AULA 2 16/02/11 DOS CRIMES CONTRA A PESSOA

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Transcrição:

AULA 2 16/02/11 DOS CRIMES CONTRA A PESSOA 1 O TÍTULO I DOS CRIMES CONTRA À PESSOA Causa espécies estranheza o fato de o legislador haver nominado o Título I de Dos crimes contra a pessoa. Ora, senão, todos os outros bens jurídicos protegidos nos títulos subseqüentes (até o Titulo XI) estão vinculados ao interesse dos seres humanos. Ocorre que o sobredito Título busca em seus Capítulos propiciar a tutela penal em face dos bens sobre o aspecto psicossomático dos seres humanos, isto é proteção à vida, integridade física e psíquica, honra e as liberdades individuais. São bens de primeira grandeza. 2 O CAPÍTULO I DOS CRIMES CONTRA À VIDA O Capítulo I, ao seu tempo, delega a tutela do direito penal àquele que é considerado o bem jurídico primas, do qual deflui todos os demais: a vida sobre os seus mais diversos aspectos intra (limite: destruição) e extra-uterina (limite: morte). O Capítulo em apreço é constituído de oito artigos. Nestes dispositivos encontramos a proteção legal à vida humana em diferentes momentos de evolução do ser vivente, quais sejam: o ovo, o embrião, o feto e o homem. O art. 121 trata do homicídio (feto no trabalho de parto e homem). O art. 122, do induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio (homem). O art. 123, do infanticídio (filho). [vida humana extra-uterina] Os arts. 124, 125, 126 e 127, do abortamento (ovo, embrião ou feto). [intra-uterina] O art. 128 versa sobre excludentes de ilicitude hipóteses de abortamento legal, situações nas quais é lícita a prática de manobras abortivas visando à destruição do produto da concepção: terapêutico (risco de vida materno iminente) e sentimental (gestação resultante de violência).

8 DIREITO PENAL Destaque-se que, somente dois aspectos são observados: a vida intra e vida a extra-uterina. Entretanto, há tipificação minudente, minuciosa, pormenorizada: há diversos tipos. Neste norte, percebese que o legislador pátrio focou a atenção em pontos distintos. 3 O ART. 121 HOMICÍDIO 3.1 O CONCEITO O homicídio pode ser definido como a eliminação da vida humana extra-uterina levada a efeito, dolosa ou culposamente, por outro ser humano. Perceba os pontos fortes da definição: vida humana extra-uterina, dolosa ou culposamente e por outro ser humano. 3.2 A OBJETIVIDADE JURÍDICA O bem jurídico tutelado é a vida humana extra-uterina. Importante consignar que por extrauterina entende-se a vida do feto da mulher durante a vigência do trabalho de parto (ainda que no claustro materno), bem como do homem. 3.3 O SUJEITO ATIVO Sujeito ativo do crime é aquele que pratica a infração de modo direto (autoria imediata) ou indireto (autoria mediata), sozinho (autor) ou acompanhado, em sentido estrito (participa de atos executórios) ou não (não participa de atos executórios) (concurso de agentes). O homicídio é classificado como crime comum: pode ser praticado por pessoa qualquer. Em sentido diametralmente oposto está o crime próprio por exigir condição específica do sujeito ativo, tal qual o infanticídio que tem por sujeito ativo uma pessoa na condição de mãe.

9 AULA 2 DOS CRIMES CONTRA A PESSOA O homicídio é classificado como um crime unissubjetivo: pode ser praticado por uma só pessoa. Em oposição está o crime plurissubjetivo por exigir dois ou mais sujeitos ativos (crime de concurso necessário): rixa (duas), formação de quadrilha (quatro) e associação para tráfico (duas). 3.4 O SUJEITO PASSIVO O sujeito passivo de um crime é o titular do bem jurídico ofendido. O sujeito passivo é classificado como obrigatório (o Estado existe sempre) ou eventual (os demais: vítima, parente e sociedade existem em algumas oportunidades e não em outras). Note que, todo e qualquer ser humano com vida extra-uterina é titular de direitos e deveres. O termo de nascimento com vida a partir do qual a ação dolosa ou culposa visando suprimi-la será considerada homicídio está vazado (registrado) no art. 123: durante o parto ou logo após 1. Excepcionalmente, levando-se em consideração a situação do sujeito passivo, o crime pode sofrer um deslocamento de sua tipificação para uma lei específica, a lei extravagante. Neste caso violase a vida e não se trata de homicídio, não nos reportamos ao Código Penal. Exemplificando comenta-se: o sujeito passivo é vítima de acidente de trânsito (Lei n. 9.502/97 Código Nacional de Trânsito); o sujeito passivo é o Presidente da República, da Câmara, do Senado ou do Supremo Tribunal Federal (linha de sucessão) (Lei de Segurança Nacional). 3.5 OS ELEMENTOS DO TIPO Todo crime tem corpo (cabeça, tronco, braços e pernas), bem como uma alma. O corpo perfaz os chamados elementos do tipo. Ao seu tempo, a alma, corresponde ao elemento subjetivo, valendo dizer, ao dolo e a culpa. No tocante à ação nuclear (verbo: matar), trata-se de crime de forma livre: a lei não estabelece a forma pela qual o verbo é praticado, limitando-se em dizer matar alguém. Neste norte, pode-se matar alguém das mais diversas maneiras, até via internet (ex.: alterando aparelho de uti). 1 Código Penal do Brasil (1940): Infanticídio Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos.

10 DIREITO PENAL Em sentido adverso, aglutinam-se os crimes de forma vinculada porquanto para eles a lei descreve a forma pela qual se dará a prática do verbo. Exemplo: o tráfico de drogas a lei explicita a forma de praticar o verbo traficar, diferenciando-o, por exemplo, do porte. Ademais, pode o homicídio ser praticado com ação comissiva (implica em fazer) ou omissiva (implica em abster-se de fazer). Destaque-se que, está ultima situação somente ocorre quando a omissão é juridicamente relevante, o que é aclarado por lei 2. 3.6 A ANÁLISE TIPOLÓGICA O caput do artigo versa sobre o homicídio simples. O 1º trás as causas de diminuição de pena. O 2º, as circunstâncias qualificadoras. O 3º, o homicídio culposo. O 4º, as causas de aumento de pena (para o culposo). E, o 5º, o perdão judicial (para o culposo). In verbis: Homicídio simples Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Caso de diminuição de pena 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Homicídio qualificado 2 Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo fútil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Homicídio culposo 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) Pena - detenção, de um a três anos. Aumento de pena 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um terço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um terço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de catorze anos. (Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990) 4 o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977) 2 Código Penal do Brasil (1940): Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) [...] Relevância da omissão(incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:(incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)