Justificação do contrato a termo 19-12-2011 O Tribunal da Relação do Porto analisou o motivo justificativo apresentado para a celebração de um contrato a termo certo por seis meses e pronunciou-se relativamente ao direito do trabalhador receber retribuições intercalares se, após o despedimento, estiver de baixa médica devidamente demonstrada. O contrato a termo tem natureza excepcional e apenas pode ser celebrado para a satisfação de necessidades temporárias e pelo tempo estritamente necessário à satisfação dessas necessidades, devendo o empregador justificar sempre o recurso a tal tipo de contrato, sob do contrato se converter em contrato por tempo indeterminado. A justificação, mencionando expressamente os factos que integram o motivo justificativo, terá de constar de documento escrito, devendo enunciar os factos e as circunstâncias concretas que a integram, não sendo consideradas fórmulas genéricas, fórmulas legais contidas no Código do Trabalho, ou expressões vagas ou imprecisas. A falta ou insuficiência de tal justificação não pode ser suprida por outros meios de prova, donde resulta que o contrato se considera celebrado sem termo, ainda que depois se venha a provar que foi celebrado com base numa das situações em que a lei admite a celebração de contratos de trabalho a termo. 1
Se o contrato a termo certo for justificado com a substituição temporária de uma funcionária de baixa médica, o contrato converte-se em contrato sem termo (devido à nulidade da estipulação do termo) por motivação for manifestamente insuficiente, se não indicar qual a trabalhadora que se encontrava de baixa, qual a duração dessa baixa, ou as funções que a mesma desempenhava. Se o trabalhador, após o despedimento, estiver de baixa médica demonstrada, não tem direito a receber as retribuições intercalares uma vez que, por força da ilicitude do despedimento, tudo se passa como se estivesse ao serviço efectivo da entidade patronal (ou seja, estaria a dar faltas justificadas, sem retribuição, ou com o contrato de trabalho suspenso) pelo que nunca poderá, sob pena de enriquecimento ilegítimo, receber simultaneamente o subsídio de doença e as retribuições. O subsídio de doença não é deduzido nas retribuições intercalares, mesmo quando o respectivo pagamento é suportado pelo Estado, uma vez que as deduções previstas no Código do Trabalho são taxativas, e aquelas não estão elencadas. O caso Uma trabalhadora assinou a 3 de Abril de 2006 um contrato de trabalho escrito a termo certo, pelo período de seis meses com uma empresa, para exercer as funções de empregada de balcão auxiliar 2ª. O motivo mencionado no contrato foi a substituição temporária de uma 2
funcionária de baixa médica, mas depois do fim desses seis meses, a trabalhadora manteve-se ao serviço da empresa. Em Novembro de 2009, a mesma trabalhadora ficou incapacitada temporariamente para o trabalho por motivo de doença, tendo apresentado junto da empresa toda a documentação necessária para atestar a sua doença, nomeadamente o Certificado de Incapacidade Temporária por Estado de Doença. Recebeu posteriormente uma carta da empresa a informar que o contrato iria caducar a 20 de Março de 2010, data em que a trabalhadora ainda se encontrava de baixa médica. A empresa não pagou as férias e subsídio de férias referentes ao ano de 2009 e ao ano de 2010. A trabalhadora intentou uma acção judicial contra a entidade patronal pedindo que fosse declarada a ilicitude do despedimento e que esta fosse condenada a pagar-lhe, nomeadamente uma indemnização e as férias e subsídio de férias referentes ao ano de 2009 e os proporcionais destas prestações correspondentes ao ano de 2010. O tribunal decidiu a favor da trabalhadora, mas a empresa recorreu para o Tribunal da Relação do Porto. A decisão do Tribunal da Relação do Porto Este tribunal considerou que a cláusula de motivação do contrato de trabalho a termo celebrado entre a trabalhadora e a empresa que apenas referia a substituição temporária de uma funcionária de baixa médica não é suficiente, pois não contém a menção expressa dos factos que a integram, não indica qual a trabalhadora que se encontra de baixa, qual a duração dessa baixa, nem quais as funções que a mesma desempenhava. 3
Esta omissão justificativa gera a nulidade do termo (prazo) que consta do contrato, e o Tribunal da Relação considera que esta falta não pode ser suprida por outros meios de prova, nomeadamente por testemunhas, convertendo-se o contrato em causa em contrato sem termo. O préaviso enviado pela empresa de caducidade em 2010 não é válido, e resulta num despedimento ilícito, como reconheceu a sentença do tribunal de 1.ª Instância. Às retribuições vencidas da trabalhadora apenas podem ser deduzidas as importâncias que esta aufira com a cessação do contrato e que não receberia se não fosse o despedimento e ao subsídio de desemprego atribuído à trabalhadora no período que decorreu desde o despedimento até ao trânsito em julgado da decisão do tribunal que declare a sua ilicitude, devendo o empregador entregar essa quantia à segurança social. Este tribunal considerou que não resulta com clareza que a Trabalhadora A, após o despedimento, se encontrava de baixa médica. Se esta se encontrasse em baixa médica demonstrada, não teria direito a receber as retribuições intercalares, uma vez que, por força da ilicitude do despedimento, tudo se passaria como se a trabalhadora estivesse ao serviço efectivo da entidade patronal, ou seja estaria com o contrato suspenso ou com faltas justificadas sem direito a retribuição. Nesse caso a trabalhadora apenas receberia o subsídio por doença, sob pena de, recebendo simultaneamente o subsídio e doença e as retribuições, existir um duplo enriquecimento. Em consequência, a empresa foi condenada a pagar à trabalhadora as retribuições vencidas 4
desde a data da cessação do contrato de trabalho até ao trânsito em julgado da decisão, excepto os períodos de baixa médica, em que recebeu o respectivo subsídio de doença, às quais se deduzem as importâncias que auferiu com a cessação do contrato e que não receberia se não fosse o despedimento e o subsídio de desemprego atribuído à trabalhadora no período que decorreu desde o despedimento até ao trânsito em julgado desta decisão, devendo a Empresa B entregar essa quantia à segurança social. Referências Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, processo n.º 398/10.2TTVNF.P1, 14 de Novembro de 2011 Informação da responsabilidade de LexPoint Todos os direitos reservados à LexPoint, Lda 5