GEODIVERSIDADE NO PATRIMÔNIO CULTURAL CONSTRUÍDO DO ESTADO DO PARANÁ. Antonio Liccardo Universidade Estadual de Ponta Grossa

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Transcrição:

GEODIVERSIDADE NO PATRIMÔNIO CULTURAL CONSTRUÍDO DO ESTADO DO PARANÁ Antonio Liccardo Universidade Estadual de Ponta Grossa

O patrimônio cultural perpassa várias definições e qualificações, quanto a uso ou origem de sua formação inicial. CENTRO HISTÓRICO 02 37 RESIDÊNCIA EDIFICAÇÃO RELIGIOSA 18 07 PALÁCIO e PALACETE ESTAÇÃO DE PASSAGEIROS 14 06 MONUMENTO EDIFÍCIO PÚBLICO ou de uso COLETIVO 28 06 PAISAGEM URBANA EDIFÍCIO DE ENSINO 10 07 ÁRVORE URBANA FORTIFICAÇÃO e INDÚSTRIA 04 09 PARQUE e área NATURAL PONTE 04 09 IMAGEM, ESCULTURA e PINTURA FAZENDA 03 05 DOCUMENTOS e OBJETOS Geodiversidade diretamente presente Levantamento preliminar sobre o patrimônio registrado pelo CEPHA

Premissas O uso de materiais geológicos revela a história da sociedade em relação ao seu território e sua geodiversidade; Boa parte do patrimônio histórico-cultural (material) no Paraná apresenta este aspecto regionalizante e uma análise dos materiais utilizados pode trazer importantes subsídios para a valorização cultural; O entendimento sobre a geodiversidade pode ser um instrumento de análise na discussão histórico-cultural.

Propostas Contextualizar a geodiversidade como um dos fatores determinantes para a evolução cultural do Paraná Aproximar as geociências das instituições de cultura no Brasil (IPHAN, Ministério e Secretarias, Lei Rouanet...)

Paraná como território Mapa de 1896 Pós-emancipação Mapa de 1847 Paraná como Quinta Comarca de São Paulo Em 1853 o Paraná se emancipa de São Paulo como Estado brasileiro

Geodiversidade do Paraná C B Compartimentação geológica clara A

Histórico de evolução social Fase 3 1890 1970 Cafeicultura Fase 0 1554 1590 Reduções jesuíticas Fase 2 1700-1940 Tropeirismo Fase 1 1558 1700 Mineração de ouro Fase 4 1940 1970 Contestado e gaúchos Ciclos de ocupação no território paranaense

Painel em granito da Praça 19 de dezembro (Curitiba). Centenário da emancipação do Paraná - 1953 História do Paraná entalhada na rocha por Erbo Stenzel e Humberto Cozzo

Museu de Arqueologia e Etnologia de Paranaguá É uma importante referência acadêmica e turística, com seu rico acervo de mais de 25.000 peças, incluindo as coleções de arqueologia, cultura popular e etnologia indígena, além de vasta documentação textual, sonora e visual. Tombado em 1938, como Patrimônio Artístico e Cultural, é o Antigo Colégio dos Jesuítas, um monumento da arquitetura do século XVIII. Levou muitos anos para ser construído e sua fundação oficial foi em 1755. Destinou-se ao estudo dos filhos dos aristocratas do sul, até os jesuítas serem banidos do reino pelo Marquês de Pombal. Paranaguá e litoral marco meridional para a Coroa Portuguesa Rochas graníticas provenientes da Serra do Mar

Cantaria em granito Igreja de São Benedito em Paranaguá Foi a primeira igreja construída no sul do Brasil por escravos negros devotos de São Benedito, acredita-se que por volta de 1600 a 1650. Tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná em 1962 e pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1967. Possui em seu interior, magnífico acervo sacro que também foi tombado. Está entre as melhores e mais autênticas edificações populares do colonial brasileiro.

Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres Ilha do Mel Construída em 1769, teve transferida, em 1982, sua utilização para a fundação Nacional Pró-Memória, hoje IPHAN. Neste local foi encontrado marco de pedra que assinalava os limites das capitanias de São Vicente e Santo Amaro

A subida da Serra ligação do litoral com o interior Possui 14 túneis escavados na rocha, 41 pontes e viadutos em dimensões colossais, utilizando estrutura metálica. O Viaduto Carvalho, construído com grande tenacidade, está a mais de 900m de altitude, usando como suporte muros de até 100m de altura fazendo uma curva de 45 graus no trecho conhecido como Curva do Diabo. Serra do Mar como obstáculo natural 1879 - A ferrovia e a imigração Fonte de granito A construção da Ferrovia Paranaguá-Curitiba foi definitiva para a integração do Estado. Desafio da engenharia, utilizou a mão-de-obra de canteiros italianos recém-chegados na imigração e que não trabalhavam na agricultura.

Toda a cantaria de Curitiba a partir do final do século XIX foi desenvolvida por imigrantes e descendentes de italianos. O granito da Serra do Mar, trazido pelo trem foi a matéria prima revolucionária para a urbanização de Curitiba.

Primeiro Planalto Rochas metamórficas e ígneas disponíveis Geodiversidade do Paraná Debret Primeira iconografia de Curitiba presença de um canteiro - 1827

Marco Zero de Curitiba Praça Tiradentes Granito Início séc. XX Granito Início séc. XVII

Ruinas São Francisco rochas do embasamento Antiga calçada descoberta na escavação arqueológica da Praça Tiradentes em 2009 e ferramentas de canteiro encontradas, do século XIX Múltiplas fontes Gnaisse, migmatito e diabásio

Granito Granito Extração de granito em Quatro Barras - 1943 Granito

Granito Granito

1873 Mármore dolomítico Gnaisse 1910 Diabásio 1972 A ocupação do centro histórico em três momentos

Ainda no Primeiro Planalto, Estação Ferroviária de Castro Tombado pelo CEPHA e alicerçado sobre riolitos. Provavelmente único caso no Brasil

Lapa arquitetura característica e uso intenso de detalhes em arenito. Cantaria e pavimentos fazem parte do Setor Tombado. Arenito

Possivelmente único exemplo no Brasil de cantaria em diamictito. Diamictito Em meados do século XVIII, de acordo com o historiador David Carneiro, quatro locais, nos Campos Gerais, depois de Curitiba, se equivaliam em importância: Lapa, São José dos Pinhais, Castro e Tamanduá Diamictito Tombado pelo CEPHA em 1970. Diamictito Diamictito Capela do Tamanduá Balsa Nova

Ponte sobre o Rio dos Papagaios Palmeira. Passagem de D. Pedro II em 1880

Cantaria em diabásio e arenito na Estação Ferroviária de Ponta Grossa. Casa da Memória.

Igreja holandesa em Mauá da Serra. Blocos de arenito recozido. Século XX

Astronomia indígena Blocos de rochas orientados Pavimentação em boa parte do caminho. Contato dos Incas com os Guaranis? Cabeza de Vaca

Desdobramentos O entendimento histórico sobre a sociedade não pode prescindir do conhecimento da geodiversidade; Uma correlação entre o histórico de ocupação territorial e a compartimentação geológica revela um novo ângulo sobre as identidades culturais regionais. A informação geológica sobre as rochas pode constituir por si um patrimônio o patrimônio geológico construído ; A análise da geodiversidade correlacionada com os aspectos da evolução social pode representar um grande ganho para a Geografia moderna. Para a Geologia traz uma nova interface com outras linhas do conhecimento e a coloca no patamar de análise cultural