Estudo da inibição de HMF e furfural na fermentação do hidrolisado de madeira de Eucalyptus urophylla

Documentos relacionados
AVALIAÇÃO DO BAGAÇO E BIOMASSA DE GENÓTIPOS DE SORGO SACARINO PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL CELULÓSICO

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE BIOMASSAS NA PRODUÇÃO DE ETANOL LIGNOCELULÓSICO

AVALIAÇÃO DE DIFERENTES PRÉ-TRATAMENTOS PARA DESCONSTRUÇÃO DA BIOMASSA LIGNOCELULÓSICA

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DO TIPO DE PRÉ-TRATAMENTO NA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA

PRODUÇÃO DE BIOETANOL DE PAPEL DE ESCRITÓRIO DESCARTADO POR Spathaspora passalidarum HMD 14.2 UTILIZANDO HIDRÓLISE ÁCIDA E ENZIMÁTICA

HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE PAPEL DE ESCRITÓRIO DESCARTADO COM E SEM PRÉ-TRATAMENTO COM ÁCIDO SULFÚRICO DILUÍDO

PRÉ-TRATAMENTO DE BIOMASSA DE CANA-DE-AÇÚCAR POR MOINHO DE BOLAS EM MEIOS SECO, ÚMIDO E NA PRESENÇA DE ADITIVOS

AVALIAÇÃO DO PRÉ-TRATAMENTO ÁCIDO DO SABUGO DE MILHO VISANDO A PRODUÇÃO DE ETANOL 2G

TOLERÂNCIA A INIBIDORES E ALTO TEOR DE SÓLIDOS POR LEVEDURAS NA PRODUÇÃO DE ETANOL DE 2ª GERAÇÃO

USO INTEGRAL DA BIOMASSA DE CANA-DE-AÇÚCAR PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO

AVALIAÇÃO DA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE Brachiaria brizantha UTILIZANDO COMPLEXO ENZIMÁTICO COMERCIAL

EFEITO DE DIFERENTES FORMAS DE PREPARO DO INÓCULO E DE CONCENTRAÇÕES DOS NUTRIENTES NA PRODUÇÃO DE ETANOL POR Saccharomyces cerevisiae UFPEDA 1238

PROCESSO SACARIFICAÇÃO

CINÉTICA DO CRESCIMENTO DE LEVEDURAS EM MEIO SINTÉTICO, NA PRESENÇA DE INIBIDORES, USANDO DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE FERMENTO

Desenvolvimento de um processo verde de separação por estireno-divinilbenzeno para eliminar inibidores de fermentação do licor de pré-tratamento ácido

X Congresso Brasileiro de Engenharia Química Iniciação Científica

UTILIZAÇÃO DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR SUBMETIDO A DIFERENTES PRÉ-TRATAMENTOS VISANDO A PRODUÇÃO DE ETANOL PELO PROCESSO SFS

Aspectos da conversão de biomassas vegetais em Etanol 2G. Prof. Dr. Bruno Chaboli Gambarato

HIDRÓLISE E FERMENTAÇÃO SIMULTÂNEA DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR PRÉ-TRATADO HIDROTERMICAMENTE

Produção de etanol a partir de resíduos celulósicos. II GERA - Workshop de Gestão de Energia e Resíduos na Agroindústria Sucroalcooleira 13/06/2007

COMPARAÇÃO DE DIFERENTES ESTRATÉGIAS DE PRÉ-TRATAMENTO PARA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DA BIOMASSA DE JABUTICABA PARA PRODUÇÃO DE ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO

ESTUDO DO PRÉ-TRATAMENTO ÁCIDO DA PALHA DE MILHO PARA OBTENÇÃO DE ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO

PRODUÇÃO DE BIOETANOL A PARTIR DA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR

ESTUDO CINÉTICO DO PROCESSO SFS EM BIORREATOR PARA PRODUÇÃO DE ETANOL A PARTIR DE BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR

DETERMINAÇÃO DA EFICIÊNCIA ALCOÓLICA DE DIFERENTES MICRO-ORGANISMOS VISANDO A PRODUÇÃO DE ETANOL 2G

INFLUÊNCIA DA CONCENTRAÇÃO INICIAL DE AÇÚCAR NA FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA DO SUCO DE MELÃO

Produção de Etanol a partir da forrageira Brachiaria Brizantha cv. Marandu.

PRODUÇÃO DE ETANOL DE HIDROLISADO ENZIMÁTICO DE PAPEL DE ESCRITÓRIO DESCARTADO

Uma análise das diferentes fontes de carboidratos para obtenção do bioetanol. Silvio Roberto Andrietta BioContal

POTENCIAL FERMENTATIVO DE FRUTAS CARACTERÍSTICAS DO SEMIÁRIDO POTIGUAR

AVALIAÇÃO DA HIDRÓLISE ÁCIDA DO BAGAÇO DE ABACAXI PARA LIBERAÇÃO DE AÇUCARES FERMENTECÍVEIS

X Congresso Brasileiro de Engenharia Química Iniciação Científica

Aplicações tecnológicas de Celulases no aproveitamento da biomassa

HIDRÓLISE E FERMENTAÇÃO DE ARUNDO DONAX L. PRÉ-TRATADO PARA PRODUÇÃO DE ETANOL 2G.

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ENZIMÁTICO DE ENZIMAS COMERCIAIS NA HIDRÓLISE DE BAGAÇO DE CANA-DE- AÇÚCAR DO RIO GRANDE DO NORTE

EFEITO DA CARGA DE SÓLIDOS E DE ENZIMAS NA HIDRÓLISE DA PALHA DE CANA-DE-AÇÚCAR

Produção de Etanol Via hidrólise. Maria Filomena de Andrade Rodrigues 25/08/2009

Etanol Lignocelulósico

Fatores que Influenciam na Fermentação Etanólica do Hidrolisado de Eucalyptus urophylla

AVALIAÇÃO DE DIFERENTES CONFIGURAÇÕES DE IMPELIDORES NA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR

AVALIAÇÃO DO TIPO DE GÁS E DA PRESSÃO INICIAL NO TRATAMENTO HIDROTÉRMICO DA PALHA DE CANA-DE- AÇÚCAR PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL CELULÓSICO.

ESTUDO DO PROCESSO DE HIDROLISE DE RESÍDUOS LIGNOCELULÓSICOS DO MILHO PARA PRODUÇÃO DE BIOETANOL

INFLUÊNCIA DO ph NA PRODUÇÃO DE ETANOL POR Pichia stipiti

AVALIAÇÃO DA HIDRÓLISE DA PALHA E SABUGO DE MILHO PARA PRODUÇÃO DE ETANOL 2G.

1. INTRODUÇÃO. J.A.C. CORREIA 1, A.P. BANDEIRA 1, S.P. CABRAL 1, L.R.B.GONÇALVES 1 e M.V.P. ROCHA 1.

Produção de Bioetanol a partir de Materiais Lenho-celulósicos de Sorgo Sacarino: Revisão Bibliográfica

COMPARAÇÃO ENTRE PROCESSOS EM SHF E EM SSF DE BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL POR Saccharomyces cerevisiae

Utilização de Membrana de Fibras Ocas na Destoxificação de Hidrolisado Hemicelulósico de Bagaço de Cana-de açúcar visando à Produção de Etanol

ESTUDO FÍSICO-QUÍMICO POR DR - X E FTIR E HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DO BAGAÇO DE CANA-DE- AÇÚCAR SUBMETIDO

Aluna do curso de Graduação em Engenharia Química da UNIJUÍ, bolsista PIBITI/UNIJUÍ, 3

ESTUDO COMPARATIVO DO PRÉ-TRATAMENTO POR PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO SEGUIDO DE HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE PALHA DE CANA DE AÇÚCAR E SABUGO DE MILHO

Artigo. Quim. Nova, Vol. 33, No. 8, , 2010

Seleção de linhagens industriais de Saccharomyces cerevisiae para produção de ácidos orgânicos

ISSN: ISSN online: ENGEVISTA, V. 18, n. 2, p , Dezembro UFSCar Universidade Federal de São Carlos 2

PRODUÇÃO DE ETANOL CELULÓSICO POR SACARIFICAÇÃO E FERMENTAÇÃO SIMULTÂNEAS DA BIOMASSA DE PALMA FORRAGEIRA PRÉ-TRATADA EM MEIO ALCALINO

ANÁLISE DE SENSIBILIDADE GLOBAL E SELEÇÃO DE PARÂMETROS DO MODELO CINÉTICO DE HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DA PALHA DE CANA-DE-AÇÚCAR

Etanol de 2ª. Geração desafios para instrumentação e automação. Cristina Maria Monteiro Machado Embrapa Agroenergia

CINÉTICA DO CRESCIMENTO MICROBIANO. Prof. João Batista de Almeida e Silva Escola de Engenharia de Lorena-USP

ESTUDO DA DEGRADAÇÃO DE RESÍDUOS DO CULTIVO DE MILHO PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO

RESSALVA. Atendendo solicitação da autora, o texto completo desta tese será disponibilizado somente a partir de 11/09/2020.

VIABILIDADE CELULAR DE Pichia stipitis CULTIVADA EM MEIO MÍNIMO E SOBRE A PRESENÇA DE INIBIDORES

CINÉTICA DE ADSORÇÃO DE FURFURAL PELO ADSORVENTE ARGILA BENTONITA

INFLUÊNCIA DOS CONTAMINANTES NO RENDIMENTO FERMENTATIVO NA PRODUÇÃO DO BIOETANOL

TÍTULO: ESTUDO DO APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS DE MANDIOCA MINIMAMENTE PROCESSADA PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL UTILIZANDO A. ORYZAE

INFLUÊNCIA DE INIBIDORES NO PROCESSO DE FERMENTAÇÃO ETANÓLICA DE XILOSE POR PACHYSOLEN TANNOPHILUS

AVALIAÇÃO DO EFEITO DA CARGA DE SÓLIDOS SOBRE A HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR E COMPARAÇÃO ENTRE COMPLEXOS ENZIMÁTICOS COMERCIAIS

USO DO CARBONATO DE SÓDIO COMO ALTERNATIVA PARA O PRÉ-TRATAMENTO DO BAGAÇO DE CANA-DE- AÇÚCAR SOB CONDIÇÕES AMENAS DE PRESSÃO E TEMPERATURA

ESTUDO DA COMPOSIÇÃO DA PALHA DE MILHO PARA POSTERIOR UTILIZAÇÃO COMO SUPORTE NA PREPARAÇÃO DE COMPÓSITOS

Technological Demands for Higher Generation Process for Ethanol Production

APLICAÇÃO DO PLANEJAMENTO FATORIAL 2 4 NA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR

ESTUDO DO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO E FRACIONAMENTO DA LIGNINA PROVENIENTE DE RESÍDUOS LIGNOCELULÓSICOS

ESTUDO DO PRÉ-TRATAMENTO QUÍMICO EM FIBRA DA CASCA DE COCO VERDE PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL 2G

Efeito do Coeficiente Volumétrico de Transferência de Oxigênio na Produção de Xilitol em Biorreator de Bancada

CARACTERÍSTICAS USOS

Estudo da Fermentação Alcoólica por Saccharomyces cerevisiae, em Meio Semi-sintético sem Esterilização, na Presença de p-hidroxibenzaldeído

Pré-tratamento de materiais lignocelulósicos (cont.)

Tecnologia de Bebidas Fermentadas. Thiago Rocha dos Santos Mathias

UTILIZAÇÃO DE HANSENIASPORA SP ISOLADA NO SUCO DO MELÃO NA FERMENTAÇÃO ALCÓOLICA

UTILIZAÇÃO DO BAGAÇO DO SISAL (AGAVE SISALANA) PARA PRODUÇÃO DE LICOR ATRAVÉS DE HIDROLISE ENZIMÁTICA.

Estudo cinético da etapa de hidrólise enzimática da palha da canade-açúcar: efeito da velocidade de agitação e da concentração de substrato

AVALIAÇÃO TÉCNICO-ECONÔMICA DO PROCESSO DE OBTENÇÃO DE OLIGOPEPTÍDEOS E ETANOL A PARTIR DA CASCA DA SOJA

AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DE ETANOL À PARTIR DA MANDIOCA

Soluções usadas em escala industrial ou escala ampliada

ETANOL CELULÓSICO Obtenção do álcool de madeira

VIABILIDADE DE UTILIZAÇÃO DA PALHA DE CANA-DE-AÇÚCAR NA PRODUÇÃO DE ETANOL

O PRÉ-TRATAMENTO HIDROTÉRMICO NO CONCEITO DAS BIORREFINARIAS

PRODUÇÃO DE ETANOL A PARTIR DO HIDROLISADO HEMICELULÓSICO DE BAGAÇO DE CANA.

5º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS

AVALIAÇÃO DA FERMENTAÇÃO DE CALDO DE SORGO SACARINO EMPREGANDO LEVEDURAS COMERCIAIS

SELEÇÃO DE LINHAGEM INDUSTRIAL DE

ESTUDO DA REMOÇÃO DE INBIDORES NO LICOR PRÉ- HIDROLISADO DO BAGAÇO DO PEDÚNCULO DO CAJU PARA PRODUÇÃO BIOTECNOLOGICA

VALORIZAÇÃO INTEGRAL DA BIOMASSA

INFLUÊNCIA DE INIBIDORES NA FERMENTAÇÃO ETANÓLICA DE XILOSE POR PICHIA STIPITIS

PRODUTOS LNF PARA PRODUÇÃO DE ETANOL E ÁLCOOL POTÁVEL A PARTIR DE CEREAIS ENZIMAS PARA HIDRÓLISE DE AMIDO (ÁLCOOL POTÁVEL)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

VALIDAÇÃO DA METODOLOGIA POR CROMATAGRAFIA LÍQUIDA DE ALTA EFICIÊNCIA

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NA RESISTÊNCIA AO ETANOL DA LEVEDURA Saccharomyces cerevisae Y904

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO TRIÂNGULO MINEIRO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E INOVAÇÃO NÚCLEO DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

Transcrição:

Estudo da inibição de HMF e furfural na fermentação do hidrolisado de madeira de Eucalyptus urophylla S. T. ALVES 1, T. F. PACHECO 2, C. M. M. MACHADO 2, BRENNO. A. D. NETO 1 e S. B. GONÇALVES 2 1 Universidade de Brasília, Instituto de Química 2 Empresa Brasileira Pesquisa Agropecuária Agroenergia, Laboratório de Processos Bioquímicos E-mail para contato: suteixeira76@yahoo.com.br RESUMO Os resíduos de madeira têm se mostrado promissores para a produção de etanol lignocelulósico. Observa-se que há uma gama de estudos enfocando as etapas de pré-tratamento e hidrólise enzimática nesta área, contudo não se observa a mesma preocupação com a fermentação. Neste trabalho foi avaliada a fermentação do hidrolisado de Eucalyptus urophylla, obtido através de pré-tratamento físico-químico e hidrólise enzimática (Cellic CTec2). As fermentações foram realizadas utilizando a levedura (Saccharomyces cerevisiae) CAT-1. Os resultados mostraram que para o meio sintético (YPG) obteve-se a eficiência máxima para a produção de etanol, contudo para o hidrolisado a eficiência foi de aproximadamente 84% e para o meio sintético com quantidades de HMF e furfural de 7x10-3 g/l e 2,6x10-2 g/l respectivamente, foi de 91,6%. Demonstrou-se que estes inibidores reduzem a eficiência, mas que não são os únicos responsáveis pela baixa eficiência na fermentação do hidrolisado. 1. INTRODUÇÃO A produção de etanol lignocelulósico é considerada um marco para o desenvolvimento sustentável. Embora a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar e do amido de milho sejam tecnologias bem desenvolvidas, a biomassa lignocelulósica, como resíduos agrícolas, resíduos florestais e resíduos sólidos urbanos, representa uma fonte em potencial de matéria-prima para a produção de etanol, uma vez que é uma matéria-prima barata, abundante e sustentável, que está disponível em todo o mundo e ocorre como um subproduto, sem usos competitivos (Yanase et al., 2012). Um dos entraves do uso destes materiais é a necessidade de um pré-tratamento que disponibilize a celulose para que a hidrólise enzimática seja efetiva. Isso se dá pela rigidez estrutural conferida pela lignina, grau de acetilação da hemicelulose e o próprio grau de polimerização e cristalinidade da celulose, que atuam como bloqueio, impedindo o acesso das enzimas celulases (Sun e Cheng, 2002). No entanto, estes pré-tratamentos além de formarem açúcares derivados da hidrólise e da Área temática: Processos Biotecnológicos 1

degradação da celulose e hemicelulose, formam, também, compostos que podem atuar como inibidores na fermentação. A natureza e concentração destes compostos dependem do tipo de biomassa pré-tratada, assim como das condições do processo (Caetano e Madaleno, 2011). Estes produtos de degradação, que são potenciais inibidores da fermentação, se agrupam em três classes: os derivados do furano; ácidos alifáticos de baixa massa molecular; e derivados fenólicos (Moon e Liu, 2012). Em função das elevadas temperaturas aplicadas nos pré-tratamentos, os açúcares produzidos na hidrólise, principalmente da hemicelulose, se degradam gerando os compostos derivados do furano: o furfural, formado a partir da degradação das pentoses (xilose e arabinose) e o 5-hidroximetilfurfural (HMF), formado como consequência da degradação das hexoses (glicose, manose e galactose) (Moon e Liu, 2012). Estes compostos derivados do furano se comportam como inibidores dos microrganismos, danificando as paredes e membranas celulares, inibindo o crescimento celular, reduzindo as atividades enzimáticas e consequentemente a produção de etanol (Olea et al., 2012). O presente trabalho tem como objetivo avaliar a inibição da levedura em função da presença de inibidores HMF e furfural, formados/provenientes da etapa de prétratamento. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Material Para a produção dos hidrolisados lignocelulósicos foi utilizada a espécie de eucalipto Eucalyptus urophylla. Na hidrólise enzimática utilizou-se o complexo enzimático Cellic CTec2, da Novozymes. A fermentação alcóolica foi realizada utilizando-se a levedura CAT-1. 2.2 Métodos Preparo da biomassa: O material lignocelulósico que se encontrava em forma de cavacos foi processado em moinho de facas tipo Willey, modelo Macor Star FT-60, da marca Fortinox., até granulometria máxima de 3 mm. Pré-tratamento: O material seco e moído foi pré-tratado adicionando-se ácido sulfúrico 1,5% (v/v) à biomassa, numa razão sólido/líquido de 1/10. Esta suspensão foi mantida por 30 minutos em autoclave a 121 C. Este material foi filtrado e o sólido lavado com água. Ao sólido lavado, adicionou-se hidróxido se sódio 4% (m/v), na razão sólido/líquido de 1/10. Esta suspensão foi autoclavada por 30 minutos a 121 C. Este material foi filtrado e o sólido retirado deste prétratamento lavado com água fervente. Parte da fração sólida de ambas as etapas foi reservada para a determinação de umidade do material em estufa de secagem a 105 C e caracterização quanto ao teor de celulose e hemicelulose. Caracterização da biomassa: O material bruto e frações sólidas obtidas nos pré-tratamentos ácido e alcalino (após secagem) passaram por caracterização química para determinar o teor de celulose e hemicelulose, segundo metodologia de hidrólise ácida adaptada de Gouveia et al., 2009. As amostras foram diluídas e clarificadas em cartuchos C18 e em seguida analisadas utilizando coluna Aminex HPX 87 H e detector de índice de refração no cromatógrafo líquido de alta Área temática: Processos Biotecnológicos 2

eficiência CLAE, modelo 1260 Infinity, da marca Agilent Technology. Hidrólise enzimática: O material pré-tratado foi submetido à hidrólise enzimática empregando 15 FPU do extrato enzimático comercial Cellic CTec2 por grama de substrato seco em tampão citrato de sódio/ácido cítrico 0,1 mol/l e ph 5,0 numa razão sólido/líquido de 1/10. A hidrólise foi realizada em Shaker orbital de bancada com incubação e refrigeração, modelo Max 4000, da marca Thermo Scientific, a 50 C e 200 rpm por 24 horas. Fermentação: Meio sintético: Foi utilizado o meio de cultura YPG, nas concentrações de 1, 0,5 e 10% para extrato de levedura, peptona bacteriologia e glicose respectivamente. Para o isolamento da colônia de levedura fez-se o plaqueamento com meio sólido YPG 2%. O meio de cultura e todo o material usado na fermentação foram autoclavados por 30 minutos a 121 C. Com a técnica de plaqueamento a levedura foi isolada em colônias. Colônias isoladas de S. cerevisiae (CAT-1) foram inoculadas em meio rico e mantidas em shaker a 30 C e 150 rpm para propagação por 12 horas. A fermentação em meio sintético e o crescimento da levedura foram realizados em Shaker a 30 C e 150 rpm, com inoculo de 10%. Meio hidrolisado: Após análise para obtenção da concentração de glicose presente no hidrolisado, adicionou-se glicose até que a concentração final do meio alcançasse 100 g/l. O meio hidrolisado foi inoculado com 10 g/l de levedura (CAT-1) crescida anteriormente no meio sintético e a fermentação ocorreu conforme descrito anteriormente. Meio sintético com inibidores: Com as concentrações dos inibidores furfural e HMF encontradas no hidrolisado, adicionou-se, em quantidades equivalentes, as substâncias ao meio sintético e verificou-se o comportamento da levedura. A fermentação ocorreu de forma semelhante às anteriores. Análises: Após as etapas de pré-tratamento e da hidrólise enzimática foram feitas análises, em cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), para a quantificação de inibidores e açúcares, bem como as alíquotas retiradas em cada etapa dos processos de hidrólise enzimática e de fermentação também foram analisadas pela mesma técnica. A concentração de células foi determinada através de leitura da densidade ótica em espectrofotômetro multimodal com absorbância UV/VIS, modelo Spectramax, da marca Molecular Devices, a 650 nm utilizando-se uma relação pré-estabelecida entre a concentração de células e a absorbância. Cálculos dos parâmetros de fermentação: Os parâmetros cinéticos da fermentação foram obtidos através da utilização dos cálculos da taxa específica máxima de crescimento, dos fatores de conversão de substrato em células e em produto e da eficiência de fermentação. Taxa específica máxima de crescimento (µ max ): A taxa específica de crescimento celular (µ) foi calculada pela Equação 1. µ = 1 dx X. dt (1) Onde X é a concentração celular (g/l) e t é o tempo (minutos). Área temática: Processos Biotecnológicos 3

Fator de conversão de substrato em produto (Y P/S ): O fator de conversão de substrato em produto foi expresso em g etanol /g glicose, sendo calculado através da Equação 2. Y P / S = dp ds (2) Onde P é a concentração do produto (g/l) e S é a concentração de substrato (g/l). Fator de conversão de substrato em células (Y X/S ): O fator de conversão de substrato em células foi expresso em g células /g glicose, sendo calculado através da Equação 3. Y X / S = dx ds (3) Eficiência de fermentação (E): Foi calculada com base no rendimento teórico proveniente da equação de Gay-Lussac (51,1 g etanol /100g glicose ) (Ilha et al., 2008), segundo a Equação 4. E = Y P / S.100/ 0,511 (4) 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização química do material bruto e pré-tratado: os resultados da caracterização química da madeira em seu estado natural (bruta) e depois de passar pelas etapas de prétratamento ácido e do ácido seguido do alcalino são discutidos para a quantidade de celulose e hemicelulose disponibilizada após a etapa de pré-tratamento. Na caracterização do eucalipto da espécie Eucalyptus urophylla, a quantidade de celulose verificada, dada pela média das análises realizadas, foi de 28%. Este valor não é compatível ao encontrado na literatura, na qual, para a mesma espécie, está na faixa de 35 a 50% (Gomide et al., 2010). Para a hemicelulose, o valor encontrado foi de 8% e na literatura o valor está na faixa de 17 a 19%. Esta diferença ocorre, possivelmente, pela diferença no método utilizado na caracterização e nas variáveis como concentração do ácido sulfúrico e temperatura (Mokfienski e Gomide, 2003). Após o pré-tratamento ácido, o percentual de celulose disponibilizada foi de 32% e da hemicelulose 6%. Na etapa seguinte, alcalina, o percentual de celulose foi de 40% e a de hemicelulose de 2%. Hidrólise enzimática: nesta etapa os resultados são restritos aos pontos inicial e final, uma vez que este estudo tem como foco principal o processo de fermentação. Por meio da curva padrão obtida no CLAE, pôde-se quantificar a glicose formada durante o processo. Obteve-se, com 24 horas de hidrólise enzimática, 20,7 g/l de glicose no meio. De acordo com a metodologia de Área temática: Processos Biotecnológicos 4

caracterização, o rendimento máximo esperado seria de 40,0 g/l, com isso foi observado que o rendimento médio da hidrólise foi de 59% com o pré-tratamento aplicado. Esta conversão já era esperada visto que a madeira é um material muito recalcitrante quando comparado com outras biomassas. Soma-se a isso o fato de que a proporção sólido/líquido em todas as etapas dos processos é 1:10, o que normalmente não é encontrado na literatura, que, em geral, é de 1:30 (referências). Esta proporção foi utilizada visando-se um processo em escala industrial. Fermentação: As fermentações foram conduzidas seguindo o procedimento descrito na metodologia e apresentaram resultados muito diferentes. O comportamento quanto ao crescimento da levedura no meio sintético foi o esperado, já que é um meio rico e contém todos os nutrientes necessários para o seu desenvolvimento. O resultado do meio sintético foi usado como meio de comparação com os outros dois meios analisados, como mostra a Figura 1. Figura 1 Crescimento da levedura: (A) Comparação do meio sintético com o meio hidrolisado; (B) Comparação do meio sintético com o meio sintético com inibidores. No meio sintético a fase Lag pode ser considerada curta, o que indica uma rápida adaptação dos microrganismos ao meio. Já no meio hidrolisado observa-se a não adaptação e um crescimento muito lento da levedura, Figura 1 (A). Isso fica evidente ao se comparar os fatores de conversão de substratos em células (Y X/S ) nos dois meios. No meio sintético a levedura apresentou o fator de conversão de 0,051 g célula /g glicose com um desvio padrão médio de ± 0,005 e no meio hidrolisado apresentou 0,023 g célula /g glicose com desvio padrão de ± 0,003, em valores absolutos podemos afirmar que o fator de convenção no meio hidrolisado é quase metade do meio sintético, mostrando realmente que a levedura não se adaptou ao meio hidrolisado. Diante destes resultados foi analisada a presença dos inibidores furfural e HMF no hidrolisado, e encontrou-se concentrações de 0,026 g/l para o furfural e 0,007 g/l para o HMF. De posse destas concentrações, estes compostos foram adicionados ao meio sintético e verificou-se que a levedura não se desenvolveu como no meio sintético sem inibidores, conforme mostra a Figura 1 (B). Ao compararmos os fatores de conversão do meio sintético (Y X/S = 0,051 g célula /g glicose ) e do meio Área temática: Processos Biotecnológicos 5

hidrolisado (Y X/S = 0,023 g célula /g glicose ) com o meio contendo inibidores, Y X/S = 0,033 ± 0,007 g célula /g glicose, verificou-se que o aumento na concentração de células no meio sintético com a presença de inibidores foi de 28%, e se compararmos com o meio sintético puro que foi de 41% e com o meio hidrolisado que foi de 17% constatamos que houve uma queda em relação ao meio padrão, mas um aumento em relação ao meio hidrolisado. O fato de a levedura ter se desenvolvido, mesmo que precariamente, na presença de inibidores deve-se as concentrações dos compostos inibidores presentes no hidrolisado serem muito baixas, pois na literatura a concentração para inibirem o crescimento de microrganismos pode variar, dependendo da biomassa e do pré-tratamento que foi empregado (Almeida et al, 2009). Para o furfural, a concentração encontrada foi de 0,4 g/l para o Abeto (árvore conífera do gênero Abies da família Pinaceae) (Rudolf et al, 2004), enquanto que para a cana-de-açúcar e bagaço de cana-de-açucar 2,22 g/l (Neureiter et al, 2002). Para o HMF a menor concentração encontrada foi de 0,06 g/l para a palha de milho (Öhgren et al, 2005) e a maior foi de 3,0 g/l para o abeto (Rudolf et al, 2005). 90 80 70 Glicose Sintético Etanol Sintético Glicose Hidrolisado Etanol Hidrolisado 90 Glicose Sintético Etanol Sintético 80 Glicose Inibidores Etanol Inibidores 70 Concentraçao [g/l] 60 50 40 30 Concentraçao [g/l] 60 50 40 30 20 20 10 10 0 0 60 120 180 240 300 360 420 480 Tempo (min) (A) 0 0 60 120 180 240 300 360 420 480 Tempo (min) Figura 2 Produção de etanol: (A) Comparação do meio sintético com o meio hidrolisado; (B) Comparação do meio sintético com o meio sintético com inibidores. (B) Os resultados apresentados na Figura 2 nos permitem os cálculos dos parâmetros cinéticos da fermentação, comprovando a diferença no comportamento da levedura nos meios analisados. Para a taxa especifica máxima de crescimento microbiano (µ max ) encontraram-se os seguintes resultados no meio sintético, hidrolisado e sintético com inibidores, respectivamente: 1,7x10-3 g/h - 1, 0,5x10-3 g/h -1 e 1,1x10-3 g/h -1. Já o fator de conversão de substrato em produto (Y P/S ) os resultados foram, respectivamente, 0,48 g etanol /g glicose, 0,37 g etanol /g glicose e 0,44 g etanol /g glicose, e por último, a eficiência da fermentação (E) foi de 94%, 72% e 86%. Os resultados do meio sintético com a presença dos compostos furfural e HMF foram bem próximos aos resultados do meio sintético puro. Contudo, é notável que a levedura não tenha apresentado a sua melhor conversão como no meio sintético puro e isso pode ser atribuído ao Área temática: Processos Biotecnológicos 6

estresse que foi submetido pela presença destes compostos. E verificou-se que houve uma diminuição na via metabólica da levedura, o que acarretou uma queda na concentração final do produto no meio. 4. CONCLUSÃO Os resultados mostram que a fermentação do hidrolisado de eucalipto apresenta eficiência muito aquém do desejado, contudo foi observado que o meio sintético com inibidores apresenta eficiência muito próxima ao meio sintético, demostrando que a presença dos inibidores, HMF e furfural, alteram o metabolismo da levedura, mas que não são os únicos responsáveis pela baixa eficiência na fermentação do hidrolisado de madeira. 5. REFERÊNCIAS ALMEIDA, J. RM.; BERLILSSON, M.; GORWA-GRAUSLUND, M. F.; GORSICH, S.; LIDÉN, G. Metabolic effects of furaldehydes and impacts on biotechnological processes. Appl Microbiol Biotechnol., v. 82, p. 625-638, 2009. CAETANO, A.C.G.; MADALENO, L.L. Controle de contaminantes bacterianos na fermentação alcoólica com a aplicação de biocidas naturais. Ciência & Tecnologia, v. 2, p. 27-37, 2011. GOMIDE, J. L.; NETO, H. F.; REGAZZI, A. J. Análise de critérios de qualidade da madeira de eucalipto para produção de celulose kraft. R. Árvore., v. 34, p. 339-344, 2010. MOKFIENSKI, A.; GOMIDE, J. L. Colóquio Internacional sobre Celulose Kraft de Eucalipto. v. único, 5, 2003. MOON, J.; LIU, Z.L. Engineered NADH-dependent GRE2 from Saccharomyces cerevisiae by directed enzyme evolution enhances HMF reduction using additional cofactor NADPH. Enz. and Microbial Technol., v. 50, p. 115-120, 2012. NEUREITER, M.; DANNER, H.; THOMASSER, C.; SAIDI, B.; BRAUN, R. Dilute-acid hydrolysis of sugarcane bagasse at varying conditions. Appl Biochem Biotechnol., v. 98, p. 49-58, 2002. ÖHGREN, K.; GALBE, M.; ZACCHI, G. Optimization of steam pretreatment of SO2- impregnated corn for fuel ethanol production. Appl. Biochem. Biotechnol., v. 124, p. 1055-1067, 2005. OLEA, E.H.; CARRILLO, E.P.; SALDÍVAR, S.O.S. Effects of different acid hydrolyses on the conversion of sweet sorghum bagasse into C5 and C6 sugars and yeast inhibitors using response surface methodology. Bioresour. Technol., v. 119, p. 216-223, 2012. RUDOLF, A.; ALKASRAWI, M.; ZACCHI, G.; LIDÉN, G. A comparison betweem batch and fed-batch simultaneous saccharification and fermentation of steam pretreated spruce. Enz. Microb. Technol., v. 37, p. 195-204, 2005. RUDOLF, A.; GALBE, M.; LIDÉN, G. Controlled fed-batch fermentations of dilute-acid Área temática: Processos Biotecnológicos 7

hydrolysate in pilot development unit scale. Appl Biochem Biotechnol., v. 114, p. 601-617, 2004. SUN, Y.; CHENG, J. Hydrolysis of lignocellulosic materials for ethanol production: a review. Bioresour. Technol., v. 83, p. 1-11, 2002. YANASE, H.; MITSUGU, H.; SAKURAI, M.; KAWAKAMI, A.; MATSUMOTO, M.; HAGA, K.; KOJIMA, M.; OKAMOTO, K. Ethanol production from wood hydrolysate using genetically engineered Zymomonas mobilis. Appl. Microbiol. Biotechnol., v. 94, p. 1667-1678, 2012. ZHAO, H.; JONES, C. L.; BAKER, G. A.; XIA, S.; OLUBAJO, O.; PERSON, V. N. Regenerating cellulose from ionic liquids for an accelerated enzymatic hydrolysis. J. Biotechnol., v. 139, p. 47-54, 2009. Área temática: Processos Biotecnológicos 8