(Doutrina social da Igreja)



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Transcrição:

ÉTICA SOCIAL CRISTÃ (Doutrina social da Igreja) " Não há falta de alimento no mundo. A fome é resultado da pobreza, desigualdade social e ignorância." Edouard Saouma (1994), diretor-geral da ONU (FAO)

ÍNDICE INTRODUÇÃO...3 ÉTICA SOCIAL CRISTÃ CONCEITO, DENOMINAÇÕES E COMPETÊNCIA...4 OBJETIVO...5 QUADRO DOS DOCUMENTOS...9 ÉTICA E MORAL... AS FONTES DO DIREITO...6 ORIGENS DA DOUTRINA CRISTÃ... REVOLUÇÕES SOCIAIS E POLÍTICAS IDEOLOGIA... O PODER ABSOLUTISTA...10 O ILUMINISMO...10 REVOLUÇÃO FRANCESA...11 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL...11 SISTEMAS IDEOLÓGICOS...12 SISTEMAS SOCIO-ECONOMICOS LIBERALISMO E NEO-LIBERALISMO... CAPITALISMO... SOCIALISMO E NEO SOCIALISMO... MARXISMO... 1º GRUPO DE DOCUMENTOS RERUM NOVARUM 1891...14 QUADRAGESIMO ANNO 1931...15 RADIOMENSAGENS 1941/54...16 2º GRUPO DE DOCUMENTOS MATER ET MAGISTRA 1961...17 PACEM IN TERRIS 1963...19 GAUDIUM ET SPES 1965...19 POPULORUM PROGRESSIO 1967...20 AGRICULTURA CIDADANIA/ PACEM IN TERRIS/CIDADANIA DIREITOS CONSTITUCIONAIS E SOCIAIS AMÉRICA LATINA E BRASIL D. HELDER CÂMARA - O Bispo da Paz... A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil)... MEDELLIN, PUEBLA E SANTO DOMINGO... VIDEO: RFORMA AGRÁRIA DEBATES PROPRIEDADE PRIVADA... INTERVENÇÃO DO ESTADO... 2

PRIVATIZAÇÃO... SINDICATO E SALÁRIO... 3º GRUPO DE DOCUMENTOS LABOREM EXERCENS 1981...21 SOLLICITUDO REI SOCIALIS 1987...21 CENTESIMUS ANNUS 1991...22 O TRABALHO ECONOMIA DE MERCADO/MERCADO ÉTICO DOCUMENTOS DA DOUTRINA SOCIAL CRISTÃ 1) RERUM NOVARUM (RN) - LEÃO XIII - 15 DE MAIO DE 1891 2) QUADRAGESIMO ANNO (QA) - PIO XI - 15 DE MAIO DE 1931 3) RADIOMENSAGENS - PIO XII - 1941/1954 4) MATER ET MAGISTRA (MM) - JOÃO XXIII - 15 DE MAIO DE 1961 5) PACEM IN TERRIS (PT) - JOÃO XXIII - 1º DE ABRIL DE 1963 6) GAUDIUM ET SPES (GS) - CONCÍLIO VATICANO II - 7/12/65 7) POPULORUM PROGRESSIO (PP) - PAULO VI - 26 DE MARÇO DE 1967 8) LABOREM EXERCENS (LE) - JOÃO PAULO II - 14/9/81 9) SOLLICITUDO REI SOCIALIS (SRS) - 30 DE DEZEMBRO DE 1987 10) CENTESIMUS ANNUS (CA) - JOÃO PAULO II - 1º DE MAIO DE 1991 DOCUMENTO NA AMÉRICA LATINA 1) MEDELLÍN, 1968; A SITUAÇÃO E DOS DESFIOS DA IGREJA DA AMÉRICA LATINA 2) PUEBLA, 1979; A EVANGELIZAÇÃO NO PRESENTE E FUTURO DA AMÉRICA LATINA 3) SANTO DOMINGO, 1992; NOVA EVANGELIZAÇÃO, PROMOÇÃO HUMANA E CULTURA CRISTÃ. DOCUMENTOS DA CNBB (CONF. NAC. DOS BISPOS DO BRASIL) 1) EXIGÊNCIA CRISTÃ DE UMA ORDEM POLÍTICA, 1977. 3

2) IGREJA E PROBLEMAS DA TERRA, 1980. 3) NORDESTE, DESAFIO À MISSÃO DA IGREJA NO BRASIL, 1984. 4) POR UMA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL, 1986. 5) EXIGÊNCIAS ÉTICAS DA ORDEM DEMOCRÁTICA, 1989. 6) EDUCAÇÃO, IGREJA E SOCIEDADE, 1992. 7) ÉTICA: PESSOA E SOCIEDADE, 1993. CONCEITO DE DOUTRINA SOCIAL CRISTÃ É o conjunto de princípios cristãos que permite a construção de uma economia ética e de um relacionamento solidário entre os homens. É a Igreja que assume posições concretas e históricas diante da problemática de cada época. Para Calvez 1 o ensinamento social da Igreja sobre a sociedade econômica tem um modo de ver muito coerente, sendo um corpo organizado de critérios, aptos não a fornecer imediatamente a resposta a todo problema prático, mas a oferecer um quadro de discernimento a todo homem que deve refletir para agir nesse campo ; no campo econômico onde todos os homens estão incluídos. Langlois assim define:...é a aplicação da regra cristã de fé e costumes às relações sociais. É a explicitação das conseqüências sociais da fé cristã. Com propriedade é chamada de doutrina social, mais do que econômica ou política, pois ainda que compreenda os três âmbitos em virtude da sua interpenetração recíproca, é através do social - âmbito intrinsecamente regulado por normas morais - que se ocupa do econômico e do político. 2 O ensino social da Igreja não é uma ideologia nem contém elementos ideológicos: não pertence ao domínio da ideologia, mas ao da teologia e especialmente da teologia moral (SRS, 41)....Não propõe um sistema algum em particular, mas à luz dos seus pri ncípios fundamentais, permite ver em que medida os sistemas existentes são ou não conformes as exigências da dignidade humana. (Libertatis cosncientia, 74). 3 Mas estes princípios fundamentais não são de caráter genérico e sem propostas. Se é verdade que não existe a pretensão de apresentar-se como uma terceira via, é igualmente verdade que o pensamento social cristão tem muito clara a sua opção evangélica e sua ação concreta. Como nos lembra Gutierrez 4 João XXIII em 1963 fala de uma sociedade fundamentada na verdade, na justiça, no amor e na liberdade; o papa Paulo VI, na noite de Natal de 1975 chamou a humanidade para construir a Civilização do Amor; o documento de Puebla se refere à 1 CALVEZ, Jean-Yves; A Economia, o Homem e a Sociedade, Edições Loyola, 1995, p 17. 2 LANGLOIS, José Miguel Ibane; Doutrina Social da Igreja, Editora Rei dos Livros, Lisboa, 1989, p 23.. 3 Ibid, pp 24-25. 4 Ver GUTIERREZ, Exequiel R.; Cem Anos de Doutrina Social da Igreja, Edições Paulinas, 1995, p 105. 4

sociedade da comunhão e da participação; João Paulo II fala da cultura da solidariedade e da economia da solidariedade. Na Civilização do Amor que desejamos construir, a pessoa tem primazia sobre qualquer outra realidade visível. É o princípio do qual devemos partir, ao que permanentemente devemos nos referir e que deve iluminar-nos no momento de avaliar o trabalho realizado. A partir da perspectiva do humanismo cristão, nem a nação nem o Estado, nem a raça nem a classe, nem a ordem ou a segurança, podem ocupar o lugar da pessoa. 5 COMPETÊNCIA A sua autoridade no campo social e econômico vem do fato que a igreja não pode renunciar aos deveres de interferir em assuntos morais. Assim fundamenta Pio XI: Não foi é certo confiada à Igreja, a missão de encaminhar os homens à conquista de uma felicidade apenas transitória. O que não pode é renunciar de interpor a sua autoridade não em assuntos técnicos, para os quais lhe faltam competência e meios, mas em tudo o que se refere à moral. (QA 41). CARACTERÍSTICAS 1) A identidade própria é o seu aspecto eterno, imutável, são os princípios evangélicos e de toda a revelação, da filosofia e da moral cristã e do direito natural. A sua característica de 2) evolução é o seu aspecto mutável, considera, para seu desenvolvimento e atualização, os fatos, os acontecimento, a época e a cultura de cada povo. A vida é uma dinâmica de relacionamentos múltiplos, que vão acompanhamento o evolução dos tempos, a cultura de cada povo e a situação concreta de cada país. Possui 3) universalidade, pois trata do relacionamento entre as pessoas e entre os povos todos do universo. E este relacionamento deverá ser de 4) solidariedade, onde a pessoa humana é o centro da sociedade e, da economia em particular. DENOMINAÇÕES Doutrina Social da Igreja, Pensamento Social Cristão, Ética Cristã, Magistério Social e Ensino Social são algumas de suas designações. Nos textos oficiais em latim são usadas as expressões docere e doctrina que possuem o mesmo significado: ensino. Todas as denominações devem ser vistas como termos técnic os que englobam uma visão pré-determinada. 5 Ibid, p 107. 5

Ética Social é termo bastante atual e usado em países como a Itália. Ensino Social foi usada pelo Papa João Paulo II em seus documentos e também em países como a França. A denominação ÉTICA SOCIAL engloba os documentos, encíclicas e o ensinamento cristão aplicados à realidade social. ÉTICA SOCIAL Ética é o resumo dos princípios, valores, normas universais, absolutas que regem o comportamento humano. Esses valores e normas nascem da essência do homem Não vêm de fora, mas do íntimo dele. 6 Moral é a vivência da ética dentro de circunstâncias concretas: cultura, educação, civilização, religião, povos e nações. A moral é sempre a busca dos padrões éticos na prática e experiência da vida. Nunca é universal ou absoluta. É mutável. 7 Imorais são as ações, práticas, vivências, usos e costumes que contrariam os padrões da ética e da moral. Amoral é um modo de vida com valores e normas próprias, indiferentes aos valores e normas da sociedade. A pesso a amoral é a lei de si mesma... seja por falta de senso crítico, de educação, de formação moral ou ainda por deficiência intelectual ou mental... reduzem tudo a interesses e conveniências pessoais. 8 FONTES DO DIREITO Como social, como sociedade, deve -se pressupor um complexo de relações entre pessoas e instituições. Existem os sistemas econômicos (neoliberalista, socialista, etc); os sistemas políticos (monárquico, parlamentarista, presidencialista); os sistemas jurídicos e os poderes administrativo, judiciário e legislativo no Estado moderno. O social considera todas estas relações: econômicas, políticas e jurídicas. Justiça e legalidade 6 Ver Vieira, José Antonio Leonel; Revista Revés do Avesso; abril de 1994, pg. 35. 7 Ibid; pg.35. 8 Ibid; pg 35. 6

Uma lei é justa ou injusta, na medida em que ou promove o bem comum ou o compromete. A legalidade tem grande importância, pois define todos os direitos e deveres das pessoas na sociedade. Contudo, antes da legalidade vem a Justiça, porque todos os atos do homem têm um aspecto social e, portanto estão submetidos à justiça.. justiça geral : a justiça só existe quando se preocupa com o bem comum. Direito Natual e Positivo O homem tem direitos naturais, porque Deus o criou como pessoa; por exemplo, o direito à vida, à inviolabilidade do corpo, à liberdade e à segurança pessoal...como parte da lei moral natural, o direito natural tem sua raiz última na lei eterna do Criador, razão por que obriga em consciência. 9 ORIGENS DA DOUTRINA CRISTÃ Já no Antigo Testamento temos inúmeras citações a respeito do social. Dos 5 Livros que compõe a Lei de Moisés, pelos dois, o Levítico e o Deuteronômio são dedicados às normas de convivência do povo judeu. 10 Os aspectos trabalhista tem o seu código no Deuteronômio: Não explorarás o assalariado pobre e necessitado, quer seja ele um de seus irmãos, quer seja um estrangeiro que mora em uma das cidades de tua terra. Dar-lhe-ás o seu salário no mesmo dia, antes do pôr do sol, porque ele é pobre e espera impacientemente a sua paga. (Dt 24,14). O profeta Isaias clama pelo Deus da justiça: O Deus Santo mostra a sua santidade pela justiça (Is 5,16) e faz um alerta: Ai dos que juntam casa a casa, dos que acrescentam campo a campo até que não haja mais espaço disponível... (Is 5,8). Este alerta é retomado por Jesus: Ai de vós, ricos, porque já tendes a vossa consolação. (Lc 6,24). Deus é Deus da justiça e pune a injustiça. A sua punição não se opõe à sua misericórdia, pois Deus perdoa a todos os arrependidos. Porém a preferência de Jesus pelos pobres é explícita: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados. (Lc 6,20-21). Dentre os textos do Novo Testamento são Tiago é o mais duro com os ricos: Vós ricos, chorai e gemei por causa das desgraças que sobre vós virão. Vossas riquezas apodreceram e vossas roupas foram comidas pela traça. (Tg 5, 1-2) e Ouvi, meus caríssimos irmãos: porventura não escolheu Deus os pobres deste mundo para que fossem ricos na fé e herdeiro do reino prometido por Deus aos que o amam? (Tg 2,5). 9 HOFFNER,Joseph; Doutrina Social Cristã, Ed. Loyola, 1993, p 39. 10 Ver PIERRE, LAA; Pequena História do Cristianismo, CEPE, 2a. edição, 1995, pp 31-32. 7

Após a era apostólica, um momento forte da consciência social cristã está na Patrística. 11 São Basílio foi, dentre os Padres Gregos o que mais se preocupou do social: Aquele que despoja um homem de sua própria roupa é um ladrão. O que não veste a nudez do indigente, quando pode fazê-lo, merecerá outro nome? O pão que guarda em tua despensa pertence ao faminto, como pertence ao nu o agasalho que escondes em teus armários. 12 Dentre os Padres Latinos temos João Crisóstomo que era considerado o defensor dos pobres sendo dele afirmações contundentes: Quem pode dar esmolas e não o faz é um assassino de seus irmãos...vale muito mais alimentar os pobres que têm fome, que ressuscitar os mortos no nome de Jesus ou Deus nunca fez uns ricos e outros pobres. Deu a mesma terra para todos. A terra é toda do Senhor e os frutos da terra devem ser comuns a todos. No século XIII temos na Escolástica e em São Tomás de Aquino 13 o conceito de justiça social:. justiça comutativa : o homem tem direito ao preço justo, ao salário justo e participação nos lucros. justiça distributiva : os bens devem ser distribuídos não na medida do mercado, mas da necessidade das pessoas A diferença entre ambas reside no fato que a justiça comutativa define o direito de uma pessoa em relação à outra pessoa, pelo justo salário, justo preço ou pelo lucro justo. A justiça distributiva define o direito de cada pessoa em relação ao conjunto dos que possuem bens não necessários. Um pobre não tem direito sobre os bens de determinado rico. Um rico não tem obrigações com relação a determinado pobre. Porém a justiça distributiva cria direitos e obrigações tão estritos como os fundados na justiça comutativa: direitos do conjunto dos pobres com relação ao conjunto dos ricos; obrigações do conjunto dos ricos em relação ao conjunto dos pobres. 14 Santo Tomás de Aquino aplica estes princípios à sociedade. À pergunta: se alguém é permitido possuir alguma coisa como própria? O Doutor da Igreja não dá apenas uma resposta afirmativa. Responde com uma distinção fa mosa. Se chama propriedade a faculdade de administrar ou de dispensar os bens, é permitido a alguém possuir alguma coisa como própria. Porém, se fala do uso, os bens são comuns e aquele que os possui deve cedê-los facilmente aos que deles necessitam. Os bens são de uns, mas são para todos. Depois de satisfazer as suas verdadeiras necessidades, o proprietário deve aos demais os bens que lhe sobram, avaliando sempre as necessidades dos pobres. O supérfluo é devido aos pobres. O termo, porém é perigoso, de vez que quase nunca se encontra alguém que julgue supérfluo um bem próprio. Quanto mais se possui tanto mais necessita. O supérfluo se define, segundo santo Tomás de Aquino, como tudo aquilo que excede ao verdadeiramente necessário (sem grifo no original). 11 Ibid., pp 49-55. 12 PIERRE, Bigo e AVILA, Fernando Bastos; Fé Cristã e Compromisso Social, Ed. Paulinas, 1986, p 167. 13 PIERRE, LAA, op. cit. ;pp 82-86. 14 PIERRE, Bigo, op. cit. ;p 171. 8

Há um direito do pobre, justiça distributiva, e há um direito de propriedade, justiça comutativa, porém o proprietário não pode usar para si mesmo os bens próprios de que não necessita, porque os pobres têm direito a eles. 15 Na metade do século XIX, tantas foram as modificações sociais que deram origem a várias manifestações, com relevo para Marx e surge a necessidade de leis que regulem as novas relações de trabalho. Sobre a participação da Igreja temos que em 1838 foi escrita por um Bispo francês, uma carta pastoral consagrada ao repouso dominical. Outro Bispo, o de Annecy, enviou ao rei da Sardenha em 1845, um texto que intitulou Memorial a Questão Operária, onde, após criticar com veemência a situação do proletariado em formação, ressalta: A legislação moderna (da época) nada fez pelo proletário. Na verdade, protege sua vida enquanto homem; mas o desconhece como trabalhador; nada faz por seu futuro, nem por sua alimentação, nem por seu progresso moral. Sobre a atuação do Bispo Ketteler, diz: foi o responsável pela sugestão enumerativa dos seguintes direitos que os trabalhadores deveriam reivindicar: aumento de salário correspondente ao verdadeiro valor do trabalho; diminuição das horas de trabalho; regulamentação das horas de descanso; proibição do trabalho das crianças nas fábricas durante a época em que são, ainda, obrigadas a freqüentar a escola; proibição do trabalho das mulheres nas fábricas, principalmente mães de família; proibição do trabalho de moças nas fábricas. A enumeração poderia prosseguir, relembrando outros nomes importantes do pensamento social-católico na Alemanha, Áustria, Suíça, França, Inglaterra e Estados Unidos, Holanda e Bélgica, Itália e Espanha. Como, entretanto, as cartas Encíclicas papais, a partir da Rerum Novarum de Leão XIII, passaram a sintetizar todo esse pensamento, apenas diremos que este foi o complemento doutrinário que motivou a legislação paulatinamente constituída para preservar a dignidade da pessoa humana do trabalhador. (sem grifo no original). 16 Wilhelm Emmanuel Von Ketteler ( 1811-1877), citado acima, empreendeu grande esforço em favor de uma ação social da Igreja ainda antes do manifesto comunista; cria organização de proteção aos artesãos, que foram as primeiras vítimas da industrialização. Em 1851 é sagrado Bispo e diz: a questão operária é uma questão moral, mas não será resolvida sem uma vigorosa atuação no campo econômico, social e político. Foi deputado no Parlamento alemão em 1873 onde promoveu uma ação política social como responsabilidade do Estado. 17 Na França temos Jean-Paul Villeneuve ( 1784-1850 ), católico e filho de família da velha nobreza francesa, exerceu cargos administrativos e interessou-se pelos problemas sociais chegando a fixar a idéia do salário mínimo; propôs a intervenção do Estado nas questões sociais em plena ascensão do liberalismo e a reforma agrária. É dele a proposição " é melhor produzir menos para produzir melhor e não sacrificar o social ". Outro grande idealista e batalhador foi Jean-Baptiste Lacordaire ( 1802-1861 ). É dele a afirmação: À liberdade que oprime opõe-se a lei que liberta ", esta era a convicção deste advogado e religioso da Ordem de São Domingos, que foi o primeiro a lutar por leis trabalhistas num mundo liberal e capitalista que considerava crime, até mesmo, a sindicalização. Diz Sayão 15 Ibid., p 171. 16 COSTA, Orlando Teixeira; O Trabalho e a dignidade do Trabalhador, LTr, Revista de Maio de 1995, pp 591-594 17 AVILA, Fernando Bastos; Pequena Enciclopédia da Doutrina Social da Igreja, Ed. Loyola, 1991, p 251. 9

Romita, Professor Titular de Direito do Trabalho da Universidade do Rio de Janeiro: Se, num contrato, a vontade de uma das partes não for livre, desaparece o fundamento do princípio de autonomia da vontade e a intervenção do Estado se impõe. O Estado deve, com sua tutela, restabelecer o equilíbrio entre as partes, de acordo com a frase de Lacordaire. 18 REVOLUÇÕES SOCIAIS E POLÍTICAS O PODER ABSOLUTISTA Ao sair do feudalismo onde o poder era exercido pelos vários senhores feudais e, portanto descentralizado no âmbito da sociedade da época como um todo e, possuindo grande influência da Igreja, o mundo vê nascer o Absolutismo que se constrói do século XV ao século XVII. É a afirmação do Estado e da centralização do poder nas mãos dos reis. O confronto entre o rei Felipe da França e o papa Bonifácio VIII é um exemplo desta nova era. Alimentando-se da idéia de que a autoridade do rei vem diretamente de Deus sem a intermediação da Igreja ou do papa, no regime absolutista o rei tem decisão e poder ilimitados, sendo obrigação do povo obedecê-lo passivamente, A Reforma Protestante, no século XVI, contribuiu para a situação à medida que favoreceu o enfraquecimento do papado e aumentou a riqueza dos monarcas com a tomada das terras da Igreja. O povo que vivia em imensa situação de abandono tinha esperanças de que o poder concentrado nas mãos de um único homem poderia libertá-lo do regime servil de trabalho que lhe era imposto pelos senhores feudais. Com o absolutismo os Estados se afastam definitivamente da unidade representada pelo Papa e o soberano assume, ele próprio, a responsabilidade pela Igreja de seu país. É um momento de grande transformação social, política e religiosa. A fé generalizada do homem medieval dá lugar ao nacionalismo e, posteriormente, ao racionalismo. O ILUMINISMO 18 ROMITA, Arion Sayão; Os direitos Sociais na Constituição e outros estudos, LTr, 1991, pp 390-391. 10

Contra o poder absoluto do Estado e, também contra qualquer religiosidade, levanta-se o questionamento crítico da razão: o iluminismo. O século XVIII é conhecido na história como período do iluminismo, criticando o absolutismo e exaltando a razão como único meio alcançar a verdade. Para os filósofos da época a razão explica até Deus e a fé não serve para nada. Foi desta época René Descartes a expressão máxima do racionalismo que com sua afirmação: "penso logo existo", a idéia como prova da existência de Deus. Neste período, com Motesqueieu, nasce a divisão dos poderes do Estado (executivo, legislativo e judiciário). E com Jean Jacques Rousseau a idéia do Contrato Social que propõe um pacto social para estabelecer a igualdade e liberdade de todos os cidadãos. O liberalismo de Adam Smith condena a intervenção do Estado na economia, ficando consumado o fim do período absolutista. Comentário: O centro do iluminismo foram as cidades e as universidades e, para a difusão das idéias surge em 1717, na Inglaterra, a associação secreta da maçonaria. Os iluministas eram céticos em relação ao cristianismo e acreditavam que Deus criou o mundo e o abandonou à mercê das leis da evolução. Para eles, todas as religiões eram parciais e iguais. A prepotência do iluminismo exerce um efeito paralizante sobre a Igreja e a evangelização das missões e, a educação cristã sofre prejuízos incalculáveis com a supressão da Companhia de Jesus, tendo sido os jesuítas expulsos de quase todos os países europeus e, seus bens, como de grande parte de outras religiosas, foram apropriados pelo Estado. No início, foi a valorização do humano dentro de uma sociedade teocrata; depois, a supervalorização do humano em detrimento de Deus; até a decretação da morte de deus com o humanismo absoluto, onde o homem tudo pode e por isso, prescinde de Deus. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A modificação do sistema agrícola, com a utilização de novos meios de cultivo; as inúmeras invenções, dentre elas a fiação mecânica dando grande impulso à produção inglesa, faz com que no século XVIII a indústria desenvolvesse de modo extraordinário. O tipo de trabalho na época era aquele do artesão. Com o uso em larga escala da energia a vapor e das máquinas de fiação e tecelagem, há um aumento de produção e o trabalho à domicílio passa para às industrias. Devido aos desenvolvimentos, à divisão do trabalho e o novo sistema de produção, são geradas formação de estoques. Havia uma maior produção e necessidade de cortar operários, pois fabrica-se mais em menos tempo. A conseqüência é o desemprego e o trabalhador, para poder comer, passa a aceitar qualquer condição para manter seu emprego. Não se permite a associação com outros operários para a defesa de seus interesses, o que era considerado crime. Podemos considerar a revolução industrial desenvolvendo-se em várias fases e traçando modificações no modo de produção e na relação empregado-empregador até nossos dias. Assim sendo trataremos deste assunto durante todo o curso através dessas diversas maneiras da transformação industrial. Nesta primeira fase da revolução industrial a jornada de trabalho era de 14 a 16 horas, não poupando o trabalho infantil. Os camponeses, à procura de trabalho nas indústrias, transferem-se para a região das zonas de mineração, gerando crescimento desordenado das cidades fazendo com que as condições de moradia dos operários fossem as mais degradantes. REVOLUÇÃO FRANCESA 11

No final do século XVIII, explode a Revolução Francesa e a mudança operada é radical e profunda. As classes existentes eram: a nobreza, o clero e o terceiro estado (este reunia várias categorias: os burgueses, os ricos agricultores, os profissionais liberais, bem como os camponeses e operários). A revolução usou a insurreição camponesa como meio de pressão, porém os operários e camponeses ficaram marginalizados ser ter vez e sem poder lutar pelos seus direitos. A Revolução Francesa de 1789 não se ocupou da questão camponesa e operária. A maior parte das terras que foram arrebatadas dos nobres e do clero acabou nas mãos de burgueses e agricultores abastados, sendo estabelecida uma sociedade em que os pobres não têm lugar. " Liberdade, igualdade, fraternidade" estas três palavras que parecem definir o movimento só foi inscrita na Constituição francesa em 1848, ou seja, 60 anos depois. Liberdade: liberdade contra as arbitrariedades do rei, porém a burguesia não obedecia a liberdade dos outros; a escravidão foi mantida nas colônias. Liberdade diante das leis, leis estas elaboradas pela burguesia para favorecê-los, como acontece até hoje. Igualdade: ser igual porque todos poderiam chegar ao poder, porém os pobres sempre foram mantidos longe do poder; as desigualdades econômicas permanecem e os pobres aumentam e, na época de Napoleão, serão mais pobres que antes de 1789. A igualdade não questiona as diferenças econômicas e consagra o direito de propriedade sem cogitar a situação da maioria da população que não têm nada. Fraternidade: participação da burguesia e não do povo, operários e camponeses. A revolução assume os hospitais, asilos, escolas, etc, antes mantidos pelos cristãos. É criada a Beneficência Nacional, que, porém não foi colocada em pratica e a história nos dá conta que a situação social não teve a vivência deste aspecto. Quais as mudanças operadas? No campo social: É decretado o desaparecimento de uma classe privilegiada por direito de família, a nobreza, nascendo outra, a burguesia que se torna privilegiada explorando o pobre.no campo econômico: O feudalismo é substituído por um sistema econômico liberalista. A nova economia é baseada na iniciativa privada, livre de produzir e comercializar o que deseja. o campo político: O sistema da monarquia absoluta é substituída pela democracia burguesa. Os poderes são divididos em Executivo, Judiciário e Legislativo e os cidadãos podem eleger seus representantes, que se submetem à Lei Suprema, a Constituição. SISTEMAS IDEOLÓGICOS Ideologia 19 é uma visão geral da vida humana em relação ao ordenamento social., pode ser considerada como uma ciência da formação de idéias. Contudo como lembra João XXIII : consideram apenas alguns aspectos do homem...e não tomam em conta as imperfeições humanas inevitáveis, como a doença e o sofrimento, que não podem eliminar nem sequer os sistemas econômicos e sociais mais avançados.(mm 210). Para o papa Paulo VI a visão da ideologia é muito clara: Também para o cristão é válido que, se ele viver a sua fé numa ação política, concebida como um serviço, não pode sem se contradizer a si mesmo, aderir a sistemas ideológicos ou políticos que se oponham radicalmente, ou então em pontos essenciais, à sua mesma fé e à sua concepção do homem: nem a ideologia 19 ANTONCICH, Ricardo e SANS, J.M.M; Ensino Social da Igreja, Vozes, 1987, pp 225-263. 12

marxista, ou ao seu materialismo ateu, ou à sua dialética da violência, ou ainda, àquela maneira como ele absorve a liberdade individual na coletividade, negando, simultaneamente, toda e qualquer transcendência ao homem e à sua história, pessoal e coletiva; nem à ideologia liberal, que crê exaltar a liberdade individual, subtraindo-a a toda limitação, estimulando-a com a busca exclusiva do interesse e do poderio e considerando, por outro lado, as solidariedades sociais como conseqüências, mais ou menos automáticas,das iniciativas individuais, e não já como um fim e um critério mais alto do valor e da organização social. (QA27-28) Não há neutralidade, não existe ninguém sem uma formação anterior que lhe dê parâmetros para escolha. Pode haver imparcialidade, ou seja, mesmo você possuindo uma posição, não poderá exercê-la, como e o caso dos juízes, por exemplo, que deve julgar segundo as leis e os fatos constantes do processo e não de acordo com sua ideologia. Da Revolução Francesa nasce como ideologia o individualismo burguês e liberal. O liberalismo alimenta o capitalismo como sistema econômico. Como reação nasce o socialismo e o mundo, aos poucos, se divide em dois blocos: o liberalista e o socialista. Tanto o liberalismo como o socialismo, radicalizados, são conceitos extremistas e prejudiciais à liberdade e à justiça. O Liberalismo concebe o homem com um indivíduo que se basta a si mesmo, prescindindo de tudo e de todos; é ele o sujeito do próprio destino e sua própria lei. É o individualismo, a razão, o egocentrismo elevado ao grau máximo. É a liberdade sem limites. O poder público não pode intervir no campo da produção ou em defesa do cidadão, vale a livre concorrência e a economia de mercado:. individualismo - nega o social, o homem basta a si mesmo. naturalismo - bondade natural e. racionalismo - supremacia da razão. liberdade sem limites - o mercado é o limite, a concorrência como lei suprema da economia.sem regras - há uma acomodação natural Neoliberalismo é um abrandamento teórico, dando mais espaço ao social, prometendo menor rejeição ao Estado, contudo o mercado continua o mito intocável. Ao que tudo indica o neoliberalismo não conseguiu resolver o problema socio-econômico em nenhum país do planeta. A recessão, o desemprego, a injustiça social são suas marcas mias temidas. O Capitalismo é alimentado pelo pensamento liberal. É a força do capital como elemento de distinção e de conquista do poder. É a expressão econômica organizada a partir do liberalismo.. não aceita a intervenção do Estado. o direito de propriedade não possui limites e sem obrigações sociais. o lucro é do capital, sendo o motor essencial do progresso econômico. o mercado como ética Aceitando a supremacia do capital sobre o trabalho e o mercado como definidor da estrutura de preços, o capitalismo relega o homem e a justiça social ao último plano de suas ações. A economia é realizada pela própria economia em nome do crescimento. Não é uma economia que pensa no homem e num crescimento necessário para beneficiar a todos os homens; beneficia apenas uma camada de privilegiados. 13

Personalismo Social nasce com a influência dos cristãos que discordavam das posições anteriores e afirmava a supremacia da dignidade humana, a valorização da solidariedade e da fraternidade e a justiça social O Socialismo coloca o homem como peça de uma engrenagem, que é o Estado absoluto; primeiro a sociedade depois o homem. Na relação industrial não vê possibilidade de um acordo entre patrões e operários, mas somente a luta de classes. O coletivismo socialista reivindica a igualdade econômica ao preço do sacrifício da liberdade social. É o homem social; o Estado como centro da sociedade e o primado do trabalho sobre o capital. Comunismo é o socialismo radical com total intervenção do Estado, sem liberdade política e social. a) o modelo político é o Estado órgão de um partido único b) o modelo econômico é a total coletivização dos meios de produção com limitação da propriedade dos bens de consumo, com absoluto intervencionismo estatal c) a ação é obra da ditadura dos burocratas do partido e não do proletariado como prega a teoria Marxismo Karl Marx (1818-1883) foi o elaborador das linhas do pensamento comunista, juntamente com Engels e suas teses foram apresentadas no Manifesto Comunista de 1848 e posteriormente desenvolvidas na sua obra O Capital. Para Marx a origem do cosmos é a matéria e a origem do homem é a evolução da matéria. Sendo o homem resultado da evolução da matéria não possui nenhuma razão de ser e nenhum destino além do material. Nascendo da matéria ele volta à matéria e se desintegra nada restando da pessoa humana. Assim sendo o único sentido da vida é sua inserção na História para preparar o advento da sociedade futura. Com o determinismo histórico o marxismo anuncia o socialismo coletivista como a inevitável passagem do feudalismo para uma nova forma de vida econômica. O capitalismo com as contradições por ele criticadas estava fadado ao fracasso como resposta para a justiça social, a solução seria o comunismo. Evolução do socialismo 20 a primeira etapa do socialismo europeu vai até 1914 que entre o anarquismo e o socialismo moderado, vence a corrente marxista que se encarna na social democracia. A segunda etapa é aquela da Revolução Russa que teve sua queda política em 1989. A terceira etapa é de 1945 com o agravamento da tensão entre socialistas e comunistas. A partir dos anos sessenta se fala da quarta etapa e a URSS perde o monopólio de constituir o único marxismo. 20 CAMACHO,Ildefonso e outros;práxis Cristã,Vol. III.Opção pela justiça e pela liberdade,ed.paulinas,1988,pp 452-457 14

Hoje a tendência do socialismo é acatar o pluralismo democrático, aceitar um sistema misto de propriedade, aderir a alianças com o ocidente e abandono da propriedade pública dos meios de produção. RERUM NOVARUM A condição dos trabalhadores. A Rerum Novarum a encíclica que inaugura oficialmente a Doutrina Social da Igreja foi editada em 15 de maio de 1891 pelo Papa Leão XIII. Este foi, aos 81 anos, um ato corajoso de um pontífice jesuíta eleito com 68 anos. Propõem num documento da Igreja temas inéditos: propriedade privada, relação capital/trabalho, salário justo, jornada de trabalho, sindicalismo. Num ambiente liberalista, a encíclica, mesmo criticando o comunismo, propõe duas soluções socialistas: a) a intervenção do Estado (parcial e não total) e b) a criação de sindicatos (misto de empregados e patrões). O documento tem o reconhecimento universal de seu valor em busca de uma real ordem e paz social. Os princípios da Rerum Novarum influenciaram a legislação social de muitos países entre eles o Brasil; serviram de fonte para a elaboração das leis trabalhistas em todo o mundo, bem como para as leis internacionais do Trabalho no Tratado de Versalhes (1919) e na orientação da criação da OIT - a Organização Internacional do Trabalho. Contexto Histórico O documento foi publicado um século após o início da Revolução Industrial e da Revolução Francesa e 5 décadas depois do Manifesto de Marx. O mundo se deparava com o liberalismo mantendo os trabalhadores sem qualquer proteção e o perigo de um comunismo ateu que não dava mostras de resolver a questão. As coisas novas que agitam a todos, passam da esfera política para a economia social. O progresso industrial alterara a relação entre operários e patrões e resulta num temível conflito, que seria denominado de questão social. O problema não é fácil de resolver, é difícil precisar com exatidão os direitos e deveres do capital e do trabalho. Três são as propostas da Rerum Novarum para e equilíbrio social: a aplicação da Doutrina Cristã; a intervenção do Estado para possibilitar a justiça social e a ação organizada dos trabalhadores em sindicatos e associações. Na tentativa de conhecer um pouco este histórico documento extraímos alguns trechos que passamos a transcrever 4. De fato, como é fácil compreender, a razão intrínseca do trabalho compreendido por quem exerce uma arte lucrativa, o fim imediato visado pelo trabalhador, é conquistar um bem que possuirá como próprio e como pertencendo-lhe; porque, se põe à disposição de outrem as suas forças e à sua indústria, não é evidentemente, por outro motivo senão para conseguir com que possa prover à sua sustentação e às necessidades da vida, e espera do seu trabalho, não só o direito ao salário, mas ainda um direito estrito, e rigoroso para usar dele como entender. Portanto, se, reduzindo as suas despesas, chegou a fazer algumas economias, e se para assegurar a sua conservação, as empregam, por exemplo, num campo, o campo é seu salário transformado". 15

O uso comum e a propriedade particular O uso comum não autoriza o domínio confuso dos bens. Embora particular, a propriedade deve servir a todos e todos devem se alimentar dos frutos da terra. Da mesma forma que o fruto do trabalho pertence ao trabalhador; a terra "dominada" deve pertencer a quem a cultivou. Posse e uso das riquezas 14. Sobre o uso das riquezas, já a pura filosofia pode delinear alguns ensinamentos de suma excelência e extrema importância; mas só a Igreja no -los pode dar na sua perfeição, e fá -los descer do conhecimento à prática. O fundamento dessa doutrina está na distinção entre a justa posse das rique zas e o seu legítimo uso. A propriedade particular, já o dissemos acima, é de direito natural para o homem: o exercício deste direito é coisa não só permitida, sobretudo a quem vive em sociedade, mas ainda absolutamente necessária (Santo Tomás, Sum. Teológica). Agora, se pergunta em que é necessário fazer consistir o uso dos bens, a igreja responderá sem hesitação: A esse respeito o homem não deve ter essas coisas exteriores por particulares, mas sim por comuns, de tal sorte que facilmente de parte delas aos outros nas suas necessidades. E por isso que o Apóstolo disse: Ordena aos ricos do século... dar facilmente, comunicar as suas riquezas (Santo Tomás, Sun. Teol.). Proteção do trabalho operário das mulheres e das crianças 27. Assim, o número de horas de trabalho diário não deve exceder a força dos trabalhadores, e a quantidade do repouso deve ser proporcionada à qualidade do trabalho, às circunstâncias do tempo e do lugar, à compleição e saúde dos operários. O trabalho, por exemplo, de extrair pedra, ferro, chumbo e outros materiais escondidos, debaixo da terra, sendo mais pesado e nocivo à saúde, deve ser compensado com uma duração mais curta. Salário O salário deve ser suficiente para a manutenção da família do trabalhador e ainda permitir uma poupança para que ele possa adquirir sua propriedade. Façam, pois, o patrão e o operário todas as convenções que lhe aprouver, cheguem inclusive a acordar na cifra do salário; acima da sua livre vontade está uma lei de justiça natural, mais elevada e mais antiga, a saber, que o salário não deve ser insuficiente para assegurar a subsistência do operário sóbrio e honrado. Mas se, constrangido pela necessidade ou forçado pelo receio dum mal maior, aceita condições duras que por outro lado lhe não seria permitido recusar, porque lhe são impostas pelo patrão ou por quem faz oferta do trabalho, então é isto sofrer uma violência contra a qual a justiça protesta. A economia como meio de conciliação das classes 16

30. O Operário que receber um salário para ocorrer com desafogo às suas necessidades e às da sua família, se for avisado, seguirá o conselho que parece dar-lhe a própria natureza: aplicarse-á a ser parcimonioso e obrará de forma que, com prudentes economias, vá juntando pequeno pecúlio, que lhe permita chegar um dia a adquirir um modesto patrimônio. Disciplina e fim das associações 35. Precisam evidentemente estas corporações, para que nelas haja de ação e acordo de vontades, duma sábia e prudente disciplina. Se, pois, como é certo, os cidadãos são livres para se associarem, devem sê-lo igualmente para se dotarem com os estatutos e regulamentos que lhes pareçam mais apropriados ao fim a que visam. Convite para os operários se associar 36. E necessário ainda prover de modo especial a que em nenhum tempo falte trabalho ao operário; e que haja um fundo de reserva destinado a fazer face, não somente aos acidentes súbitos e fortuitos inseparáveis do trabalho industrial, mas ainda à doença, à velhice e aos reveses da fortuna. QUADRAGESIMO ANNO - 15 DE MAIO DE 1931 Instauração de uma nova ordem social. Este documento foi publicado em 15 de maio de 1931, pelo Papa Pio XI, em comemoração do 40º aniversário da Rerum Novarum. Além de um balanço dos 40 anos que separam os dois documentos, a QA. aponta para a necessidade da Restauração da ordem social através da organização profissional e interprofissionais e a Renovação dos costumes. O socialismo troca o indivíduo pelo Estado. São povos, sem povo, como dizia Sartre analisando a sociedade dos anos 70: "não há mais povo atualmente, porque não se pode chamar de povo, homens completamente individualizados pela divisão do trabalho, sem outra relação com outros homens que a profissional". Quando o Papa Leão XIII publicou a Rerum Novarum, o socialismo era visto como o grande mal da sociedade. Passados 40 anos, a Quadragésimo Anno de Pio XI, ressalta que o capitalismo, com sua livre concorrência sem limites, foi uma fonte envenenada da qual derivaram grandes erros da economia. Os capitalistas controlavam o Estado para obterem vantagens sem medidas e aos operários, negam o direito ao lucro. O Estado, porém, não servia de proteção ao indivíduo, sujeito unicamente à livre concorrência. Nesta época o capitalismo já é reconhecido como portador de uma filosofia que favorecem poucos que destrói a harmonia da sociedade e onde a lei é o individualismo sem lei. O mundo acabava de sair das ruínas da 1ª Guerra Mundial e uma outra grande tragédia, não menos grave, caía sobre a sociedade: a crise econômica com a desocupação em massa. O capitalismo entrava em uma nova fase, da concentração do capital nas mãos de grupos financeiros de tendência monopolizadora. O socialismo dividiu-se em duas correntes fundamentais: O Socialismo Moderado e o Marxismo. As situações de mudanças. Não tínhamos somente o confronto capital e trabalho: a questão social torna -se mais ampla, motivando confronto entre nações pelo predomínio econômico. Dentre os temas tratados estão aqueles já abordados pela RN, dando ênfa se ao perigo do capitalismo; ao duplo caráter da propriedade privada e da colaboração de todos os membros da 17

sociedade para permitir ao Estado intervenção supletiva. O documento é dividido em 3 partes e 147 parágrafos, sendo que 40 para a 1ª parte, 50 para a 2ª parte da qual extraímos alguns trechos e reportamos a seguir e, os últimos parágrafos são dedicados à uma análise da situação economico-social da época. Propostas da Quadragésima Anno: 1º) Reconstrução de corpos intermediários com finalidade econômico-profissional. 2º) Autoridade do Estado para a atuação do bem comum. 3º) A colaboração em esfera mundial entre as comunidades políticas, também no campo econômico. A QA condena o liberalismo econômico e contesta o mercado livre; alerta para os limites da propriedade e propõe a co-gestão, co-propriedade e participação nos lucros da empresa; define o direito de intervenção do Estado em caracter subsidiário. Duas classes existentes na época: uma pequena e rica outra grande e pobre; a propostas dos ricos era de resolver o problema com a "caridade" para socorrer os pobres, sem mudar a relação de trabalho. A Finalidade da Quadragesimo Anno é a reforma cristã dos Costumes/Leis Trabalhistas/ Formação dos Cristãos. Transcrição de trechos da QA: Direito de propriedade: relembra as críticas feitas ao Papa Leão XIII como se fosse defensor dos ricos. Porém alerta que ele jamais colocou em dúvida a dupla espécie de domínio: individual e social, que os proprietários não usem do que é seu, senão honestamente. 44. E a fim de por termo às controvérsias que, acerca do domínio e deveres a ele inerentes, começaram a agitar-se, note-se, em primeiro lugar, o fundamento assente por Leão XIII, de que o direito de propriedade é distinto do seu uso. Com efeito, a chamada justiça comutativa obriga a conservar inviolável a divisão dos bens e a não invadir o direito alheio excedendo os limites do próprio domínio que porém os proprietários não usem do que é seu, senão honestamente. Restauração da ordem social 78. Ao falarmos na reforma das instituições temos em vista o Estado, não porque dele se deva esperar-se todo o remédio, mas porque o vício do já referido individualismo levou as coisas a tal extremo, que enfraquecida e quase extinta aquela vida social antes rica e harmônicamente manifestada em diversos gêneros de agremiações, quase só restam os indivíduos e o Estado. Organizações intermediárias 83. Mas a cura só então será perfeita, quando a estas classes opostas, se substituírem organismos bem constituídos, ordens ou profissões, que agrupem os indivíduos, não segundo a sua categoria no mercado do trabalho, mas segundo as funções sociais que desemprenham. 87. E como os habitantes de um município costumam formar associações autônomas para fins muito diversos, às quais cada um é livre de dar ou não o seu nome, assim os que exercem a mesma profissão, conservam a liberdade de se associarem para fins de algum modo relacionados com o exercício de sua arte. 18

Associações operárias: lutar pelos interesses da classe. Associações não operárias: agricultores e corporações Sindicatos 92. O Estado reconheceu juridicamente o sindicato, dando-lhe, porém, caráter de um monopólio, já que só ele, assim reconhecido, pode representar respectivamente operários e patrões, só ele concluir contratos e pactos de trabalho. A inscrição no sindicato é facultativa, e só neste sentido se pode que a organização sindical é livre. RADIOMENSAGENS DE 1941-1954 Durante a II Grande Guerra (1939/1945) o papa foi Pio XII que ficou na história como testemunho de vitalidade e transcendência e durante seus 19 anos de pontificado produziu inúmeros pronunciamentos radiofônicos que ressaltavam:.a dignidade do homem, devendo ser considerado como sujeito e não objeto do Direito.Que todos devem ser proprietários e não proletários.recomendação para a democratização do capital e organização profissional.a humanidade deve ser considerada como povo pensante e não como massa submissa.a autoridade deve ser responsável, com valorização da família. MATER ET MAGISTRA A evolução da vida social à luz dos princípios cristãos. Este documento foi de autoria de João XXIII, sem dúvida uma das maiores personalidades do nosso século. Eleito Papa com 77 anos revolucionou a Igreja e convocou o Concílio Vaticano II que trouxe aos cristãos uma nova orientação no sentido de resgatar as origens e os ensinamentos de Jesus. A Mater et Magistra foi publicada em 15 de maio de 1961, na comemoração dos 70 anos da RN, num ambiente pós II Grande Guerra onde o mundo vive o fenômeno do subdesenvolvimento. É tempo também dos reformadores Kennedy e Chruschov e da internacionalização da economia. Há um crescimento do fenômeno do subdesenvolvimento não obstante a evolução no campo da ciência, da técnica e da economia com o descobrimento da energia nuclear e início da conquista espacial progresso da química e uso de produtos sintéticos. Com o rádio e a televisão há uma diminuição das distâncias entre os vários povos. Na sua estrutura, de início fala do ambiente da RN e seus princípios, relembra a Quadragesimo Anno e as Radiomensagens de Pio XII. A segunda parte aborda atualizações conceituais e doutrinárias sobre a intervenção do Estado, salário, organização da empresa e direito de propriedade. Na terceira parte apresenta os novos aspectos da questão social: a relação entre a agricultura e outros setores; trata o tema agricultura como o êxodo rural, o regime fiscal e de crédito para o campo; a situação demográfica e desenvolvimento econômico; a cooperação 19

internacional para a relação entre os vários setores da economia; regiões desiguais dentro do país; países ricos e países pobres. Aspectos enfatizados pela encíclica: a) socialização com intervenção do Estado e respeito à propriedade privada b) precariedade da situação salarial no 3º Mundo c) o desigualdade entre os povos gera a miséria de mais da metade da população mundial d) necessidade da participação do empregado na vida da empresa como gestão, lucro e propriedade e) integração das associações no governo e a reforma agrária Equilíbrio entre as regiões do mesmo país 150. Ocorre, freqüentemente, que, num mesmo país, os cidadãos gozem, em grau diferente, do progresso econômico e social, pelo fato, principalmente, de viverem e exercerem as suas atividades em áre as de desenvolvimento econômico desigual. Onde isso ocorrer, exige a justiça e a equidade que os poderes públicos tudo façam para suprimir ou, ao menos, para reduzir esses desequilíbrios. Desequilíbrio entre a terra e população 153. Convém, aqui, atender para o fato de que existe em numerosas nações, um sério desequilíbrio entre terra e população. Em alguns países, há escassez de população e abundância de terras cultiváveis; em outros, ao contrário, a população é excessiva e a terra exígua. Exigências da Justiça entre as Nações de diferente desenvolvimento econômico 157. O problema mais importante da nossa época é, talvez, o das relações que devem existir entre os países economicamente desenvolvidos e os países em fase de desenvolvimento. Enquanto uns gozam de um alto padrão de vida, outros suportam os horrores da miséria. Ora, onde quer que se encontrem, os homens se vêem, hoje, ligados por tais vínculos, que é como se habitassem todos a mesma casa. Por isso mesmo,as nações que gozam de saturação e superabundância de bens não podem permanecer indiferentes ante a situação daquelas, cujos habitantes se acham mergulhados em tais crises domésticas, que se vêem condenadas à miséria e á fome e a não desfrutar, sequer, dos direitos fundamentais do homem. Ajuda e cooperação para o desenvolvimento 163....O remédio, será a utilização de todos os meios disponíveis para que, de um lado, os cidadãos possam adquirir uma excelente formação técnica e profissional, e de outro, tenham à sua disposição os capitais necessários para que eles mesmos se incorporem ao processo econômico, segundo normas e métodos adequados à nossa época. Justa repartição 168. Uma produção mais copiosa de bens, através dos processos mais adequados, é, não só um ato de inteligência, como uma imprescindível necessidade. Mas, é, igualmente, necessário e de justiça que as riquezas produzidas sejam, eqüitativamente, distribuídas entre todos os cidadãos. 20