(4) António enviou a B, Lda uma carta, onde escreveu:

Transcrição

1 Considere com atenção os factos dados como provados pelo tribunal: (1) António foi admitido por B, Lda para exercer o seu trabalho sob a direcção, poder disciplinar e retribuição desta celebrando contrato de trabalho desde 21 de Setembro de 1999; (2) B, Lda dedica-se ao transporte rodoviário de mercadorias e António exerceu o seu serviço como motorista profissional de transportes internacionais; (3) O referido contrato findou em 30 de Março de 2006, com alegada justa causa na sequência de processo disciplinar que foi regularmente movido por B, Lda; (4) António enviou a B, Lda uma carta, onde escreveu: Sendo inútil qualquer explicação da minha parte, relativamente à nota de culpa recebida na quinta-feira, dia , tendo em conta a própria natureza da acusação, falsa e deturpada, é contra natura argumentar, nem que seja com engenho e arte, a seriedade e a honestidade do assunto em causa: desde o primeiro momento que comecei a trabalhar nesta empresa, expus directamente e sem rodeios aquilo que ainda hoje considero ser um direito essencial que me assiste, por muito que o Sr. Director, ou qualquer um dos seus colaboradores diga o contrário, a saber: o direito ao descanso semanal e ao respeito da minha condição de trabalhador; em oposição encontrei prepotência, arrogância, incompetência e abuso de poder, para além do recurso à calúnia na resolução deste e de outros problemas; é conhecimento de todos os trabalhadores de B, Lda qual a forma inteligente como o Sr. Director actua nestes últimos tempos, recorrendo sem escrúpulos ao 1

2 autoritarismo, às ameaças, aliado a um sentido ridículo de justiça, tão ridículo como o sentimento de vingança que orienta a nota de culpa; é da minha profunda confissão, com base nestas tristes constatações, que a sanção disciplinar, a forma e o modo como vai ser aplicada, já foi decidida, pelo que aguardo, Sr. Director, com muita tranquilidade a notificação, para com muito à vontade também pôr em causa a sua autoridade, em instância competente e vocacionada, esperando, ansioso, o esclarecimento e a resolução do litígio. (5) António à data do despedimento auferia as quantias constantes do recibo:.. (6) A decisão proferida no processo disciplinar foi comunicada a António por carta registada com aviso de recepção com data de 28 de Março de 2006; (7) E o processo disciplinar foi movido, por sua vez, na sequência de outro processo disciplinar instaurado contra António em 6 de Janeiro de 2006, conforme nota de culpa que lhe foi enviada por correio registado urgente SMS em 23 de Fevereiro de 2006, recepcionada em 27 de Fevereiro, (8) António, então arguido, não requereu nem apresentou qualquer diligência probatória e não exerceu o direito de resposta à nota de culpa; (9) Foi apresentado o relatório final e proferida decisão no processo disciplinar: despedimento com justa causa (10) A António, após uma viagem de 15 dias ao estrangeiro e ter regressado a sua casa numa sexta-feira, foi-lhe ordenado sair no Domingo seguinte: estaria fora de casa mais 15 dias pelo menos, tendo ele sugerido 2

3 que fosse outro motorista em seu lugar, que estava disponível, o que não foi aceite por B, Lda; (11) O gerente da B, Lda em reuniões conjuntas com os trabalhadores, quando eram solicitados aumentos de vencimento e outros direitos dizia a António e aos outros motoristas que sabia de leis e códigos e como os interpretar. I Responda, no máximo de 5 a 10 linhas, a 5 das 8 perguntas seguintes: 1) Defina o conceito de justa causa de despedimento e indique a base legal de que deva e tenha partido. 2) Quais as características legais da nota de culpa em processo disciplinar laboral? 3) Comente: a nota de culpa é a peça essencial do procedimento disciplinar, indicando os artigos do CT em que esta opinião pode ter fundamento desenvolvido 4) Terá a nota de culpa de especificar o tempo e lugar dos factos imputados ao trabalhador? 3

4 5) O trabalhador-arguido só indicará testemunhas de contra-prova dos artigos da nota de culpa? Quantas, em todo o caso? 6) O mandato forense cobre também a defesa do arguido na fase da instrução do processo disciplinar laboral? E a nomeação como inquiridor pela entidade empregadora? 7) António obteve sucesso judicial e, em face do vencimento de causa, o reconhecimento do direito a indemnização por antiguidade no montante de 30 dias de retribuição base por cada ano completo ou fracção de antiguidade, até ao trânsito em julgado, acrescida dos juros de mora desde a data da sentença até efectivo pagamento, ou ao pagamento das retribuições que deixou de auferir desde a data do despedimento, com a dedução prevista no artigo 437.º, n.º 4, do CT, e respectivos juros de mora, aqui, desde a data de vencimento de cada uma das prestações devidas até integral pagamento. Convence-o a formulação alternativa da condenação de B, Lda? 8) António teria podido pedir exclusivamente a sua reintegração? II Neste caso concreto, a primeira Instância decidiu pela improcedência do pedido de revogação do despedimento: no processo disciplinar instaurado em 30 de Novembro, António na resposta à nota de culpa enviou a carta (4)- trata-se de uma carta insultuosa e que não tem por fim 4

5 defender-se do processo disciplinar em causa limita-se a tecer comentários nos termos descritos e a afirmar prever já a decisão que será proferida no processo, mas não apresenta qualquer prova do que afirma; António violou o artº 121º/1 CT e com tal comportamento tornou impossível a relação de trabalho. Na verdade, perante os termos e meios utilizados por António e não provando as acusações alegadas (como não provou) apenas se poderia concluir por uma decisão de despedimento com justa causa. Mas o tribunal da Relação revogou a sentença: embora admitindo que, em tese geral, os termos usados por António, nos dois parágrafos críticos da carta, possam ser considerados afrontosos para qualquer empregador, cremos que, no caso concreto, não constituem um insulto criminalmente punível, mas antes a exteriorização do sentimento de impotência dele próprio e dos restantes trabalhadores para vencerem a intransigência interpretativa das leis laborais por parte do director de B. Lda.contrária às normas que regulam os períodos de descanso semanal dos motoristas TIR. Comente, justificando o ponto de vista que deva prevalecer, no máximo de 25 linhas III Se preferir, em alternativa a II, apresente com brevidade, no máximo de 25 linhas, o conceito critério laboral, cunhado na literatura jurídica portuguesa por António Batalha, de alienabilidade no mercado. 5