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Transcrição:

Maria Lucia A. Moura Campos Daniela Gonçalves de Abreu Este documento tem nível de compartilhamento de acordo com a licença 3.0 do Creative Commons. http://creativecommons.org.br http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/br/legalcode

Para refletir 1: - Só a água salgada tem sais? - Se toda água da Terra fosse equivalente a um galão de água de 20 L, qual seria o volume de água doce na forma disponível para ser tratada e destinada ao consumo humano? 1. O compartimento Assim como a ciência foi dividida nas áreas biológicas, humanas e de exatas - para facilitar seu estudo - o planeta foi divido em compartimentos, a saber: (toda água presente na Terra), Atmosfera (ar), Litosfera (solos, rochas, sedimentos no fundo dos rios, lagos e oceanos) e Biosfera (o conjunto dos seres vivos) - Figura 1. Apesar da divisão, todos os compartimentos são interligados havendo um grande fluxo de energia e matéria entre eles, formando assim o ecossistema chamado Terra. Figura 1: Compartimentos que compõe o ecossistema Terra.. 1.

Dentro do compartimento, a água pode estar na forma líquida, de vapor e de gelo. A água é considerada salgada quando tem mais de 30 g de sais por litro e é considerada doce quando tem menos de 0,5 g de sais por litro. O termo água salobra é utilizado no caso de a quantidade de sais estar no intervalo entre os dois casos. Assim, o termo água doce refere-se à água contendo pequenas quantidades de sais, pois na natureza, até a mais pura das águas tem sais dissolvidos naturalmente. Os 2- íons mais comuns são: carbonato (CO 3 ), bicarbonato (HCO 3- ), cloreto (Cl - 2- ), sulfato (SO 4 ), nitrato (NO 3- ), fluoreto (Cl - ), sódio (Na + ), cálcio (Ca 2+ ), potássio (K + ), magnésio (Mg 2+ ) e bário (Ba 2+ ). As águas chamadas minerais têm cerca de 0,1 g (100 mg) de sais por litro. Esses sais têm origem na lenta dissolução das rochas que compõe a crosta terrestre (retomaremos este assunto mais adiante). Atividade: Você pode conferir as diferentes concentrações de sais nas diferentes marcas de água mineral. Note quais os íons que estão em maiores concentrações. Se toda água do planeta fosse equivalente àquela contida em 1 galão de 20 L, então teríamos aproximadamente 19,45 L de água salgada (mais de 97 %) e apenas uma jarra de 550 ml de água doce (menos de 3 % - Figura 2). Ainda assim, nessa jarra, teríamos 400 ml de água na forma de gelo e apenas 150 ml (menos de 1 % do total) na forma de água disponível para o consumo humano. Veja na Tabela 1 como é distribuída a água do planeta. Note que a água doce é distribuída em rios e lagos (águas de superfície), em aquíferos subterrâneos, na atmosfera (na forma de vapor), no solo e no corpo dos seres vivos (biota). Observe também como a água subterrânea é importante como reservatório de água doce (0,68 %).. 2.

Figura 2: Ilustração comparando a distribuição de água no planeta com um galão de 20 L. Tabela 1: Distribuição da água na Terra em seus diferentes reservatórios Reservatório Volume (10 6 km 3 ) Percentagem do total Oceanos 1370 97,25 Geleiras e calotas polares 29 2,05 Águas subterrâneas profundas (750 5,3 0,38 4000m) Águas subterrâneas 4,2 0,30 (> 750 m) Lagos 0,125 0,01 Umidade no solo 0,065 0,005 Atmosfera 0,013 0,001 Rios 0,0017 0,0001 Biota 0,0006 0,00004 Total 1408,7 100. 3.

Para refletir 2: - Será que a água do planeta pode acabar? - Será que pode ocorrer alguma alteração no ciclo da água se a Amazônia for derrubada? 2. O ciclo da água Vemos com frequência notícias nos meios de comunicação sobre secas avassaladoras em algumas regiões do Brasil e cheias em outras. No ano de 2005, Manaus teve uma de suas maiores secas, enquanto em 2009 sofreu inundações históricas. O sol, grande fonte de energia (equivalente ao motor da Terra), propicia a evaporação da água em toda superfície da Terra, levando à formação de nuvens, ao transporte e retorno da água para a superfície terrestre. A este contínuo movimento da água entre os diferentes reservatórios dá-se o nome de ciclo da água (Figura 3). Parte da chuva percola (infiltra) no solo atingindo os lençóis subterrâneos, que lentamente escoa até as chamadas áreas de descarga - rios, lagos ou oceanos. Note na Figura 3 a representação do fluxo de água do aquífero para o oceano. Se a descarga do aquífero for na superfície do solo, pode-se ter uma nascente. Outra parte da água da chuva fica retida nos solos e plantas, havendo também escoamento pela superfície, isto é, por rios e lagos. Observe pelo sentido da flecha que há um importante transporte de vapor d água dos oceanos para o continente.. 4.

Figura 3: O ciclo da água. A água nunca vai acabar, pois seu volume no planeta não se altera, mas sua forma física (líquida, sólida ou vapor) e sua distribuição pode variar muito de acordo com as mudanças de temperaturas regionais e globais. É a distribuição de calor na Terra que determina onde haverá maior evaporação de água (lugares mais quentes) e onde haverá condensação e chuva. No ano de 2005, houve um aquecimento anormal das águas do Atlântico na região do Caribe, levando a uma importante alteração no ciclo da água. Esse fenômeno provocou a escassez de chuva na Amazônia e causou a formação de um grande furacão chamado Katrina, que devastou a cidade de Nova Orleans nos Estados Unidos. Se a vegetação da Amazônia for destruída, a quantidade de chuva na região será menor (não haverá vegetação para reter a umidade). A Amazônia, então, ficará mais quente e poderá chegar ao ponto de apenas manter árvores de pequeno porte e dispersas, como ocorre no cerrado brasileiro (região do Pantanal). A este processo se dá o nome de savanização da Amazônia, isto é, a transformação de uma floresta tropical úmida em savana (ou cerrado). Se o clima global for drasticamente alterado - devido às emissões de gases do efeito estufa - o regime de chuva também mudará, ou seja, regiões úmidas podem ser desertificadas e desertos podem se. 5.

tornar mais úmidos. Além da alteração na distribuição da água, um fator muito preocupante é que a água de qualidade pode ser um bem escasso e de alto custo. Para refletir 3: - Qual é a atividade econômica que mais utiliza água no Brasil? - Você sabe de onde vem a água que chega na sua casa? 3. Distribuição e uso da água no Brasil No Brasil, somos privilegiados pela abundância de água doce, pois temos 12% de toda água do planeta. Porém, 80% de toda água superficial do Brasil (lagos e rios) estão na região norte do país, justamente onde temos apenas 5% da população. Isso significa que o restante da população tem de ser abastecida com os demais 20% de água. Cerca de 70% do consumo de água no Brasil se dá pelas práticas de irrigação na agricultura, cerca de 22% pela indústria e 8% pelo consumo humano direto. Quando se fala no aumento da produção de alimentos para sustentar o aumento da população, muitas vezes olhamos apenas sob a perspectiva da disponibilidade de áreas agriculturáveis. Entretanto, é importante lembrar que a disponibilidade hídrica é decisiva para viabilizar o aumento de produção de alimento. O desperdício de água também é um grave problema a ser solucionado. Há desperdícios: na agricultura, que utiliza práticas de irrigação obsoletas; na indústria, que não reutiliza a água com eficiência; e na própria população. Além disso, há grande perda de água - devido a vazamentos - durante seu transporte da estação de tratamento até as residências. No Brasil há um grande número de cidades com 50% de perda, isto é, a cada 100 L de água tratada que é distribuída, perde-se 50 L por vazamentos nos canos e por fraudes (falhas nos hidrômetros, ligações clandestinas etc). Apesar de ser difícil encontrar e consertar vazamentos, cabe aos dirigentes do município minimizar tais perdas. Porém, podemos fazer a nossa parte economizando água em casa. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cada indivíduo precisa de 150 L diários de água para viver bem. A quantidade mínima seria de 50 L. Em muitos países africanos, o volume de água disponível por habitante chega a ser bem menor.. 6.

Atividade: Procure saber se a água que abastece sua cidade é de rio ou subterrânea, ou de ambas as fontes. Procure também saber qual a percentagem de perda na sua cidade. Calcule quanto cada pessoa consome de água por dia na sua casa. É só pegar a conta de água e ver o volume total gasto naquele mês. Divida pelo número de dias e depois divida novamente pelo número de moradores. Compare com o volume recomendado pela OMS. Para refletir 4: - Toda água de poço é potável? - Como as águas de um aquífero poderiam ser contaminadas? - Já ouviu falar do Aquífero Guarani? 4. O Aquífero Guarani A infiltração da água de chuva em direção ao subsolo ocorre muito lentamente passando pela zona insaturada. Note no círculo "A e B" da Figura 4 como há espaços vazios entre as partículas de solo na zona insaturada. Depois, a água atinge a zona saturada, onde os poros são totalmente preenchidos (círculo "C"), possibilitando a extração da água. Vemos também, na Figura 4, que a zona saturada não se trata de um rio subterrâneo livre e sim um solo arenoso com os poros repletos de água. Há também aquíferos formados pela fratura de rochas no subsolo ou pela dissolução de rochas calcárias como em cavernas. Para que a percolação (ou infiltração) seja eficiente é importante que haja vegetação, pois suas raízes abrem caminho para a penetração da água. Os rios e lagos também abastecem os reservatórios subterrâneos através dos seus leitos e margens, auxiliados pela chamada mata ciliar (vegetação próxima das margens dos corpos d água). A retirada dessa vegetação, além de diminuir a infiltração de água no subsolo, leva a um maior arraste de partículas de solo para o interior do rio, diminuindo sua profundidade de forma relativamente rápida. Esse processo, que é chamado de assoriamento, pode até secar um rio de tanto solo que é carreado para seu leito. Assim, quando nos deparamos com notícias sobre desmoronamento de encostas de morros que foram desmatados, fica evidente a importância de manter a vegetação para segurar o solo.. 7.

Figura 4: Perfil do solo demonstrando a zona não saturada (ou insaturada) e a zona saturada, onde se tem o lençol freático. O Aquífero Guarani (Figura 5) é um importante reservatório de água subterrânea para o Brasil, abrangendo também parte de outros 3 países: Uruguai, Paraguai e Argentina. Ele contém 45 mil km 3 de água em 1 200 000 km 2, sendo que o Brasil conta com 70 % dessa área distribuída em 8 estados. A quantidade exata de água que pode ser explorada ainda não é conhecida, porém, estudos recentes mostram que pode ser de apenas 2%. Isso porque grande parte das águas está em profundidades muito grandes e de difícil acesso (confinadas sob rochas), ou devido à presença de grandes quantidades de sais naturais. A quantidade de sais nas águas subterrâneas depende da composição do solo e das rochas do seu entorno, assim como do tempo que a água permanece percorrendo o subsolo. É muito comum encontrar águas com excesso de fluoreto, bicarbonatos de sódio e de cálcio, ferro, entre outros, pois quanto maior a distância percorrida no subsolo, mais íons a água vai adquirindo devido à lenta dissolução das rochas (chamado de intemperismo). A dissolução de rochas seria um tipo de contaminação natural que impede a utilização da água para beber.. 8.

Figura 5: Mapa da América do Sul com destaque, em azul escuro, do Aquífero Guarani. Cerca de 70% dos municípios do estado de São Paulo são totalmente ou parcialmente abastecidos por águas subterrâneas, sendo que a maioria dessas cidades está localizada no nordeste do estado, onde a água se encontra mais próxima da superfície (áreas de recarga ou afloramento). A expansão mal planejada de áreas urbanas em regiões de recarga de aquíferos torna o solo impermeável devido às construções e ao asfaltamento, diminuindo assim a capacidade de reposição da água, o que leva a uma extração insustentável, isto é, a quantidade de água retirada é maior do que a reposição feita pela infiltração. A cidade de Ribeirão Preto no interior de São Paulo (~550 mil habitantes), que é totalmente abastecida pelo Aquífero, tem poços cujos níveis abaixaram em 60 m nos últimos 30 anos, devido à superexploração da água. Há evidências de que a cidade extrai hoje 2 vezes mais água do que a capacidade de reposição feita pela chuva.. 9.

Além da contaminação natural, existe também o problema da contaminação antrópica de aquíferos, ou seja, quando estes se encontram muito próximos à superfície. A presença de aterros sanitários mal instalados (ou depósitos - lixões) pode ser uma ameaça, pois - à medida que o lixo se decompõe - é produzido um líquido (chorume) que pode escoar para o interior dos lençóis de água subterrâneos, caso esse líquido não seja adequadamente coletado. O uso excessivo de pesticidas na agricultura também pode contaminar o aquífero, pois o pesticida se infiltra na camada de solo e atinge o aquífero. Ainda na agricultura, outra forma de contaminação a ser exemplificada é a do uso de fertilizantes nitrogenados (com nitrogênio), que levam à formação de grandes quantidades de íons nitrato, que por sua vez podem levar a graves enfermidades. Outro importante meio de contaminação é a perfuração inadequada de poços (ou quando eles são abandonados), permitindo a direta contaminação da água com fertilizantes que são carregados pela água de chuva para o interior do poço aberto. Além dessas contaminações, em áreas urbanas, as causas mais frequentes de contaminação dos aquíferos são os vazamentos de tanques em postos de gasolina e as atividades industriais. Para refletir 5: - O que pode alterar o equilíbrio natural de um corpo d'água? - Você sabe o que todo lago quer ser quando crescer? 5. Eutrofização Vamos primeiramente nos recordar das reações de fotossíntese e respiração. De forma muito simplificada (sem mostrar as fórmulas dos nutrientes) podemos escrever a reação de fotossíntese como: CO 2 + H 2 O + nutrientes + luz {CH 2 O} n + O 2 (equação 1) Onde {CH 2 O} n representa a matéria orgânica vegetal. A fórmula C 106 H 263 O 110 N 16 P muitas vezes é utilizada para representar o tecido orgânico vegetal de pequenas algas. Por meio da equação 1 vemos que o gás carbônico na atmosfera pode ser transformado (fixado) em tecido vegetal, havendo liberação de oxigênio. Por esse motivo dizemos que as árvores limpam a atmosfera, certo?. 10.

No caso da respiração ou da decomposição (degradação da matéria orgânica morta), temos o processo inverso (equação 2), isto é, há um consumo de oxigênio para se ter a oxidação do material orgânico para o gás carbônico, liberando energia: {CH 2 O} n + O 2 CO 2 + H 2 O + nutrientes + energia (equação 2) No nosso caso, obtemos energia por meio dos alimentos que comemos, pois estes são digeridos e queimados durante nosso processo de respiração, produzindo o gás carbônico. Se pararmos de comer, morremos porque não repomos o carbono orgânico gasto na respiração. 3- Em um lago, há entrada de nutrientes como nitrato (NO 3- ) e fosfato (PO 4 ) pelo processo de arraste de sais que estão presentes naturalmente no solo (processo chamado de lixiviação reveja a Figura 4). As algas que estão nas águas superficiais (na zona que tem luz, ou zona fótica), fazem fotossíntese, crescem, reproduzem-se. Nesse processo de fotossíntese, grande parte do oxigênio produzido fica dissolvido na água. As algas servem de alimentos para pequenos animais, dando início a toda cadeia alimentar. As algas respiram, os animais respiram e os organismos mortos são decompostos. Esses processos consomem parte do oxigênio que se encontra dissolvido na água (equação 2). Num corpo d água saudável, há um equilíbrio ideal entre a produção de oxigênio pela fotossíntese e seu consumo pela respiração e decomposição. Os corpos d água denominados oligotróficos (oligo = mal; trófico = alimento) são pobres em nutrientes (alimento). Eles possuem águas límpidas devido à baixa quantidade de algas e, consequentemente, têm baixa taxa de fotossíntese. A concentração de matéria orgânica é baixa, o que leva a uma boa oxigenação de toda coluna d'água, pois há baixa decomposição. Esses tipos de ecossistemas são excelentes para extração de água usada no abastecimento, porém, estão se tornando cada vez mais raros. Muitos dos organismos mortos não são totalmente redissolvidos e pequenas partes desse material vai sendo depositado no fundo do lago, formando o sedimento (rico em material orgânico). A este processo dá-se o nome de eutrofização natural. Com o passar de milhares e milhões de anos, o lago vai ficando cada vez menos profundo devido ao depósito de material sólido no fundo, até se transformar num pântano e finalmente em terra firme (Figura 6). Agora dá para saber o que um lago quer ser quando crescer?. 11.

O homem pode acelerar o processo de eutrofização introduzindo um excesso de material orgânico e nutrientes num corpo d água, levando à chamada eutrofização antrópica. O termo "eu" significa bem em grego. Sendo assim, os ecossistemas aquáticos denominados eutróficos são aqueles enriquecidos com nutrientes, isto é, "bem alimentados". Figura 6: Ilustração do processo de eutrofização de um lago até sua completa extinção. Você saberia dizer qual tipo de efluente tem muita matéria orgânica? Certamente, o esgoto doméstico tem grandes quantidades de matéria orgânica e nutrientes, como nitrato e fosfato, além de ter grandes quantidades de organismos patológicos que causam doenças. No Brasil, 58% das cidades não têm rede coletora de esgoto e apenas 14% tem o esgoto coletado e tratado (IBGE- senso do ano 2000; http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/ condicaodevida/pnsb/esgotamento_sanitario/defaultesgotamento.shtm). A introdução de grandes quantidades de matéria orgânica e nutrientes pelo esgoto em um corpo d água leva a uma rápida proliferação de algas (muita comida, muita alga!). Inicialmente, isso poderia parecer interessante devido à grande produção de oxigênio pela fotossíntese e à grande quantidade de alimento produzido para os animais. Porém, o excesso de algas em um corpo d água só permite que a luz penetre na coluna d'água por poucos centímetros, levando à morte de toda população de algas que se encontra logo abaixo, na zona sem luz (afótica). Todo esse material morto será decomposto pelas bactérias aeróbias (que usam oxigênio), consumindo oxigênio. Os organismos mais sensíveis começam a morrer devido à baixa concentração de oxigênio, gerando ainda mais matéria orgânica morta, que será decomposta e consumirá mais oxigênio. Esse consumo de oxigênio supera muito a capacidade de reposição pela fotossíntese, podendo levar a água à anoxia, isto é, total ausência de oxigênio. Na ausência de oxigênio aparecem as bactérias anaeróbias, que além da sua toxicidade, levam à produção de espécies químicas reduzidas (de baixo número de. 12.

oxidação), como o metano (CH 4 um gás de efeito estufa) e o ácido sufídrico (H 2 S), que acidifica drasticamente a água. Atividade: Procure saber se na sua cidade o esgoto é tratado e coletado em rede. Se não é tratado (ou apenas parte é tratado), para onde vão os efluentes de esgoto sem tratamento? Para refletir 5: - Açúcar pode ser um poluente? - Aquilo que é biodegradável não prejudica o meio ambiente? 6. Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) Já vimos que quanto maior a concentração de matéria orgânica biodegrável no ambiente aquático, maior será o consumo de oxigênio por organismos aeróbios (que utilizam oxigênio) para promover sua degradação. Pode-se definir demanda bioquímica de oxigênio (DBO) como a quantidade de oxigênio necessária para oxidar a matéria orgânica por decomposição microbiana, por litro de água. É comum ouvir a afirmação de que "uma substância não prejudica o meio ambiente porque é biodegradável". Vamos ver se isto é verdade? Na região de Ribeirão Preto (interior de São Paulo), em setembro de 2003, houve o rompimento do reservatório de uma usina de açúcar e álcool contendo aproximadamente 8 milhões de litros de melaço. Rapidamente o melaço atingiu o rio, produzindo uma mancha com aproximadamente 150 km de extensão, levando à morte de mais de 200 toneladas de peixes em apenas alguns dias. Será que o açúcar fez mal aos peixes? Por que morreram tantos peixes em tão pouco tempo? Açúcares de forma geral são facilmente biodegradáveis, e por causa da sua elevada concentração na água houve um rápido consumo do oxigênio durante o processo de degradação, matando os peixes por asfixia (reveja a equação 2).. 13.

Atividade: Calcule a demanda (consumo) de oxigênio para oxidar completamente 1 g de açúcar (representada pela glicose) dissolvido em 1 L de água. Veja a resposta. A oxidação completa da glicose (massa molar 180 g/mol) é dada por: C 6 H 12 O 6 + 6 O 2 6 CO 2 + 6 H 2 O A partir da reação vemos que 1 mol de glicose consome 6 mols de oxigênio para degradar-se completamente. Por essa proporcionalidade, podemos então calcular a massa de oxigênio (massa molar = 32 g/mol) consumido: 1 mol glicose 6 mol O 2 1 x 180 g glicose 6 x 32 g de O 2 1g m m = 1,07 g O resultado mostra que para 1 litro de água contendo 1 g de glicose haverá o consumo de 1,07 g de oxigênio pelas bactérias para promover a total oxidação da glicose. Porém, na água de rio, a concentração de oxigênio é de aproximadamente 0,009 g por litro de água. Dessa forma, a fácil degradabilidade do açúcar, somado a sua elevada concentração, leva ao rápido esgotamento do oxigênio dissolvido na água matando toda vida aquática, como ilustra a Figura 7. Para refletir 6: - Por que a água do mar é salgada? - Dê um exemplo que demonstra a importância dos oceanos para a humanidade. - Como seria o clima da Terra sem os oceanos? 7. Os oceanos Já vimos anteriormente que intemperismo trata-se do processo de dissolução das rochas dos continentes pela água da chuva que carrega sais dissolvidos até os rios, que por sua vez deságuam no mar. Para lembrar esse processo, podemos recorrer à frase: água mole em pedra dura tanto bate até. 14.

que fura. Quando a água do mar evapora e retorna ao continente, ela está praticamente sem sais. Portanto, em uma escala de milhões de anos, os oceanos foram acumulando mais e mais sais. Hoje a quantidade de sais nos oceanos é em média 35 g por litro de água, sendo o cloreto de sódio (NaCl) o sal mais abundante. Apesar da abundância de íons cloreto (Cl - ) na água do mar, sua origem não está nas rochas da superfície terrestre e sim no interior da Terra (no magma), que durante erupções vulcânicas expelia ácido clorídrico (HCl). O ácido foi sendo neutralizado por sais alcalinos presentes nas rochas. Os oceanos têm grande importância na nossa vida, pois são fontes de alimento, meios de transporte, fontes de água para os continentes (como vimos no ciclo da água), e até mesmo fontes de lazer e beleza paisagística. Entre tantas coisas importantes, os oceanos também são grandes reguladores do clima da Terra. A água tem a propriedade de armazenar enormes quantidades de calor proveniente do sol, liberando esse calor lentamente durante a noite e em dias mais frios. Essa propriedade de armazenamento de calor é chamada de capacidade calorífica, que na água é bastante elevada. No caso da areia, podemos deduzir que esta tem uma capacidade calorífica muito baixa, pois não armazena calor. O que ganha de calor, perde em pouco tempo. Os oceanos absorvem grande parte do calor da atmosfera, diminuindo a velocidade com que as temperaturas globais vêm subindo. Se não fosse pelos vastos oceanos, a Terra toda teria um clima de deserto, com dias muito quentes e noites muito frias, pois o calor armazenado na sua superfície durante o dia seria rapidamente perdido durante a noite. As correntes marinhas se movimentam da região do equador para o norte e para o sul (Figura 8). Na região dos trópicos, as águas são mais quentes. À medida que elas viajam em direção aos pólos, vão perdendo calor, minimizando o frio nas regiões temperadas e polares. Dessa forma, os oceanos transportam calor pela movimentação de suas águas (correntes). Graças a esse tipo de transporte de calor, o clima na Europa Ocidental (França, Inglaterra) é bem mais ameno do que na Europa Oriental (Polônia, Ucrânia), que está mais distante do Oceano Atlântico.. 15.

Figura 8: Principais correntes oceânicas na superfície dos oceanos. Reveja a equação de fotossíntese (equação 1) que mostra o gás carbônico sendo transformado em tecido vegetal. Como nos oceanos, a quantidade de algas é muito grande, isso significa que sua capacidade de retirar o gás carbônico da atmosfera pela fotossíntese também é grande. O consumo de gás carbônico pela fotossíntese é dividido praticamente em partes iguais entre os oceanos (50%) e os sistemas terrestres (50%). Os oceanos também permitem uma grande dissolução de gases da atmosfera nas suas águas pelo simples processo de difusão molecular. Dessa maneira, é capaz de retirar grandes quantidades de gás carbônico da atmosfera e assim diminuir o efeito estufa. Com o aquecimento global, as águas dos oceanos também estão se aquecendo, de forma que os gases naturalmente dissolvidos na água podem ser emitidos de volta para a atmosfera. Esse processo é similar ao que acontece quando deixamos um copo de refrigerante esquentar. Pouco a pouco o gás vai escapando, pois quanto mais quente, menor a quantidade de gases que se dissolve. A emissão de gás carbônico - dissolvido nos oceanos, para a atmosfera - aumentará a concentração desse gás de efeito estufa, elevando mais ainda a temperatura global. Graças aos oceanos, a temperatura global ainda não aumentou tanto, mas sua capacidade de conter o efeito estufa está se esgotando.. 16.

8. Considerações finais Reveja as Figuras 1 e 4. A partir delas talvez você entenda melhor que, apesar desse texto ter tratado principalmente da, vimos como todos os compartimentos da Terra estão interligados. Note que uma pessoa que vive na porção mais interior de um continente é afetada pelo oceano, pelo menos por causa da sua atuação no clima global. A água evaporada do oceano cai sobre as rochas e solo, dissolve nutrientes que são carregados para os rios e aquíferos, e volta a abastecer os oceanos. Os nutrientes e gases dissolvidos na água são consumidos pelas algas (fotossíntese), servindo de alimento para pequenos animais e desencadeando toda teia alimentar até chegar ao homem. Um aquecimento anormal das águas de uma pequena porção do oceano pode levar à seca - em uma região, e à formação de furações - em outra. Vimos como o lançamento dos nossos esgotos sem tratamento ou de substâncias aparentemente inócuas podem alterar completamente um ecossistema aquático. A mata mal preservada pode diminuir a infiltração de água no subsolo, enquanto um poço mal construído pode levar à contaminação da água subterrânea, e um poço mal explorado pode secar. Cada um de nós é uma peça chave nas interações entre os compartimentos globais, tanto no sentido de danificar como no de preservar o meio ambiente. Veja se você concorda com o que disse Mikail Gorbachev, quando presidente da antiga União Soviética: "A natureza achará uma solução para a poluição causada pela civilização. A questão que permanece é se os seres humanos estão incluídos ou não".. 17.