al. (2009) não se observou associação estatisticamente significante entre estresse no trabalho e hipertensão arterial, corroborando assim o presente estudo. Esse autor descreve um possível esclarecimento para a ausência de associação entre essas duas variáveis. A tendência de portadores de hipertensão arterial em buscar ocupações mais tranquilas, faria com que esses profissionais solicitassem transferência dos trabalhos com grandes demandas para outros com exigências menores. Segundo Alves et al., (2004) e Amaral (2006), a combinação de baixa demanda/baixo controle (trabalho passivo) desencadeia efeitos lesivos à saúde, o que sugere perda de habilidade e desinteresse. Quando alta demanda/alto controle se conjugam os 42 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 37-45, 2010

sujeitos experimentam o processo de trabalho de forma ativa. Nesse tipo de categoria, ainda que existam grandes demandas, elas são menos danosas. Essas categorias citadas foram encontradas em 60% dos professores estudados, inferindo que existem situações nocivas à saúde vivenciadas pelos professores, mesmo que algumas sejam menores. A combinação de alta demanda/baixo controle sobre o ambiente de trabalho caracteriza alto desgaste no trabalhador, desencadeando efeitos lesivos à sua saúde essa categoria foi encontrada em 26,7% dos professores. CONCLUSÃO Através dos dados analisados, podemos inferir que os níveis pressóricos nos professores mostraram-se compatíveis com hipertensão arterial, principalmente valores referentes à pressão arterial diastólica, e que eles possuem coeficientes de estresse intermediário. Entretanto, não foi possível determinar correlação entre os valores pressóricos alcançados e as categorias de estresse apresentadas pelos sujeitos, mesmo existindo alta demanda de trabalho por parte dos professores. Sugere-se para pesquisas futuras que outros fatores externos que influenciam significativamente na exposição ao estresse e na variação da pressão arterial em professores da rede pública sejam estudados, para que haja melhor correlação e descrição das variáveis. ABSTRACT CORRELATION BETWEEN ARTERIAL HYPERTENSION AND STRESS IN THE TEACHERS OF PUBLIC EDUCATION NETWORK Among the environmental causes of variation in blood pressure, stress during the workday is becoming expressiveness in the last twenty years. At all levels the teacher is exposed to numerous stressors, which when identified and interpreted like that, make it a profession of risk of the stress. This study aimed to correlate arterial hypertension and work R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 37-45, 2010 43

stress in the teachers of public schools. The sample consisted of 45 teachers from public schools. We used the instrument Job Stress Scale for assessment of stress. The blood pressure measurement was performed from the auscultatory method. We obtained the data analysis from the Pearson correlation. We found values compatible hypertension in 37.8% of subjects. The analysis of Job Stress Scale inferred intermediate exposure at stress at work in 60% of the sample, thought 77.8% of subjects were exposed to high demands on the environment said. Using data analysis we can infer that the pressure levels in teachers are consistent with hypertension and that they possess an intermediate coefficient of stress. It was observed that the percentage of subjects with high blood pressure is framed in prevalence in the general population. By the way, it was not possible to determine correlations between the categories of stress presented by the subjects and blood pressure levels obtained. Keywords: stress, hypertension, teachers. REFERÊNCIAS ALVES, M.G.M.; CHOR, D.; FAERSTEIN E.; LOPES C.S.; WERNECK, G.L. Versão resumida da job stress scale : adaptação para o português. Revista de Saúde Pública, v. 38, n. 2, p. 174-171, 2004. ALVES, M.G.M.; CHOR, D.; FAERSTEIN, E.; WERNECK, G.L.; LOPES C.S. Estresse no trabalho e hipertensão arterial em mulheres no Estudo Pró-Saúde. Revista de Saúde Pública, v. 43, n. 5, p. 893-896, 2009. AMARAL, T.R. Dimensões psicossociais do trabalho da enfermagem e os distúrbios psíquicos menores em unidades críticas. 2006. 114 f. Dissertação (Mestrado em enfermagem) Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006. LOPES, H.F.; DRAGER, L.F. Hipertensão arterial. In: SERRANO JÚNIOR, C. V. ; TIMERMAN, A.; STEFANINI, E. (Editores). Tratado de Cardiologia SOCESP, Barueri - São Paulo, 2009. MARTINS, M.G.T. Sintomas de stress em professores brasileiros. Revista Lusófona de Educação, n. 10, p. 109-128, 2007. 44 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 37-45, 2010

PIMENTA, E.; BARELLI, F.; PASSARELLI JUNIOR, O. Síndrome metabólica: diagnóstico e investigação complementar. In: PASSARELLI JUNIOR, O.; GOMES, M.A.M.; BRANDÃO, A.A. (Org.) Síndrome metabólica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. REINHOLD, H.H. O sentido da vida: prevenção de stress e burnout do professor. 2004. 189 f. [tese de doutorado]. Campinas, PUC- Campinas, Centro de Ciências da Vida - Pós-Graduação em Psicologia, 2004. ROCHA, R.; PORTO, M.; MORELLI, M.Y.G.; MAESTÁ, N.; WAIB, P.H.; BURINI, R.C. Efeito de estresse ambiental sobre a pressão arterial de trabalhadores. Revista de Saúde Pública, vol.36, nº5, p. 568-575, 2002. SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO. V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, vol.89, nº3, p. 24-79, 2007. Endereço: arlenduarte@gmail.com R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 37-45, 2010 45