Desigualdade e política

Documentos relacionados
Why hasn t democracy slowed rising of inequality?

Políticas Públicas.

B.A in Social Sciences, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte Brazil.

Voto e Estratégias de Comunicação Política na América Latina

O clima econômico na América Latina é o pior desde julho de 2009

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS DIA E HORÁRIO: TERÇA-FEIRA, DAS 16 HORAS ÀS 19 HORAS

Desigualdade e exclusão social no romance brasileiro contemporâneo

A América Latina e o ajuste estrutural apóso Consenso de Washington

Democracia, pobreza e políticas sociais nas democracias emergentes: Brasil e África do Sul

JUVENTUDE E ESCOLA (RELAÇÃO JUVENTUDE E ESCOLA)

Civitas Revista de Ciências Sociais

Democracia, Crise e Cobertura Jornalística da Corrupção Política

Bem-estar, desigualdade e pobreza

Panorama Econômico e Político da América Latina -Por que a região vai tão bem

A evolução da desigualdade a partir da análise histórica

DISCIPLINA: Laboratório: Pesquisa em eleições PROFESSOR: Karl Henkel CRÉDITO: 03 CARGA HORÁRIA: 45h HORÁRIO: 9 13 h SEMESTRE LETIVO: II/2008

Capacidades tecnológicas na ação pública: uma abordagem situacional

Indicadores sócio-educacionais Compilado por Profa. Dra. Gladys Beatriz Barreyro (atualizado em 2011)

Política Fiscal e Desigualdade na Distribuição de Renda

O Indicador de Clima Econômico (ICE) da América Latina recua em julho

ESTRUTURA CURRICULAR

A INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NOS CURRÍCULOS PRESCRITOS E NOS CURRÍCULOS PRATICADOS: UM ESTUDO COMPARADO ENTRE BRASIL E URUGUAI.

Estado e políticas sociais na América Latina. Aula 10 Regimes de Bem-Estar na América Latina. Prof.: Rodrigo Cantu

COMO O SALÁRIO MÍNIMO E O BOLSA FAMÍLIA CONTRIBUÍRAM PARA REDUZIR A POBREZA E A DESIGUALDADE NO BRASIL? Ana Luiza Pessanha

PERSISTÊNCIA DO PODER POLÍTICO E SEUS EFEITOS SOBRE AS INSTITUIÇÕES E O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: EVIDÊNCIAS PARA OS MUNICÍPIOS BRASILEIROS

OS EFEITOS TRABALHADOR ADICIONAL E DESENCORAJADO: UMA ANÁLISE PARA AS REGIÕES METROPOLITANAS DO BRASIL

Principais trabalhos de Bresser-Pereira sobre taxa de câmbio e crescimento

American cities, global networks: mapping the multiple geographies of globalization in the Americas

João Saboia Instituto de Economia UFRJ

Doutoramentos ENSINO PÚBLICO. 1 - Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. *Doutoramento em Ciência Política

RESENHA. BURGOS, Marcelo Baumann; PAIVA, Ângela Randolpho (Orgs.). A Escola e a Favela. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio: Ed. Pallas, 2009.

PLANO DE ENSINO 1. IDENTIFICAÇÃO: SEMESTRE/ANO: 1º semestre/2018. DISCIPLINA: Tópicos Especiais - Comunicação e Democracia

BROOKE, N. SOARES, J. F. (org). Pesquisa em eficácia escolar: origens e trajetórias. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2008.

governo, controles públicos e transparência

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA

Gastos com saúde das famílias brasileiras residentes em áreas rurais e urbanas: estudo das Pesquisas de Orçamentos Familiares e

Plano de Ensino. Identificação. Câmpus de Bauru. Curso 2401N - Relações Públicas. Ênfase. Disciplina RP00030A - Política Brasileira Contemporânea

POBREZA: DA INSUFICIÊNCIA DE RENDA À PRIVAÇÃO

Apresentação. Elisa P. Reis* Graziella Moraes Silva** Flavio Carvalhaes***

The Political Economy of the Kuznets Curve

O indicador do clima econômico melhora na América Latina, mas piora no Brasil

Oescore referente à média de liberdade

Estado e políticas sociais na América Latina. Aula 11 Reformas na política social latino-americana. Prof.: Rodrigo Cantu

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E TECNOLOGIAS CAMPUS XIX CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS

Clima Econômico melhora na América Latina, mas continua desfavorável Maiores avanços em relação a janeiro ocorrem no Brasil e no México

The Price of Inequality

Prospecção de conhecimento no setor público. Lúcia Melo Presidente

BAQUERO, Marcello. Democracia e desigualdades na América Latina: novas perspectivas. Porto Alegre: Editora da UFRGS, p.

Imprensa e política externa no governo Cardoso ( )

Trabalho, riqueza e vulnerabilidade externa

Prof. Rodolfo Visentin 1

AÇÕES AFIRMATIVAS NO BRASIL, ESTADOS UNIDOS, ÁFRICA DO SUL E FRANÇA: DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS EM PROL DA DIVERSIDADE

1. EMENTA 2. OBJETIVO

1. Introdução. 1.1 Escolas Eficazes

DISCIPLINAS E EMENTAS

Subsídios Estratégicos à uma Agenda de Cooperação Científica na América Latina

Oautor é doutor em Sociologia da Educação (Sorbonne), DEA em

PERSISTÊNCIA DO PODER POLÍTICO E SEUS EFEITOS SOBRE AS INSTITUIÇÕES E O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: EVIDÊNCIAS PARA OS MUNICÍPIOS BRASILEIROS

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

Audiência Pública Equidade Fiscal no Sistema Tributário Nacional

10 ICUH 2011 Belo Horizonte Termo de Parceria UFMG - FIOCRUZ Observatório de Saúde Urbana Fiocruz Em construção...

DEZEMBRO DE 2013 BOLETIM DE PUBLICAÇÕES DO CENTRO DE ESTUDOS DA METRÓPOLE nº8

BURGOS, Marcelo Baumann; PAIVA, Angela Randolpho (Orgs.). (2009), A Escola e a. Resenha A Escola e a Favela

SONDAGEM ECONÔMICA DA AMÉRICA LATINA. Fevereiro, 2016

RELAÇÕES ENTRE ÍNDICES DE CRIMINALIDADE E INDICADORES SOCIOECONÔMICOS NAS REGIÕES ADMINISTRATIVAS DO DISTRITO FEDERAL

Segui buscando en la Red de Bibliotecas Virtuales de CLACSO

CBIC DA CONSTRUÇÃO. O nível de atividade produtiva do Setor da Construção Civil é o mais baixo já registrado 27,6 29,4

O PODER DA IGUALDADE: COMO O AVANÇO DA IGUALDADE DAS MULHERES PODE ACRESCENTAR US$12 TRILHÕES AO CRESCIMENTO GLOBAL

POR QUE FICAMOS PARA TRÁS?

Letras Língua Inglesa

Eleições, política externa e integração regional (2006)

III Encontro Internacional Participação, Democracia e Políticas Públicas !!!!! ST 01 - Os sentidos da democracia: tensões entre prática e teoria

CONDIÇÕES DE VIDA DOS REFUGIADOS SÍRIOS EM SÃO PAULO

Sondagem Industrial do RN: Indústrias Extrativas e de Transformação Ano 22, Número 6, junho de 2019

Padrões de Interação Universidade-Empresa no Brasil

Naladi/SH 96 ARGENTINA BOLÍVIA BRASIL CHILE COLÔMBIA CUBA EQUADOR MÉXICO PARAGUAI PERU URUGUAI VENEZUELA E E E E E E E

Indicador de Confiança Empresários Belo Horizonte

Sondagem Indústria da Construção em Sergipe. Nível de Utilização da Capacidade de Operação permanece alto

Letras língua Espanhola

Indicador de Clima Econômico (ICE) da América Latina avança e se aproxima da zona de avaliação favorável

Clima econômico da América Latina melhora em abril, mas permanece desfavorável

Tendo em vista essa informação e considerando as questões comerciais da chamada globalização, pode ser dito que:

Letras Língua Inglesa

REVISTA DE POLÍTICAS PÚBLICAS E SEGURANÇA SOCIAL

Latin American inequality: Colonial origins, Commodity bo. Commodity booms, or a missed 20th century leveling? Janielly Amorim. 23 de Março de 2015

Letras Língua Inglesa

Mini curso: modelos de causalidade lógica e Marco Lógico

Diagnóstico da Evolução dos Indicadores Sociais em Curitiba

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Agenda de combate à pobreza no Brasil e seu efeito sobre as políticas públicas de educação. Roberta Sousa

FATORES DETERMINANTES DA DESIGUALDADE DE RENDA NO

GEOGRAFIA. Professor Vinícius Moraes MÓDULO 12

Sociologia da Pobreza

Letras Língua Inglesa

Programa 25/4/2013 a 24/6/ /6/2013 a 26/7/ /7/2013 a 30/11/2014

O fortalecimento da democracia na América Latina em tempos de crise dos sistemas representativos

1ª Unidade: O pensamento desenvolvimentista e a agenda do desenvolvimento na América Latina

Diminui distância entre mínimo e renda média

CAPITAL HUMANO E DESENVOLVIMENTO

CAPITAL HUMANO E DESENVOLVIMENTO

Transcrição:

i Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Desigualdade, Universidade Federal do Rio de Janeiro (NIED/UFRJ), Brasil matiaslopez.uy@gmail.com Matias López I Desigualdade e política The great gap: inequality and the politics of redistribution in Latin America. (2011). Merike Blofield (org.). University Park: The Pennsylvania University Press, 416 p. riscos políticos da desigualdade (Sorj & Merttuccelli, 2008), outros apontam para novas dinâmicas da desigualdade, que demandam por aperfeiçoamentos conceituais e metodológicos (ver, por exemplo, os trabalhos de Silva & Reis, 2012a, 2012b). Embora seja acertado apontar para a permanência de entraves a tempo diagnosticados, é igualmente relevante incorporar as mudanças ocorridas nos padrões de comportamento político das massas (novas demandas por distribuição), na composição das elites políticas (um notado giro para a esquerda) e na ação do Estado (o avanço de políticas de distribuição e o reavivamento do estatismo). O livro The great gap: inequality and the politics of redistribution in Latin America, organizado pela cientista política Merike Blofield atende a essas quessociologia&antropologia rio de janeiro, v.04.01: 279 283, junho, 2014 A América Latina é frequentemente apontada como a região mais desigual do mundo, segundo índices como Gini e Theil (ver CEPAL, 2012). Mais do que isso, os grandes conflitos políticos e a violência que também caracterizam a região costumam ser mais atribuídos a clivagens socioeconômicas do que a choques culturais ou étnicos (López, 2013). Esse conjunto de fatores, somado à instabilidade política, fizeram com que a América Latina servisse como ilustração quase perfeita de teorias como o argumento Lipset, que apontava para uma forte relação entre desigualdade e desenvolvimento político. Segundo Lipset (1960), a alta desigualdade impossibilitaria o desenvolvimento de democracias plenas. Enquanto alguns sociólogos contemporâneos voltaram a enfatizar os

280 sociologia&antropologia rio de janeiro, v.04.01: 279 283, junho, 2014 tões de modo ambicioso e, em minha avaliação, bastante acertado. The great gap fornece ao mesmo tempo um argumento de pesquisa inovador e uma série de achados empíricos relevantes para o estudo da relação entre política e desigualdade na América Latina. Ao longo do livro os autores apresentam alguns dos principais quebra- -cabeças na relação entre desigualdade e política na região. O livro se divide em quatro partes: o cotexto socioeconômico, cultura da elite, framing e opinião pública, agenda setting e a política da desigualdade, a questão tributária e a política social. No total são onze capítulos, apresentando estudos comparativos e estudos de caso, com metodologias diferentes, que vão do tratamento estatístico à análise de conteúdo. Mas o saldo do conjunto de estudos pode ser reduzido a duas propostas de causalidade: a) os efeitos da política na desigualdade (Filgueira, Hughes & Prado; Filgueira et al.; Mahon Jr.; Franzoni & Voored). b) os efeitos da desigualdade na política (Blofield; Reis; Blofield & Luna; Campello; Sakurai; Blofield & Haas). Em meu entendimento, o segundo ponto é o de maior impacto para a sociologia política contemporânea. Ao encarar a desigualdade como causa de fenômenos políticos, e não só como consequência deles, o volume oferece novas perspectivas para entender os mecanismos que circunscrevem esse fenômeno social. A primeira parte do livro reitera um diagnóstico antigo: a desigualdade latino-americana se relaciona com o caminho percorrido pelo Estado na região. Isto é, a desigualdade é também um fenômeno político. Por outro lado, qualifica-se a desigualdade latino-americana ao apontar para a centralidade da desigualdade de oportunidades como instância que combina desigualdades econômicas (de classe) e culturais (de raça). Filgueira aborda o estado de bem- -estar latino-americano em perspectiva comparada e propõe que pensemos uma via de desenvolvimento típica da região. O autor argumenta que certos tipos de desigualdade podem ser mais funcionais do que outros. Segundo Filgueira, a América Latina está repleta de más desigualdades. Por exemplo, os Estados na região ainda enfrentam grandes dificuldades em lidar com a reprodução das famílias mais pobres, ao mesmo tempo em que dedicam cada vez mais recursos para uma população crescente de idosos. Crespo & Ferreira demonstram que uma parcela considerável da desigualdade socioeconômica é explicada por outras desigualdades sobre as quais os indivíduos têm pouca ou nenhuma influência: o acesso à educação, a educação dos pais, a região de nascimento e a identidade racial. Essa desigualdade de oportunidades é especialmente forte no Brasil. A segunda parte explora o efeito da desigualdade no comportamento das elites e dos meios de comunicação, dois mundos altamente conectados. Baseada em dados de survey e em entrevistas qualitativas, Reis aponta que a elite brasileira parece ter admitido a possibilidade de manter um

resenha matias lópez 281 regime democrático em um contexto de desigualdade elevada, contrariando temores característicos do período de redemocratização. Hughes & Prado abordam o modo como os meios de comunicação apresentam problemas nacionais. Os autores argumentam que o enquadramento da desigualdade tem efeitos sobre a reprodução da mesma. Ambos os trabalhos exploram a relação entre desigualdade e valores políticos entre as elites. O capítulo que fecha essa segunda parte é assinado por Blofield & Luna e também explora a relação entre valores políticos e desigualdade, desta vez no nível da população, usando dados do World Values Survey (WVS). 1 Os autores demonstram uma relação contraintuitiva entre desigualdade e valores: países mais desiguais tendem a valorizar mais a desigualdade, apontando para a necessidade de disparidades para o incentivo individual. Esse efeito da desigualdade fortalece o conceito de distância social apresentado pela autora nesta e em outra publicação (ver Blofield, 2011). Segundo Blofield, um dos efeitos da distância social é a percepção equivocada em relação às necessidades dos pobres. Os resultados ganham mais peso se contrastados com outros estudos (por exemplo, Scalon, 2004) que demostram que as populações de países mais desiguais valorizam a desigualdade, embora isso pareça paradoxal. Contudo, não está claro o sentido da causalidade, podendo existir duas relações não excludentes: desigualdade causando valores e valores causando desigualdade. A parte 3 está mais voltada para a política social e econômica. Campelo mostra os efeitos econômicos da virada para a esquerda em casos com diferentes níveis de estabilidade democrática. A autora relaciona a expectativa gerada nas campanhas vitoriosas das coalizões de esquerda com os resultados, nem sempre ideologicamente coerentes, dos governos encabeçados por essas coalizões. Já Bugarian et al. mostram uma tendência de maiores gastos nas campanhas eleitorais de democracias mais desiguais. O Brasil é apontado como caso típico para ilustrar esse custo da desigualdade. Filgueira et al. fazem um retrospecto do desenvolvimento da região, argumentando que em paralelo ao avanço político (a democratização) houve uma crise de incorporação ao mercado, consequência do fracasso de políticas liberalizantes. Os autores argumentam que a virada para a esquerda é uma reação a essa crise. Finalizando a seção, Blofied faz um retrospecto da desigualdade de gênero na América Latina, apontando para pontos de desigualdade política e no trabalho, usando o caso das empregadas domésticas. A parte 4 aborda a questão fiscal. Mahon Jr. argumenta que a América Latina impõe mais impostos indiretos em comparação com outras regiões, onerando o consumo e dificultando a distribuição. Franzoni & Voorend fazem uma análise intracaso em países com os perfis estatista e liberal, mostrando os efeitos das escolhas e das coalizões políticas no padrão de distribuição. Uma vez mais a desigualda-

282 de latino-americana é apresentada como resultado de escolhas políticas. Por fim, a conclusão de Blofield ressalta alguns diagnósticos apresentados pelo livro sobre as causas e os efeitos da desigualdade na América Latina. A organizadora aponta para a vantagem de políticas social-democratas (como as do Brasil, Chile e Uruguai) frente a políticas populistas baseadas em conjunturas econômicas de curta duração (como as do Equador e da Venezuela). Esse diagnóstico problematiza a ideia de uma virada para a esquerda, já que os casos bem-sucedidos são caracterizados por uma série de continuidades, principalmente na política econômica. Os casos malsucedidos se encaixam melhor na ideia de circulação de elites, implícita na noção de virada para a esquerda. Portanto, podemos dizer que as continuidades têm também um papel importante na explicação da atual conjuntura. Além disso, há uma importante ausência no livro: a recente queda da desigualdade no continente (ver Birdsall et al., 2012). Se a desigualdade é o efeito e a causa de fenômenos políticos, qual é o efeito político esperado para a redução da desigualdade? Enquanto os economistas ainda debatem as causas dessa queda, sociólogos e cientistas políticos parecem não tê-la incluído no quebra-cabeça da desigualdade latino-americana. Para além desse ponto, em seu conjunto The great gap apresenta bons argumentos teóricos e fortes dados empíricos. Trata-se de uma contribuição única para os pesquisadores que estudam a relação entre desigualdade e política na América Latina. sociologia&antropologia rio de janeiro, v.04.01: 279 283, junho, 2014 Recebida em 07/03/2013 Aprovada em 06/06/2013 Matias López é mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e participa atualmente de um estudo que compara percepções das elites sobre desigualdade no Brasil, no Uruguai e na África do Sul, no âmbito do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Desigualdade (NIED-UFRJ). Trabalhos de sua autoria podem ser vistos em edições recentes de International Sociology, Sociopedia.isa e no livro Political inequality in the age of democracy: crossnational perspectives, organizado por Joshua Dubrow, com lançamento previsto para 2014. Seus interesses se concentram nas áreas de sociologia política, política comparada e metodologia de pesquisa.

resenha matias lópez 283 NOTAS 1 A World Values Survey é uma pesquisa de valores aplicada em mais de oitenta países e tem sido explorada para a análise da influência de padrões de cultura política no desenvolvimento político e social e vice-versa. Microdados e análises estão disponíveis em <http://www.worldvaluessurvey.org/>. ReferÊncias BIBLIOGRÁFICAS Blofield, Merike. (2011). Desigualdad y política en América Latina. Journal of Democracy en Español, 3, p. 58-74. Birdsall, Nancy; Lustig, Nora & McLeod, Darryl. (2012). Declining inequality in Latin America: Some economics, some politics. In: Kingstone, Peter & Yashar, Deborah (orgs.). Routledge handbook of Latin American politics. Nova York: Routledge, p. 158-180. CEPAL. (2012). Social panorama of Latin America. Santiago: UN-ECLAC. Lipset, Seymour M. (1960). Political man: The social bases of politics. Baltimore: Johns Hopkins University Press. López, Matias. (2013). The state of poverty: elite perceptions of the poor in Brazil and Uruguay. International Sociology, 28/3, p. 351-370. Scalon, Celi. (2004). Imagens da desigualdade. Belo Horizonte: Ed. UFMG. Silva, Graziela M. D. & Reis, Elisa. (2012a). The multiple dimensions of racial mixture in Rio de Janeiro, Brazil: From whitening to Brazilian negritude. Ethnic and Racial Studies, 35/3, p. 382-399. Silva, Graziela M. D. & Reis, Elisa. (2012b). Is Cuba becoming more Latin American? In: Dominguez, Jorge I. et al. (orgs.) Cuban economic and social development: Policy reforms and challenges in the 21st century. Cambridge: Harvard University Press, p. 321-326. Sorj, Bernardo & Martuccelli, Danilo. (2008). The Latin American challenge: social cohesion and democracy. São Paulo: Instituto Fernando Henrique Cardoso/The Edelstein Center for Social Research.