RISCOS OCUPACIONAIS DO TRABALHO: ANÁLISE DO PERFIL SÓCIO- PROFISSIONAL DE SERVIDORES DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO 1

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Transcrição:

RISCOS OCUPACIONAIS DO TRABALHO: ANÁLISE DO PERFIL SÓCIO- PROFISSIONAL DE SERVIDORES DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO 1 GUARIENTI, Édio Patric 2 ; GODOY, Leoni Pentiado 2, PORTELA, Odete Teresinha 2, RODRIGUES, Marlene Kreutz 2, PINHEIRO, Elisângela 2. 1 Trabalho de Pesquisa _UFSM 2 Curso de Pós-graduação em Engenharia de Produção (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: edioguarienti@yahoo.com.br; RESUMO A presente pesquisa tem por objetivo caracterizar o perfil sócio-profissional do hospital universitário de Santa Maria HUSM quanto a segurança do trabalhador. Para o estudo utilizou-se a pesquisa de campo com aplicação de questionário para uma amostra populacional de 349 funcionários no ano de 2010. Os dados foram trabalhados através da estatística descritiva e os resultados demostraram que a maioria dos profissionais tinham 40 anos em média e eram do sexo feminino. A categoria profissional mais exposta a riscos de acidente foi os auxiliares e técnicos de enfermagem com 48,1% dos casos. Entre os tipos de acidentes, a maior ocorrência foi com o manuseio de instrumentos pérfuro-cortantes com cerca de 32% dos casos. Palavras-chave: Segurança no trabalho; Hospital universitário; perfil sócio-profissional.. 1. INTRODUÇÃO A ocorrência dos acidentes do trabalho é atribuída muitas vezes ao não seguimento dos padrões definidos o não uso de Equipamentos de Proteção Individual, entre outros. No entanto, há muitas outras variáveis que contribuem para as ocorrências de falhas como: falta de treinamento, inexperiência, indisponibilidade de equipamentos de segurança, fadiga, repetitividade de tarefas, dupla jornada de trabalho, distúrbios emocionais, excesso de autoconfiança, pouca qualificação profissional, desorganização do serviço, despreparo emocional para situações de emergência e negligência e principalmente a falta de definição clara dos padrões de qualidade da instituição, a organização dos fluxos, definição de responsabilidades, capacitações periódicas e auditorias de avaliação. Acidente de trabalho é o evento súbito ocorrido no exercício de atividade laboral, independentemente da situação empregatícia e previdenciária do trabalhador acidentado. (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006, p. 11). Os acidentes de trabalho que acometem 1

os profissionais que atuam nos serviços de saúde derivam de complexas inter-relações e não devem ser analisados de forma isolada. O que realmente deve acontecer é uma análise do contexto dos processos de trabalho e produção, das formas como o trabalho é organizado e realizado, das condições de vida dos profissionais expostos, enfim, das cargas de trabalho presentes no dia-a-dia dos trabalhadores (ALMEIDA e JACKSON FILHO, 2007). O acidente pode acarretar dano potencial ou imediado à saúde, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que pode causar direta ou indiretamente, a morte ou a perda ou redução permanente ou temporária da capacidade para o trabalho. Inclui-se também, o acidente ocorrido em qualquer situação em que o trabalhador esteja representando os interesses da empresa ou agindo em defesa de seu patrimônio, assim como, aquele ocorrido no trajeto da residência para o trabalho ou do trabalho para a sua residência (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Apesar da existência da norma de Serviços Especializados de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT), estabelecida na Portaria no 3.214/78, nem sempre suas orientações são seguidas pelo campo. Os espaços de intervenção e atenção em saúde do trabalhador seguem uma tendência mundial dos países que passaram por movimentos de Reformas Sanitárias semelhantes. 2. METODOLOGIA Estudo do tipo descritivo com abordagem quantitativa. Como estratégia de pesquisa, optou-se pelo estudo de caso. (POLIT, BECK e HUNGLER, 2004). As categorias abordadas foram: auxiliares e técnicos em enfermagem, enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, farmacêuticos, farmacêuticos bioquímicos, psicólogos, técnicos em radiologia e técnicos e auxiliares de laboratório. O campo de estudo foi um hospital universitário federal localizado na cidade de Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul. Trata-se de uma instituição de grande porte, atende média e alta complexidade, e é referência para 43 municípios da região (1.100.000 hab.), em diversas especialidades, na formação de recursos humanos na área da saúde e no desenvolvimento de práticas acadêmicas multidisciplinares. Conta com cerca de 1.824 profissionais. A amostra da população, deste estudo, foi selecionada por meio de um processo amostral aleatório simples entre os profissionais da saúde do hospital. Para a estimativa do número de participantes na pesquisa, foram considerados os seguintes critérios de inclusão: 2

ser profissional da área de saúde do hospital, estar em escala de serviço no período em que os dados foram coletados, aceitar participar da pesquisa, após esclarecimento em relação aos objetivos e finalidades da mesma, assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, estruturado em duas vias. Após a assinatura, a primeira via ficou com o participante e a segunda arquivada, sob responsabilidade do pesquisador responsável. Como critério de exclusão foi considerado: os profissionais em férias, em atestados médicos, em licenças e aqueles que não concordaram em participar da pesquisa. Após a concessão da permissão para a realização da pesquisa pela Direção de Ensino e Pesquisa do Hospital, o projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética e Pesquisa de uma Instituição de Ensino Superior pública federal para análise, atendendo-se ao recomendado pela Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, tendo sido aprovado, sob registro de Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE): 0129.0.243.000-09. Obedecidos tais critérios, obteve-se uma amostra de 349 profissionais, estratificado por categoria profissional. Nas categorias que existem menos de dez profissionais utilizouse toda a população. O instrumento de coleta de dados foi validado após ser aplicado para 10 profissionais, constando-se a necessidade de adequação de alguns itens. Procedeu-se a coleta de dados no período de maio a junho de 2010. O instrumento de pesquisa foi colocado dentro de um envelope pardo e distribuído, pelos pesquisadores, aos participantes da pesquisa em seus respectivos locais de trabalho e, recolhido no dia seguinte. As informações coletadas foram digitadas em banco de dados apropriado, criado a partir do Programa MS Excel. Após a alimentação deste banco de dados e conferência das informações, procedeu-se a sua análise. O tratamento dos dados ocorreu por meio da estatística descritiva. Os resultados encontrados foram discutidos com os dados da literatura sobre o tema e são apresentados a seguir. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES A população estudada é composta por 270 do sexo feminino e 79 do sexo masculino e estão distribuidos em 11 categorias profissionais conforme figura 1. Ao relacionar os profissionais entrevistados com o número de ocupações, tem-se: 72,9% possui uma; 22,8% duas; 3,4% três; 0,6% quatro; e 0,3%, cinco empregos. Os dados evidenciam um contingente maior de pessoal na categoria de Auxiliar e Técnicos de Enfermagem, seguido por médicos e enfermeiros. Na categoria, médicos, estão inclusos os bolsistas residentes, o 3

que justifica o número de profissionais maior do que enfermeiros, porém quando analisado sob o ponto de vista de equipe, a enfermagem tem uma representatividade maior do que os demais (62,2%). 1 - Auxiliar e técnicos de enfermagem 2 - Enfermeiros 3- Médicos 4- Fisioterapeutas 5- Nutricionistas 6- Farmacêuticos 7- Farmacêuticos bioquímicos 8- Psicólogos 9- Tecnicos em radiologia 10- Técnicos e auxiliares de laboratório 11- Técnicos farmacêuticos Figura 1: Distribuição da população quanto a categoria profissional. Em relação ao gênero, sob a ótica de equipe, observa-se que a enfermagem é uma profissão predominantemente feminina. Neste estudo, 77,4% (n=270) dos participantes são mulheres e apenas 22,6% (n=79) representam o sexo masculino. Segundo os padrões da divisão do trabalho, a predominância da mulher na enfermagem, historicamente, está relacionada à atividade de cuidar dos doentes com características tecnológicas próprias de assistir, alimentar, higienizar, prover elementos indispensáveis ao bom desenvolvimento do enfermo (GIOMO et al, 2009). Estado civil dos entrevistados Casado 56% Solteiro 25% Divorciado 9% Outros 10% Número de filhos n= 1 23,2% n= 2 30,9% n= 0 31,2% n= 3 8,6% n= 4 1,7% n= 5 0,3% Não resp. 4% Grau de instrução dos entrevistados Especialização 41,3% Graduação 20,8% Ensino médio 25,1% Mestrado 8,4% Doutorado 3,5% Ensino fundamental 0,9% Figura 2: Distribuição da população quanto o estado civil, número de filhos e grau de instrução/escolaridade. Entre os profissionais da saúde do HUSM a média de idade é de 40 anos, sendo a mínima 23 e a máxima 66 anos. Na maioria, são casados, o que coincide com resultados de outros estudos. (GIOMO et al, 2009). Em relação ao número de filhos, houve uma variação entre nenhum até cinco filhos, predominando um ou dois filhos por profissionais. 4

Em um estudo realizado no Rio de Janeiro, em hospital público versando sobre ser mulher, mãe e trabalhadora de enfermagem, as participantes, em seus discursos, evidenciaram a dificuldade em conciliar os diversos papéis assumidos pela mulher com a rotina doméstica que absorve o seu cotidiano porque tudo o que ocorre em casa requer sua atenção, seu envolvimento. No trabalho, assume suas atribuições de rotina como os demais trabalhadores contribuindo para a sobrecarga no trabalho. Assim, o cansaço com a dupla jornada muitas vezes é um fator que interfere em suas opções na vida familiar em relação ao número de filhos, já que a sobrecarga maior de responsabilidade sobre os filhos e as rotinas domésticas ainda recaem sobre elas. (SPINDOLA, 2000) Analisando os dados referentes ao grau de instrução, verificou-se que a maioria dos participantes da pesquisa possui nível médio, superior e grande parcela, especialização. Para avaliar a saúde do trabalhador e acidentes de trabalho junto aos profissionais da saúde do HUSM abordaram-se os aspectos relacionados ao uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI), a identificação de doenças que afastaram os profissionais do trabalho nos últimos dois anos, a incidência de doenças crônicas e hábitos saudáveis de vida, a fim de propor estratégias para a promoção da saúde. A concepção de acidente de trabalho, nesta pesquisa, é qualquer evento que ocorre durante o desempenho laboral ou durante o deslocamento entre a residência e o local de trabalho. A doença profissional é a que foi produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho inerente à atividade. Todo acidente de trabalho deve ser registrado na instância previdenciária competente, utilizando-se a Comunicação de Acidentes de Trabalho (CAT) para este fim (GIOMO, 2009). Em relação aos fatores de riscos para a saúde do trabalhador, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), define risco presentes ou relacionados ao trabalho e, classifica em cinco grandes grupos: riscos biológicos, físicos, químicos, ergonômicos e psicossociais. (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, OPAS, 2001). Uma significativa parcela de profissionais (46,8%) já sofreu acidente de trabalho. Quanto ao tipo (Figura 3), destaca-se o pérfuro-cortante (32,7%), seguido de respingo (14,8%). Vale ressaltar que acidentes com respingo, geralmente ocorre por falta de uso do Equipamento de Proteção Individual (EPI), principalmente óculos, em procedimentos que os expõe ao contato com o sangue. Ainda, foram relatados acidentes de percurso, contato com doença contagiosa, inalatórios, mordida de pacientes, traumatismo. 5

120 100% Ocorrência 100 80 60 40 20 75% 50% 25% 0 Perfuro cortante Respingo Queda Outros 0% Figura 3: Principais causas de acidentes de trabalho. Em relação ao uso de EPI, 49,8% (n=165) dos participantes responderam que sempre utilizam Equipamento de Proteção Individual (EPI) recomendado; 46,5% (n=154) às vezes 2,7% (n=9) não se aplicam e 0,9% (n=3) nunca usa. Do total da amostra 5,2% (n=18) não responderam a questão. As justificativas para não utilizar o equipamento de proteção individual foram: falta de material (n=13), esquecimento, descuido ou negligência (n=12), em emergência e por falta de tempo (n=5), diminui a sensibilidade (n=4) e ser desconfortável (n=2). Este fato é relevante, na medida em que, estudos realizados por Bálsamo e Felli (2006) mostraram que a exposição a materiais biológicos constitui preocupação de todos os profissionais em relação aos fatores de riscos decorrentes do contato direto ou indireto com sangue e outros fluidos corporais. Isto especialmente, no que se refere à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e às Hepatites B ou C, doenças, cujos agravos trazem conseqüências nocivas à saúde dos trabalhadores (ZENKNER, 2006). Neste sentido, Oliveira (2003) aponta a capacitação do trabalhador para a segurança no trabalho como uma estratégia na prevenção de acidentes, o que produz excelentes resultados quando associado à melhoria contínua dos ambientes e da organização do trabalho. Este autor ressalta ainda que, o serviço deve oferecer abertura ao funcionário para que ele possa discutir ponderar e propor medidas de melhorias, tanto no ambiente quanto na organização dos processos de trabalho. Apesar dos profissionais serem conhecedores dos riscos, estudos mostra que mesmo após treinamento sobre o uso das precauções-padrão, os estudantes e trabalhadores da saúde de um hospital no Rio de Janeiro, não adotavam a lavagem das mãos antes e após a realização de procedimentos, bem como continuavam reencapando as agulhas utilizadas. A maioria dos profissionais da saúde conhece a importância do seu uso, porém não tem o cuidado de usá-los ao prestar assistência aos pacientes. Certamente os profissionais têm dificuldade em incorporar as medidas preventivas contidas nas precauções-padrão, porque requer nova aprendizagem e, principalmente, mudança de 6

hábitos (SHIMIZU, 2002). Registrar adequadamente os acidentes de trabalho é responsabilidade tanto do profissional quanto do hospital, pois as informações contidas no formulário da CAT são de grande contribuição não apenas para o setor previdenciário, estatístico e epidemiológico, mas também para os setores trabalhistas e sociais (SÊCCO et al., 2003). A não notificação de acidentes é uma prática usual entre os trabalhadores brasileiros, tanto devido ao desconhecimento da necessidade desse tipo de registro, quanto ao excesso de procedimentos burocráticos. A subnotificação dos acidentes causados por materiais perfuro cortantes e fluidos biológicos é bastante alta porque os profissionais da saúde dão pouca importância para esse tipo de acidente, apesar do constante risco de adquirir doenças. Dentre os motivos apresentados, destacam-se: a percepção de que a lesão é pequena e a crença de que não irá causar danos para a saúde (SHIMIZU, 2002) complexidade do fluxograma da notificação, medo dos resultados das sorologias para HIV, HBV e HBC, indevidos importância ao fato. (GIOMO et al, 2009). Neste estudo, a categoria profissional que teve o maior número de acidentes de trabalho (Figura 4) foi a dos auxiliares e técnicos de enfermagem 48,1% (n=78), seguida pelos enfermeiros 21,6% (n=35) e médicos 16,7% (n=27). Farmacêuticos e técnicos de laboratório, ambos, com seis acidentes, farmacêutico bioquímico e técnico de radiologia, ambos, com três acidentes; fisioterapeuta e técnico de farmácia com dois acidentes em cada categoria; psicólogo com um acidente e a categoria que não apresentou acidente de trabalho foi a de nutricionista. Acidentes por Categoria profissional 80 70 60 50 40 30 20 10 0 77 34 1 - Aux. e técn. enfermagem 2 - Enfermeiros 3- Médicos 4- Farmacêuticos 5- Técn. e Aux. Laboratório 27 6 6 3 2 2 2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Categoria 6- Farmacêutico bioquímico 7- Técnicos de radiologia 8- Fisioterapeutas 9- Técn. farmacêutico Figura 4: Quantidade de acidentes de trabalho por categoria profissional. Possivelmente, esta maior freqüência de acidentes entre os trabalhadores da enfermagem, quando comparada a outras categorias profissionais, decorre da complexidade do processo de trabalho da enfermagem, pois são esses profissionais que convivem mais tempo com os pacientes, realizam cuidados diretos e ininterruptos nas 24 horas do dia. 7

Procedimentos que os expõem ao risco de acidentes, tais como: preparo e administração de medicação, coleta de sangue, punção venosa e realização de glicemia capilar. O número de profissionais reduzido aliado a gravidade do quadro clínico dos pacientes, a complexidade dos cuidados e a carência de materiais e equipamentos também são fatores que contribuem para aumentar o número de acidentes entre os auxiliares e técnicos de enfermagem. Também alguns estudos apontam que quanto menor o grau de qualificação profissional maior o risco de sofrer acidente de trabalho. (SHIMIZU, 2002) No caso de acidente, Ribeiro e Shimizu (2007) sugere que o foco de análise deve incluir o estudo dos processos de trabalho em que os trabalhadores estão inseridos, bem como, o seu contexto de vida, uma vez que, estes interferem diretamente no desencadeamento destes agravos. A maioria dos acidentes de trabalho, que comprometem a saúde do trabalhador, está relacionada diretamente com o instrumento de trabalho utilizado para executar a sua função, com seu ambiente de trabalho, bem como com a quantidade de serviço que esse trabalhador desenvolve. Os autores afirmam que ritmo acelerado de trabalho, a dupla jornada desenvolvida por alguns profissionais são geradoras de acidentes e podem comprometer a saúde dos trabalhadores. Esse aumento do ritmo na produção é, também, gerador de ansiedade e medo no trabalhador, pois estará mais exposto aos riscos e a probabilidade da ocorrência dos acidentes (SARQUIS e FELLI, 2002). Em relação ao número de empregos, constatou-se que, 72,9% (n=253) possuem apenas um emprego, 22,8% (n=79) possuem dois empregos, 3,4% (n=12) possuem três empregos, assim como dois profissionais (0,6%) possuem quatro empregos e um (0,3%) possui cinco empregos. Ao relacionar a ocorrência de acidente de trabalho com o número de empregos averiguou-se que dos profissionais que possuem um emprego 49,4% (n=125) sofreram acidente, os que possuem dois empregos sofreram 41,7% (n=33), com três empregos sofreram 25% (n=3) e os trabalhadores com quatro empregos sofreram apenas 0,3% (n=1) dos acidentes. Esses dados mostram que não houve uma relação direta entre os acidentes de trabalho e o número de empregos que cada profissional possui. A incidência de acidentes relacionada a erros cometidos no trabalho seja por deficiência técnica ou cansaço, não são pequenas no universo dos acidentes registrados e estudados, cujas causas vão desde a precariedade das condições físicas do ambiente onde o trabalho se realiza as distorções em sua forma de organização até os comportamentos inadequados dos trabalhadores, na execução de suas tarefas. (OLIVEIRA, 2003). 8

Diante desta problemática, o foco é buscar estratégias preventivas possíveis que possam contribuir para a prevenção dos acidentes de trabalho e a promoção à saúde do trabalhador. Estratégias estas, que devem ser institucionalizadas, e trabalhadas com o fortalecimento das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (CIPA) (BRASIL, MTE, 2007). 4. CONCLUSÃO A análise dos dados, na perspectiva de acidentes de trabalho entre profissionais da saúde de um hospital universitário do interior do Rio Grande do Sul, permitiu o conhecimento relacionado aos aspectos sócio-demográficos, aos acidentes de trabalho, ao uso de EPIs. Informações importantes tanto para as decisões gerenciais na área da gestão de pessoas como para a gestão da instituição. Assim é possível conhecer as características dos profissionais atuantes nesse hospital e, a partir dos resultados desse estudo, identificar oportunidades que devem ser trabalhadas, a fim de melhorar a qualidade de vida e saúde do trabalhador na instituição, gerando saúde e satisfação. O grande desafio, a partir deste estudo, está relacionado à elaboração de estratégias que atendam as expectativas de desenvolvimento e valorização do trabalhador, com o intuito de melhorar o desempenho da instituição. As informações levantadas são relevantes para se investir nos trabalhadores da saúde nas diversas categorias profissionais. REFERÊNCIAS ALMEIDA, I. M.; JACKSON FILHO, J. M. Acidentes e sua prevenção. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. v. 32, n. 115, p. 7-18, 2007. BALSAMO, A. C.; FELLI, V. E. A. Estudo sobre os acidentes de trabalho com exposição aos líquidos corporais humanos em trabalhadores da saúde de um hospital universitário. Revista Latino- Americana de Enfermagem, v. 14, n. 3, p. 346-353, 2006. SPINDOLA, T. Mulher, mãe e... trabalhadora de enfermagem. Rev.Esc.Enf. USP. v.34, n.4, p. 354-61, 2000. ZENKNER, C. L. L. Proposta de gestão de riscos para o controle de infecção, a partir do diagnóstico de biossegurança, nas clínicas do curso de odontologia da UFSM. 2006, 114f. Dissertação (Mestre em Engenharia de Produção) - Universidade Federal de santa Maria, Santa Maria, 2006. 9

SÊCCO et al. A Equipe de Enfermagem de Hospital Escola Público e os Acidentes de Trabalho com Material Biológico. Ciências Biológicas e da Saúde. v. 24, p.21-36, 2003. RIBEIRO, E. J. G; SHIMIZU, H. E. Acidentes de trabalho com trabalhadores de enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem. v. 60, n. 05, p. 535-540, 2007. SARQUIS, L. M; FELLI, V. E. A. Acidentes de trabalho com instrumento perfurocortantes entre os trabalhadores de enfermagem. Rev. Esc. De enf. USP. v.36, n.3, p. 222-230, 2002. SHIMIZU, H.E.; RIBEIRO, E.J.G. Ocorrência de acidente de trabalho por materiais perfurocortantes e fluidos biológicos em estudantes e trabalhadores da saúde de um hospital escola de Brasília. Rev. Esc. Enferm. USP. v.36, n.4, 2002. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Políticas de Saúde. Coordenação Nacional de DST e AIDS. Manual de condutas: exposição ocupacional a material biológico: hepatite e HIV. Brasília, 1999. POLIT, D. F.;BECK, C.T.; HUNGLER, B. P. Fundamentos de Pesquisa em Enfermagem. Porto Alegre: artes médicas, 2004. GIOMO, D. et. al. Acidentes de Trabalho, Riscos Ocupacionais e Absenteísmo entre trabalhadores de Enfermagem Hospitalar. Rev. Enferm. v. 17 n.1, 24 29, 2009. OLIVEIRA, J. C. Segurança e saúde no trabalho: uma questão mal compreendida. São Paulo em Perspectiva. v. 17, n. 2, p. 3-12, 2003. BRASIL, Ministério da Saúde. Notificação de acidentes do trabalho: fatais, graves e com crianças e adolescentes. Série A - Normas e Manuais Técnicos, 2006. Disponível em < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/06_0442_m.pdf >. Acesso em: 08 Jul. 2011. BRASIL, MINISTERIO DA SAUDE, OPAS. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Série A. Normas e Manuais Técnicos; n. 114 Brasília/DF Brasil, 2001. 580 p. BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. NR 5 - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, 2007. Disponível em: < http://www.mte.gov.br/geral/funcoes/imprimir.asp?url=/legislacao/ normas_regulamento>. Acesso em: 13 jul. 2011. 10